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Parte de mim é um empreendedor frustrado. Minhas tentativas de criar negócios ambientalmente impactantes não deram certo.

Felipe Maia
5 min
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Parte de mim é um empreendedor frustrado. Minhas tentativas de criar negócios ambientalmente impactantes não deram certo. Vamos ignorar minha responsabilidade pessoal nesses fracassos que, sinceramente, é irrelevante (posso provar) e em alguns textos vou te convidar a pensar o meio ambiente de uma forma pouco convencional.

Mas, por ora, me permita uma breve história.

Sou formado em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade Federal de Lavras. Pouco tempo antes da formatura - um semestre, talvez dois - tive a oportunidade de participar de uma consultoria ambiental nascente. Aqui tive meus primeiros contatos com projetos (muito bom!) e com a burocracia ambiental (muito ruim!). A consultoria não vingou e teve fim antes mesmo da formatura. Assim que formei, voltei para minha cidade natal e comecei as aventuras junto com meu irmão - e é aqui que a história fica interessante.

Frustração 1: Coleta e compostagem de resíduos orgânicos para venda aos produtores regionais.

A ideia é simples, não demanda muita explicação. A execução seria assim: tínhamos uma Saveiro 98, a qual usaríamos para sair coletando resto de comida em restaurantes pela cidade. Levaríamos o material, a princípio, para o galpão da nossa empresa tradicional(essa sim dá certo, mas depois falo dela) e faria uma compostagem lá, misturando a comida com resto de vegetação. Fizemos umas continhas, custo, receita, margem, variáveis... o Excel não reclamou, aceitou tudo e então fizemos o que talvez tenha sido a coisa mais inteligente. Fomos na região de Belo Horizonte e compramos um composto orgânico pronto para testar o mercado. A primeira compra foi, na verdade, uma bela oportunidade para conhecer uma empresa de compostagem que funciona (responsável pela coleta de resíduos urbanos na cidade). Levamos 10kg de composto; e foi uma amostra grátis, na verdade. Embalamos em sacos menores e tentamos vender. Sucesso, conseguimos vender para consumidor final e conseguimos um contato de um produtor bem representativo na nossa região. Ele aceitou testar o produto!

Fase de teste do composto orgânico
Fase de teste do composto orgânico

A segunda compra já foi mais agressiva. Nessa altura já tínhamos uma logo e um nome - Mude Reciclagem. Compramos 2 toneladas (kkkk). Aqui os problemas começaram a se expressar. O mercado não tinha tanta demanda igual imaginávamos, e, é claro, ainda tinha que colocar a operação para rodar. Os restaurantes fazem de tudo um pouco com o resto de resíduos orgânicos, cada um dá o seu jeitinho e em quase nenhum caso eles pagam por isso. Isso significa que para conseguir aquele resto de comida, eu precisaria pagar ou então eu correria o risco de levar a suada Saveiro 98 e não ter mais nada porque o Zé dos Porquinhos já teria passado 5 minutos antes. Ou então teria a terceira opção, que você provavelmente pensou, eu teria que educar/conscientizar o restaurante para uma "melhor" destinação do resíduos. (essa opção não funciona; não no longo prazo - posso provar também).

Prazer, Mude Reciclagem!
Prazer, Mude Reciclagem!
Embalando 2t de composto orgânico :s
Embalando 2t de composto orgânico :s

Fora isso, tem o problema que a compostagem precisa de escala, uma vez que é um processo demorado. Então seria bem difícil manter esse negócio de pé pagando pelo resíduo (guardem isso, é muito importante), buscando escala e ainda esperando 2-3 meses para a primeira remessa de composto ficar vendável. Fora o custo de venda. Não rolou.

Frustração 2: Coleta e tratamento de óleo vegetal para vendas diversificadas

Esse negócio foi muito interessante. Aprendi muito e foi por aqui que consegui entrar em uma aceleração de startups que me ensinou um bocado. Valeu a pena demais, apesar dos pesares.

Após ter deixado a ideia do resíduo orgânico de lado, eu já tinha alguns contatos de restaurantes, que adivinha... são os locais onde o óleo vegetal se concentra. Parece um bom sinal, né? E foi mesmo. Refiz algumas planilhas no Excel, novamente ele aceitou tudo - e sem reclamar. E uma coleta de óleo de fato é "mais fácil" que uma coleta de resíduo orgânico. O óleo tem um processo de tratamento mais curto, valor agregado maior, transporte mais fácil e a validade maior também (não vai deixar o local fedido no segundo dia).

Fui nessa! Compramos bombonas para armazenagem, conhecemos alguns concorrentes (eram três) e negociamos com os proprietários de restaurantes. Eles são mais receptivos para fazer um compromisso na destinação desse material - acho tem a ver com o trabalho dos outros concorrentes ser bem ruim e com o fato da coleta convencional não pegar bombonas de óleo. No início parecia promissor. Foi bastante animador e, vendo cases de sucesso de outras regiões, parecia que eu estava realmente na trilha do sucesso financeiro causando um bom impacto ambiental.

Saveirinho 98 - presente em todos os inícios - começando os trabalhos com o óleo de cozinha<br>
Saveirinho 98 - presente em todos os inícios - começando os trabalhos com o óleo de cozinha

Fizemos vendas, parcerias, construímos uma máquina (pois é...), participamos de eventos gastronômicos, havia um Instagram de divulgação bem feito e chegamos a negociar com grandes compradores (grandes mesmo :O). Tinha demanda de óleo que eu não conseguiria alcançar nem se minha cidade triplicasse de tamanho.

Máquina de tratamento de óleo (limpa e armazena 750L)<br>
Máquina de tratamento de óleo (limpa e armazena 750L)
Participação em evento gastronômico<br>
Participação em evento gastronômico

Acontece que existia uma competição pelo óleo vegetal, e era lei da selva mesmo - quem paga mais leva (isso começou depois que a concorrência chegava nos restaurantes e não tinha óleo mais, então o serviço melhorou significativamente, segundo fontes confiáveis). E o valor que eu conseguia negociar na venda não era muito bom, uma vez que, apesar de ter muita demanda, minha oferta não era muito grande. A realidade mostrou que esse negócio do óleo também não iria funcionar para as nossas expectativas, a margem de lucro era pequena. A não ser que investíssemos em uma máquina melhor e mais cara para filtrar o óleo preocupando com parâmetros laboratoriais e tivéssemos uma escala capaz de barganhar melhores preços, não teria como continuar.

Ponto de coleta!<br>
Ponto de coleta!

Isso é o início da minha relação realística com o meio ambiente e negócios. Tem mais capítulos que contarei em outras oportunidades.  Na próxima publicação te conto finalmente o que você pode esperar acompanhando este canal.

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