Capítulo Cinco O QUINTO SEGREDO ORAÇÕES PESSOAIS
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Capítulo Cinco O QUINTO SEGREDO ORAÇÕES PESSOAIS

Capítulo Cinco

anderson
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Capítulo Cinco

O QUINTO SEGREDO

ORAÇÕES PESSOAIS.

Num dia de bons ventos, basta abrir a vela e ver o mundo cheio de beleza.

Esse dia é hoje.

— Rumi

A oração é a linguagem de Deus e dos anjos. Da sabedoria preservada nos

Manuscritos do Mar Morto às práticas nativas que sobreviveram até os dias

atuais, a oração é universalmente descrita como uma linguagem mística que

tem o poder de mudar o nosso corpo, a nossa vida e o mundo. Essas mesmas

tradições, no entanto, contêm ideias muito diferentes com relação ao modo

mais eficaz de “falar” o idioma da oração. Ao longo dos tempos, e a seu

modo, cada prática espiritual ofereceu sua visão peculiar sobre o que a

oração é exatamente, o seu modo de operar e a maneira de aplica-la na nossa

vida. Uma síntese final nos mostra que o idioma da oração não tem regras e

não envolve formas certas ou erradas de expressão. Ela está dentro de nós

como algo que brota naturalmente: o sentimento.

Ao descrever o sentimento como oração, o abade tibetano afirmou

inequivocamente essa sabedoria intemporal que havia muito se perdera no

Ocidente: “Quando vocês nos veem cantando muitas horas por dia, quando

vocês nos veem usando sinos, orins, carrilhões e incenso, estão vendo o que

fazemos para criar o sentimento em nosso corpo. Sentimento é oração!”

Depois dessa explicação, ele me devolveu a pergunta:

“Como vocês fazem isso na sua cultura?”

É estranho como uma única pergunta, formulada da maneira certa e no

momento certo, pode cristalizar uma crença que talvez tenhamos tido

dificuldade de expressar em palavras no passado. Ao ouvir a pergunta do

abade, precisei penetrar no mais fundo do meu ser para explicar como eu

acreditava que as orações ocidentais operam. Nesse momento, comecei a

sentir todo o impacto das primeiras edições bíblicas.

Quando os livros que preservavam a sabedoria da emoção e do sentimento

desapareceram das nossas tradições, coube unicamente a nós tentar

compreender da melhor maneira possível o sentimento e a oração. Hoje, 17

séculos depois, vivemos numa cultura em que desacreditamos os nossos

sentimentos, os negamos ou às vezes simplesmente os ignoramos por

completo. Isso diz respeito de modo especial aos homens da nossa

sociedade, embora essa tendência esteja mudando. É como se tivéssemos

operado o computador cósmico da consciência e do sentimento durante

quase 1.700 anos sem manual de instruções. Por fim, os próprios sacerdotes

e pessoas de autoridade começaram a esquecer o poder do sentimento na

oração. Foi então que começamos a acreditar que palavras são orações.

Se você pedir a alguém na rua, no aeroporto ou num shopping para que

descreva a oração, muito provavelmente a pessoa recitará as palavras de

orações conhecidas como resposta. Quando dizemos frases como “Agora me

deito para dormir”, “Deus é grande, Deus é bom”, “Pai Nosso, que estais no

céu”, acreditamos que estamos rezando. Seriam as palavras um “código”?

Em vez de ser a oração em si, poderiam as palavras que permanecem hoje

ser a fórmula que alguém elaborou no passado distante para criar o

sentimento da oração dentro de nós? Se for assim, as implicações são

consideráveis.

Sentimos continuamente... em cada momento de cada dia da nossa vida.

Apesar de nem sempre termos consciência do que sentimos, mesmo assim

sentimos. Se sentimento é oração, e se estamos sempre sentindo, isso

significa que estamos constantemente em estado de oração. Cada momento

é oração. A vida é oração! Estamos sempre enviando uma mensagem ao

espelho da criação, sinalizando cura ou doença, paz ou guerra, respeitando

ou desrespeitando as nossas relações com as pessoas que amamos. A “Vida”

é a Mente de Deus devolvendo-nos o que sentimos — o que rezamos.

Quando as orações deixam de ser eficazes

Durante os estudos realizados em 1972 sobre os efeitos da meditação e da

oração em diferentes comunidades (discutidos anteriormente neste livro), os

resultados se revelaram claramente mais do que simples coincidência ou

acaso. Os experimentos foram submetidos a todos os procedimentos de

pesquisa adotados em qualquer outro estudo científico confiável num

ambiente de laboratório controlado. Os efeitos foram reais. E foram

documentados.

