Como trabalhar jogando cartas me ajudou a ser um profissional melhor
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Como trabalhar jogando cartas me ajudou a ser um profissional melhor

Alexandre Abramo
4 min
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Era 2004, eu tinha meus 20 poucos anos (22, pra ser exato), estava na faculdade e nunca tinha saído da casa dos meus pais. Eu era estagiário, mas achava que uma experiência de intercâmbio ia melhorar meu inglês e me ensinar um pouco mais sobre a vida. Escolhi o formato work and travel (no qual você trabalha e viaja). Na época tinha um golzinho vermelho com uns pneus bem carecas, eu tinha comprado ele com o meu acerto de um emprego que tive desde que entrei na faculdade, ele era meu xodó, mas era o que eu tinha para conseguir fazer a viagem. Consegui vender o carro exatamente pelo valor que eu precisava para pagar o programa, tranquei o curso de comunicação e viajei rumo ao deserto americano!

Foi assim que cheguei em West Wendover, uma cidade com menos de 5 mil habitantes no deserto de Nevada, na fronteira com Utah. Eu me lembro até hoje da decepção em imaginar que chegaria no paraíso americano e chegar em uma cidade no meio do deserto. Vale dizer, naquela época procurar informações sobre uma cidade no Google era quase abrir uma enciclopédia e ler um verbete. Era muito pouca informação.

Eu em um dos cassinos que trabalhei (sou o segundo da direita para a esquerda, vai que você me confunde com o tcheco ou com o polonês da foto)
Eu em um dos cassinos que trabalhei (sou o segundo da direita para a esquerda, vai que você me confunde com o tcheco ou com o polonês da foto)

Havia cinco cassinos na cidade e mais estrangeiros e estudantes como eu do que os próprios americanos. Consegui um trabalho de garçom num deles e logo depois vi uma vaga para crupiê (a pessoa responsável por jogar cartas e outros jogos no salão). Me apliquei, consegui a vaga e passei a ter então, dois empregos: trabalhava cinco dias da semana em um e dividia a jornada como outro em três dias.

A imagem que as pessoas têm dos cassinos aqui no Brasil (talvez você mesmo) é de que algum golpe vai acontecer para pegar o dinheiro de quem está jogando, mas a verdade é que estatisticamente, eles têm a vantagem ao seu lado. A exceção são os jogos de dados e Black Jack (também conhecido como "21"). Nesses, se a pessoa jogar bem, tem chances razoáveis de ganhar do cassino. Eu era só um jovem brasileiro e pude perceber que o jogo é uma coisa muito séria nos Estados Unidos, pois envolve muito dinheiro. Se a pessoa fizer qualquer coisa errada, sai de lá algemada na hora.

Outra característica da época é que era difícil encontrar profissionais para as mesas de cassinos, pois a maioria tinha baixa formação e em algumas tarefas era necessário algumas habilidades mais técnicas que muitos estudantes universitários tinham. No Black Jack, por exemplo, era muito importante contar as cartas muito rapidamente e eu fazia isso bem. Inclusive até hoje acho que foi a coisa que eu fiz melhor em toda minha carreira... rs (não contem isso para o João Pedro e o Mateus, por favor).

Meu chefe era um veterano da Guerra do Vietnã, um cara muito duro, e que com o tempo, passou a me colocar cada vez mais nas mesas difíceis - em parte, porque acreditava em mim. Foi quando eu vi que trabalhava bem e me tornei útil para o meu empregador. No meio do deserto, um frio danado, eu me tornei relevante e ganhei espaço.

Se tem uma coisa que posso dizer que aprendi é que não há profissão menos prestigiosa que outra e que todas elas necessitam de habilidades técnicas e comportamentais que podem ser mais ou menos óbvias, que podem ajudar em muitos outros momentos da carreira. Numa mesa de Black Jack, você pode aprender noções de estatística, atenção, observação e até mesmo persuasão. E se você parar pra pensar, isso está presente no dia a dia de profissionais de vendas, de engenharia, administração e muitas outras profissões.

Eu fui um apaixonado pelo jogo, aprendi cada detalhe, como ser rápido, como eram as regras e como elas se aplicavam em cada caso. Eu não sabia que isso faria a diferença para a minha carreira dali para frente. Não, eu não estou dizendo que saber BlackJack me serviu para trabalhar na Hotmart. Estou dizendo que eu descobri que ser interessado pelo que a sua empresa faz, vai te tornar um profissional melhor e mais bem pago. Então até hoje eu consigo dizer para você como funciona mineração e produção de zinco, seja ele de óxido ou sulfeto, entendo profundamente processo construtivo e de incorporação, e entendo profundamente o mercado em que eu estou hoje. Todas as empresas em que trabalhei, eu me esforcei para entender o negócio que ela fazia, ainda que fosse distante da área em que eu estava.

Não importa a área em que você esteja, domine o negócio da sua empresa. Isso fará toda a diferença para a sua carreira.

Posso dizer com orgulho que usei os ensinamentos dos seis meses que estive lá em todos os demais momentos da minha carreira. Guardei com carinho essas três palavras: excelência, relevância e impacto. Seja em uma mesa de cartas a milhares de quilômetros daqui, seja na condução de uma diretoria. West Wendover fez diferença na minha vida. Thank you, guys!

E você? Tem alguma história inusitada na sua carreira que te ensinou a ser um(a) profissional melhor? Bora conversar nos comentários!

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