A insanidade do tempo psicológico.
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A insanidade do tempo psicológico.

A insanidade do tempo psicológico.

anderson12/21/2021
16 min
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A insanidade do tempo psicológico.

Não teremos qualquer dúvida de que o tempo psicológico é uma doença mental se

olharmos para as suas manifestações coletivas. Elas ocorrem, por exemplo, na forma de

ideologias como o comunismo, o nacional-socialismo ou qualquer nacionalismo, ou de

sistemas rígidos de crenças religiosas, que atuam na suposição implícita de que o bem maior 

repousa no futuro e que, portanto, o fim justifica os meios. O fim é uma idéia, um ponto

na mente projetado no futuro, quando a salvação, sob a forma de felicidade, satisfação,

igualdade, libertação, etc., será alcançada. Muitas vezes, os meios para atingir o fim são a

escravidão, a tortura e o assassinato de pessoas no presente.

Por exemplo, estima-se que cerca de cinqüenta milhões de pessoas foram assassinadas

para promover a causa do comunismo e levar a um “mundo melhor” na Rússia, na China e

em outros países1

! Esse é um exemplo terrível de como uma crença em um paraíso no

futuro cria um inferno no presente. Resta alguma dúvida de que o tempo psicológico é uma

doença mental séria e perigosa?

De que forma esse padrão mental opera em sua vida? Você está sempre tentando

chegar a algum lugar além daquele onde você está? A maior parte do que você faz é apenas

um meio para alcançar um determinado fim? A satisfação está sempre em outro lugar ou

restrita a breves prazeres como sexo, comida, bebida e drogas, ou relacionada a uma

emoção ou excitação? Você está sempre pensando em vir a ser, adquirir, alcançar ou, em

vez disso, está à caça de novas emoções e prazeres? Você acha que, quanto mais bens

adquirir, uma pessoa se sentirá melhor ou psicologicamente completa? Está à espera de um

homem ou de uma mulher que dê um sentido à sua vida?

No estado normal de consciência, o poder e o infinito potencial criativo do Agora

estão completamente encobertos pelo tempo psicológico. Nossa vida perde a vibração, o

frescor, o sentido de encantamento. Os velhos padrões de pensamento, emoção,

comportamento, reação e desejo são encenados repetidas vezes, como um roteiro dentro

da nossa mente que nos dá uma identidade, mas distorce ou encobre a realidade do Agora.

A mente, então, desenvolve uma obsessão pelo futuro, buscando fugir de um presente

insatisfatório.

A negatividade e o sofrimento têm raízes no tempo

Mas acreditar que o futuro será melhor do que o presente nem sempre é uma ilusão. O presente pode

ser terrível e as coisas podem melhorar no futuro, e muitas vezes melhoram.

O futuro, geralmente, é uma réplica do passado. É possível haver mudanças

superficiais, mas as transformações reais são raras e dependem da possibilidade de estarmos

presentes para dissolver o passado, acessando o poder do Agora. O que percebemos como

futuro é uma parte intrínseca do nosso estado de consciência do momento. Se a nossa

mente carrega um grande fardo do passado, vamos sentir isso. O passado se perpetua pela

fa1ta de presença. O que dá forma ao futuro é a qualidade da nossa percepção do

momento presente, e o futuro, é claro, só pode ser vivenciado como presente.

Podemos ganhar 10 milhões de reais, mas esse tipo de mudança é apenas superficial.

Vamos simplesmente continuar a representar os mesmos padrões condicionados, em

ambientes mais luxuosos. Os seres humanos aprenderam a dividir o átomo. Em vez de 

matar dez ou vinte pessoas com um porrete de madeira, uma pessoa agora pode matar um

milhão delas com um simples apertar de um botão. Será que isso é uma mudança real?

Se é a qualidade da nossa percepção neste momento que determina o futuro, então o

que é que determina a qualidade da nossa consciência? O nosso grau de presença. Portanto,

o único lugar onde pode ocorrer uma mudança verdadeira e onde o passado pode se

dissolver é no Agora.

Toda a negatividade é causada pelo acúmulo de tempo psicológico e pela negação do

presente. O desconforto, a ansiedade, a tensão, o estresse, a preocupação, todas essas

formas de medo são causadas por excesso de futuro e pouca presença. A culpa, o

arrependimento, o ressentimento, a injustiça, a tristeza, a amargura, todas as formas de

incapacidade de perdão são causadas por excesso do passado e pouca presença.

Muitos acham difícil acreditar na possibilidade de existir um estado de consciência

absolutamente livre de toda a negatividade. E até o momento, esse é o estado de liberdade

para o qual apontam todos os ensinamentos espirituais. É a promessa da salvação, não em

um futuro ilusório, mas bem aqui e agora.

