Imagine alguém completamente sem saber o que fazer. Esse fui eu quando fui colocado no desafio de liderar as pessoas à distância. Eu sou um líder da presença, do exemplo, do contato. Eu sou um líder de chamar a pessoa para conversar, de enten...
Imagine alguém completamente sem saber o que fazer. Esse fui eu quando fui colocado no desafio de liderar as pessoas à distância. Eu sou um líder da presença, do exemplo, do contato. Eu sou um líder de chamar a pessoa para conversar, de entender que ela não está num dia bom pelo jeito dela falar. As pessoas que trabalham diretamente comigo, eu as conheço no detalhe. Pelo jeito de olhar ou uma palavra escolhida, eu sei que tem alguma coisa errada. Para um gestor como eu, o processo da pandemia e de liderar à distância tem sido muito dolorido e complexo. Porque, de alguma maneira, eu acho que perco o que tenho de melhor, que é o contato, a presença, o exemplo. Eu tive que reinventar meu jeito de fazer isso. | ||
A primeira coisa que fiz foi criar uma reunião diária, de mais ou menos 30 minutos. Ela não tinha uma pauta fechada. O objetivo era estar com as pessoas, abrir o microfone e perguntar: "Alguém tem alguma coisa para pontuar hoje?". Se houvesse alguma coisa pra resolver de trabalho, a gente falava. Se não, a pergunta era: “Como vocês estão?”. | ||
Essa foi uma solução que encontrei para manter, em alguma medida, aquilo que acho que faço melhor como líder. De ver nos olhos das pessoas o que elas estão passando, tentar entender o que está acontecendo e criar um ambiente seguro. E isso aproximou a gente pra caramba. Para mim, foi fundamental ter esse contato diário e, no final das contas, abrir um círculo de confiança importante nos momentos de insegurança. De problemas simples até a saúde mental das pessoas. Nada era proibido nessa reunião. Especialmente as nossas fragilidades. | ||
Esse é um tema que vale um artigo sozinho. Ser honesto em assumir as coisas que te enfraquecem é mais que um exercício de auto conhecimento, é prova de maturidade profissional. | ||
Em um tempo que a produtividade é entrar em uma reunião com pauta pré-definida, tempo determinado para cada assunto e não fugir do tema, eu fui no caminho contrário. A minha reunião partia da premissa de não ter pauta nem tempo definido para falar de nada. Era um: bom dia, como estão vocês, precisamos resolver alguma coisa hoje? | ||
Para mim esse foi um exercício de resistência. De resistir à maquinização das relações humanas e à impessoalidade das pautas baseadas em livros de produtividade e gestão de tempo. | ||
Não dá pra gente achar que todo mundo ficou 100% durante esse período. Eu vi mães solteiras se virando entre cuidar de filho, casa e trabalho. Tudo ao mesmo tempo. Vi gente perdendo pessoas queridas, e muitas vezes perdendo a sanidade mental. Todos tivemos momentos de sofrimento e muitos ainda estão tendo. Eu tentava garantir um espaço para as pessoas, inclusive para elas tirarem os dias quando não estivessem bem. “Vai ver uma série, vai fazer outra coisa.” Porque a gente precisa manter nossa sanidade num período como esse. | ||
Pra mim, o maior desafio da pandemia foi esse: criar um ambiente seguro para a minha equipe trabalhar de um jeito novo. | ||
Sem nos deixar atropelar pela rotina de trabalho. Passamos a ser mais atentos a isso. Com respeito e muita empatia. Nós continuamos sendo gente. E a melhor parte de nós é a que se coloca no lugar do outro e entende que cada um consegue lidar com a distância de uma maneira diferente. | ||
E você gestor(a), o que fez de diferente na pandemia pra melhorar sua forma de liderar à distância? Bora conversar? |