BUSCANDO A MATRIZ
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BUSCANDO A MATRIZ

BUSCANDO A MATRIZ.

anderson
7 min
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BUSCANDO A MATRIZ.

Lembro-me da primeira vez que dei notícias da nossa conectividade com o mundo ao meu amigo

americano nativo do cânion. Durante um encontro casual no mercado local, eu comecei a comentar, muito

animado, um comunicado à imprensa que tinha acabado de ler sobre um "novo" campo de energia que

havia sido descoberto, um campo unificado, diferente de todos os campos de energia até então conhecidos.

"Este é o campo de energia que conecta todas as coisas", desabafei. "É esse campo que nos conecta com

o mundo, é ele que nos interliga uns aos outros e até com o universo além da Terra, exatamente como nós

conversamos naquela vez."

Meu amigo ouvia calado, como de hábito, respeitando minha agitação. Depois de algum tempo ele

tomou uma respiração profunda e replicou com a mesma franqueza que eu já tinha visto tantas vezes

antes.

Foi honesto e direto ao âmago da questão. "Pois bem!", ele disse, "então você acaba de descobrir que

tudo está interligado. Isso é o que nosso povo vem dizendo há tantos anos. Muito bom que sua ciência

também tenha chegado à mesma conclusão!"

Se um campo inteligente de energia realmente desempenha um papel tão importante na maneira como

o universo funciona, por que então, só agora, vieram nos dar a notícia? Acabamos de emergir do século XX,

época em que os historiadores podem certamente considerar como o mais notável período da história. Não

foi preciso mais do que uma única geração para que aprendêssemos como acionar o poder do átomo,

armazenar uma livraria do tamanho de um quarteirão urbano dentro de um chip de computador e ler e

manipular o DNA da vida. Como poderíamos ter logrado tantas maravilhas científicas e ainda assim

termos deixado passar a descoberta mais importante de todas, a compreensão única que nos possibilita

chegar à própria aptidão para criar? A resposta a essa pergunta é surpreendente.

Em um passado não muito distante, os cientistas tentaram resolver o mistério da existência ou não de

uma ligação nossa a um campo de energia inteligente, mediante a demonstração cabal da própria

existência ou não de tal campo. Ainda que a ideia da investigação fosse boa, cem anos depois ainda

estamos nos recuperando da forma pela qual esse famoso experimento foi interpretado. Como resultado

disso, durante a maior parte do século XX, se algum cientista ousasse mencionar a existência de um campo

unificado de energia interligando todas as coisas de um espaço que estaria vazio sem o tal campo,

certamente seria alvo de chacota na sala de aula e arriscaria sua posição acadêmica na universidade. Com

raras exceções, essa não era uma concepção aceita, nem mesmo tolerada, em discussões científicas sérias.

Entretanto, nem sempre as coisas foram assim.

Ainda que continue sendo um mistério essa conectividade no universo, têm ocorrido inúmeras

tentativas de batizar tal fenômeno, de dar-lhe um nome como uma maneira de reconhecer sua existência.

Nos sutras budistas, por exemplo, o reino do grande deus Indra é descrito como o lugar onde se origina

toda a rede que interliga a totalidade do universo. "Muito distante, na morada celestial do grande deus

Indra, existe um ninho maravilhoso feito por um ardiloso artesão de tal modo que ele se estende em todas

as direções"

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.

Na história do surgimento da tribo hopi diz-se que o ciclo atual do globo terrestre começou há muito

tempo, quando a Aranha Avó emergiu no vazio do mundo. A primeira coisa que ela fez foi girar a rede que

interliga todas as coisas e, por meio dela, criar o lugar onde seus filhos pudessem viver.

Os que acreditavam, desde os tempos dos antigos gregos, no campo universal de energia interligando

todas as coisas davam-lhe o nome de éter. O éter era considerado como a própria essência do espaço na

mitologia grega, era descrito como "o ar respirado pelos deuses". Tanto Pitágoras como Aristóteles o

identificavam como sendo o misterioso quinto elemento da criação, aquele que se seguia aos quatro

primeiros tão conhecidos: fogo, ar, água e terra. Posteriormente, os alquimistas continuaram a usar as

palavras dos gregos para descrever nosso mundo — uma terminologia que persistiu até o nascer da ciência

moderna.

Contradizendo a visão tradicional da maioria dos cientistas de hoje em dia, algumas das maiores

mentes da história não somente acreditavam na existência do éter, como levaram tal crença a um patamar

superior. Diziam que era necessário que o éter existisse para que as leis da física funcionassem como

funcionam. Sir Isaac Newton, o "pai" da moderna ciência, durante os anos de 1600 usou a palavra éter para

descrever a substância invisível que permeava todo o universo, e que ele acreditava ser a responsável pela

força da gravidade e pelas sensações experimentadas pelo corpo humano. Ele a imaginava como um

espírito vivo, ainda que reconhecesse a falta de um equipamento adequado para validar sua crença nos

tempos que vivia.

Foi somente no século XIX que James Clerk Maxwell, autor da teoria eletromagnética, veio a oferecer

formalmente uma descrição científica do éter que interliga todas as coisas. Ele o descreveu como uma

"substância material de espécie mais sutil que os corpos visíveis e que se supunha existir em regiões do

espaço aparentemente vazias"

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.

Muito recentemente, já no século XX, algumas das mentes científicas mais respeitadas ainda faziam uso

da terminologia antiga para descrever a essência que preenche o espaço vazio. Imaginavam o éter como

uma substância real e com uma consistência que o situava entre a matéria física e a energia pura. Era

através do éter, raciocinavam os cientistas, que a luz se movia de um ponto ao outro, navegando no que, se

não fosse por ele, pareceria tratar-se de um espaço vazio.

"Não posso senão pensar no éter, possível base de um campo eletromagnético com energia e vibrações,

como provido de um certo grau de consistência, por mais diferente que possa ser de toda a matéria

comum", afirmou em 1906 o físico ganhador do prêmio Nobel Hendrik Lorentz7

. As equações de Lorentz

foram as que deram a Einstein o instrumental para desenvolver sua revolucionária teoria da relatividade.

Ainda que suas teorias parecessem prescindir do éter no universo, o próprio Einstein acreditava que

alguma coisa seria descoberta para explicar como o vazio do espaço era ocupado, e afirmava: "O espaço

sem o éter é inimaginável." De uma forma semelhante ao modo de pensar de Lorentz e dos antigos gregos,

que acreditavam ser essa substância o meio através do qual as ondas se deslocavam, Einstein afirmava que

o éter era necessário para que as leis da física pudessem existir: "No espaço [sem o éter] não apenas seria

impossível a propagação da luz, mas também não seria possível existir padrões para o espaço e o tempo"

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.

Embora por um lado parecesse que Einstein concordava com a possibilidade do éter, por outro lado ele

advertia que o éter deveria ser considerado como energia no seu sentido mais usual. "O éter não pode ser

imaginado como provido das qualidades características de um meio ponderável, como se consistisse de

partes ['partículas'] que pudessem ser acompanhadas ao longo do tempo."9 Assim, ele descrevia como

conseguia manter a compatibilidade entre a existência do éter — mesmo levando em conta sua natureza

não-convencional — e suas teorias.

Ainda hoje, a simples menção de campo de éter provoca debates acalorados sobre sua possível não

existência. Impossível esquecer um experimento famoso, levado a cabo justamente para provar, de uma

vez por todas, a existência ou não do éter universal. Como é frequente nesse tipo de investigação, o

resultado levantou mais questionamentos — e controvérsias — em vez de resolver a questão.