Talvez seja difícil reconhecer que o tempo é a causa do nosso sofrimento ou de

nossos problemas. Acreditamos que eles são causados por situações específicas em nossas

vidas, e, de um ponto de vista convencional, isso é uma verdade. Mas enquanto não

lidarmos com a disfunção básica da mente – o apego ao passado e ao futuro e a negação do

presente –, os problemas apenas mudam de figura. Se todos os nossos problemas, ou

causas identificadas de sofrimento ou infelicidade, fossem milagrosamente solucionados no

dia de hoje, sem que nos tornássemos mais presentes e mais conscientes, logo nos

veríamos com um outro conjunto de problemas ou causas de sofrimento semelhantes,

como uma sombra que nos seguisse aonde quer que fôssemos. Em última análise, o único

problema é a própria mente limitada pelo tempo.

Não posso acreditar que algum dia venha a alcançar 'um ponto onde eu esteja completamente livre de

problemas.

Você tem razão. Você nunca poderá alcançar esse ponto porque você está nesse ponto

agora.

Não há salvação dentro do tempo. Você não pode se libertar no futuro. A presença é

a chave para a liberdade. Portanto, você só pode ser livre agora.

Descobrindo a vida por baixo da situação de vida 

Não vejo como ser livre agora. Estou extremamente infeliz com a minha vida neste momento. Isso é

um fato, e eu estaria me iludindo se tentasse me convencer de que tudo está bem, quando não está. Para

mim, o presente é triste e nada libertador. O que me faz prosseguir é a esperança de um futuro melhor.

Você pensa que a sua atenção está no momento presente quando, na verdade, está

totalmente envolvida pelo tempo. Você não pode estar infeliz e completamente presente no

Agora, ao mesmo tempo.

Aquilo a que nos referimos como vida deveria ser chamado, mais precisamente, de

“situação de vida”. É o tempo psicológico, passado e futuro. Certas coisas do passado não

seguiram o caminho que queríamos. Ainda resistimos ao que aconteceu no passado e agora

estamos resistindo ao que é. A esperança nos leva a prosseguir, mas a esperança nos

mantém focalizados no futuro, e esse foco contínuo perpetua a negação do Agora e,

portanto, a nossa infelicidade.

É verdade que a situação atual da minha vida é o resultado de coisas que aconteceram no passado,

mas ainda assim é a minha situação atual e estar preso a ela é o que me faz infeliz.

Esqueça a situação da sua vida por um instante e preste atenção à sua vida.

Qual é a diferença?

A nossa situação de vida existe no tempo.

Nossa vida é agora.

Nossa situação de vida é coisa da mente.

Nossa vida é real.

Encontre o “portão estreito que conduz à vida”. Ele é chamado de Agora. Restrinja a

sua vida a este exato momento. Sua situação de vida pode estar cheia de problemas – a

maioria das situações de vida está –, mas verifique se você tem algum problema neste exato

momento. Não amanhã ou dentro de dez minutos, mas já. Você tem um problema agora?

Quando estamos cheios de problemas, não há espaço para nada novo entrar, nenhum

espaço para uma solução. Portanto, sempre que você puder, crie algum espaço de modo a

encontrar a vida sob a sua situação de vida.

Utilize os seus sentidos plenamente. Esteja onde você está. Olhe em volta. Apenas

olhe, não interprete. Veja as luzes, as formas, as cores, as texturas. Esteja consciente da

presença silenciosa de cada objeto. Esteja consciente do espaço que permite cada coisa

existir. Ouça os sons, não os julgue. Ouça o silêncio por trás dos sons. Toque alguma coisa,

qualquer coisa. Sinta e reconheça o Ser dentro dela. Observe o ritmo da sua respiração.

Sinta o ar fluindo para dentro e para fora. Sinta a energia vital dentro do seu corpo. Permita

que as coisas aconteçam, no interior e no exterior. Deixe que todas as coisas “sejam”.

Mova-se profundamente para dentro do Agora. 

Você está deixando para trás o agonizante mundo da abstração mental e do tempo.

Está se libertando da mente doentia que suga a sua energia vital, do mesmo modo que,

lentamente, ela está envenenando e destruindo a Terra. Você está acordando do sonho do

tempo e entrando no presente.

Todos os problemas são ilusões da mente

É como se um grande peso tivesse sido tirado dos meus ombros. Sinto-me leve... mas os problemas

ainda estão lá me esperando, não estão? Ainda não foram resolvidos. Será que não os estou evitando

apenas temporariamente?

Se você estivesse no paraíso, sua mente não demoraria a encontrar algum problema.

