capítulo dois
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capítulo dois

capítulo dois.

anderson
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capítulo dois.

CONSCIÊNCIA: O CAMINHO PARA ESCAPAR DO SOFRIMENTO.

Não crie mais sofrimento no presente.

Ninguém tem uma vida livre de sofrimento e mágoa. Não é uma questão de aprender a viver com

isso, em vez de tentar evitar?

A maior parte do sofrimento humano é desnecessária. Ele se forma sozinho,

enquanto a mente superficial governa a nossa vida.

O sofrimento que sentimos neste exato momento é sempre alguma forma de nãoaceitação, uma forma de resistência inconsciente ao que é. No nível do pensamento, a

resistência é uma forma de julgamento. No nível emocional, ela é uma forma de

negatividade. O sofrimento varia de intensidade de acordo com o posso grau de resistência

ao momento atual, e isso, por sua vez, depende da intensidade com que nos identificamos

com as nossas mentes. A mente procura sempre negar e escapar do Agora. Em outras

palavras, quanto mais nos identificamos com as nossas mentes, mais sofremos. Ou ainda,

quanto mais respeitamos e aceitamos o Agora, mais nos libertamos da dor, do sofrimento e

da mente.

Por que a mente tem o hábito de negar ou resistir ao Agora? Porque ela não consegue

funcionar e permanecer no controle sem que esteja associada ao tempo, tanto passado

quanto futuro, e assim ela vê o atemporal Agora como algo ameaçador. Na verdade, o

tempo e a mente são inseparáveis.

Imagine a Terra sem a vida humana, habitada apenas por plantas e animais. Será que

ainda haveria passado e futuro? Será que as perguntas “que horas são?” ou “que dia é

hoje?” teriam algum sentido para um carvalho ou uma águia? Acho que eles ficariam

intrigados e responderiam: “Claro que é agora. A hora é agora. O que mais existe?”

Não há dúvidas de que precisamos da mente e do tempo, mas, no momento, em que

eles assumem o controle das nossas vidas, surgem os problemas, o sofrimento e a mágoa.

Para ter certeza de que permanece no controle, a mente trabalha o tempo todo para

esconder o momento presente com o passado e o futuro. Assim, a vitalidade e o infinito

potencial criativo do Ser, que é inseparável do Agora, ficam encobertos pelo tempo e a

nossa verdadeira natureza é obscurecida pela mente. Todos nós sofremos ao ignorar ou

negar cada momento precioso ou reduzi-lo a um meio para alcançar algo no futuro, algo

que só existe em nossas mentes, nunca na realidade. O tempo acumulado na mente

humana encerra uma grande quantidade de sofrimento cuja origem está no passado.

Se não quer gerar mais sofrimento para você e para os outros, não crie mais tempo,

ou, pelo menos, não mais do que o necessário para lidar com os aspectos práticos da sua

vida. Como deixar de “criar” tempo? Tendo uma profunda consciência de que o momento 

o sofrimento está pronto para despertar do estágio inativo, até mesmo uma observação

inocente feita por um amigo ou um pensamento é capaz de ativá-lo.

Alguns sofrimentos são irritantes, mas inofensivos, como é o caso de uma criança que

não pára de chorar. Outros são monstros destrutivos e mórbidos, verdadeiros demônios.

Alguns são fisicamente violentos; outros, emocionalmente violentos. Eles podem atacar

tanto as pessoas à nossa volta quanto a nós mesmos, seus “hospedeiros”. Os pensamentos

e sentimentos relativos à nossa vida tornam-se, então, profundamente negativos e

autodestrutivos. Doenças e acidentes freqüentemente acontecem desse modo. Alguns

sofrimentos podem até levar uma pessoa ao suicídio.

Às vezes levamos um choque ao descobrir uma faceta detestável em alguém que

pensávamos conhecer bem. Entretanto, é mais importante observar essa situação em nós

mesmos do que nos outros. Preste atenção a qualquer sinal de infelicidade em você,

qualquer que seja a forma, pois talvez seja o despertar do sofrimento. Ele pode se

manifestar como uma irritação, um sinal de impaciência, um ar sombrio, um desejo de ferir,

sentimentos de raiva, ira, depressão ou uma necessidade de criar algum tipo de problema

em seus relacionamentos. Agarre o sinal no momento em que ele despertar de seu estado

inativo.

O sofrimento deseja sobreviver, mas, para isso, precisa conseguir que nos

identifiquemos inconscientemente com ele. Portanto, quando o sofrimento toma conta de

nós, cria uma situação em nossas vidas que reflete a própria freqüência de energia da qual

ele se alimenta. Sofrimento só se alimenta de sofrimento. Não se consegue alimentar de

alegria. Acha-a indigesta.

Quando o sofrimento nos domina, faz com que desejemos ter mais sofrimento.

Passamos a ser vítimas ou perpetradores. Queremos infligir sofrimento, ou senti-lo, ou

ambos. Na verdade, não há muita diferença entre os dois. É claro que não temos

consciência disso e afirmamos que não queremos sofrer. Mas, preste bem atenção e verá

que o seu pensamento e o seu comportamento estão programados para continuar com o

sofrimento, tanto para você quanto para os outros. Se você estivesse consciente disso, o

padrão iria se desfazer, porque desejar mais sofrimento é uma insanidade, e ninguém é

insano conscientemente.

