Empreendedorismo e a Escola Austríaca de Economia
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Empreendedorismo e a Escola Austríaca de Economia

“numa sociedade regida pelo mercado, a única maneira de adquirir riqueza e preservá-la é a de ser bem-sucedido ao servir o consumidor“

ViaLibertária
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A Escola Austríaca de Economia (EA) representa uma tradição de pensadores iniciada por Carl Menger e  continuada por nomes como Ludwig von Mises, Fredrick A. HayeK e Murray Rothbard.

Entre as diversas contribuições para a ciência econômica uma em especial distingue-a do mainstream: A Teoria Austríaca do Empreendedorismo.

Embora muitas vezes não seja citada como uma teoria explicita, a função empreendedora é intrínseca às teorias desenvolvidas por pensadores proto austríacos e austríacos. Ao reconhecer a importância do empreendedorismo a teoria permite uma visão clara de como as curvas de oferta e demanda são afetadas em um processo de constante dinamismo, sem nunca atingir plenamente um equilíbrio[1], sem, no entanto, atingi-lo plenamente. 

Quem é o empreendedor?

Definir o empreendedor é essencial para que possamos entender sua importância na economia. Diferentes autores austríacos tratam do empreendedor de maneira particular, mas em geral, o empreendedor é o agente que busca atender às expectativas do consumidor, sendo este o alvo de todos os esforços da função empreendedora. 

Para que possa atender, ou antecipar, estas expectativas do consumidor, o empreendedor coordenará a alocação de recursos escassos (em geral capital e trabalho).

Caso a alocação de recursos seja eficiente e atenda às expectativas do consumidor, o empreendedor será recompensado pelo lucro, ou sofrerá prejuízo se fracassar neste processo.

A soberania do consumidor

“A força motriz do processo de mercado não provém dos consumidores nem dos proprietários dos meios de produção – terra, bens de capital e trabalho; provem dos empresários que inovam e especulam. São pessoas que buscam o lucro, tirando proveito das diferenças de preços. Mais perspicazes e com maior visão do que os outros homens, procuram descobrir oportunidades de lucro. Compram quando e onde consideram que os preços estão muito baixos e vendem quando e onde consideram que os preços estão muito altos. Abordam os proprietários dos fatores de produção e, ao competir entre si, provocam um aumento nos preços desses fatores até o limite correspondente à sua previsão dos preços futuros dos produtos. Abordam também os consumidores e igualmente a competição provoca uma redução nos preços dos bens de consumo até́ o ponto em que toda a oferta possa ser vendida. A especulação visando ao lucro é a força motriz do mercado e da produção. “[3]

A escola austríaca dá especial atenção não apenas ao empreendedor, como parte inerente ao processo de mercado, mas também ao consumidor, soberano e “capitão” no mercado: “numa sociedade regida pelo mercado, a única maneira de adquirir riqueza e preservá-la é a de ser bem-sucedido ao servir o consumidor “.[4]

Ao considerar o consumidor como foco, resta ao empreendedor inovar e assim alterar o processo de produção, com novos métodos, processos, materiais.

É certo que o valor real de produto ou serviço é dado pela percepção subjetiva dos consumidores. Assim como Rothbard (2010) exemplifica didaticamente em O Essencial Von Mises, “eu poderia gastar trinta anos de trabalho e de outros recursos na fabricação de um triciclo-gigante movido a vapor, contudo, se ao oferecer esse produto, eu não encontrasse consumidores dispostos a comprá-lo, teria que admitir que ele era economicamente desprovido de valor, apesar de todo esforço, aliás mal orientado, que empenhara na fabricação”.

O erro do empreendedor é portanto a base de conhecimento que o levará a novos acertos produzindo a inovação que os consumidores demandam.

Empreender é inovar

Não podemos falar do empreendedorismo sem considerá-lo como um motor de inovação.

A inovação move  a função  empreendedora,  que nada mais é do que a escolha do empreendedor de meios para atender a seus fins particulares.

Ao inovar o empreendedor está fazendo uma proposta de valor ao consumidor. A inovação será julgada pelo consumidor de maneira soberana e caso as suas expectativas sejam atendidas o empreendedor será bem-sucedido e será recompensado pelo lucro. Caso o consumidor não seja atendido em suas expectativas haverá prejuízo para o empreendedor. O lucro monetário certamente não é a única motivação do empreendedor. Todos têm a sua própria escala subjetiva de valores. Lucro e Prejuízo, portanto, fazem parte da atividade empreendedora.

Como nos ensina o professor Per Bylund: 

 “Empreendedores têm de levar esta lógica a sério: o empreendimento não é para você, é para os consumidores. Não é para saciar um capricho seu, mas sim para atender a uma demanda específica dos consumidores.”[5]

Conclusão 

A teoria austríaca do empreendedorismo, embora não formalmente descrita, é intrigante, extremamente moderna e relevante. A importância da função empreendedora é indiscutível para que a sociedade possa gerar riqueza e conhecimento. O processo de mercado e sua dinâmica, exigem do empreendedor não apenas o estado de alerta (alertness), descrito por Kirzner[10], mas também inventividade, criatividade, assunção de riscos, além de preferência pela incerteza.

O empreendedor puro, aquele que possui a grande ideia, mas não capital, é um modelo teórico e muito distinto do empreendedor promotor, que encontramos na economia real e que empenha capital (seja por recursos próprios ou empréstimo) e está sujeito a perdas reais caso fracasse.

Longe de mitificar ou glorificar o empreendedor a teoria austríaca do empreendedorismo nos mostra a realidade clara e objetiva, daqueles que buscando melhorar suas próprias condições se dedicam a resolver problemas e criar propostas de valor aos consumidores.

Artigo original criado durante a pós-graduação em Escola Austríaca do Instituto Mises Brasil, em colaboração com Juelinton Silveira

[1] https://www.mises.org.br/article/1952/uma-lenda-viva-israel-kirzner consultado em 10/06/2021

[2] https://mises.org/library/turning-word-upside-down-how-cantillon-redefined-entrepreneur consultado em 10/06/2021

[3] Mises, L., Ação Humana [1949] 2010, p.390

[4] Mises, L., Ação Humana [1949] 2010, p. 278

[5] https://www.mises.org.br/article/3048/eis-o-principal-motivo-por-que-empresas-recem-criadas-quebram--e-como-evitar, consultado em 10/06/2021

[6] Kirzner, I., The meaning of market process: essays in the development of modern Austrian economics. 1991, p.26, “Once we acknowledge the meaningfulness of endeavouring to imagine the future more correctly, we can hardly refuse to recognize the quality of ‘alertness’ (or of more correctly fertile imagination, or of greater prescience – call it what one will) in human beings. We must, that is, recognize something like ‘entrepreneurial ability’, understood as the capacity independently to size up a situation and more correctly reach an imagined picture of the relevant (as yet indeterminate) future.”