capítulo oito
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capítulo oito

capítulo oito.

anderson12/21/2021
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capítulo oito.

RELACIONAMENTOS ILUMINADOS.

Entre no agora onde quer que você esteja.

Sempre pensei que a verdadeira iluminação fosse algo impossível a não ser através do amor entre um

homem e uma mulher. Não é isso o que nos faz sentir completos? Como alguém pode ter uma vida plena

sem que isso aconteça?

A sua experiência pessoal já lhe mostrou que isso é verdade? Já aconteceu com você?

Ainda não, mas como poderia ser de outro modo? Sei que isso vai acontecer.

Em outras palavras, você está esperando por um acontecimento no tempo que venha

lhe salvar. Não é esse o erro principal que temos comentado? A salvação não está em lugar

nenhum do tempo e do espaço. Está aqui e agora.

O que quer dizer a frase “a salvação está aqui e agora”? Não entendo isso. Nem mesmo sei o que

significa salvação.

Muitas pessoas buscam prazeres físicos, ou formas variadas de gratificação

psicológica, porque acreditam que essas coisas trazem felicidade ou as libertam de uma

sensação de medo ou de falta de alguma coisa. A felicidade é vista como uma sensação

intensa de vivacidade obtida através do prazer físico, ou como uma sensação de um eu

interior mais firme ou mais completo, obtida através de alguma forma de gratificação

psicológica. Essa é uma busca de salvação que tem origem num estado de insatisfação ou

de insuficiência de alguma coisa. Invariavelmente, a satisfação conseguida dessa maneira

tem curta duração e, assim, a condição de satisfação ou plenitude é geralmente projetada,

mais uma vez, sobre um ponto imaginário, distante do aqui e agora. “Quando eu conseguir

isto ou me livrar daquilo, vou estar bem”. Essa é uma disposição mental inconsciente, que

cria a ilusão de salvação no futuro.

A verdadeira salvação é satisfação, paz, vida em toda a sua plenitude. É ser quem

somos, sentir dentro de nós o bem que não tem opositores, a alegria do Ser que não

depende de nada que esteja fora de nós. Não é sentida como uma experiência passageira,

mas como uma presença permanente. Na linguagem dos que crêem em Deus é “conhecer

Deus”, não como algo externo a nós, mas sim como a nossa essência mais profunda. A

verdadeira salvação consiste em conhecermos a nós mesmos como parte inseparável da

Vida Única, livre do tempo e da forma, de onde se origina tudo o que existe. 

A verdadeira salvação é um estado de liberdade – do medo, do sofrimento, de uma

sensação de insuficiência e de falta de alguma coisa e, portanto, de todos os desejos,

necessidades, cobiça e dependência. É libertar-se do pensamento compulsivo, da

negatividade e, acima de tudo, do passado e do futuro como uma necessidade psicológica.

A nossa mente está dizendo que, do jeito que as coisas estão agora, não vamos conseguir

chegar lá. Tem de acontecer alguma coisa, ou temos de nos tornar isso ou aquilo. Ela está

dizendo, na verdade, que precisamos do tempo, que precisamos encontrar, negociar, fazer,

conseguir, adquirir, compreender ou nos tornar alguém, antes de nos sentirmos livres e

satisfeitos. Vemos o tempo como um meio de salvação, quando, na verdade, ele é o grande

obstáculo para a salvação. Imaginamos que não podemos chegar lá a partir do ponto em

que estamos ou de quem somos neste momento, porque não nos sentimos ainda

completos ou bons o bastante. Mas a verdade é que o aqui e agora é o único ponto de

partida para poder chegar lá. “Chegamos” lá ao perceber que já estamos lá. Encontramos

Deus no momento em que descobrimos que não precisamos procurar Deus. Portanto, não

existe apenas um caminho para a salvação. Várias circunstâncias podem ser usadas, não é

necessário uma em particular. Entretanto, só existe um ponto de acesso: o Agora. Não

existe salvação longe deste momento. Você está só, sem uma companhia? Acesse o Agora a

partir da sua solidão. Você tem um relacionamento? Acesse o Agora a partir desse

relacionamento.

Não existe nada que possamos fazer, ou obter, que nos aproxime mais da salvação do

que o momento presente. Não podemos fazer isso no futuro. Ou fazemos agora ou

simplesmente não fazemos.

Relação de amor e ódio.

A menos que você acesse a freqüência consciente da presença, todos os seus

relacionamentos, principalmente os mais íntimos, vão apresentar defeitos profundos.

Durante um tempo, eles podem dar a impressão de serem perfeitos, como quando estamos

apaixonados, mas, invariavelmente, essa perfeição aparente acaba destruída por discussões,

conflitos, insatisfações e até mesmo por violência física e emocional, que passa a acontecer

com uma freqüência cada vez maior. Parece que a maioria dos “relacionamentos

amorosos” não leva muito tempo para se tornar uma relação de amor e ódio.