O sofrimento, a sombra escura projetada pelo ego, tem medo da luz da nossa

consciência. Teme ser descoberto. Sobrevive graças à nossa identificação inconsciente com

ele, assim como do medo inconsciente de enfrentarmos o sofrimento que vive dentro de

nós. Mas se não o enfrentarmos, se não direcionarmos a luz da nossa consciência sobre o

sofrimento, seremos forçados a revivê-lo. O sofrimento pode nos parecer um monstro

perigoso, mas eu lhe garanto que se trata de um fantasma frági1. Ele não pode prevalecer

sobre o poder da nossa presença.

Alguns ensinamentos espirituais dizem que todo sofrimento é, em última análise, uma

i1usão, e isso é verdade. A questão é se isso é uma verdade para você. Acreditar

simplesmente não transforma nada em verdade. Você quer sofrer para o resto da vida e

permanecer dizendo que é uma ilusão? Será que essa atitude livra você do sofrimento? O

que nos interessa aqui é o que podemos fazer para vivenciar essa verdade, ou seja, torná-la

real em nossas vidas.

Portanto, o sofrimento não quer que nós o observemos diretamente e vejamos o que

ele realmente é. No momento em que o observamos, sentimos seu campo energético 

dentro de nós e desfazemos nossa identificação com ele, surge uma nova dimensão da

consciência. Chamo a isso presença. Passamos a ser testemunhas ou observadores do

sofrimento. Isso significa que ele não pode mais nos usar, fingindo ser nosso eu interior.

Então, não temos mais como realimentá-lo. Aqui está nossa mais profunda força interior,

Acabamos de acessar o poder do Agora.

O que acontece ao sofrimento quando nos tornamos conscientes o bastante para romper a nossa

identificação com ele?

A inconsciência cria o sofrimento. A consciência transforma o sofrimento nela

mesma. São Paulo expressa esse princípio universal de uma forma linda ao dizer: “Tudo é

revelado ao ser exposto à luz e o que for exposto à própria luz se torna luz”. Assim como

não se pode lutar contra a escuridão, não se pode lutar contra o sofrimento. Tentar fazer

isso poderia gerar um conflito interior e um sofrimento adicional. Observar o sofrimento já

é o bastante. Observá-lo implica aceitá-lo como parte do que existe naquele momento.

O sofrimento consiste na energia vital aprisionada que se desprendeu do campo

energético total e se fez temporariamente autônoma, através de um processo artificial de

identificação com a mente. Ela se volta para dentro de si mesma e se torna algo contrário à

vida, como um animal tentando comer o próprio rabo. Por que você acha que a nossa

civilização se tornou tão autodestrutiva? Acontece que as forças destrutivas da vida, ainda

são energia vital.

Mesmo quando começamos a deixar de nos identificar e nos tornamos observadores,

o sofrimento ainda continua a agir por um tempo e vai tentar fazer com que voltemos a

nos identificar com ele. Embora não esteja mais recebendo a energia originada da nossa

identificação com ele, o sofrimento ainda tem sua força, como uma roda-gigante que

continua a girar, mesmo quando deixa de receber o impulso. Nesse estágio, o sofrimento

pode até ocasionar dores em diversas partes do corpo, mas elas não vão durar. Esteja

presente, fique consciente. Vigie o seu espaço interior. Você vai precisar estar presente e

alerta para ser capaz de observar o sofrimento de um modo direto e sentir a energia que

emana dele. Agindo assim, o sofrimento não terá força para controlar o seu pensamento.

No momento em que o seu pensamento se alinha com o campo energético do sofrimento,

você está se identificando com ele e, de novo, alimentando-o com os seus pensamentos.

Por exemplo, se a raiva é a vibração de energia que predomina no sofrimento e você

alimenta esse sentimento, insistindo em pensar no que alguém fez para prejudicá-lo ou no

que você vai fazer em relação a essa pessoa, é porque você já não está mais consciente, e o

sofrimento se tornou “você”. Onde existe raiva, existe sempre um sofrimento oculto.

Quando você começa a entrar em um padrão mental negativo e a pensar como a sua vida é

horrorosa, isso quer dizer que o pensamento se alinhou com o sofrimento e que você

passou a estar inconsciente e vulnerável a um ataque do sofrimento. Utilizo a palavra

“inconsciência” no presente contexto para significar uma identificação com um padrão

mental ou emocional. Isso implica uma ausência completa do observador.

Manter-se em um estado de alerta consciente destrói a ligação entre o sofrimento e o

mecanismo do pensamento, e aciona o processo de transformação. E como se o

sofrimento se tornasse o combustível para a chamada da consciência, resultando em um brilho de mais intensidade 

Esse é o significado esotérico da antiga arte da a1quimia: a

transformação do metal não-precioso em ouro, do sofrimento em consciência. A separação

interior cicatriza, e você se torna inteiro outra vez. Cabe a você, então, não criar um

sofrimento adicional.

Resumindo o processo: concentre a atenção no sentimento dentro de você.

Reconheça que é o sofrimento. Aceite que ele esteja ali. Não pense a respeito. Não permita

que o sentimento se transforme em pensamento. Não julgue nem analise. Não se

identifique com o sentimento. Esteja presente e observe o que está acontecendo dentro de

você. Perceba não só o sofrimento emocional, mas também a presença “de alguém que

observa”, o observador silencioso. Esse é o poder do Agora, o poder da sua própria

presença consciente. Veja, então, o que acontece.

Em inúmeras mulheres, o sofrimento manifesta-se, em particular, no período anterior

ao fluxo menstrual. Mais adiante comentarei as razões pelas quais isso acontece. No

momento, o importante é que você seja capaz de estar alerta e presente quando o

sofrimento aparecer e de observar o sentimento em vez de se deixar dominar por ele. Essas

atitudes proporcionam uma oportunidade para a mais poderosa das práticas espirituais e

tornam possível uma rápida transformação de todo o passado.