Sobre os ossos dos mortos - Olga Tokarczuk
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Sobre os ossos dos mortos - Olga Tokarczuk

A Sra. Janina Dusheiko é uma idosa, enferma e vista por muitos como excêntrica, que vive em um pequeno vilarejo, no interior da Polônia, próximo da fronteira com a República Tcheca.

Ana Luiza Marques
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Sobre os ossos dos mortos - Olga Tokarczuk. Editora Todavia. 
Sobre os ossos dos mortos - Olga Tokarczuk. Editora Todavia. 

A Sra. Janina Dusheiko é uma idosa, enferma e vista por muitos como excêntrica, que vive em um pequeno vilarejo, no interior da Polônia, próximo da fronteira com a República Tcheca.

Na vila, ela divide suas ocupações entre cuidar das casas dos vizinhos - quase todas abandonadas durante o inverno -, aulas de inglês para as crianças da escola na cidade mais próxima, astrologia, chá-preto, defesa dos animais contra a caça predatória local e, ainda, a tentativa de tradução da obra de William Blake, acompanhada de seu amigo Dísio. 

Dentre as suas muitas peculiaridades, a Sra. Dusheiko rejeita o próprio nome e todos os nomes e sobrenomes oficiais, vistos como banais e alheios. É assim que somos apresentados aos seus vizinhos - os poucos resistentes ao inverno no local - Esquisito e Pé Grande.

Que falta de imaginação ter nomes e sobrenomes oficiais. Ninguém jamais se lembra deles, pois são tão banais e alheios à pessoa que não possuem nenhuma ligação com ela. Além disso, todas as gerações têm as suas modas e, de repente, todos se chamam Margarida, Patrício ou - Deus me livre - Janina. Por isso procuro sempre evitar o uso de nomes e sobrenomes. Em vez disso, prefiro adotar denominações que surgem espontaneamente na cabeça quando olho para alguém pela primeira vez. Estou convencida de que essa é a maneira mais adequada de usar a linguagem, em vez de trocar palavras desprovidas de qualquer significado.

Essa vida, aparentemente pacata, começa a mudar com o desaparecimento das cadelas da Sra. Dusheiko, chamadas por ela carinhosamente de "as meninas", e o início de uma série de assassinatos não resolvidos pela polícia que passam a acontecer na região. 

O mistério em torno das mortes dos moradores locais permeia toda a narrativa. Mas isso não limita o texto ao suspense. Na verdade, os acontecimentos levam a protagonista a refletir sobre a morte e as tensões entre a humanidade, a natureza e a técnica. 

Saímos de casa e, imediatamente, nos envolveu esse ar muito familiar - frio e úmido - que nos relembra todos os invernos que o mundo não fora criado para a humanidade, e durante pelo menos a metade do ano nos demonstra a sua hostilidade.

O pessimismo da Sra. Dusheiko em relação aos seres humanos é atenuado pelos encontros que ocorrem ao longo do livro, com Dísio, Boas Novas, Esquisito e Boros. E talvez seja assim com todos nós, pois, como conclui a narradora nas páginas finais do livro, "viver a dois é sempre mais fácil".

O livro foi escrito pela escritora polonesa Olga Nawoja Tokarczuk, que recebeu o Nobel de Literatura de 2018. A edição linda que li e está na foto que abre o texto é da editora Todavia e a ilustração da capa é da Talita Hoffmann. 

Espero que gostem da leitura!