O amor pode se transformar em agressões furiosas, em sentimentos de hostilidade ou,

num piscar de olhos, em um completo recuo da afeição. Isso é visto como normal. Os

relacionamentos, então, oscilam por um tempo, por alguns meses ou anos, entre as

polaridades de “amor” e ódio, e nos trazem muito prazer e muita dor. Não é pouco

comum que os casais se tornem viciados nesses ciclos. Esse tipo de drama nos faz sentir

vivos. Quando o equilíbrio entre as polaridades negativa e positiva é desfeito e os ciclos

negativos e destrutivos acontecem com freqüência e intensidade crescentes, não demora

muito para o relacionamento acabar. 

Pode parecer que tudo se resolveria se conseguíssemos eliminar os ciclos negativos e

destrutivos, permitindo que o relacionamento florescesse sem problemas, mas isso não é

possível. As polaridades são mutuamente interdependentes. Não podemos ter uma sem a

outra. A positiva já contém dentro de si a negativa, ainda não manifestada. Ambas são, na

verdade, aspectos diferentes de um mesmo sistema defeituoso. Estou tratando aqui dos

chamados relacionamentos românticos, não do verdadeiro amor, que não possui opositores

porque nasce além da mente. O amor como um estado permanente ainda é raro de

encontrar, tão raro quanto a consciência nos seres humanos. Entretanto, é possível haver

lampejos breves e ilusórios de amor, sempre que existir um espaço no fluxo da mente.

O lado negativo de um relacionamento é mais facilmente reconhecido como um

defeito ou anormalidade do que o positivo. E é muito mais fácil reconhecer a fonte da

negatividade no parceiro do que vê-la em nós mesmos. Ela pode se manifestar de várias

formas, tais como possessividade, ciúme, controle, ressentimento, insensibilidade e

egocentrismo, cobranças emocionais e manipulação, raiva e violência física, necessidade de

ter sempre razão, de discutir, criticar, julgar, culpar, agredir, irritar, ou se vingar,

inconscientemente, de um sofrimento do passado imposto por um dos pais.

Pelo lado positivo, há uma “paixão” pela outra pessoa. No primeiro momento, esse é

um estado altamente gratificante. Sentimos que estamos intensamente vivos. Nossa

existência passa a ter um significado porque, de repente, alguém precisa de nós, nos deseja,

e nos faz sentir especial. Além disso, provocamos as mesmas sensações no outro, o que faz

com que os dois se sintam completos. O sentimento pode se tornar tão intenso que o resto

do mundo perde o significado.

Você deve ter percebido que existe uma certa dependência nessa intensidade. Ficamos

viciados na outra pessoa, que age sobre nós como uma droga. Quando a droga está

disponível, nos sentimos muito bem. Mas a possibilidade, ainda que remota, de que ela não

esteja mais ali, disponível para nós, pode levar ao ciúme, à possessividade, a tentativas de

manipulação através de chantagem emocional, culpa ou acusações – o que, no fundo, é o

medo da perda. Se a outra pessoa nos abandonar mesmo, pode fazer nascer a mais intensa

hostilidade, ou um profundo desespero. Em segundos, a ternura amorosa pode dar lugar à

agressão selvagem ou a um desgosto terrível. Onde é que está o amor agora? Será que o

amor pode se transformar no seu oposto em segundos? Será que era amor de verdade ou

um vício, uma dependência?

O vício e a busca da plenitude.

Por que nos viciaríamos na outra pessoa?

O desejo de ter um relacionamento amoroso é universal porque as pessoas acreditam

que a paixão, o “amor”, pode libertá-las do medo, da necessidade e do vazio que fazem

parte da condição humana em seu estado de pecado e não iluminação. Existe uma

dimensão física e outra psicológica para esse estado.

No nível físico, é obvio que não somos um todo, nem jamais seremos. Cada um de

nós é homem ou mulher, o que vale dizer, uma metade de um todo. Nesse nível, o desejo 

de ser completo, de retornar à unidade, se manifesta através da atração entre homem e

mulher. É um impulso quase irresistível de união com a polaridade oposta de energia. A

raiz desse impulso físico é espiritual, porque nele está o desejo ardente do fim de uma

dualidade, de um retorno ao estado de completude. A união sexual é o mais perto que

podemos chegar desse estado no nível físico. Essa é a razão pela qual ela é a experiência

mais satisfatória que o reino físico pode nos oferecer. Mas a união sexual não passa de um

lampejo breve de plenitude, um instante abençoado. Enquanto ela for inconscientemente

vista como um meio de salvação, você a verá como o fim da dualidade no nível da forma,

um lugar onde ela não pode ser encontrada. Você teve um lampejo do paraíso, mas não

pode ficar ali e se percebe, de novo, em um corpo separado.