Não se trata, basicamente, de solucionar seus problemas. Trata-se de perceber que não

existem problemas. Apenas situações com que temos de lidar agora ou deixar de lado e

aceitar como uma parte do “ser” neste momento, até que se transformem ou possam ser

negociadas. Os problemas são criados pela mente e precisam de tempo para sobreviver.

Eles não conseguem sobreviver na atualidade do agora.

Focalize sua atenção no Agora e verifique quais são os seus problemas neste exato

momento.

Não estou obtendo uma resposta porque é impossível termos problemas quando toda

a nossa atenção está inteira no Agora. Pode ser que haja uma ou outra situação que você

precise resolver ou aceitar. Por que transformar isso em problema? Por que transformar

tudo em problema? A vida já não é bastante desafiadora do jeito que é? Para que

precisamos de problemas? A mente, inconscientemente, adora problemas porque eles

podem ser de vários tipos. Isso é normal e doentio. A palavra “problema” significa que

estamos lidando mentalmente com uma situação, sem que exista um propósito real ou uma

possibilidade de agir no momento, e também que estamos inconscientemente fazendo dele

uma parte do nosso sentido de eu interior. Ficamos tão sobrecarregados pela nossa situação

de vida que perdemos o sentido da vida, ou do Ser. Ou então vamos carregando na mente

o peso insano de uma centena de coisas que iremos fazer ou poderemos ter de fazer no

futuro, em vez de focalizarmos a atenção sobre uma coisa que podemos fazer agora.

Quando criamos um problema, criamos sofrimento. Por isso, é preciso tomar uma

decisão simples: não importa o que aconteça, não vou criar mais sofrimento nem

problemas para mim. É uma escolha simples, mas radical. Ninguém faz uma escolha dessas 

a menos que esteja verdadeiramente sufocado pelo sofrimento. E não se consegue levar

esse tipo de decisão adiante a não ser acessando o poder do Agora. Se não criar mais

sofrimento para si mesmo, você não criará também para os outros. Deixará, assim, de

contaminar nosso lindo planeta, seu próprio espaço interior e a psique humana coletiva

com a negatividade da criação de problemas.

Se você alguma vez esteve numa situação de emergência, de vida ou morte, saberá que

isso não foi um problema. A mente não teve tempo para se distrair e transformar a situação

em problema. Numa emergência de verdade, a mente pára. Ficamos absolutamente

presentes no Agora, e algo infinitamente mais poderoso passa a dominar. Essa é a razão

pela qual existem inúmeros relatos de pessoas comuns que, de uma hora para outra,

tornaram-se capazes de façanhas incrivelmente corajosas. Numa situação de emergência, ou

você sobrevive ou morre. Em qualquer dos casos, não é um problema.

Algumas pessoas ficam furiosas quando me ouvem dizer que os problemas são

ilusões. É que estou ameaçando afastar delas a imagem que têm de si próprias. Elas

investiram muito tempo num falso sentido de eu interior. Durante muitos anos, definiram

inconscientemente suas identidades de acordo com os problemas que tiveram. Quem

seriam sem eles?

Uma grande porção do que as pessoas dizem, pensam ou fazem é, na verdade,

motivada pelo medo, que está sempre ligado com o foco no futuro e com o estar fora de

contato com o Agora. Se não existirem problemas no Agora, não existirá o medo.

Caso apareça uma situação com a qual você precise lidar agora, a sua ação vai ser clara

e objetiva, se conseguir perceber o momento presente. Tem muito mais chances de dar

certo. Não será uma reação vinda do condicionamento da sua mente no passado, mas sim

uma resposta intuitiva à situação. Em situações em que a mente teria reagido, você vai

achar mais eficaz não fazer nada. Fique só centrado no Agora.

Um salto quântico na evolução da consciência

Tive breves lampejos desse estado de liberdade da mente e do tempo que você descreveu, mas o passado

e o futuro são tão fortes que não consigo mantê-los afastados por muito tempo.

O modelo da consciência condicionada pelo tempo está profundamente enraizado na

psique humana. Mas o que estamos fazendo aqui é parte de uma profunda mudança que

está se formando na consciência coletiva do planeta e ainda mais: o despertar da

consciência dissociada do sonho da matéria, da forma e da separação. O fim do tempo.

Estamos rompendo com padrões mentais que dominaram a vida humana por eras. Padrões

mentais que criaram um sofrimento inimaginável, em larga escala. Não estou empregando a

palavra demônio. É mais útil chamar de inconsciência ou insanidade.

Essa ruptura com o antigo modelo de consciência, ou melhor, inconsciência, é algo que temos de fazer

ou vai acontecer de qualquer maneira? Em outras palavras, essa mudança é inevitável?

