Capítulo Três
Capítulo Três |
O TERCEIRO SEGREDO |
BÊNÇÃO É LIBERTAÇÃO. |
Muito além dos conceitos de certo e errado, existe um campo. Eu o |
encontrei lá. |
— Rumi |
Antigas tradições sugerem que a única diferença entre os anjos do céu e os |
anjos da Terra é que os do céu de lembram de que são anjos. Quando |
amamos, muitas vezes fazemos isso com a abertura e a inocência de um anjo. |
É essa mesma abertura que possibilita a passagem da dor. É por causa da |
nossa inocência que sentimos tão profundamente o sofrimento. |
De fato, se somos todos anjos, somos anjos muito poderosos. A nossa raiva |
e violência, como também o nosso amor e compaixão, certamente |
comprovam isso! Essas emoções mostram como podemos sentir |
intensamente e quanta energia positiva ou negativa podemos direcionar às |
coisas que produzem em nós sentimentos fortes. |
Quando vejo multidões enfurecidas nas ruas de qualquer país, matando e |
destruindo coisas que são muito importantes para elas, digo para mim |
mesmo, Que anjos raivosos! Quer você acredite ou não que somos anjos, a |
realidade é que existe algo em nós que nos predispõe a sofrer |
emocionalmente de um modo sem paralelo em outras criaturas. Quando |
sofremos verdadeiramente, o poder da bênção é o segredo da cura. |
Às vezes a vida questiona as crenças até das pessoas mais amorosas e |
piedosas. A respeito da sua fé em Deus depois da tragédia na Escola Número |
1, em Beslan, em 2004, o arcebispo de Canterbury disse: “Quando vemos |
toda a energia que as pessoas aplicam num ato de tanta maldade como esse, |
então, sem dúvida, sim, surge uma ponta de dúvida. Creio que não seria |
humano não reagir desse modo”. [16] |
Embora possamos acreditar que existam razões espirituais para as tragédias |
do mundo, ainda assim precisamos descobrir um modo de compreendê-las. |
Muitas vezes a oração é o antídoto recomendado para amenizar a dor das |
atribulações. Quando os grandes mestres espirituais nos convidam a tratar |
as angústias da vida com a oração, devemos fazer a pergunta óbvia: Como |
fazer orações “positivas” quando estamos exasperados e feridos, só |
querendo que o nosso sofrimento cesse? A compreensão do modo como a |
oração opera responde exatamente a essa pergunta. |
Mais de 19 séculos antes de os cientistas ocidentais reconhecerem o campo |
de energia que une todas as coisas, sábios antigos e curandeiros nativos |
descreviam a “teia da criação” em palavras do seu tempo. Na tradição hopi, |
por exemplo, o antigo Canto da Criação descreve um tempo em que as |
pessoas da Terra lembrarão que a energia feminina da Mulher Aranha é a |
teia que une o universo. Os sutras budistas falam de um lugar “distante na |
morada celestial do grande deus Indra” onde tem origem a “rede |
maravilhosa” que nos liga ao universo. |
Evidentemente, a ideia de uma força unificadora que mantém tudo |
interconectado era um tema comum. Se os antigos sabiam da existência do |
Campo, é possível que também soubessem como usá-lo? Que segredos os |
nossos ancestrais conheciam no seu tempo que nós esquecemos no nosso? |
Preservada em textos, em tradições e em paredes de templos, os que nos |
precederam deixaram para nós nada menos que a descrição de um princípio |
quântico que estamos apenas começando a entender. Com essa descrição, |
recebemos instruções claras para introduzir na nossa vida as “forças belas e |
impetuosas” da oração descritas por São Francisco. A chave está num lugar |
que pode surpreendê-lo. |
O mistério do espaço intermediário |
Há um poder que reside no espaço “intermediário”, aquele instante sutil em |
que alguma coisa termina e a que se segue ainda não começou. Do |
nascimento e morte de galáxias ao início e fim de carreiras e |
relacionamentos, e mesmo na simplicidade da inspiração e da expiração, a |
criação é a história de inícios e términos: ciclos que começam e acabam, |
expandem e contraem, vivem e morrem. |
Seja qual for a escala, existe entre o “início” e o “fim” uma fração de tempo |
em que nenhum dos dois processos acontece inteiramente. É desse momento |
que surgem a magia e os milagres! No instante intermediário estão todas as |