Durante o que os pesquisadores chamaram de “janela” — o tempo em que

as pessoas treinadas nas técnicas sentiam “paz” no seu corpo —, o mundo

em torno delas refletia essa paz. Os estudos mostram claramente que houve

reduções estatisticamente significativas nos principais indicadores que os

pesquisadores estavam observando. Como mencionei anteriormente,

diminuíram as ocorrências de acidentes de trânsito, de entradas em

emergências e de crimes violentos. Na presença da paz, tudo o que podia

acontecer era paz. Por mais interessantes que sejam, porém, o que esses

resultados mostram em seguida continua sendo um mistério para os que se

dedicam a esses estudos.

Quando os experimentos terminaram, a violência recomeçou, às vezes

alcançando níveis ainda mais altos do que os anteriores ao início do

experimento. O que aconteceu? Por que os efeitos das meditações e das

orações cessaram? A resposta a essa pergunta pode ser a chave para

compreender o poder do nosso modo perdido de rezar. O que aconteceu foi

que os envolvidos pararam de fazer o que estavam fazendo; pararam de

meditar e de rezar. Essa é a resposta para o nosso mistério.

Em grande parte, os estudos refletem o modo de meditar e de rezar que nos

foi ensinado. Num dia típico, cumprimos as nossas rotinas diárias como

comerciantes, estudantes e pais, simplesmente fazendo as coisas que

devemos fazer. Num determinado momento do dia, reservamos uma breve

“pausa espiritual”. Talvez fechemos a porta para ter alguma privacidade no

final do dia, depois de ter lavado a louça, colocado as crianças na cama e

passado a roupa. Acendemos velas, colocamos uma música inspiradora e

oferecemos orações de agradecimento ou entramos em meditações de paz.

Então, ao terminar, paramos de fazer o que estávamos fazendo. Deixamos o

nosso oratório e voltamos ao mundo “real”. Embora eu possa ter exagerado

um pouco algumas coisas aqui, a ideia é que as nossas meditações e orações

quase sempre são algo que fazemos em algum momento do dia, e quando

terminamos, paramos.

Se acreditamos que oração é algo que fazemos, então é perfeitamente

compreensível que, quando a oração termina, seus efeitos também

terminem. Se entendemos que oração é o gesto das nossas mãos postas

diante do coração e as palavras que dizemos durante esse período, então ela

é uma experiência de curta duração. No entanto, levando em consideração

os antigos textos redescobertos no século XX, a oração nativa da chuva e a

história do abade no Tibete, sabemos que oração é mais do que aquilo que

fazemos. Oração é o que somos!

Em vez de algo que fazemos às vezes, essas tradições nos convidam a aceitar

a oração como algo em que nos tornamos continuadamente. Como é

impossível ajoelhar em oração 24 horas por dia e recitar as palavras deixadas

pelos antigos até não conseguirmos mais repeti-las, também não é preciso

fazer essas coisas para estar em oração. Sentimento é oração, e nós sentimos

o tempo todo. Podemos sentir gratidão pela paz no mundo porque sempre há

paz em algum lugar. Podemos sentir reconhecimento pela cura das pessoas

que amamos, e também nossa, porque todos os dias somos até certo ponto

curados e renovados.

A razão por que os efeitos dos experimentos pareceram desaparecer é que as

orações terminaram. A paz mantida pela “bela e impetuosa força” presente

no interior das pessoas que rezavam e meditavam simplesmente se dissipou

quando o meio que a sustentava foi retirado. Pode ser exatamente isso que

os essênios estavam tentando transmitir para as pessoas do futuro por meio

do idioma que deixaram para nós há mais de 2.000 anos.

Traduções recentes de manuscritos antigos, escritos em aramaico, a língua

dos essênios, oferecem novas ideias sobre as razões por que os registros de

oração parecem tão vagos. Traduções refeitas de documentos originais

deixam evidente a enorme liberdade que os tradutores tiveram no decorrer

dos séculos com relação à terminologia e às intenções dos antigos autores.

Na tentativa de condensar e simplificar as ideias dos autores originais, muita

coisa se perdeu no processo de tradução.

No que se refere ao poder da oração, uma comparação da moderna versão

bíblica do “Pedi e recebereis”, por exemplo, com o texto original, nos dá

uma ideia de quanto pode ser perdido! A passagem moderna e condensada

da Bíblia diz:

“O que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos dará. Até agora, nada pedistes

em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa”.

