Grosso modo, a sociedade do cansaço seria aquela que no afã de ser livre, se auto aprisionou e nada mar a dentro no oceano do positivismo.
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Esbarrei no texto do filósofo Byung-Chul Han, sobre a Sociedade do Cansaço, no final de 2020 no ápice do trabalho remoto, quando já não existia, na minha vida distinção entre a hora do trabalho e a minha hora. | ||
Eu vou tentar explicar, brevemente, o que ele tenta nos dizer ao selecionar, comparar e analisar teorias de filósofos e psicanalistas sobre o sujeito, sua constituição psíquica e os reflexos disso na sociedade do trabalho. | ||
Grosso modo, a sociedade do cansaço seria aquela que no afã de ser livre se auto aprisionou e nada mar a dentro no oceano do positivismo. | ||
Ainda tá meio sem sentido? | ||
Vou para mais uma tentativa. | ||
Saímos de um tempo em que a sociedade se configurava num cenário de sociedade disciplinar, teoria foucaultiana que o filósofo recupera para estruturar sua afirmação. | ||
Ele vai dizer que a “sociedade disciplinar” como teorizava Foucault é o lugar da negatividade, onde haveria limites e proibições e portando, onde habitaria o “sujeito da obediência”. | ||
Mas, a nossa sociedade não é mais essa, segundo ele. Agora habitamos “a sociedade do desempenho” e somos portanto rebatizados de “sujeitos de desempenho e produção”. | ||
“O sujeito de desempenho projeta a si mesmo na linha do eu-ideal, enquanto que o sujeito da obediência se submete ao superego. Submissão e projeto são dois modelos de existência bem diferentes.”. | ||
Nós idealizamos um EU e nos tornamos "livres" para reger nosso tempo e vontade na construção desse projeto de quem dizemos ser. E para isso podemos e fazemos tudo! | ||
Ocorreu uma grande mudança de paradigma aqui. | ||
E nós, nos lançamos afoitos nesse oceano, parafraseando Han. E a medida que fomos nos tornando senhores do nosso tempo, nos transformamos em nossos escravos. | ||
Tornamo-nos multitarefas e nos privamos da capacidade de contemplação. | ||
Encurtamos distâncias, mas 24 horas passou a ser pouco para as demandas do trabalho, e sete dias da semana insuficientes para conter a semana. | ||
E os nossos pensamentos não desaceleram, e não sabemos mais, como diz o escritor desfrutar do tédio (ócio); não sabemos celebrar a festa da vida. | ||
Ser como as janelas que olham na cidadezinha qualquer de Drummond... | ||
Devagar... No mero estado de contemplação. | ||
“Um homem vai devagar. | ||
Um cachorro vai devagar. | ||
Um burro vai devagar. | ||
Devagar... as janelas olham. | ||
Eta vida besta, meu Deus.” | ||
Eta vida besta, meu Deus! Consumidos pelo trabalho, sem viver, acordar, dormir, trabalhar... Sobreviver... | ||
“No mundo de hoje, tudo que é divino e festivo ficou obsoleto”. Fomos feitos para contemplar o belo e mergulhar na festa. Mas, só estamos sobrevivendo cansados. | ||
Pra ler depois: | ||
Sociedade do Cansaço - Byung-Chul Han | ||
Cidadezinha Qualquer - De Alguma Poesia - Carlos Drummond de Andrade |