Das maiores alturas ao abismo mais profundo
0
0

Das maiores alturas ao abismo mais profundo

Das maiores alturas ao abismo mais profundo.

anderson
21 min
0
0

Das maiores alturas ao abismo mais profundo.

Ninguém está imune aos ciclos de equilíbrio e mudança. Qualquer que seja

o tamanho da nossa família, o número de amigos que temos, a quantidade

de livros que escrevemos ou o sucesso que alcançamos, todos temos um

“gatilho” que provoca mudanças em nossa vida. Curiosamente, o dispositivo

que desencadeia o processo parece ser diferente para cada pessoa. Embora

possamos acreditar que organizamos a nossa vida cuidadosamente como

algo que podemos regular e controlar, cada experiência e cada

relacionamento nos exercita e prepara o tempo todo para algo que pode estar

além do nosso controle.

Desse modo, aproximamo-nos cada vez mais do momento em que teremos

a oportunidade de demonstrar o domínio sobre as nossas traições, as quebras

de confiança e as questões mais delicadas. Entretanto, só depois de usar a

última ferramenta espiritual de modo apropriado a criar o equilíbrio é que

emitimos o sinal de que estamos preparados. É o nosso equilíbrio que diz,

“Ei, estou pronto. Pode vir!” Agora estamos prontos para demonstrar ao

universo o que aprendemos.

Até aprendermos com a experiência, consciente ou inconscientemente, as

nossas provações podem ser tão sutis que nem mesmo as reconhecemos

como provações! Só quando compreendemos o que as traições e as

promessas quebradas do passado nos mostraram é que ganhamos a sabedoria

e as capacidades que nos permitem corrigir os padrões e avançar na vida.

O pioneiro professor budista Lama Surya Das (Awakening the Buddha

Within, Letting Go of the Person You Used to Be) descreve como podem

ser intensos os momentos de sofrimento e tristeza na nossa vida. Ele diz:

“Toda vida contém alegria e tristeza. Gostaríamos de ficar com a alegria e

esquecer a tristeza, mas é uma habilidade espiritual muito maior usar tudo o

que encontramos na vida como grão para o moinho do despertar”. Às vezes

o “grão” da vida chega até nós do modo mais inesperado!

Durante a explosão tecnológica no início dos anos 1990, Gerald (nome

fictício) era engenheiro no Vale do Silício, Califórnia. Ele tinha duas jovens

e lindas filhas, e estava casado com uma mulher igualmente bela havia

aproximadamente 15 anos. Quando o conheci, sua empresa acabara de

conceder-lhe um prêmio pelo quinto ano de exercício profissional na tarefa

de identificar e reparar defeitos de um tipo especializado de software. Sua

posição o tornara um bem valioso para a empresa, e a necessidade da sua

especialidade exigia muito mais do que o habitual expediente diário de

trabalho das 8 às 17 horas.

Para atender à demanda das suas habilidades, Gerald começou a trabalhar

até tarde todas as noites e nos fins de semana, e a viajar com seu software

para feiras e exposições comerciais em outras cidades. Logo ele estava

passando mais tempo com os colegas do que com a família. Eu podia ver a

angústia em seus olhos ao descrever como seus familiares estavam ficando

distantes. À noite, ao chegar em casa, sua mulher e filhas já estavam

dormindo, e de manhã ele já estava na empresa antes que elas acordassem.

Em pouco tempo ele começou a se sentir como um estranho em seu próprio

lar. Sabia mais a respeito das famílias dos que trabalhavam com ele do que

a respeito da sua própria.

Foi quando a vida de Gerald sofreu uma reviravolta dramática. Ele me

procurou para uma sessão de aconselhamento quando eu estava escrevendo

um livro sobre os “espelhos” dos relacionamentos e sua atuação em nossa

vida. Mais de 2.200 anos atrás, os autores dos Manuscritos do Mar Morto

identificaram sete padrões específicos que podemos esperar em nossas

interações com outras pessoas. À medida que a história de Gerald se

desenvolvia, ficava evidente que ele estava descrevendo um desses padrões,

que é o reflexo da vida do nosso maior medo, em geral conhecido como “A

Noite Escura da Alma”.

Entre os engenheiros da empresa havia uma programadora brilhante, mais

ou menos da idade dele. Ele fora designado como parceiro dessa mulher para

executar tarefas que às vezes duravam dias e os obrigavam a viajar para

cidades de todo o país. Em pouco tempo, ele teve a impressão de conhecer

melhor essa mulher do que a própria esposa. Nesse ponto da história,

imaginei como tudo acabaria. O que eu não sabia era por que Gerald estava

tão perturbado e o que estava para acontecer com ele.

Sem demora, ele acreditou que estava apaixonado por sua colega de trabalho

e tomou a decisão de abandonar a esposa e as filhas para começar uma vida

nova com ela. Essa decisão parecia fazer sentido na época, pois eles tinham

muita coisa em comum. Em poucas semanas, porém, sua nova parceira foi

transferida para um projeto em Los Angeles. Em razão de alguns pequenos

favores, e por caminhos um tanto tortuosos, Gerald conseguiu uma

transferência para o mesmo escritório.

