A antiga chave
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A antiga chave

A antiga chave

anderson
9 min
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A antiga chave

Embora o ato de abençoar pareça conflitar diretamente com as crenças de

algumas tradições, ele também está em estreita sintonia com os

ensinamentos dos grandes mestres espirituais do passado. Eu o apresento

aqui porque descobri pessoalmente que ele guarda a chave das curas mais

profundas, para o maior número de pessoas, no período de tempo mais curto.

Os textos espirituais ocidentais que preservavam grande parte da sabedoria

da bênção foram editados ou, em alguns casos, totalmente suprimidos.

Atualmente, precisamos rebuscar antigas técnicas preservadas nos livros

bíblicos “perdidos” que foram descobertos na metade do século XX.

Curiosamente, uma das melhores descrições do poder do não julgamento

está num dos mais controversos: o Evangelho de Tomé, que faz parte da

Biblioteca de Nag Hammadi.

O ponto crucial dessa parte dos Evangelhos é um registro do que Jesus dizia

aos que ele conheceu durante sua vida. É aqui que encontramos o relato de

uma conversa que ele teve com os discípulos a respeito dos segredos da vida,

da morte e da imortalidade.

Respondendo a uma pergunta sobre o que podemos esperar como destino

final, Jesus começa oferecendo chaves para o que ele chama de “árvores” da

nossa existência, atributos de vida que são constantes e permanentes. “Quem

as conhecer [as árvores] não provará a morte”, [19] ele diz. Uma dessas

chaves é a capacidade de precaver-nos contra o julgamento.

Na elegância familiar que frequentemente encontramos na verdadeira

sabedoria, Jesus descreve o estado de consciência neutra dizendo aos seus

discípulos o que devem fazer para entrar no lugar de imortalidade que ele

chama “reino”.

Jesus diz: “Quando transformardes dois em um, e fizerdes o interior como o

exterior, e o exterior como o interior, e o de cima igual ao de baixo, e quando

fizerdes do masculino e do feminino uma só coisa... então entrareis no

reino”. [20] Compreendemos imediatamente o que ele está dizendo.

Só quando podemos ver além das diferenças que julgamos — isto é, quando

eliminamos as polaridades que produziram a separação das coisas no

passado — é que podemos criar para nós mesmos o estado de ser em que

“não provaremos a morte”. Quando podemos ir além do certo e do errado,

do bem e do mal que a vida nos mostra, encontramos a nossa maior força

para nos tornar mais do que as coisas que nos fizeram sofrer. Embora a

mente saiba que essas coisas podem existir num nível, é o sentimento em

nosso coração que fala ao Campo da Mente de Deus... e cria.

Como mestre e curador, Jesus nos mostra assim como podemos transcender

os nossos sofrimentos por meio da sabedoria do nosso coração. Apesar de

outros ensinamentos sugerirem técnicas semelhantes, as descritas por Jesus

talvez sejam as mais claras e concisas. Isso talvez se deva, em parte, às lições

que ele assimilou durante o seu aprendizado com outras tradições espirituais.

Embora Tomé nos ofereça a essência dos ensinamentos de Jesus, as

traduções modernas do seu evangelho nos deixam um pouco com a sensação

de estarmos lendo no Reader’s Digest uma versão condensada de ideias que

poderiam ser muito mais expandidas!

Ofereço a seguir uma explicação mais desenvolvida do processo de bênção

de Jesus, elaborada a partir de uma compilação dos seus ensinamentos e das

pregações de outros mestres espirituais.

As instruções

As traduções ocidentais da Bíblia empregam simplesmente o termo

“bendizer” ou “abençoar”, sem dizer como fazer isso ou por que a prática é

eficaz. Talvez as referências mais conhecidas nesse contexto sejam as

passagens em que Jesus descreve aos seus discípulos as qualidades

espirituais que lhes serão mais proveitosas neste mundo e no outro.

“Bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam.” [21]

Por mais estranhas que essas palavras possam parecer no mundo atual em

que é fácil confundir justiça com “revide”, só posso imaginar como era

espantoso esse modo de pensar 2.000 anos atrás!

Nas traduções editadas, vemos esse tema repetindo-se em graus diversos ao

longo dos ensinamentos de Jesus. Na carta aos romanos, por exemplo, as

instruções referentes à reação que devemos ter ao sermos hostilizados

deixam poucas dúvidas quanto à intenção da mensagem. “Abençoai os que

vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis.” [22]

Embora muitos ensinamentos de Jesus relacionados com a bênção fossem

oferecidos para lidar com afrontas pessoais, físicas ou verbais, a ideia de

abençoar também se estende à angústia que sentimos por saber que outras

pessoas estão sendo ultrajadas.

Quando alguma coisa dolorosa nos atinge, a dor emocional pode manifestarse em três lugares. Embora um ou outro desses lugares sejam mais fáceis de

identificar, nos três a bênção produz efeitos de grande eficácia. Esse é o

poder da bênção: ela nos leva muito além da velha armadilha de julgar certo

ou errado o que aconteceu.

