Enquanto todo mundo espera a cura do mal
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Enquanto todo mundo espera a cura do mal

“Quando certa manhã, Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”. - A metamorfose, de Kafka.

Monalisa
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“Quando certa manhã, Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”. - A metamorfose, de Kafka.

Ilustração
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Eu não sei se você já leu a metamorfose, de Franz Kafka. Se ainda não leu recomendo que faça isso, é uma história fantástica daquelas, que nunca esquecemos. Ela fica guardada em algum lugar da mente. E numa tarde quase fria de outono, ela pula do seu esconderijo e toma conta dos seus pensamentos e emoções.

E foi numa tarde de outono, contando mais de um ano em casa, que a imagem do homem metamorfoseado em inseto, tomou conta dos meus pensamentos.

De certa forma, somos todos Gregor, limitados ao espaço da casa, ao convívio com os familiares, e carregando a esperança de que tudo ficará bem e voltará ao normal.

Também somos como Gregor, quando somos invadidos por pensamentos de que nada voltará a ser como antes, porque as coisas mudaram demais, desde que isso tudo começou.

E nós, mesmo sem ter nossos corpos metamorfoseados em insetos, passamos por mudanças que não nos permitirá ser os mesmos de antes.

Não fomos metamorfoseados, fisicamente, já que quando nos olham somos os mesmos, com sorriso no rosto e ninguém além de você sabe da existência de um turbilhão de sentimentos misturados ao medo.

Quem falou que não mudamos?

 A vida tem o estranho hábito de nos vestir com uma carapaça.

Quando leva de nós os que amamos.

Quando a pandemia fica guardada para nosso século.

Quando projetos não são realizados e portas se fecham.

A vida sempre nos conduz para um  recalcular rota, readaptar, curar feridas, sarar lutos...

Ela não para, como diz a canção.

E nesse tempo estranho enquanto estamos afastados daquilo que chamávamos de nossa vida normal, e nos vemos como o Gregor limitados a um único espaço.

E vestimos uma carapaça nova, ofertada pela vida, por meio dos acontecimentos dos últimos tempos.

Quero desejar que não te falte esperança...

Porque já ouvi dizer que “a esperança alimenta a fé”.


Para ler depois:  A metamorfose, de Franz Kafka.  

Para ouvir: Paciência, Lenine.