Líder. Ser ou não ser eis a questão
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Líder. Ser ou não ser eis a questão

Já escutei a pergunta algumas dúzias de vezes. Um líder, se forma, ou já nasce feito? Tenho uma opinião que vou citar mais a frente, mais falarei de minha formação como líder.

Alexandre Machado
7 min
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Já escutei a pergunta algumas dúzias de vezes. Um líder, se forma, ou já nasce feito? Tenho uma opinião que vou citar mais a frente, mais falarei de minha formação como líder.

Deixe confidenciar uma coisa. Tenho um grave problema de autoestima, tenho feito acompanhamentos sistemáticos a fim de controlar e fazer com que isso não interfira em meu desempenho profissional. Com esse problema não conseguiria atuar como gestor. Como conseguiria motivar equipes?  Como não contaminar a equipe? Reconhecer as limitações, e saber que não sou um super-homem, é um importante passo para conseguir evoluir, para conseguir aprender.

Em 2000, tinha acabado de casar-se e estava participando de uma seleção para primeira vez atuar como gestor de tecnologia de informação. O processo de seleção padrão, entrevistas com recursos humanos, entrevistas técnicas, testes psicológicos, que naquela época achava uma bobagem sem fim, e fui para uma última etapa com o diretor geral da empresa, que tinha formação na área de ciência da computação. Houve as perguntas padrão, respondi bem e a última pergunta veio. Você conhece e já trabalhou com banco de dados SYBASE? A minha resposta foi. Sim, já trabalhei, tenho conhecimento e consigo desempenhar esse papel sem nenhum problema. O diretor agradeceu, informou a pessoa dos recursos humanos que estava satisfeito. Sai da entrevista diretamente para uma livraria que havia no centro da cidade em que moro, entrei na mesma e perguntei ao vendedor. Você tem algum livro de SYBASE? Ele olhou em um sistema e havia uma única unidade. Comprei e fui para casa aprender a usar SYBASE. Após a contratação, fiquei de frente a primeira vez na vida com uma aplicação, e posso dizer, não decepcionei.

Essa história me deixou claro, se eu desejasse fazer alguma coisa profissional, conseguiria. Usei como mantra, se não sei, aprendo, se não conseguir aprender, me apoio de quem sabe.

Meu processo de formação como líder eu estimo que teve início em julho de 1981. Como era uma criança muito inquieta, minha mãe preocupada, me levou a um médico, na intenção de saber o porquê era assim, o laudo dele foi. “Minha senhora, seu filho é perfeitamente normal, o que ele precisa é gastar a energia que tem”. Aí fui parar em um grupo escoteiro.

Um grupo escoteiro é dividido em tropas, que estão separadas por idade, e essas tropas são divididas em equipes, que são chamadas de patrulha, a minha patrulha se chamava puma. Cada patrulha tem um líder, que se chama monitor, e um vice-líder que é o sub monitor. Quando entrei no grupo escoteiro não ocupava nenhum dos dois, assumi no meu segundo acampamento a cozinha da patrulha, e isso era uma posição de destaque, afinal adolescente tem um lado muito sensível que é o estomago. Todos da patrulha acabaram me acolhendo muito bem e fui destaque naquele acampamento. Com a saída do monitor, pois ele completou a idade para ficar na tropa, a patrulha puma deveria escolher um novo monitor, aí por votação ganhei a minha primeira eleição na vida. Virei monitor e ocupei o meu primeiro cargo como líder, com doze anos, prestes a completar treze tinha a obrigação de liderar minha patrulha a partir de agora. O legal é que o movimento escoteiro é um formador natural de líderes. E uso coisas do método escoteiro até hoje em equipes que coordeno. Eu gostei de ser líder, na época que estava no grupo escoteiro achava que era um privilegiado, que podia mandar em todo mundo, descobri logo em seguida que era muito mais importante convencer que mandar. Conheci poucos bons gestores que desejavam ser gestores, sempre com que conversei as coisas foram acontecendo e fomos chegando perto da gestão. Quem desenvolve características de gestão acaba mais cedo ou mais tarde se aproximando de cargos de gestão, é uma situação natural.

