O contexto importa
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O contexto importa

A tentação de simplificar é enorme e é muito fácil adotar um discurso de transformação radical, geralmente construído em cima de generalidades como "sistema" e "ganância".

Felipe Maia
6 min
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A história você provavelmente já conhece: a partir da revolução industrial, a sociedade desenvolveu a produção em série, mudando drasticamente os padrões de produção e consumo. A população aumentou, os costumes se transformaram e os problemas ambientais começaram a aparecer, criando a necessidade de se discutir os rumos do desenvolvimento econômico e social, que deveria incluir a preservação do meio ambiente.

Vamos ver isso mais de perto.

A Revolução Industrial aconteceu em duas fases. A primeira teve como marco histórico o uso de motor a vapor, começou na Inglaterra, se espalhou e incluiu os EUA por volta de 1830-40. A segunda fase é mais interessante. Ela demorou um pouco mais, foi entre 1850 a 1940 que as cidades cresceram e as fábricas foram difundidas. "Avanços rápidos na criação do aço, eletricidade e produtos químicos ajudaram a alavancar a produção, incluindo a produção em massa de produtos e armas (link)". A segunda foi mais legal também porque já tinham muitas fotos, olha só.

A população realmente cresceu um absurdo nesse período. *Um minuto para informações pouco relevantes, porém legais (se quiser, pode pular): demorou toda a história da humanidade, até o ano de 1800 para atingir 1 bilhão de seres humaninhos na Terra. O segundo bilhão veio depois de só 130 anos, em 1930. O terceiro bilhão demorou 30 anos, o quarto, 15 anos e o quinto, só 13 anos.

E o Brasil? O Brasil de 1930 era uma bagunça (pois é, para variar - mas aqui estava uma bagunça no mundo todo, principalmente por conta da crise dos EUA de 29). Foi o fim da República Velha (das Oligarquias), houve a Revolução de 1930 e começou o governo de Getúlio Vargas, que ficou até 1945. No início da década de 1940, houve um forte incentivo do Estado no setor industrial, criando algumas estatais, como

  1. Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) (1940) - siderurgia
  2. Companhia Vale do Rio Doce (1942) - mineração
  3. Fábrica Nacional de Motores (1943) - mecânica pesada
  4. Fábrica Nacional de Álcalis (1943) - química.

E a população no Brasil?

"A maior aceleração no aumento da população brasileira ocorreu durante a década de 1950. Naquele período, a população cresceu uma média de 3,0% ao ano, correspondendo a um acréscimo relativo de 34,9% no efetivo populacional" (link IBGE - é um arquivo, só clica se quiser baixar. Essa parte está na segunda página, pode confiar). Éramos 41 milhões de brasileirinhos em 1940, 51 milhões em 1950. Em 1960, já éramos 70 milhões (segundo a mesma fonte).


Que diferença, ein? É de se esperar que tenha impactos negativos nesse caminho, não pelo egoísmo ou inconsequência homem, mas por escala mesmo. É muita gente. Imagina hoje, somos 7,8 bilhões e contando.

Bom, falei tudo isso para termos um contexto do mundo na época em que começaram a ter as primeiras consequências ambientais negativas. O contexto importa porque tendemos a simplificar muito as coisas para caber no nosso raciocínio ou para confirmar nossos achismos com parte da realidade que nos convém. Veja se a ideia faz sentido para você, vamos lá:

Acredito que quem está lendo este texto, assim como eu, tenha nascido entre 1990-2000. E para nós, é cômodo (e justo!) se indignar com a situação ambiental de hoje. É fácil ser simplista, culpar generalidades e ver na revolução um caminho para um mundo melhor. É um raciocínio (quase) lógico, fácil e preguiçoso: vemos um monte de lixo nos oceanos, tartarugas comendo sacolas e aí já vem na cabeça a "ambição capitalista", o "egoísmo humano" e a "inconsequência" de uma massa consumista. Depois disso, propomos a solução: temos que mudar o sistema - e as pessoas dentro dele! E pela pressa vai ter que ser bem rápido - se não vamos morrer queimados ou afogados em microplásticos! Seja consciente! Compre escova de bambu (nada contra, ok?)! Compre canudo inox (sem problemas)! Vá de bicicleta!

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Nada contra quem se propõe a ajudar o meio ambiente por esse caminho, de verdade. Espero que possa continuar o trabalho com as melhores intenções e, se é você essa pessoa, vá em frente (antes se inscreva no canal e me mande uma mensagem, vamos nos conhecer!). Mas eu acho essa linha de atuação pouco eficaz, não vejo um poder transformador de um "sistema" nesse pensamento. E por quê?

Porque acho que isso ignora as causas reais dos problemas ambientais, que são muitas. Claro, não serei eu a listar aqui as causas dos problemas ambientais, porque eu não sei. Mas acredito que culpar o "sistema", o "dinheiro", a "ganância" ou a "ignorância", resolve muito pouco; na verdade talvez até atrapalhe. A realidade é composta por inúmeros fatores, o que torna um tema como meio ambiente muito complexo, muito mesmo. É extremamente difícil pensar e atuar em um cenário complexo.

Na introdução deste texto, tentei ir um pouco mais fundo em um desses fatores. Pouco mais fundo mesmo, pois ainda tinha o estudo de faixa etária, densidade urbana e rural, expectativa de vida, entre outros; tudo dentro de um mesmo estudo de "população" que afeta significativamente o meio ambiente. Adicione política, tecnologia, economia, sociedade, geografia... o buraco é muito fundo.

A tentação de simplificar é enorme e é muito fácil adotar um discurso de transformação radical, geralmente construído em cima de generalidades como "sistema" e "ganância". A impressão que dá é de que alguém nesse planeta tem a resposta para um desenvolvimento sustentável e que esse alguém grita a solução para nós que, de ignorantes que somos, não conseguimos entender e continuamos insistentemente no caminho da extinção da humanidade. Eu duvido muito desse alguém.

Enfim, estamos chegando ao final deste texto e a mensagem que queria deixar é que a realidade é complexa, quer queira ou não. Atuar de forma eficaz em um cenário complexo requer entendimento, pés no chão, coragem e tantas outras coisas que não sei. O meio ambiente é um desses cenários, onde a simplificação é tentadora, prejudicial e uma distração do que realmente faria alguma diferença - sinal disso é a manutenção de um estado ambiental dramático e a inundação de clichês, receitas e objetivos inatingíveis.

Vou deixar um vídeozinho aqui para reflexão! Duas observações sobre esse vídeo:

  1. é para reflexão mesmo, não concordo com tudo que o Jordan Peterson disse e nem com o sensacionalismo que o publicador (é assim que fala mesmo?) fez com a Greta Thunberg, mas de fato cabe bem aqui no contexto.
  2. O vídeo está em inglês e sem legenda. Caso alguém tenha curiosidade e não entenda alguma parte, me chama que conversamos!

E aí, o que achou?

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