A Uber não é uma empresa de transporte
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A Uber não é uma empresa de transporte

Sim, você não leu errado. A multinacional americana Uber não é uma plataforma de serviços de transporte privado urbano. No ponto de vista macro, a Uber comporta-se como uma ferramenta do capital para a precarização das leis de trabalho. Talve...

Allan Moreira
3 min
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Sim, você não leu errado. A multinacional americana Uber não é uma plataforma de serviços de transporte privado urbano. No ponto de vista macro, a Uber comporta-se como uma ferramenta do capital para a precarização das leis de trabalho. Talvez seja esse o grande algoz do sistema neoliberal. Sua capacidade de influenciar a agenda e tomada de decisão no âmbito do Estado.

Arte: Cristiano Siqueira
Arte: Cristiano Siqueira

A inclusão de multinacionais como a Uber, NuBack e Amazon, apenas para citar empresas de diferentes categorias, servem para suprimir leis em detrimento do desenvolvimento de outros setores do mesmo sistema capitalista. Essa dinâmica funciona com a precarização de diversos níveis, outrora de responsabilidade do Estado. O Estado aqui, concede a responsabilidade por serviços essenciais para a iniciativa privada, e pronto! Quando privatiza-se tudo, tudo se torna privado.

O problema dessa dinâmica de repasse de responsabilidade de setores essenciais, é que quando deixa de ser lucrativo o serviço simplesmente é reduzido ou desaparece. Podemos passar o dia descrevendo os diversos exemplos de abandono do setor privado, mas vamos utilizar a Uber e demonstrar o motivo pelo qual não é uma empresa de transporte, e sim, uma máquina de triturar direitos e trabalhadores.

Quando surgiu no Brasil, em 2014, a Uber trouxe consigo um serviço de maior conforto e menor preço se comparado aos serviços de táxis. Isso porque, pela falta de leis regulatórias, era isenta de taxas e impostos. Esse "benefício" fez crescer sua demanda, e com isso instaura-se o conflito entre Uber x Táxi. Porém já era tarde, pois se integrar a um contexto de dificuldade de mobilidade urbana no espaço da cidade não seria tarefa difícil para a Uber. 

Somado a dificuldade de mobilidade, temos um serviço de transporte público ineficiente na maioria das cidades brasileiras. Logo, a Uber viria a oferecer uma alternativa, muitas das vezes, mais barato que os transportes coletivos (ônibus, metrô, barcas, etc.). Com carros do ano, ar-condicionado e brindes como balas, a Uber barganha a aceitação da população. A estratégia do capitalista nunca falha: oferece um produto de qualidade, precariza seus serviços no médio prazo, e mantém (ou aumenta) seus custos mesmo deteriorado. 

A salvação de um transporte diferenciado que entregava água gelada, balinhas, música ambiente e ar-condicionado, hoje já não se diferencia muito dos táxis. Podemos atribuir ao aumento do valor dos combustíveis, ou a diminuição dos repasses aos motoristas (ou empreendedores). Fato é, que a estratégia de empresas como a Uber, é a de chegar no prejuízo, oferecendo milagres para encantar seus usuários (ou clientes) e forçar mudanças estruturais na legislação.

A força que o capitalista faz para flexibilizar as leis trabalhistas, é a mesma que os trabalhadores farão para pagar essa dívida. Por isso, já ouvimos o burburinho no ar, de clientes insatisfeitos com os serviços oferecidos pela Uber, e paralelamente vemos a diminuição do número de motoristas por esses app's. O problema é a grande parcela de trabalhadores dependentes dessas empresas. Se plataformas como essas deixar o país, não me responsabilizo pelo aumento significativo do número de desempregados.