A tentação de simplificar é enorme e é muito fácil adotar um discurso de transformação radical, geralmente construído em cima de generalidades como "sistema" e "ganância".
A história você provavelmente já conhece: a partir da revolução industrial, a sociedade desenvolveu a produção em série, mudando drasticamente os padrões de produção e consumo. A população aumentou, os costumes se transformaram e os problemas ambientais começaram a aparecer, criando a necessidade de se discutir os rumos do desenvolvimento econômico e social, que deveria incluir a preservação do meio ambiente. | ||
Vamos ver isso mais de perto. | ||
A Revolução Industrial aconteceu em duas fases. A primeira teve como marco histórico o uso de motor a vapor, começou na Inglaterra, se espalhou e incluiu os EUA por volta de 1830-40. A segunda fase é mais interessante. Ela demorou um pouco mais, foi entre 1850 a 1940 que as cidades cresceram e as fábricas foram difundidas. "Avanços rápidos na criação do aço, eletricidade e produtos químicos ajudaram a alavancar a produção, incluindo a produção em massa de produtos e armas (link)". A segunda foi mais legal também porque já tinham muitas fotos, olha só. | ||
A população realmente cresceu um absurdo nesse período. *Um minuto para informações pouco relevantes, porém legais (se quiser, pode pular): demorou toda a história da humanidade, até o ano de 1800 para atingir 1 bilhão de seres humaninhos na Terra. O segundo bilhão veio depois de só 130 anos, em 1930. O terceiro bilhão demorou 30 anos, o quarto, 15 anos e o quinto, só 13 anos. | ||
E o Brasil? O Brasil de 1930 era uma bagunça (pois é, para variar - mas aqui estava uma bagunça no mundo todo, principalmente por conta da crise dos EUA de 29). Foi o fim da República Velha (das Oligarquias), houve a Revolução de 1930 e começou o governo de Getúlio Vargas, que ficou até 1945. No início da década de 1940, houve um forte incentivo do Estado no setor industrial, criando algumas estatais, como | ||
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E a população no Brasil? | ||
"A maior aceleração no aumento da população brasileira ocorreu durante a década de 1950. Naquele período, a população cresceu uma média de 3,0% ao ano, correspondendo a um acréscimo relativo de 34,9% no efetivo populacional" (link IBGE - é um arquivo, só clica se quiser baixar. Essa parte está na segunda página, pode confiar). Éramos 41 milhões de brasileirinhos em 1940, 51 milhões em 1950. Em 1960, já éramos 70 milhões (segundo a mesma fonte). | ||
Que diferença, ein? É de se esperar que tenha impactos negativos nesse caminho, não pelo egoísmo ou inconsequência homem, mas por escala mesmo. É muita gente. Imagina hoje, somos 7,8 bilhões e contando. | ||
Bom, falei tudo isso para termos um contexto do mundo na época em que começaram a ter as primeiras consequências ambientais negativas. O contexto importa porque tendemos a simplificar muito as coisas para caber no nosso raciocínio ou para confirmar nossos achismos com parte da realidade que nos convém. Veja se a ideia faz sentido para você, vamos lá: | ||
Acredito que quem está lendo este texto, assim como eu, tenha nascido entre 1990-2000. E para nós, é cômodo (e justo!) se indignar com a situação ambiental de hoje. É fácil ser simplista, culpar generalidades e ver na revolução um caminho para um mundo melhor. É um raciocínio (quase) lógico, fácil e preguiçoso: vemos um monte de lixo nos oceanos, tartarugas comendo sacolas e aí já vem na cabeça a "ambição capitalista", o "egoísmo humano" e a "inconsequência" de uma massa consumista. Depois disso, propomos a solução: temos que mudar o sistema - e as pessoas dentro dele! E pela pressa vai ter que ser bem rápido - se não vamos morrer queimados ou afogados em microplásticos! Seja consciente! Compre escova de bambu (nada contra, ok?)! Compre canudo inox (sem problemas)! Vá de bicicleta! | ||
Nada contra quem se propõe a ajudar o meio ambiente por esse caminho, de verdade. Espero que possa continuar o trabalho com as melhores intenções e, se é você essa pessoa, vá em frente (antes se inscreva no canal e me mande uma mensagem, vamos nos conhecer!). Mas eu acho essa linha de atuação pouco eficaz, não vejo um poder transformador de um "sistema" nesse pensamento. E por quê? | ||
Porque acho que isso ignora as causas reais dos problemas ambientais, que são muitas. Claro, não serei eu a listar aqui as causas dos problemas ambientais, porque eu não sei. Mas acredito que culpar o "sistema", o "dinheiro", a "ganância" ou a "ignorância", resolve muito pouco; na verdade talvez até atrapalhe. A realidade é composta por inúmeros fatores, o que torna um tema como meio ambiente muito complexo, muito mesmo. É extremamente difícil pensar e atuar em um cenário complexo. | ||
Na introdução deste texto, tentei ir um pouco mais fundo em um desses fatores. Pouco mais fundo mesmo, pois ainda tinha o estudo de faixa etária, densidade urbana e rural, expectativa de vida, entre outros; tudo dentro de um mesmo estudo de "população" que afeta significativamente o meio ambiente. Adicione política, tecnologia, economia, sociedade, geografia... o buraco é muito fundo. | ||
A tentação de simplificar é enorme e é muito fácil adotar um discurso de transformação radical, geralmente construído em cima de generalidades como "sistema" e "ganância". A impressão que dá é de que alguém nesse planeta tem a resposta para um desenvolvimento sustentável e que esse alguém grita a solução para nós que, de ignorantes que somos, não conseguimos entender e continuamos insistentemente no caminho da extinção da humanidade. Eu duvido muito desse alguém. | ||
Enfim, estamos chegando ao final deste texto e a mensagem que queria deixar é que a realidade é complexa, quer queira ou não. Atuar de forma eficaz em um cenário complexo requer entendimento, pés no chão, coragem e tantas outras coisas que não sei. O meio ambiente é um desses cenários, onde a simplificação é tentadora, prejudicial e uma distração do que realmente faria alguma diferença - sinal disso é a manutenção de um estado ambiental dramático e a inundação de clichês, receitas e objetivos inatingíveis. | ||
Vou deixar um vídeozinho aqui para reflexão! Duas observações sobre esse vídeo: | ||
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