É uma questão de perspectiva. O fazer e o acontecer são, na verdade, um processo

único. Como somos únicos e formamos um todo com a consciência, não podemos separar

os dois. Mas não há uma garantia absoluta de que os seres humanos vão conseguir. O

processo não é inevitável nem automático. Nossa cooperação é uma parte essencial do

processo. Independentemente de como você o veja, trata-se de um importante salto na

evolução da consciência, assim como a nossa única chance de sobreviver como raça.

A alegria do ser

Para demonstrar como você se deixou dominar pelo tempo psicológico, experimente

usar o critério de se perguntar se existe alegria, naturalidade e leveza no que você está

fazendo. Se não existir, é porque o tempo está encobrindo o momento presente e a vida

está sendo percebida como um encargo ou uma luta.

A ausência de alegria, naturalidade ou leveza no que estamos fazendo não significa,

necessariamente, que precisemos mudar o que estamos fazendo. Talvez baste mudarmos o

como. “Como” é sempre mais importante do que “o que”. Verifique se você pode dar muito

mais atenção ao fazer do que ao resultado desejado através do fazer. Dê a sua inteira

atenção para o que quer que o momento apresente. Isso implica que você aceitou

totalmente o que é, porque não se pode dar atenção completa a alguma coisa e, ao mesmo

tempo, resistir a ela.

Ao respeitarmos o momento presente, toda a luta e a infelicidade se dissolvem e a

vida começa a fluir com alegria e naturalidade. Ao agirmos com a consciência do momento

presente, tudo o que fizermos virá com um sentido de qualidade, cuidado e amor, mesmo a

mais simples ação.

Portanto, não se preocupe com o resultado da sua ação, basta dar atenção à ação em

si. O resultado surgirá espontaneamente. Essa é uma valiosa prática espiritual. No Bhagavad

Gita, um dos mais antigos e mais belos ensinamentos espirituais que existem, o desapego ao

resultado da ação é chamado Karma Yoga. É descrito como o caminho da “ação

santificada”.

Ao fim dessa luta compulsiva contra o Agora, a alegria do Ser passa a fluir em tudo o

que fazemos. No momento em que a nossa atenção se volta para o Agora, percebemos

uma presença, uma serenidade, uma paz. Não dependemos mais do futuro para obtermos

plenitude e satisfação, não o olhamos mais como salvação. Conseqüentemente, não

estamos mais presos aos resultados. Nem o fracasso nem o sucesso têm o poder de alterar

o estado interior do Ser. Você acabou de encontrar a vida sob a situação de vida.

Na ausência do tempo psicológico, o nosso sentido do eu interior provém do Ser, não

do nosso passado pessoal. Assim, desaparece a necessidade psicológica de nos tornarmos

uma outra pessoa diferente de quem já somos. No mundo, levando em conta a situação de

vida, podemos nos tornar ricos, conhecidos, bem-sucedidos, livres disso ou daquilo, mas,

na dimensão mais profunda do Ser, estamos completos e inteiros agora.

Nesse estado de plenitude, ainda teríamos capacidade ou vontade de alcançar os objetivos externos?

Claro que sim, mas sem as expectativas ilusórias de que uma coisa ou alguém no

futuro irá nos salvar ou nos fazer felizes. No que diz respeito à situação de vida, podem

existir coisas a ser alcançadas ou adquiridas. Vivemos no mundo da forma, dos lucros e

perdas. Mas, em um nível mais profundo, já estamos completos, e quando percebemos

isso, tudo o que fizermos será impulsionado por uma energia alegre e jovial. Estando livre

do tempo psicológico, não perseguimos mais os objetivos com uma determinação

implacável, movida pelo medo, pela raiva, pelo descontentamento ou pela necessidade de

nos tornarmos alguém. Nem permanecemos imóveis com medo de falhar. Quando o nosso

sentido profundo do eu interior é derivado do Ser, quando nos livramos do “tornar-se”

como uma necessidade psicológica, nem a nossa felicidade nem o nosso sentido do eu

interior dependem do resultado e, assim, nos libertamos do medo. Não buscamos

permanência onde ela não pode ser encontrada, ou seja, no mundo da forma, dos lucros e

perdas, do nascimento e da morte. Nem esperamos que situações, condições, lugares ou

pessoas nos tragam felicidade, só para depois nos causarem sofrimento, quando nossas

expectativas não forem correspondidas.

Tudo inspira respeito, mas nada importa. As formas nascem e morrem, ainda que

estejamos conscientes de uma eternidade subjacente às formas. Sabemos que “nada de

verdade pode ser ameaçado”

Quando este é o seu estado de Ser, como é possível não alcançar o sucesso? Você já o

alcançou.

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