Convite para você mesmo fazer isso
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Convite para você mesmo fazer isso

Convite para você mesmo fazer isso

anderson
11 min
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Convite para você mesmo fazer isso

Na próxima vez em que você estiver num lugar público, olhe discretamente

para a multidão à sua volta. Observe uma pessoa — qualquer uma. Perguntese o que nessa pessoa o toca mais profundamente. Pode ser a inocência ou o

sorriso dela. Como aconteceu com o homem que eu vi quando estava

naquele carro alugado, talvez seja algo tão simples quanto o modo como esse

indivíduo lida com os desafios da vida.

Em seguida feche os olhos e imagine como seria o seu dia se você não

soubesse que essa pessoa esteve no seu mundo. Pense como esse momento

teria sido vazio e como você sentiria falta dela.

Você pode se surpreender com o impacto que um exercício tão simples, tão

breve, pode exercer! Sinta-se profundamente agradecido e agradeça à

presença da pessoa nesse momento e o que ela lhe ensinou sobre você

mesmo.

Como escolhemos ver

Além da beleza inspirada por um pôr do sol, pelo topo de uma montanha

coberto de neve ou pelo trabalho de um artista preferido, há fontes de beleza

que emanam simplesmente do significado que damos à nossa experiência.

Nesses casos, é o modo como vemos a vida que cria a sensação de beleza

dentro de nós. O nascimento de um ser humano é um exemplo perfeito dessa

verdade.

Testemunhar a chegada de uma nova vida neste mundo é uma experiência

mística e mágica para todos. Conhecer o resultado do trabalho de parto de

uma mulher, porém, altera o que sentimos sobre o que vemos. Por apenas

um momento, no entanto, se pudermos imaginar-nos chegando na Terra

vindos de um mundo onde o milagre do nascimento é uma experiência

desconhecida, testemunhar o processo inteiro poderá ser perturbador,

assustador até!

Sem o conhecimento prévio de que “é assim que se faz nesta terra”, para

todos os efeitos, ao testemunhar o parto de uma nova vida, veríamos muitos

dos mesmos sinais que acompanham a perda da vida no mundo. Num

nascimento ocidental típico, começaríamos vendo uma mulher com muitas

dores. Seu rosto mostraria contorções que se intensificariam com a

proximidade da expulsão do feto. Sangue e água escorreriam do seu corpo.

Como saberíamos que dos sinais externos de dor, que às vezes são sinônimos

de morte, surgiria uma nova vida? Tudo é uma questão do sentido que damos

à nossa experiência.

Uma beleza estranha

O céu estava em chamas naquela noite. A rádio local mantinha uma

programação de emergência, informando sobre estradas fechadas e

procedimentos de evacuação, e transmitindo comunicados de hora em hora

sobre o avanço do fogo. Durante dois dias, e agora duas noites, as florestas

limítrofes com o deserto do centro-norte do Novo México queimavam com

um fogo tão ardente que criava seus próprios ventos internos. Estes se

aproximavam cada vez mais do pueblo mais antigo e continuamente

habitado da América do Norte, o Taos Pueblo.

Aproximando-me da cidade, uma densa névoa pendia suspensa no ar quente

e pesado que ficara preso no vale. Dois dias antes, durante uma trovoada à

tarde, um raio atingira os galhos e a vegetação seca do chão da floresta. Em

instantes, as encostas acima de Taos estavam em chamas, e o fogo

espalhava-se em velocidade perigosa na direção dos povoados situados no

sopé da montanha.

Embora eu soubesse que a tarde chegava ao seu final, era impossível dizer a

hora do dia pelo crepúsculo sombrio que cobria a região. Na segurança do

meu carro, eu não conseguia tirar os olhos do cenário que exigia a minha

atenção na estrada. O clarão das chamas lançava um brilho incomum nas

nuvens baixas, banhando tudo abaixo com tonalidades intensas e penetrantes

de vermelho, rosa e laranja. Olhando o dorso das minhas mãos, ainda presas

ao volante, percebi que as cores no céu eram tão fortes e ricas que mesmo o

azulado das veias assumira as belas cores do fulgor.