[26]

Quando comparamos essa passagem com o texto original, vemos a chave

que está faltando:

“Todas as coisas que pedirdes reta e diretamente... de dentro do meu nome,

vos serão concedidas. Até agora não fizestes isso. Pedi sem motivo oculto e

rodeai-vos com a vossa resposta. Envolvei-vos com o que desejais, para que

a vossa alegria seja completa”. [27]

[Ênfase do autor]

Essas palavras nos lembram o princípio quântico que diz que oração é

consciência. Ela é um estado de ser em que vivemos, e não alguma coisa que

fazemos numa determinada hora do dia. Convidando-nos a cercar-nos de

nossa resposta e a envolver-nos com o que desejamos, essa passagem nos

lembra com palavras exatamente aquilo que o abade e o meu amigo David

nos mostraram na sabedoria das suas tradições. Precisamos primeiro ter o

sentimento das nossas orações já respondidas em nosso coração antes que

elas se tornem a realidade da nossa vida.

Nas passagens acima, Jesus diz àqueles a quem se dirige que eles ainda não

fizeram isso. Embora pudessem acreditar que pediam que suas orações

fossem atendidas, expressando o pedido simplesmente com as palavras “Por

favor, que essas coisas aconteçam”, Jesus esclarece que essa não é a

linguagem reconhecida pela Criação. Ele lembra aos discípulos que eles

precisam “falar” com o universo de um modo que faça sentido.

Quando sentimos como se estivéssemos rodeados por vidas e

relacionamentos saudáveis, e envolvidos por paz no mundo, esse sentimento

é tanto a linguagem quanto a oração que abre a porta a todas as

possibilidades.

Lembrando o nosso poder

No clássico conto O Mágico de Oz, só quando Dorothy bate os calcanhares

três vezes e diz “Leve-me para a casa de Tia Em!” é que ela é levada de volta

para a sua família e para as pessoas que ama. Todos sabemos que não existe

“mágica” em simplesmente bater os calcanhares. Se fosse assim, veríamos

pessoas aparecendo e desaparecendo das filas da Starbucks e das salas de

reuniões das empresas cada vez que fizessem a mesma coisa. As palavras de

Dorothy não expressavam um pedido, e sim uma ordem. Com quem, ou com

o quê, ela estava falando?

A ordem era para ela mesma! Ela não estava dando instruções à boa bruxa

Glinda ou aos Munchkins que a rodeavam para que realizassem um ato de

magia. Era Doroti que tinha os sapatos que se tornaram “objetos de poder”

na sua jornada. Do mesmo modo que a pedra do xamã, a vara de Moisés, ou

a túnica de José sinalizavam para o poder que existia dentro deles, o calçado

de Dorothy produzia o mesmo efeito para ela. As três batidas eram o

dispositivo de ativação dentro dela para que sentisse como se estivesse em

casa — e numa fração de segundo, lá estava ela!

Existe uma sensação quase universal de que temos poderes antigos e

mágicos dentro de nós. Desde quando éramos crianças, fantasiamos sobre a

nossa capacidade de fazer coisas que estão além da esfera da razão e da

lógica. E por que não? Enquanto crianças, as convenções que dizem que

milagres não acontecem na nossa vida ainda não se arraigaram em nós a

ponto de se tornarem limites para as nossas crenças.

É possível que a nossa sensação de ligação com uma força maior seja tão

universal, e que almejemos tanto essa ligação, que preservamos as antigas

fórmulas para estabelece-la, apesar de ter esquecido como usá-las em nossa

vida? Poderiam as nossas lembranças dos contos de fada e de magia, por

exemplo, ter preservado segredos para o nosso modo perdido de rezar sem

que sequer percebêssemos? Se sentimento é oração, então a resposta a essas

perguntas é um retumbante sim! Com essa possibilidade em mente, vejamos

alguns exemplos familiares do modo como o código para a oração foi

transmitido de geração a geração ao longo do tempo.

Talvez a oração mais conhecida e universal seja a Oração do Senhor, o PaiNosso. Suas palavras são reverenciadas por quase um terço da população

mundial, os dois bilhões de cristãos que buscam conforto e orientação nesse

antigo código. A oração inteira é normalmente recitada durante cerimônias

religiosas, mas as duas primeiras invocações são conhecidas como a Grande

Oração: “Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome”.