No nível psicológico, a sensação de falta, de não estar completo, é até maior do que

no nível físico. Enquanto houver uma identificação com a mente, o sentido do eu interior é

dado pelas coisas externas. Isso significa que você extrai o sentido de quem você é de

coisas que não têm nada a ver com quem você realmente é, como o seu papel na sociedade,

suas propriedades, sua aparência externa, seus sucessos e fracassos, seus sistemas de

crenças, etc. Esse eu interior falso, o ego construído pela mente, sente-se vulnerável,

inseguro e está sempre em busca de coisas novas com as quais se identificar, para obter a

sensação de que ele existe. Mas nada é suficiente para lhe dar uma satisfação duradoura. O

medo permanece. A sensação de falta e de necessidade permanecem.

Então acontece aquele relacionamento especial. Parece ser a resposta para todos os

problemas do ego, parece preencher todas as nossas necessidades. Todas aquelas outras

coisas das quais você tinha extraído o sentido do eu interior se tornam relativamente

insignificantes. Você agora tem um ponto focal que substitui todos os outros, que dá

sentido à sua vida e até define a sua identidade: a pessoa por quem você se “apaixonou”.

Você não é mais um fragmento isolado em um mundo insensível. Seu mundo agora tem

um centro, a pessoa amada. O fato de que o centro está fora de você – e, portanto, você

ainda tem um sentido de eu interior derivado das coisas externas – parece não importar

muito num primeiro momento. O que importa é que aquelas sensações de medo, falta,

vazio e insatisfação não estão mais presentes. Ou será que estão? Será que elas

desapareceram ou continuam a existir por baixo da aparente felicidade?

Se em seus relacionamentos você vivenciou tanto o “amor” quanto o seu oposto,

então é provável que você esteja confundindo o apego do ego e a dependência com amor.

Não se pode amar alguém em um momento e atacar essa pessoa no momento seguinte. O

verdadeiro amor não tem oposto. Se o seu “amor” tem oposto, então não é amor, mas uma

grande necessidade do ego de obter um sentido mais profundo e mais completo do eu

interior, uma necessidade que a outra pessoa preenche temporariamente. É uma forma de

substituição que o ego encontrou e, por um curto período, ela parece ser mesmo a

salvação.

Chega então um momento em que o outro passa a se comportar de um modo que

deixa de preencher as nossas necessidades, ou melhor, as necessidades do nosso ego. As

sensações de medo, sofrimento e falta, que estavam encobertas pelo “relacionamento

amoroso”, voltam a aparecer. Como acontece com qualquer vício, ficamos muito bem

enquanto a droga está disponível, mas chega um momento em que a droga não funciona

mais. Quando essas dolorosas sensações de medo reaparecem, nós as sentimos mais fortes

do que antes e passamos a ver o outro como a causa de todos essas sensações. Isso significa

que estamos projetando no outro essas sensações, por isso nós o agredimos com toda a 

violência que é parte do nosso sofrimento. Essa agressão pode despertar o sofrimento do

outro, que é induzido a contra-atacar. Nesse ponto, o ego ainda está, inconscientemente,

esperando que a agressão ou a tentativa de manipulação seja suficiente para levar o outro a

mudar o comportamento, de forma que possa usá-lo, de novo, para encobrir seu

sofrimento.

Todo vício surge de uma recusa inconsciente de encararmos nossos próprios

sofrimentos. Todo vício começa no sofrimento e termina nele. Qualquer que seja o vício –

álcool, comida, drogas legais ou ilegais, ou mesmo uma pessoa – ele é um meio que usamos

para encobrir o sofrimento. Essa é a razão por que, passada a euforia inicial, existe tanta

infelicidade, tanto sofrimento nos relacionamentos íntimos. Eles não causam o sofrimento

e a infelicidade. Eles trazem à superfície o sofrimento e a infelicidade que já estão dentro de

nós. Todo vício faz isso.. Todo vício chega a um ponto em que já não funciona mais para

nós e, então, sentimos o sofrimento mais forte do que nunca.

Essa é uma razão pela qual muitas pessoas estão sempre tentando escapar do

momento presente e buscando algum tipo de salvação no futuro. A primeira coisa que

devem encontrar, caso focalizem a atenção no Agora, é o próprio sofrimento que

carregam, e é isso o que mais temem. Se ao menos soubessem como, no Agora, é fácil

acessar o poder da presença que dissolve o passado e o sofrimento. Se ao menos

soubessem como estão perto da própria realidade, como estão perto de Deus.

Evitar se relacionar como uma tentativa de evitar o sofrimento também não é a

resposta. O sofrimento está lá, de qualquer jeito. Três relacionamentos infelizes em alguns

anos têm mais probabilidades de forçar você a acordar do que três anos em uma ilha

deserta ou trancafiado em seu quarto. Mas, se você pudesse colocar uma presença intensa

em sua solidão, isso também funcionaria para você.

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