Na noite de domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez um discurso duro para os parlamentares israelenses. A transmissão virtual foi assistida por 119 membros do Knesset, o parlamento de Israel, e por ministros do governo. Os me...
Na noite de domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez um discurso duro para os parlamentares israelenses. A transmissão virtual foi assistida por 119 membros do Knesset, o parlamento de Israel, e por ministros do governo. Os membros do partido Lista Árabe Unificada optaram por boicotar o pronunciamento sob a alegação de que "a Ucrânia é muito pró-Israel". | ||
O evento foi acompanhado também por centenas de manifestantes pró-Ucrânia por meio de um telão instalado na Praça Habima, no centro de Tel Aviv. | ||
O presidente ucraniano seguiu a estratégia que vem adotando ao se dirigir a governos estrangeiros, questionando as razões pelas quais optaram por não participar de modo mais efetivo na guerra. No caso de Israel, questionou abertamente por que o governo de Naftali Bennett não enviou à Ucrânia o sistema de defesa antimísseis conhecido como Domo de Ferro. | ||
O Domo de Ferro é usado com frequência em Israel e se tornou conhecido em todo o mundo em função dos confrontos do país com o grupo terrorista Hamas. A taxa de sucesso do sistema chega a cerca de 90% evitando que a maioria dos mísseis e foguetes lançados pelo grupo palestino atinja as cidades israelenses. | ||
Zelensky traçou um paralelo direto entre as lutas travadas por Ucrânia e Israel argumentando que ambos enfrentam as mesmas ameaças: "a destruição total dos nossos povos, nossos Estados, nossas culturas, e até dos nossos nomes: Ucrânia, Israel". | ||
No entanto, a principal repercussão do discurso entre comentaristas, analistas, parlamentares e membros da coalizão de governo é a comparação feita por Zelensky entre a invasão a seu país e o Holocausto: | ||
"Novamente em 24 de fevereiro, 102 anos depois dos nazistas, foi dada a ordem para iniciar a invasão russa da Ucrânia, que já matou milhares de pessoas e deixou milhões sem casa. Eles (os ucranianos) se tornaram refugiados em dezenas de países. Os russos usam a terminologia do partido nazista, querem destruir tudo. Os nazistas chamaram isso de 'a solução final para a questão judaica'. E agora em Moscou eles estão usando essas palavras, 'a solução final'. Mas agora é dirigido contra nós e a questão ucraniana". | ||
Este trecho específico do discurso do presidente ucraniano está causando grande polêmica aqui em Israel. O Holocausto é um tema de grande sensibilidade e as comparações com este evento único não são bem recebidas. Mesmo diante de uma guerra e inserido num discurso de uma liderança de um país aliado, como é o caso da Ucrânia, este tipo de paralelo não é bem aceito. Até porque, independentemente da linha política do governo em Israel (seja de esquerda, seja de direita), o rigor histórico em relação ao Holocausto é assunto consensual. | ||
Diversos veículos de comunicação israelenses citaram fontes anônimas entre os ministros do governo que chamaram este trecho do discurso de "comparação ultrajante". | ||
De acordo com fontes ouvidas pelo Canal 12 da TV de Israel, a política e as determinações diplomáticas do país não irão mudar. Ou seja, Israel deve continuar os esforços de mediação entre Ucrânia e Rússia porque "esses esforços atendem aos interesses do país, independentemente dos resultados". | ||
O ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, publicou comunicado oficial na sequência do discurso: | ||
"Reitero minha condenação ao ataque à Ucrânia e agradeço ao presidente Zelensky por compartilhar seus sentimentos e a situação do povo ucraniano com membros do Knesset e do governo. Continuaremos a ajudar o povo ucraniano o máximo que pudermos e nunca daremos as costas à situação de pessoas que conhecem os horrores da guerra". | ||
A tendência é que Israel mantenha a linha de atuação em duas frentes: de ajuda humanitária aos refugiados e de mediação política entre as partes. O país também está concluindo o estabelecimento de um hospital de campanha no oeste da Ucrânia que deve começar a receber pacientes nesta terça-feira, de acordo com o Ministério da Saúde. Mas deve continuar a manter a neutralidade no que diz respeito ao envolvimento direto no conflito. Ou seja, não enviará armamento aos ucranianos. | ||