Imerso na experiência, por um instante apenas, eu senti o que estava vendo

sem pensar nas consequências devastadoras que certamente resultariam

quando o incêndio varresse as encostas. Contemplei a estranha beleza do

fogo e fiquei maravilhado, Essas são as cores que há séculos os artistas

tentam capturar em suas telas, e aqui elas estão pintadas através do céu como

jamais poderiam ser reproduzidas por um ser humano. Quanta beleza...

beleza absoluta!

De repente, o tom da voz do locutor passou da calma da transmissão de

informações para a urgência da comunicação de novos acontecimentos: “Os

ventos mudaram, e o fogo pode seguir em uma de duas direções. Ou ele

continuará a consumir o vale na direção das residências no outro lado da

montanha, ou virá na nossa direção, para a cidade de Taos. Alertamos as

pessoas da região leste da cidade para se prepararem para uma possível

evacuação”.

A região leste da cidade?! É onde me encontro agora! Nesse momento, o

fogo assumiu de imediato uma aparência totalmente diferente para mim.

Na fração de tempo suficiente para ouvir uma frase curta, o incêndio passou

de objeto de reverência e beleza a ameaça, na medida em que eu agora

percebia que ele punha em risco a vida de pessoas, cavalos, gado e outros

animais que estavam no seu caminho. Isso era absolutamente aterrorizante!

Comecei a pensar em toda a vida selvagem que normalmente fica

encurralada em meio ao fogo devorador. Todos conhecemos histórias de

corpos carbonizados de cervos, alces e habitantes menores da floresta que

ficam desorientados com o caos que resulta do estalar das chamas, dos

ventos quentes, do calor e da fumaça, e se perdem. Temos também histórias

de bombeiros que, ao arriscar-se para salvar a vida e a propriedade de outras

pessoas, de repente ficam cercados pelas chamas quando um incêndio altera

inesperadamente o seu curso e bloqueia as rotas de saída.

Narro essa história por uma razão mais profunda do que simplesmente

reverenciar a Narro essa história por uma razão mais profunda do que

simplesmente reverenciar a memória de todos os que trabalharam com tanta

bravura e empenho para debelar o incêndio em Taos Pueblo em 2003. [25]

Para mim, esse incêndio reforçou um princípio que muitas tradições antigas

e indígenas consideram como sagradas há séculos. Durante o tempo em que

observei as chamas, o fogo em si não mudou. Ele continuava sendo o mesmo

fogo que eu vira momentos antes, queimando abrasador, selvagem e livre.

Eu é que mudei. Especificamente, mudei a minha atitude com relação ao

fogo. Num momento, vi as chamas como fonte de fascinação e beleza

surpreendente. Poucos segundos depois, as mesmas chamas se tornaram

fonte de ansiedade, e com toda a honestidade, de um grau não pequeno de

medo! Se eu não ficasse sabendo que as labaredas que se projetavam no céu

acima das copas das árvores ameaçavam casas e vidas, com toda

probabilidade elas continuariam sendo um espetáculo de beleza. Mas a

compreensão do que estava acontecendo mudou o meu modo de sentir o que

eu via.

Muitas pessoas relataram experiências semelhantes ao assistir às imagens

televisivas do acidente com o ônibus espacial Challenger ocorrido no leste

da Flórida em 1986. Até entender o que estavam assistindo naquele dia, os

espectadores viam nuvens brancas expandindo-se em grandes blocos sobre

o Cabo Canaveral, contrastando com o azul escuro do céu do sul da Flórida

como um belo espetáculo de fascinante tecnologia. Ao saber que alguma

coisa dera terrivelmente errado, porém, e que toda a tripulação perdera a

vida, as espessas nuvens brancas perderam sua beleza e se tornaram o

símbolo sempre presente da dor e da perda de uma nação.

O princípio é este: embora não tenhamos o poder de determinar o que

acontece a cada momento, temos o poder de determinar os nossos

sentimentos com relação ao que acontece. Temos assim os meios para

transformar até as experiências mais dolorosas numa sabedoria voltada para

a vida que se torna a base da nossa cura. No período de uns breves segundos,

enquanto observava o incêndio em Taos, eu mudara a minha experiência

simplesmente modificando o modo como me sentia com relação a ela.

O poder da beleza

Descobertas recentes na ciência ocidental somam-se atualmente a um

conjunto cada vez maior de evidências segundo as quais a beleza é um poder

transformador. Muito mais do que apenas um adjetivo que descreve as cores

de um pôr do sol ou de um arco-íris depois de uma chuva de verão, a beleza

é uma experiência — especificamente, a beleza é nossa experiência.

