"Você gostaria mais de mim?"
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"Você gostaria mais de mim?"

Há umas duas semanas, abri um site de notícias, como costumo fazer todos os dias, e meus olhos foram imediatamente carregados para uma manchete.

Jussara Marra
2 min
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Há umas duas semanas, abri um site de notícias, como costumo fazer todos os dias, e meus olhos foram imediatamente carregados para uma manchete.

Ela dizia que menino negro havia escrito bilhete ao pai (branco) questionando-o se gostaria mais dele se ele fosse branco.

É o tipo de manchete que eu criticaria. E minha primeira sensação foi um misto de tristeza, inconformismo e talvez até raiva. Cliquei no link e à medida que fui lendo, percebi a transformação dos sentimentos.

Quis chorar. Chorei. 

Mas não só por ter ficado triste pela pergunta da criança. Chorei também pelo contexto, pela reação do pai e especialmente pelo que levou o menino ao questionamento (e aqui o choro foi de alívio).

Lá no fundo... bem lá no fundo mesmo, o que a matéria mostra é uma adoção inter-racial na qual o menino sempre foi enxergado exatamente como é. Onde existe diálogo, verdade. Onde se fala sobre racismo estrutural.

E isso pode parecer bonito no papel, mas sentar com seu filho e explicar que o mundo vai ser mais duro com ele do que com as outras pessoas na mesma situação, mas com pele não preta, dói. Dói mais ainda quando ele entende isso e começa a se questionar e a questionar essa imagem que o espelho mostra.

No caso da matéria (o link está aqui!), o menino, diante dos questionamentos, encontrou acolhimento e reforço positivo. 

E foi aí que as sensações que me dominaram quando li o título da reportagem se dissiparam e deram lugar a um quentinho... deram lugar à certeza de que, muito embora o mundo não seja um lugar fácil, em todos os momentos nos é dada a oportunidade de escolher a forma como vamos lidar com as adversidades.

O racismo existe? Vamos olhar pra ele. Enxergar, entender, conversar, fortalecer e dar as mãos nesse enfrentamento, que é diário e se reveste de várias formas.

*****

Quando li a matéria, depois de ter passado um dia digerindo tudo o que ela me trouxe, compartilhei minhas reflexões no Instagram. Ontem, por duas vezes, essa reportagem me foi trazida novamente. Levei o papo do Instagram para o Youtube (link aqui!) pra que o assunto não fique pra trás. Pra que fique vivo e nos faça refletir. Pra que nos lembre de nunca normalizar as situações desconfortáveis e de prepararmos nossos filhos pro que os aguarda fora da bolha.