Em vez de simplesmente recitar as palavras habituais, eu o convido a fazer

uma experiência. Ao ler as palavras da Grande Oração, ou talvez dizê-las

em voz alta, registre mentalmente como essas palavras o fazem sentir-se.

Como você se sente enquanto fala pessoalmente à força que criou o universo

inteiro e também a vida em cada célula do seu corpo? O que você sente ao

tomar consciência de que o nome de Deus é um nome santo que só deve ser

usado de modo reverente e sagrado? Não há maneira certa ou errada de

sentir-se com relação a essa oração. A questão aqui é que as palavras que

foram registradas há mais de 2.000 anos tinham o objetivo de evocar

sentimento! Desvinculadas do tempo e das civilizações, as palavras se

dirigem àquela parte de nós que é permanente: o coração. Seja qual for o

sentimento que as palavras despertam em você, esse sentimento é a sua

Grande Oração.

O Salmo 23 (22) é um código que atua do mesmo modo. Embora seja

caracteristicamente usado como oração de conforto em tempos de

dificuldade, como o falecimento de uma pessoa querida, esse código tem a

intenção de trazer paz para quem o utiliza. Já com o primeiro verso: “O

Senhor é meu pastor, nada me faltará”, começamos a sentir como se

fôssemos amparados e cuidados neste mundo. Embora as traduções exatas

variem, a palavra pastor é uma constante em todas elas. É evidente que essa

palavra foi usada intencionalmente devido à sua forte metáfora e à sensação

de sermos protegidos por aquilo que ela desperta em nós.

É possível que um dos códigos de consolo mais admiráveis tenha sido

oferecido por Deus a este mundo com o propósito de abençoar e promover

a paz. Essa bênção antiga foi descoberta em 1979, inscrita em duas pequenas

tiras de prata com formato de pergaminho. Essa passagem de Números 6,22-

26 data de 400 anos antes dos Manuscritos do Mar Morto, e acredita-se que

seja “a passagem mais antiga já encontrada entre as descobertas bíblicas”.

[28] Nas três frases do código, Deus prescreve uma fórmula que deverá ser

usada para abençoar o povo, dizendo a Moisés: “Assim abençoareis os filhos

de Israel”. Em seguida, Ele oferece o código com estas palavras:

Yahweh te abençoe e te guarde!

Yahweh faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja benigno!

Yahweh mostre para ti a sua face e te conceda a paz! [29]

Deus termina suas instruções a Moisés dizendo, “Porão assim o meu nome

sobre os filhos de Israel e eu os abençoarei”. Desse modo, a oração foi

preservada através das palavras que nos fazem sentir essas coisas.

Em síntese...

É provável que esteja evidente até este ponto que o tema central deste

capítulo é que sentimento é oração! Adotando este princípio, temos o grande

segredo para ver atendidas todas as nossas orações, sem falta. O segredo é

que devemos nos tornar as próprias coisas que escolhemos ter na nossa vida.

Se estamos em busca de amor, compaixão e compreensão, precisamos

desenvolver essas qualidades dentro de nós para que a Mente de Deus possa

refleti-las de volta em nossos relacionamentos. Se queremos abundância,

precisamos sentir gratidão pela abundância que já existe em nossa vida.

Diante disso, e sabendo do poder oculto na beleza, na bênção, na sabedoria

e no sofrimento, como colocamos essas coisas em prática na nossa vida? O

que fazemos com esses antigos segredos para superar os momentos difíceis

da vida? Provavelmente, a melhor maneira de responder essa pergunta é

simplesmente aplicar essas chaves num exemplo.

Usei anteriormente a história de Gerald para mostrar como às vezes somos

atraídos para situações que nos levam ao mais profundo sofrimento, sob

circunstâncias e em momentos que menos esperamos. No caso de Gerald,

ele havia perdido tudo o que amava: esposa, filhos, casa e amigos. Seus

próprios pais o haviam rejeitado momentaneamente como reação à dor por

ele causada às suas vidas. Simplesmente fazendo escolhas a que se sentia

impelido, o efeito cascata o levara diretamente à Noite Escura da Alma.

Uma vez na Noite Escura da Alma, Gerald tinha uma escolha. Ele podia

deixar-se arrastar às profundezas ainda maiores da espiral negra da raiva, da

tristeza, da traição e do desânimo, típicas de uma perda dramática. Ou podia

mergulhar no mais íntimo da sua alma em busca de força para compreender

o que havia acontecido e voltar à tona sabendo que seria um homem melhor

daí em diante. Embora seja definitivamente necessário força para superar

momentos assim na vida, a força por si só não é suficiente. Não podemos

transcender uma experiência de Noite Escura usando a nossa força para

superá-la! Precisamos de algo mais em que possamos aplicar a nossa força

— um processo. Para Gerald, o que segue foi a maneira como ele iniciou o

seu próprio processo.