Acredita-se que os seres humanos sejam a única espécie de vida sobre a

Terra que tem a capacidade de perceber a beleza no mundo ao seu redor e

nas experiências da sua vida. Por meio da experiência de beleza, recebemos

o poder de mudar os sentimentos que temos no corpo. Os sentimentos, por

sua vez, estão diretamente ligados ao mundo que está além do corpo.

Os antigos acreditavam que o sentimento — especialmente a forma de

sentimento que chamamos de “oração” — é a força mais poderosa no

universo. Como já vimos, sentimento e oração de fato influenciam

diretamente a matéria física do nosso mundo. Assim, quando dizemos que a

beleza tem o poder de mudar a nossa vida, não é exagero dizer que a mesma

beleza também tem o poder de mudar o nosso mundo!

Para isso precisamos descobrir um modo de ver além da dor, do sofrimento

e da aflição que o mundo está nos mostrando, e reconhecer a beleza que já

existe em todas as coisas. Somente então liberaremos o potencial e o poder

da oração na nossa vida.

Encontrar beleza onde outros não encontram

Para ajudar-nos na nossa busca da compreensão das coisas, grandes mestres

do passado, e também do presente, nos atraem e entusiasmam como

exemplos vivos. Alguns anos atrás, o mundo perdeu um desses mestres:

Madre Teresa. “Mãe”, como os que estavam próximos dessa grande mulher

a chamavam, andava pelas ruas próximas da sua residência em Calcutá, na

Índia, e encontrava beleza onde poucas pessoas acreditavam que ela pudesse

existir. Entre a sujeira do lixo e o monturo das sarjetas, entre o mau cheiro e

a decomposição de restos de alimentos e de carcaças impossíveis de

identificar nos becos, ela conseguia ver um amontoado de esterco no meio

da rua. Nesse esterco ela identificava o botão de uma flor. Nessa flor ela via

vida, e nessa vida encontrava a beleza nas ruas da cidade.

Sem explicações, sem racionalizações e sem justificativas, mestres como

Madre Teresa acreditam que a beleza simplesmente existe. Ela já está aí.

Está em todo lugar e sempre presente. A nossa missão é encontrar essa

beleza. A vida é a nossa oportunidade de procurá-la e de fazer com que a

beleza que descobrimos em todas as coisas — desde os sofrimentos mais

profundos até as maiores alegrias — se torne o padrão ao qual confiamos a

nossa vida e nós mesmos.

Com sua vontade pura e determinação, Madre Teresa aplicou a elegância

simples das suas crenças à vida e mudou para sempre o antigo estigma

atribuído aos chamados intocáveis, as pessoas doentes e moribundas das ruas

da Índia. Sem julgá-las “menos do que” qualquer outra pessoa, ela e as suas

Irmãs de Caridade voluntárias saíam todos os dias à procura daqueles que

elas chamavam de “filhos de Deus”. Historicamente evitadas pela sociedade

indiana, e às vezes pela própria família, essas pessoas eram levadas aos

hospitais fundados pelas irmãs para lá receberem dignidade e privacidade

em suas últimas horas na Terra.

As irmãs continuam sua missão até os dias de hoje. Fiz questão de visitar as

suas instalações e encontrei mulheres desempenhando um trabalho de rara

nobreza que poucas pessoas têm disposição ou força emocional para imitar.

Elas são verdadeiros anjos que andam neste mundo. Penso frequentemente

nas irmãs e em Madre Teresa, e sei que se elas conseguem encontrar beleza

nas ruas de Calcutá, eu posso reconhecer a beleza que existe em qualquer

lugar em que eu possa me encontrar.

Esse é o poder da beleza. A aplicação é clara; as instruções são precisas. A

beleza que testemunhamos na nossa vida é o modelo do que se reflete no

nosso mundo. Na nossa era tecnológica de circuitos miniaturizados e de

aparelhos computadorizados para ferver a nossa água, pode ser muito fácil

negligenciar o poder que a beleza oferece à nossa vida. No contexto da

compreensão quântica de um mundo em que as nossas crenças interiores se

tornam o nosso mundo externo, que tecnologia poderia ser mais simples ou

mais poderosa?