Talvez você se pergunte, “Por que eu abençoaria justamente as coisas que

me fazem sofrer?” Essa é uma boa pergunta; eu a fiz para mim mesmo anos

atrás quando descobri o poder da bênção. A resposta é clara e até

enganosamente simples. Temos duas escolhas relacionadas com o modo de

lidar com os sofrimentos da vida: podemos mascará-los e enterrá-los,

deixando que aos poucos nos roubem as coisas que amamos até finalmente

nos destruir, ou podemos aceitar a cura que vem com a aceitação das agruras

da vida, vivendo saudáveis e revigorados. Pessoalmente, acredito que essa é

a intenção da afirmação que encontramos no Evangelho de Tomé: “Se

fizerdes nascer o que está dentro de vós, ele vos salvará. Se não o fizerdes,

ele vos destruirá”.

O desafio, bem como a recompensa, resultantes da aplicação desse princípio

em nossa vida podem resumir-se nas palavras de São Francisco. Ele diz a

respeito da própria existência, “Foi fácil amar a Deus em tudo o que era belo.

As lições de um conhecimento mais profundo, porém, ensinaram-me a

acolher Deus em todas as coisas”. Isto é, tanto as experiências desagradáveis

quanto as prazerosas. A escolha é nossa. Se escolhemos a cura, o caminho é

a bênção.

Quando tomamos a decisão de abençoar, deparamo-nos com três aspectos

ou grupos de pessoas em cada situação que pedem para ser abençoadas.

Embora sempre possa haver exceções, de modo geral devemos abençoar os

que sofrem, a causa do sofrimento e os que testemunham e são esquecidos.

Descrevo cada grupo brevemente:

Abençoar os que sofrem: Os primeiros a quem devemos dirigir a nossa

bênção são evidentemente os que sofrem. Em alguns casos, como nas

tragédias do 11 de setembro e de Beslan, a distância entre nós e os que estão

sofrendo de forma atroz pode ser enorme. Em outros, como uma promessa

quebrada ou a traição da confiança de uma pessoa amada, o sofrimento pode

estar em nosso próprio quintal, pois somos nós que estamos sofrendo. De

qualquer modo, essa talvez seja a parte mais fácil do processo da bênção:

abençoar aqueles que são o objeto do sofrimento.

Abençoar o que causa o sofrimento: Para muitas pessoas, essa é a parte mais

difícil. Para outras, entretanto, abençoar as pessoas ou as coisas que fazem

sofrer, que nos causam dor e tiram de nós o que mais amamos, é uma atitude

tão em sintonia com as tradições em que fomos educados que parece quase

uma segunda natureza.

É nesse ponto que o poder da bênção se torna muito real. Quando o

encontramos dentro de nós mesmos para abençoar as pessoas e as coisas que

nos ferem, nós nos renovamos. É preciso ser uma pessoa forte para elevarse acima do certo e errado dos acontecimentos e dizer: “Hoje, sou mais do

que o sofrimento do meu passado”.

Conheço pessoas que me dizem: “Farei essa ‘coisa de bênção’ só uma vez,

quando não houver ninguém por perto, porque meus amigos jamais

entenderiam esse modo de pensar. E se eu não gostar do que acontecer,

voltarei a sentir o ódio e a inveja que me foram úteis no passado”.

Eu respondo: “Ótimo! Uma vez é tudo o que é preciso!” Sinto-me confiante

em minha resposta por um único motivo. No momento — no instante — em

que abrimos a porta para uma possibilidade maior de bênção em nossa vida,

mudamos internamente. Há uma transformação. Nessa mudança, não

podemos voltar atrás... e por que iríamos querer isso? Por que escolheríamos

alimentar sentimentos que nos fazem sofrer ao longo do tempo se podemos

nutrir os que nos curam?

Quer tente uma vez e volte atrás — ou não — você deve levar em

consideração todos os aspectos da experiência para que a bênção seja eficaz,

inclusive a bênção de pessoas, lugares e coisas pelos quais você sente

aversão e o enfurecem.

Abençoar os que testemunham o sofrimento: Essa é a parte da bênção mais

fácil de negligenciar. Além da relação entre os que sofrem e os que causam

o sofrimento, há os que observam e procuram compreender o que veem.

Somos nós! Nós que não somos atingidos precisamos reconciliar o

assassinato de civis e de crianças inocentes em tempos de guerra, a

brutalidade contra as mulheres em muitas sociedades e as consequências de

relacionamentos fracassados e de lares desfeitos.

Embora seja fácil esquecer-nos de nós mesmos diante do sofrimento alheio,

é também a nossa reação — os sentimentos que perduram — que forma a

mensagem que enviamos para a Mente de Deus depois de uma tragédia.

Finalmente, é o modo como sentimos individual ou coletivamente que

preenche o vazio na consciência depois de uma tragédia, em qualquer escala,

desde a familiar até a global. Abençoe-nos em nosso testemunhar!

Modelo de bênção

A chave para receber o presente da bênção é que ela deve ser dada.

Primeiro, encontre um lugar reservado onde ninguém possa ouvi-lo. Em

seguida, simplesmente diga em voz alta o que segue:

• “Eu abençoo ____________.”

[Diga o(s) nome(s) dos que estão sofrendo ou que sofreram.]

• “Eu abençoo ____________.”

[Diga o(s) nome(s) de quem ou do que causou o sofrimento. Seja o mais

específico possível.]

• “Eu abençoo a mim mesmo como testemunha.”