Capítulo Um O PRIMEIRO SEGREDO A NOSSA FORMA PERDIDA DE ORAÇÃO
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Capítulo Um O PRIMEIRO SEGREDO A NOSSA FORMA PERDIDA DE ORAÇÃO

Capítulo Um

anderson
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Capítulo Um

O PRIMEIRO SEGREDO

A NOSSA FORMA PERDIDA DE ORAÇÃO

A força que criou os esplendores inimagináveis e os horrores

inimagináveis refugiou-se em nós e seguirá as nossas ordens.

— Santa Catarina de Siena

Existe algo “lá fora”. Maus além das nossas percepções do mundo cotidiano

existe uma presença, ou força, que é ao mesmo tempo misteriosa e

consoladora. Nós falamos sobre ela. Nós a sentimos. Nós acreditamos nela

e lhe dirigimos as nossas preces, talvez sem sequer compreender exatamente

o que ela é.

Chamando-a por nomes que variam desde Teia da Criação até Espírito de

Deus, antigas tradições sabiam que essa presença existe. Sabiam também

como aplicá-la em suas vidas. Com palavras do seu tempo, deixaram

instruções detalhadas às futuras gerações descrevendo como podemos usar

essa força invisível para curar o nosso corpo e relacionamentos e trazer paz

ao nosso mundo. Hoje sabemos que a linguagem interliga os três como uma

forma “perdida” de oração.

Diferentemente das orações tradicionais que podemos ter usado no passado,

porém, essa técnica de rezar não é feita de palavras. Ela se baseia na

linguagem silenciosa da emoção humana. Ela nos convida a sentir gratidão

e reconhecimento, como se as nossas preces já tivessem sido atendidas. Por

meio dessa qualidade de sentimento, os antigos acreditavam que temos

acesso direto ao poder da criação: o Espírito de Deus.

No século XX, a ciência moderna pode ter redescoberto o Espírito de Deus

como um campo de energia que é diferente de qualquer outra forma de

energia. Ela parece estar em toda parte, sempre, e ter existido desde o

princípio dos tempos. O homem geralmente considerado como pai da física

quântica, Max Planck, afirmou que a existência do Campo sugere que uma

grande inteligência é responsável pelo nosso mundo físico. “Devemos

admitir por trás dessa força a existência de uma mente consciente e

inteligente”. Ele concluiu, dizendo simplesmente, “Essa mente é a matriz de

toda matéria”. [5] Referindo-se a ela em outros termos, como Campo

Unificado, estudos contemporâneos comprovam que a matriz de Planck tem,

de fato, inteligência. Como sugeriam os antigos, o Campo responde à

emoção humana!

Qualquer que seja o nome que lhe demos ou a definição apresentada pela

ciência e pela religião, está claro que existe algo lá fora — uma força, um

campo, uma presença — que é o “grande ímã” que nos atrai incessantemente

uns para os outros e nos liga a um poder superior. Sabendo que essa força

existe, faz enorme sentido o fato de termos sido capazes de nos comunicar

com ela de modo significativo e proveitoso em nossa vida. Basicamente,

podemos descobrir que o mesmo poder que cura as nossas feridas mais

profundas e cria paz entre as nações tem a chave da nossa sobrevivência

como espécie.

Acredita-se que o censo mundial realizado em 2000 seja a amostra mais

precisa do nosso mundo na história registrada. Entre as estatísticas

expressivas que a pesquisa revelou sobre a nossa família global, e talvez a

mais reveladora, é a nossa percepção quase universal de que estamos aqui

com um propósito e que não estamos sozinhos. Mais de 95 por cento da

população mundial acredita na existência de um poder superior. Desse

percentual, mais da metade chama esse poder de “Deus”.

A questão agora diz menos respeito à possível existência ou não de algo “lá

fora” do que ao significado que esse “algo” tem em nossa vida. Como

podemos nos dirigir ao poder superior em quem tantos de nós acreditamos?

As mesmas tradições que descreveram os segredos da natureza milhares de

anos atrás responderam também a essa pergunta. Como você poderia

esperar, a linguagem que nos liga a Deus encontra-se numa experiência

muito comum vivida por todos nós: a experiência dos nossos sentimentos e

emoções.