— O sofrimento é o mestre, a sabedoria é a lição: A chave para curar

qualquer provação que a vida nos apresente é que só podemos sofrer quando

estamos preparados para o sofrimento. Isto é, só quando já temos todas as

ferramentas emocionais para curar a nossa dor é que podemos atrair as

experiências que nos darão condições de demonstrar o nosso domínio. Esse

é o segredo sutil, mas poderoso, para lidar com o sofrimento.

A única maneira pela qual Gerald podia ter criado o que ele descreveu como

a “bagunça” em que se encontrava era ter os elementos de compreensão que

davam sentido às mudanças em sua vida. O simples fato de saber isso deulhe esperança, um novo modo de ver a vida e a força para prosseguir no

processo, em vez de desistir. A bênção foi o lugar onde aplicar sua força.

— A bênção é o lubrificante emocional: Quando aplicamos os passos do

processo de abençoar descrito anteriormente, suspendemos o sofrimento por

tempo suficiente para substituí-lo por outra coisa. No caso de Gerald, eu o

convidei a abençoar tudo o que dizia respeito à sua experiência. “Tudo?”,

ele perguntou.

“Tudo!”, respondi. A chave para o sucesso da bênção é que ela reconhece

tudo, desde aquele que sofre até aquele que faz sofrer.

Gerald começou abençoando a si mesmo — afinal, era ele quem sofria.

Depois abençoou a mulher que o traiu. Ele acreditava que ela era a causa do

seu sofrimento. E completou o processo abençoando todos aqueles que

haviam testemunhado o seu sofrimento. Isso incluía suas filhas, sua mulher,

seus pais e seus amigos. Ao abençoar, ele suspendeu sua própria dor por

tempo suficiente para deixar entrar outra coisa. Essa “outra coisa” era a

capacidade de ver o quadro geral e entender os fatos aparentemente sem

sentido que estavam acontecendo em sua vida. Por meio do novo sentido da

sua experiência de vida, ele encontrou a beleza.

— A beleza transforma o nosso sofrimento: Para além daquilo que só vemos

com os olhos, quando conseguimos ver a simetria, o equilíbrio e o dar-ereceber de uma situação, começamos a entender por que as coisas

aconteceram daquela maneira. É onde ocorre a mágica! Quando o nosso

sofrimento faz sentido para nós e conseguimos ver a luz no fim do túnel,

começamos a nos sentir diferentes a respeito da nossa experiência. Nessa

diferença, o nosso sofrimento se transforma em sabedoria. Aqui começa a

cura.

— Sentimento é oração: Antigas tradições nos lembram que o mundo à

nossa volta é o espelho daquilo que nos tornamos em nossa vida: o que

sentimos sobre a nossa relação com nós mesmos, com os outros e, por fim,

com Deus. Evidências científicas atuais sugerem exatamente a mesma coisa;

o que sentimos dentro do nosso corpo é levado para o mundo além do corpo.

Para Gerald, como também para muitos de nós, essa é uma maneira nova de

ver as coisas, diferente daquela que nos foi ensinada. Ela também fortalece.

Alguns dias depois de iniciar o seu processo, Gerald conseguiu abençoar e

redefinir a sua dor e amargura. Os novos sentimentos se tornaram a oração

que ele enviou ao mundo à sua volta. Quase imediatamente, seus

relacionamentos começaram a refletir suas orações. Embora ainda precisasse

trabalhar a situação, ele e sua ex-mulher desenvolveram uma amizade

saudável. Isso foi bom para eles e para as filhas. Em pouco tempo também

Gerald envolveu-se num novo romance que espelhava sua nova

autopercepção. Juntos, ele e sua companheira empreenderam uma jornada

de descoberta que sua antiga esposa consideraria ameaçadora.

Dessa forma, Gerald superou a sua Noite Escura da Alma. Eu o vi pela

última vez em 1990, e ele disse: “Meu amigo, estou feliz que tenha passado.

Acho que não suportaria passar por outra dessas!”

“Podem aparecer outras”, repliquei. “Só porque você sai de uma Noite

Escura não significa que não terá outra. Significa apenas que você

conseguirá perceber que ela está chegando, e saberá sem sombra de dúvida

que sempre há uma vida melhor no outro lado”.