Fiquei no movimento escoteiro como membro juvenil por mais oito anos, foi o período que entrei na faculdade, sempre atuando com líder em momentos específicos da vida, capitão do time de handball, atuando na organização de eventos no condomínio em que morava, em viagens em que amigos realizavam sempre tomava a frente e acabava atuando como líder. O fato de ser líder sem querer impor nada acabava naturalmente me levando para a condução de liderança.

Tive alguma boa experiência atuando como consultor em diversas modalidades de empresas, comercio, indústria e serviços. Isto me garantiu uma boa experiência nas mais diversas modalidades de negócios. Nesse período estive com um cliente que me chamou e disse. Paguei a conta do vizinho. Disse-me ele, chegou um boleto de pagamento de um fornecedor, e como era meu fornecedor paguei também, depois de alguns dias de vencimento, o fornecedor me cobrou e verifiquei que tinha pagado o boleto que me foi entregue errado, o boleto era do vizinho. O nível de desorganização desse cliente era algo fora do controle, negociei com ele que não precisávamos informatizar nada dele, que antes ele deveria se organizar, que informatizar a empresa dele só aumentaria a velocidade da desorganização. Depois de algumas consultorias organizacionais, realizadas por outros consultores, voltei ao cliente e informatizamos a empresa.

Esse período foi produtivo, ganhei algum dinheiro mais era extremamente cansativo, não havia hora para nada, não conseguia planejar nada ao longo prazo, quem controlava minha vida eram os meus clientes, eles chamavam, eu estava lá presente, algumas vezes estava sentado em um estádio de futebol próximo a iniciar o jogo, e recebi uma ligação de um cliente, levantei-me e fui atendê-lo. O serviço era muito bem remunerado, mas extremamente desgastante, algumas vezes, virava noites com a intenção de atender os clientes. Vejo que nesse período poderia ter contratado algumas pessoas para trabalhar comigo, hoje enxergo que se tivesse feito isso não teria tido sucesso, nessa época não conhecia nada de gestão de pessoas, seria um fracasso completo, então foi muito boa a atitude tomada naquele período.

Por volta de julho de 1995 fui visitar um amigo que havia acabado de ser pai e comentei com ele que estava com vontade de montar uma sala de aula para ministrar treinamentos curtos. Nessa época havia uma demanda crescente por cursos de informática. As pessoas estavam comprando computadores, as empresas se informatizando e muita gente só sabia usar o básico. Com isso que disse a ele, uma semana depois esse meu amigo me ligou pedindo para ir de novo na casa dele, chegando lá me propôs que montássemos essa empresa juntos. Confesso que nem tinha pensado em empresa, havia pensado em algo mais simples, uma sala com poucos computadores, pensei um pouco e quinze dias depois tínhamos uma empresa, lembro bem que minha experiência em gestão de empresas era literalmente nenhuma, essa empresa durou cinco anos, atuamos realizando treinamento e em desenvolvimento, lembro que a única coisa boa que sai desse período foi que pensei encontrara o amor da minha vida, com quem fui casado por vinte anos e me deu dois lindos e maravilhosos filhos. Mais adiante teremos um capítulo exclusivo sobre família, vou ter muita coisa a dizer sobre o que não fazer.

Todas essas experiências me formaram para iniciar o processo de entrada na gestão de propriamente dita. Ainda não estava formado como gestor, o caminho ainda seria longo, mas já dava para começar.

No dia 02 de fevereiro de 2000, comecei a trabalhar como gerente de ti de uma escola com onze unidades, dez escolas e uma faculdade, aproximadamente vinte e três mil alunos matriculados, e com uma missão inicial, além de aprender SYBASE, fazer acontecer o processo de implantação de um novo ERP das escolas e da faculdade. A empresa que eles haviam comprado o software era sediado em Santa Catarina, e eu seria o ponto focal local da empresa junto a escola. Ali começou a minha atividade como gestor.