possibilidades, e nenhuma foi ainda escolhida. Desse lugar recebemos o |
poder de curar o nosso corpo, de mudar a nossa vida e de trazer paz ao |
mundo. Todos os eventos nascem nesse momento mágico e poderoso. |
O mistério e as possibilidades do espaço que relaciona dois eventos são |
reverenciados há muito tempo nas tradições de sabedoria do passado. |
Tradições nativas da América do Norte, por exemplo, afirmam que duas |
vezes por dia a Terra entra precisamente nesses reinos místicos. |
Encontramos um dos reinos imediatamente depois que o Sol desce na linha |
do horizonte, logo antes que a escuridão da noite chegue. O segundo reino |
ocorre logo antes que o Sol reapareça no horizonte, depois do período mais |
escuro da noite. |
Ambos são momentos crepusculares — nem completamente dia nem |
totalmente noite. As tradições sugerem que é durante esse período que |
ocorre uma abertura em que verdades profundas podem ser compreendidas, |
grandes curas podem ocorrer e as orações têm a sua maior força. O |
antropólogo Carlos Castañeda, em sua obra clássica, A Separate Reality, |
chamou essa abertura de “fenda entre os mundos” e a descreveu como um |
ponto de acesso aos reinos invisíveis de espíritos, demônios e poder. |
Cientistas modernos admitem o poder desse lugar. Para eles, porém, trata-se |
menos de dia, noite e tempo, e mais da matéria de que o mundo é feito. Da |
perspectiva de um cientista, o que vemos como o mundo sólido à nossa volta |
é tudo, menos sólido! |
Quando a sala de cinema local projeta uma imagem em movimento na tela |
à nossa frente, por exemplo, sabemos que a história que vemos é uma ilusão. |
O romance e a tragédia que nos emocionam profundamente são na verdade |
o resultado de muitos quadros imóveis projetados rapidamente, um depois |
do outro, para criar a sensação de uma história contínua. Enquanto os olhos |
veem as figuras isoladas, quadro a quadro, o cérebro as agrupa naquilo que |
percebemos como um filme ininterrupto. |
A física quântica sugere que o mundo funciona da mesma forma. Por |
exemplo, o que vemos como o gol no futebol ou o triplo axel de um |
praticante de patinação artística num programa esportivo numa tarde de |
domingo, em termos quânticos é de fato uma série de eventos individuais |
que acontecem muito rápida e proximamente. Do mesmo modo que muitas |
imagens interligadas fazem um filme parecer real, a vida na realidade |
acontece como breves, minúsculas explosões de luz chamadas quanta. Os |
quanta da vida acontecem tão rapidamente que, a menos que o cérebro seja |
treinado para operar de modo diferente (como em algumas formas de |
meditação), ele simplesmente efetua a média dos pulsos para criar a ação |
contínua que vemos como os esportes de domingo. |
Nessa explicação simplificada da vida encontramos também o elemento |
fundamental para a nossa cura. Para que uma explosão de luz termine antes |
que a seguinte comece, deve haver, por definição, um momento |
intermediário. Nesse espaço, por um breve instante, existe um equilíbrio |
perfeito em que nada acontece — os eventos que levaram à explosão estão |
completos, e os novos eventos ainda não começaram. Nesse lugar de “coisa |
nenhuma”, todos os cenários de vida/morte/sofrimento/cura/guerra/paz |
existem como possibilidades e em potencial. Esse é o lugar onde sentimentos |
e orações se tornam as matrizes da vida. |
É o estado emocional durante a oração que determina o tipo de matriz que |
criamos. Sabendo que o Campo é um reflexo das nossas crenças interiores, |
precisamos encontrar um meio de limpar o nosso sofrimento e raiva antes de |
rezar. Se pensarmos sobre isso, veremos que faz muito sentido. Afinal, como |
podemos esperar que a Mente de Deus reflita cura e paz se sentimos medo e |
sofremos? |
Assim, diante das fortes emoções de raiva, frustração, inveja e angústia, |
como podemos sentir alguma outra coisa para que as nossas orações tenham |
todo o seu vigor? Como podemos deter as emoções “negativas” enquanto |
entramos no poderoso espaço intermediário? Para responder a essa pergunta, |
inspiramo-nos novamente na sabedoria do passado. |