C A P I T U L O D O I S.
C A P I T U L O D O I S. |
ABALANDO O PARADIGMA: OS EXPERIMENTOS QUE MUDAM TUDO. |
Os primeiros raios da manhã lançavam sombras compridas da silhueta das montanhas |
Sangre de Cristo que se erguiam atrás de nós, ao leste. Eu tinha concordado em encontrar |
meu amigo José (chamemo-lo assim) aqui no vale, simplesmente para passear, conversar |
e aproveitar a manhã. Enquanto mirávamos a vastidão de terra que une o norte do Novo México ao sul do |
Colorado, descortinávamos os muitos quilômetros de campos que nos separavam da grande e profunda |
grota da Garganta do Rio Grande, com suas laterais escarpadas que constituem as margens do rio de |
mesmo nome. As sálvias do altiplano desértico espalhavam no ar uma fragrância especial naquela manhã |
e, enquanto andávamos, José comentava sobre a família da vegetação que cobria o terreno. |
"Todo esse campo", disse ele, "até onde nossa vista alcança, funciona como se fosse uma única planta." |
O calor de sua respiração formava pequenas e breves nuvens de vapor a cada palavra que ele pronunciava |
no ar gelado da manhã. |
"Existem muitos arbustos nesse vale", ele continuou, "e cada planta está unida às outras por um |
sistema de raízes que escapa à nossa visão. Embora invisíveis aos nossos olhos, enterradas no solo, as raízes |
não deixam de existir — o campo inteiro faz parte de uma única família de sálvias. E assim como acontece |
em qualquer família", ele explicou, "a experiência de um membro é compartilhada, até certo ponto, por |
todos os demais membros da mesma família." |
Fiquei meditando sobre as palavras de José. Que bela metáfora para o modo pelo qual nos |
encontramos interligados uns aos outros e ao mundo em torno de nós. Somos levados a pensar que |
estamos separados uns dos outros, de nosso mundo e de tudo o que acontece nele. Com base nessa crença |
sentimo-nos isolados, algumas vezes impotentes, para alterar as coisas que nos causam dor e que podem |
provocar sofrimento em outras pessoas. A ironia é que também nos encontramos inundados por livros de |
autoajuda e workshops que frisam como é intensa nossa interligação, como é poderosa nossa consciência e |
como o gênero humano realmente constitui uma única e preciosa família. |
Enquanto José falava, eu não podia deixar de pensar sobre a forma escolhida pelo grande poeta Rumi |
para descrever nossa condição. "Que seres estranhos nós somos!", constatou ele. "Mesmo sentados no |
inferno, no fundo da escuridão, tememos pela nossa própria imortalidade."1 |
Precisamente, pensei. As plantas desse campo não estão apenas interligadas; em conjunto elas têm mais poder do |
que qualquer uma delas sozinha. Qualquer arbusto isolado no vale, por exemplo, exerce influência apenas em |
torno da pequena área que o cerca. Entretanto, ponha centenas de milhares de arbustos juntos e tudo muda |
de figura! Juntos eles alteram aspectos como o pH do solo de tal modo que garantem a própria |
sobrevivência. Ao fazerem isso, o subproduto de suas existências — o oxigênio abundante — vem a ser o |
substrato de nossa própria essência. Como família unificada, essas plantas têm o poder de mudar o mundo |
delas. |
Na verdade, é bem possível que tenhamos mais em comum com a sálvia do Novo México do que |
poderíamos imaginar. Assim como elas individual e coletivamente podem mudar o próprio mundo, nós |
também podemos mudar o nosso. |
Cada vez mais pesquisas têm indicado que somos mais do que simples retardatários cósmicos |
passando por um universo cuja construção terminou há muito tempo. Evidências experimentais permitem |
concluir que, na realidade, criamos o universo ao longo da vida, somando nossa contribuição ao que já |
existe! Em outras palavras, parece que somos a própria energia da qual o cosmos é formado, bem como os |
seres que experimentam a própria criação. Isso porque somos consciência, e a consciência aparentemente é |
feita da mesma "coisa" da qual o universo é formado. |
Essa é a verdadeira essência da teoria quântica, fonte de tantas preocupações para Einstein. Até o fim |
da vida, Einstein acreditou firmemente que o universo existia independentemente de nós. Respondendo às |
analogias sobre como afetamos o mundo e ao comentar os experimentos que demonstram que a matéria |
muda de comportamento quando a observamos, ele simplesmente declarou: "Gosto de pensar que a Lua |
está lá no céu, mesmo quando não a estou vendo" |
2 |
. |
Embora nosso papel preciso na criação ainda não esteja perfeitamente compreendido, as experiências |
levadas a efeito no mundo quântico demonstram claramente que a consciência exerce efeito direto nas |
partículas mais elementares da criação. E nós somos a fonte da consciência. Talvez John Wheeler, professor |
emérito em Princeton e colega de Einstein, tenha conseguido fazer o melhor de todos os resumos sobre a |
nossa tão recente compreensão desse papel. |
Os estudos de Wheeler levaram-no a acreditar que poderíamos viver em um mundo na realidade |
criado pela própria consciência — um processo que ele chamou de universo participativo. "De acordo com |
isso [com o princípio participativo]", diz Wheeler, "não poderíamos nem ao menos imaginar um universo |
que, de algum modo e por algum tempo, não contivesse observadores, pois os próprios materiais de |
construção do universo são esses atos de observação participativa" |
3 |
. Ele apresenta o ponto central da teoria |
quântica quando declara: "Nenhum fenômeno elementar pode ser considerado um fenômeno até que seja |
observado (ou registrado)"4 |
. |
O ESPAÇO É A MATRIZ |
Se os "materiais de construção do universo" são feitos de observação e participação — nossa observação |
e nossa participação —, qual é a coisa que estamos criando? Para criarmos alguma coisa, primeiramente é |
preciso que haja algo disponível para usarmos no processo criativo, alguma essência male- ável que seja o |
equivalente a uma massa de modelar para o universo. Do que é feito o universo, o planeta e os nossos |
corpos? Como tudo isso se ajusta em conjunto? Será que nós realmente controlamos alguma coisa? |
Para responder tal espécie de perguntas precisamos nos deslocar para além dos limites das tradicionais |
fontes de conhecimento — a ciência, a religião e a espiritualidade —, unindo essas fontes a uma sabedoria |
maior. É nesse ponto que entra a Matriz Divina. Não se trata de ela desempenhar um pequeno papel de |
subproduto do universo ou de ser simplesmente uma parte da criação; a Matriz é a criação. Ao mesmo |
tempo, ela é o material que compreende tudo, bem como o recipiente para tudo o que é criado. |
Quando penso na Matriz dessa maneira, não posso deixar de me lembrar da descrição que o |
cosmologista Joel Primack, da University of Califórnia em Santa Cruz, fez, do instante em que a criação |
começou. Em vez de considerar o Big Bang como tendo sido uma explosão que aconteceu em algum lugar, |
da maneira como tipicamente esperamos que as explosões ocorram, ele diz: "O Big Bang não ocorreu em |
algum lugar do espaço, ele ocupou o espaço inteiro" |
5 |
. O Big Bang foi o espaço propriamente dito, irrompendo |
em um novo tipo de energia, como energia! Assim como a origem do universo foi o espaço propriamente |
dito, manifestando-se energeticamente, a Matriz é a realidade em si mesma — todas as possibilidades sempre |
em movimento, como a essência duradoura que interliga todas as coisas. |