07.12.2019
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07.12.2019

Amanda Zaccaro
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 7h30 da manhã. Acordei com a certeza de que minha vida fitness tinha começado. Estava pronta para levantar e separar a roupa da academia daquele dia mas, por algum motivo não identificado, meu corpo não respondia exatamente como minhas ordens. Levantar da cama, um ato simples, mas impossível. 

Sentia dores no corpo em lugares que eu não sabia que existiam, quanto mais que pudessem doer. Rafael dizia que era assim mesmo o começo e eu teria que insistir. Ok, insistiria em levantar da cama, “depois eu vejo como vai ser”. 

Mas não foi. Maldita ideia de começar a vida fitness. Ou talvez eu tenha comido alguma coisa estragada. Devia ser TPM. Com certeza era TPM .... e alguma coisa estragada que eu comi, junto com aquele monte de exercícios desnecessários que eu tinha feito dois dias atrás. “Vou no hospital perder reunião importante que eu tenho, se eu não melhorar.”

Eu não melhorei. O chão que eu pisava rodava ao mesmo tempo que eu tentava andar nele, era uma sensação estranha, me dava náuseas e o ar não entrava nos pulmões. “Ok, vou morrer”. No fim da reunião já tinha pensado num total de 45 doenças que eu poderia ter adquirido. Dr. Google me dizia que era tumor no cérebro (ou virose) e eu já tinha certeza que seria meu fim. Rafael, com a santa paciência que Deus lhe deu, me disse: “Vou ficar de olho no celular, se precisar que eu vá até o hospital, me liga”. Eu precisaria, é claro, ficaria internada, faria cirurgias, era meu fim, tinha certeza. 

10h30 cheguei no hospital. “O que você está sentindo”, a moça da recepção que me perguntou. Como eu ia explicar pra ela que parecia que eu tinha sido atropelada por um mamute, tinha um elefante sentado no meu peito, estava mais tonta do que se eu tinha virado umas doses de tequila e o enjoo que eu sentia era esse mesmo da manhã seguinte um bom porre? “Um mal-estar estranho, um pouquinho de falta de ar e dor no corpo”, eu disse. Ela me olhou, estava com pena de mim, eu sabia. Adeus mundão. “Pode aguardar ali que vão te chamar para a triagem”. 

Entrei na sala do médico depois de alguns minutos esperando. Ele tinha os cabelos castanhos, era meio baixinho e tinha uma cara simpática. Estava com um sorriso muito largo estampado no rosto. Enquanto ele media minha pressão, cantarolava uma música alegre. Ele me fez algumas perguntas sobre o meu estado. Nem a minha cara de sofrimento tirou o sorriso do rosto daquele doutor. “Peso, altura, café da manhã de hoje, última menstruação” ... Última menstruação? Não ... será? “Bom, acho melhor você fazer um exame de sangue.” Ele me disse enquanto prescrevia e carimbava um guia, mantendo o sorriso aberto, cheio de dentes. 

“Rafael, acho melhor você vir pra cá”. Eu escrevi numa mensagem apressada. “Por quê? Tudo bem?” Ele me respondeu na sequência. “Tá sim, tudo bem, to fazendo um exame, vem pra cá.” Quis tranquilizar ele, apesar de eu saber que ele já estaria de pé no instante em que o celular dele vibrou meu nome. 

11h10 Ele chegou. Eu estava sentada aguardando o resultado do exame. Ele me deu um beijinho e perguntou se eu estava bem. Eu disse que sim e fiquei muda. Não sei qual era a minha expressão naquele momento, um mix de pânico e ansiedade? Ele insistiu me perguntando o que o médico tinha falado. 

“Amor, então... Pode ser que eu esteja grávida.” Ele, que estava sério, esboçou um sorriso. “É sério?” Ele me perguntou sem conseguir esconder uma felicidade que crescia. “Sim, precisamos aguardar o resultado do exame.” Eu disse olhando bem fundo nos olhos dele. Dizem por aí que os olhos são as janelas da alma, pois bem, Rafael é dono de uma das almas mais puras que eu conheço e tenho o prazer de ser casada. E eu imagino que é por esse motivo que seja muito fácil ver os olhos dele brilharem quando ele está muito feliz e empolgado com alguma coisa. Esse dia em especial foi a segunda vez que eu vi os olhos dele brilharem desse jeito. E isso me trouxe uma paz enorme. E então, aguardamos.

Ficamos os dois de mãos dadas alguns minutos, esperando que o médico me chamasse para o retorno. Rafael me olhava e sorria. Me perguntou algumas vezes como eu estava me sentindo. Eu não soube dizer naquele dia mais do que eu sei dizer hoje. Eu estava com muito medo de ficar feliz. Um medo enorme de criar qualquer tipo de expectativa e me decepcionar. Mas eu queria muito estar feliz. E meu humor oscilava entre esses dois momentos. Felicidade extrema e o medo de senti-la.

11h45 Ouço meu nome. Levantamos, respirei fundo na tentativa de conter uma lágrima reprimida. Entramos na sala do Dr. Sorriso, que continuava sorrindo, como se aquele fosse o melhor dia da vida dele. “Dr. Esse é meu marido, Rafael”. Enquanto eles trocavam um aperto de mãos, eu notei que ele segurava meu exame. Sentamos de frente para o médico sorridente. “Muito bem, muito bem...” Ele abriu o exame enquanto meu estômago dava cambalhotas. Era tarde, expectativas foram criadas. Enormes expectativas. “muito bem...” ele disse mais uma vez, enquanto corria os olhos pela página. Dr. Sorriso levantou os olhos e como se fosse possível, sorriu ainda mais enquanto nos olhava. “E aí, menino ou menina? Parabéns, vocês estão grávidos!” E então, aquele era o melhor dia da minha vida.