capítulo sete.
capítulo sete. |
NATUREZA. |
Dependemos da natureza não apenas para nossa sobrevivência física. Precisamos dela também |
para mostrar-nos o caminho para dentro de nós, para libertar-nos da prisão da mente. Ficamos |
perdidos fazendo coisas, pensando, lembrando, prevendo - perdidos nas complicações e num |
mundo de problemas. |
Esquecemos o que as pedras, as plantas e os animais ainda sabem. Esquecemos como ser — ser |
calmos, ser nós mesmos, estar onde a vida está: Aqui e Agora. |
Sempre que você presta atenção em alguma coisa natural, em qualquer coisa que existe sem a |
intervenção humana, você sai da prisão do pensamento e de certa forma entra em conexão com o |
Ser no qual tudo o que é natural ainda existe. |
Prestar atenção numa pedra, numa árvore, num animal não é pensar nele, mas simplesmente |
percebê-lo, tomar conhecimento dele. |
Então, algo da essência desse elemento da natureza se transmite a você. Sentir a calma desse |
elemento faz com que a mesma calma desponte no seu interior. Você sente como ele repousa |
profundamente no Ser - unido ao que é e onde é. Ao se dar conta disso, você também é |
transportado para um lugar de repouso no fundo do seu ser. |
Ao caminhar ou descansar em meio à natureza, respeite esse reino deixando-se estar totalmente |
nele. Pare e fique em silêncio. Olhe. Ouça. Veja como cada planta e cada animal são completos em |
si mesmos. Ao contrário dos seres humanos, eles não se dividem. Não precisam afirmar-se criando |
imagens de si mesmos, e por isso não precisam se preocupar em proteger e realçar essas imagens. |
O esquilo é ele mesmo. A rosa é ela mesma. |
Tudo na natureza é um e, ao mesmo tempo, é um com o todo. Nenhum elemento se afastou do |
tecido do todo em busca de uma existência separada: "eu" e o resto do universo. |
Contemplar a natureza pode libertar você desse "eu", que é o grande causador de problemas. |
Preste atenção nos inúmeros pequenos sons da natureza: o farfalhar das folhas ao vento, os |
pingos da chuva, o zumbido de um inseto, o primeiro trinar de um pássaro no alvorecer. |
Dedique-se inteiramente ao ato de ouvir. Para além dos sons existe algo maior: um sentido de |
sagrado que não pode ser entendido através do pensamento. |
Você não criou seu corpo nem é capaz de controlar as funções dele. Uma inteligência maior do |
que a mente humana encontra-se em ação. É essa inteligência que mantém tudo na natureza. |
Você pode se aproximar dessa inteligência percebendo sua própria energia interna, sentindo a |
presença da vida dentro do seu corpo. |
A disposição e a alegria de um cãozinho, seu amor incondicional e sua presteza em festejar a vida |
a qualquer momento costumam contrastar muitas vezes com o estado interior do dono do cão |
-deprimido, ansioso, cheio de problemas, esmagado por pensamentos, ausente da única hora e do |
único lugar que existe: o Aqui e o Agora. A gente até se pergunta: como é que o cãozinho |
consegue continuar tão alegre e sadio vivendo ao lado dessa pessoa? |
Quando você percebe a natureza apenas através da mente e do pensamento, não pode sentir a |
força de vida presente nela. Você só vê sua forma e não se dá conta da vida que existe dentro da |
forma - o mistério sagrado. O pensamento reduz a natureza a uma mercadoria a ser usada para |
obter lucro, conhecimento ou qualquer outra vantagem utilitária. A floresta secular fica reduzida a |
madeira rentável, o pássaro se transforma num projeto de pesquisa, as montanhas são massas de |
pedra e terra a serem exploradas ou conquistadas. |
Ao se aproximar da natureza, deixe que haja espaços onde a mente esteja ausente e não existam |
pensamentos. Ao deixar-se estar dessa forma na natureza, ela vai lhe responder e participar da |
evolução da consciência humana e planetária. |
Perceba como uma flor é presente, como ela se entrega à vida. |
Você já olhou bem atentamente para aquela planta em sua casa? Já permitiu que aquele ser |
familiar mas misterioso que chamamos de planta lhe ensine seus segredos? Já percebeu a |
profunda paz que emana dessa planta? Já sentiu como ela está cercada por um campo de calma? |
No momento em que você percebe a calma e a paz que emanam de uma planta, ela se torna sua |
mestra. |
Observe um animal, uma flor, uma árvore, e veja como eles repousam no Ser. Sinta a imensa |
dignidade, inocência e dimensão do sagrado que existem neles. Mas, para perceber isso, você |
precisa superar o hábito de dar nomes e rótulos. Assim que consegue ver além dos rótulos |
impostos pela mente, você sente a dimensão inefável da natureza que não pode ser entendida |
pelo pensamento ou pelos cinco sentidos do corpo. Há uma harmonia, um sentido do sagrado que |
permeia não só a natureza como um todo, mas que também está dentro de você. |
O ar que você respira é natureza, como também é natureza o próprio ato de respirar. |
Preste atenção na sua respiração e perceba que não é você quem a controla. É a respiração da |
natureza. Se você precisasse lembrar de respirar, morreria logo. E, se tentasse parar de respirar, a |
natureza se encarregaria de manter a respiração. |
Ao sentir a respiração e ao aprender a prestar atenção nela, você se conecta à natureza da forma |
mais íntima e poderosa. E um ato extremamente curativo e reabastecedor. Ele promove uma |
mudança, passando do mundo conceituai do pensamento para o mundo interior da consciência |
livre de condicionamentos. |
Você precisa da natureza como sua mestra para ajudar a religar-se com o Ser. Mas não é só você |
que precisa da natureza. Ela também precisa de você. |
Você não é separado da natureza. Todos nós fazemos parte da Vida Única que se manifesta de |
inúmeras formas no universo - formas completamente interligadas. Quando reconhece o sagrado, |
a beleza, a incrível calma e dignidade de uma flor ou de uma árvore, você acrescenta algo à flor ou |
à árvore. Através de seu reconhecimento, de sua percepção, a natureza também passa a se |
perceber. Através de você, ela passa a perceber sua própria beleza e seu próprio caráter sagrado! |
Há um grande silêncio envolvendo toda a natureza num abraço. Esse silêncio também envolve |
você. |
Só quando mantém a calma e o silêncio em seu interior é que você pode alcançar a região de |
calma e silêncio em que vivem as pedras, as plantas e os animais. Só quando o barulho de sua |
mente silencia você se torna capaz de ligar-se à natureza num nível profundo e ultrapassar a |
sensação de separação causada pelo excesso de pensamento. |
Pensar é um estágio da evolução da vida. A natureza existe numa calma inocente que antecede o |
surgimento do pensar. A árvore, a flor, o pássaro e a pedra não têm noção de sua beleza e de seu |
caráter sagrado. Quando os seres humanos conquistam a calma, eles vão além do pensamento. Na |
calma e no silêncio há uma dimensão adicional de conhecimento e de percepção que fica além do |
pensamento. |
A natureza pode levar você à calma interior. É um presente dela. Quando você sente a calma da |
natureza e participa dela, essa calma fica permeada e enriquecida pela sua atenção. Esse é o seu |
presente para a natureza. |
Através de você, a natureza toma consciência de si mesma. A natureza tal como é esperou milhões |
de anos por você. |