Quando dirigimos a atenção para uma certa qualidade de sentimento em

nosso coração, usamos na verdade o modo de oração que foi em grande parte

esquecido depois das edições bíblicas do século IV, hoje amplamente

publicadas. O segredo para usar o sentimento como nossa linguagem-oração

é simplesmente compreender como a oração funciona. Nos santuários mais

remotos e isolados que ainda restam na Terra atualmente, os menos afetados

pela civilização moderna, encontramos alguns dos exemplos mais bem

conservados do modo como podemos nos dirigir à presença em quem 95 por

cento da humanidade acredita.

Oração é sentimento

Eu estava abalado com o que acabara de ouvir. O frio que subia do chão de

pedra sob meus pés atravessara as duas camadas de roupa que eu vestira pela

manhã. Cada dia no planalto tibetano é verão e inverno: verão no sol que

incide direto nas elevadas altitudes; inverno quando o sol desaparece atrás

dos picos salientes do Himalaia... ou atrás das altas paredes do templo, como

as que me rodeavam. Era como se não houvesse nada entre a minha pele e

as antigas pedras embaixo de mim, e no entanto eu não conseguia sair do

lugar. Essa era a razão por que eu havia convidado outras vinte pessoas para

me acompanhar numa jornada que nos levaria a percorrer metade do mundo.

Nesse dia, nós nos encontrávamos num dos mais remotos, isolados,

magníficos e sagrados lugares de conhecimento que restam na Terra

atualmente: os mosteiros do planalto tibetano.

Durante catorze dias havíamos aclimatado o corpo para altitudes de mais de

5.000 metros acima do nível do mar. Havíamos cruzado um rio gelado em

barcaças de madeira feitas à mão e viajado durante horas, espreitando uns

aos outros através das máscaras cirúrgicas que filtravam a poeira que

penetrava pelo assoalho do nosso ônibus chinês antigo. Embora o veículo

parecesse tão velho quanto os próprios templos, o nosso intérprete nos

assegurava de que não era! Segurando-nos nos assentos à nossa volta e

mesmo uns nos outros, havíamos nos agarrado e apoiado mutuamente ao

atravessar pontes danificadas pelas águas e desertos sem estradas, sendo

quase jogados para fora, apenas para estar nesse exato lugar nesse exato

momento. Eu pensava, Hoje não importa sentir tanto calor. Hoje é um dia de

respostas.

Concentrei a minha atenção diretamente nos olhos do homem bemapessoado e de aparência intemporal sentado na posição de lótus à minha

frente: o abade do mosteiro. Por intermédio do nosso tradutor, eu lhe fizera

a mesma pergunta que havia apresentado a cada monge e monja que

tínhamos encontrado durante a nossa peregrinação: “Quando vemos as suas

orações, o que vocês estão fazendo realmente? Quando os vemos cantar e

entoar durante 14, 16 horas por dia, quando vemos os sinos, os orins, os

gongos, os carrilhões, os mudras e os mantras externamente, o que está

acontecendo com vocês internamente?”

Enquanto o tradutor interpretava a resposta do abade, uma sensação muito

forte tomou conta do meu corpo, e eu soube que essa era a razão de termos

vindo a esse lugar. “Vocês nunca viram as nossas orações”, ele respondeu,

“porque uma oração não pode ser vista”. Ajeitando o pesado manto de lã sob

os pés, o abade continuou: “O que vocês viram é o que fazemos para criar o

sentimento em nosso corpo. O sentimento é a oração!”

A clareza da resposta do abade me desconcertou. Suas palavras ecoavam as

ideias registradas nas antigas tradições gnósticas e cristãs havia mais de

2.000 anos. Nas primeiras traduções do Evangelho de João (capítulo 16,

versículo 24, por exemplo), recebemos o convite para intensificar as nossas

orações sendo rodeados por [sentindo] nossos desejos atendidos, exatamente

como sugeriu o abade: “Peçam sem motivos ocultos e sejam rodeados por

sua resposta”. Para que as nossas orações sejam atendidas, precisamos

transcender a dúvida que quase sempre acompanha a natureza positiva do

nosso desejo. Seguindo um breve ensinamento sobre o poder de superar

essas polaridades, as palavras de Jesus conservadas na Biblioteca de Nag

Hammadi nos lembram de que se fazemos isso e dizemos à montanha, “‘Sai

daqui’, ela sairá”. [6]

Se a sabedoria ficou preservada durante tanto tempo, ela com certeza deve

ser útil para nós também atualmente! Com uma linguagem quase idêntica,

tanto o abade como os pergaminhos descreveram uma forma de oração que

foi em grande parte esquecida no Ocidente.