Imediatamente as coisas começaram a dar errado, e Gerald achou que mais

perdera do que ganhara. Amigos de anos, dele e da sua esposa, de repente

começaram a distanciar-se e esquivar-se. Seus colegas achavam que ele

estava um tanto “fora do juízo” por abandonar a posição e os projetos a que

tanto se dedicara. Seus próprios pais estavam irritados por ele ter

desestruturado a família. Embora sofrendo, Gerald racionalizou que esse era

simplesmente o preço da mudança. Ele estava pronto para uma nova vida. O

que mais podia pedir?

É nesse ponto que entram o espelho do equilíbrio e a Noite Escura da Alma.

No exato momento em que tudo parecia encaixar-se, Gerald descobriu que

tudo estava na verdade desmoronando! Em poucas semanas, seu novo amor

anunciou que a relação deles não era o que ela esperava. Ela rompeu

repentinamente e pediu que ele fosse embora. Num estalar de dedos, ele

estava por sua própria conta, sozinho e arrasado. “Depois de tudo o que fiz

por ela, como ela pôde?”, lamentava. Ele abandonara a esposa, as filhas, os

amigos e o emprego. Em resumo, havia deixado tudo o que amava.

Quase em seguida ele começou a render menos no trabalho. Depois de várias

advertências e uma avaliação de desempenho sofrível, seu departamento

finalmente o dispensou. À medida que a história de Gerald prosseguia, ficou

claro o que acontecera realmente: sua vida fora das maiores alturas, com

todas as perspectivas de um novo relacionamento, de um novo emprego e de

um rendimento maior, para os abismos mais profundos, enquanto todos

esses sonhos se dissipavam. Na noite em que Gerald me procurou, ele fazia

uma única pergunta: “O que aconteceu?” Como coisas que pareciam tão

boas acabaram tão caóticas?

A Noite Escura da Alma: reconhecendo o

gatilho

Quando o conheci, Gerald havia perdido tudo o que amava. O porquê disso

é a chave desta história. Em vez de soltar as coisas que amava porque se

sentia completo e estava avançando, ele fez suas escolhas apenas quando

acreditou que havia algo melhor para ocupar o lugar delas. Em outras

palavras, ele não se arriscou. Por causa do medo de não encontrar nada

melhor, ele manteve fisicamente seu casamento durante muito tempo depois

de deixar a família emocionalmente. Há uma diferença sutil, porém

significativa, entre deixar o nosso emprego, amigos e romances porque

estamos completos e ficar com eles por medo de que não haja mais nada

para nós.

Todos os tipos de relacionamento podem apresentar uma tendência para

apegar-se ao estado atual das coisas até que algo melhor apareça. Esse apego

pode vir da inconsciência do que estamos fazendo ou pode existir porque

temos medo de virar a mesa e encarar a incerteza de não saber o que vem a

seguir. Embora possa muito bem representar um padrão que define aquilo

de que estamos inconscientes, não obstante é um padrão. Quer se trate de

um emprego, de um romance ou do nosso estilo de vida, podemos

surpreender-nos num padrão em que não somos felizes realmente, embora

nunca tenhamos comunicado isso honestamente às pessoas da nossa vida.

Assim, mesmo quando o mundo acredita que a nossa vida transcorre

normalmente, interiormente podemos estar bradando por mudanças e

sentindo-nos frustrados por não saber como comunicar essa necessidade às

pessoas que nos são próximas.

Esse é um padrão que produz negatividade. Os nossos sentimentos

verdadeiros muitas vezes disfarçam-se como tensão, hostilidade ou às vezes

apenas como a nossa ausência na relação. Todos os dias cumprimos as

nossas obrigações profissionais ou compartilhamos a nossa vida e a nossa

casa com outra pessoa, mas estamos emocionalmente distantes e em outro

mundo. Quer o problema seja com o chefe, com alguém que amamos ou com

nós mesmos, nós racionalizamos, transigimos e esperamos. Então, certo dia

— bum! — acontece. Aparentemente surgindo do nada, as coisas mesmas

que esperávamos e pelas quais ansiávamos aparecem de repente. Quando

isso acontece, podemos atirar-nos a elas como se não houvesse amanhã.

No caso de Gerald, quando ele se mudou para outra cidade com o seu novo

relacionamento, deixou para trás um vazio não resolvido em que o seu

mundo entrou em colapso. Agora, depois de perder tudo o que amava, ele

estava sentado à minha frente com lágrimas em profusão rolando em suas

faces. “Como posso recuperar o meu emprego e a minha família? Diga-me

o que devo fazer!”

Ao passar-lhe a caixa de lenços de papel que reservava numa mesa próxima

exatamente para momentos como esse, eu disse algo que pegou Gerald

totalmente desprevenido: “Neste momento da sua vida não trate de recuperar

o que você perdeu”, comecei, “embora possa acontecer precisamente isso.

O que você criou para si mesmo vai muito além do emprego e da família.

Você despertou uma força dentro de você que pode tornar-se o seu aliado

mais poderoso”. E continuei, “Quando tiver passado por essa experiência,

você terá adquirido uma nova confiança que é inabalável. Você entrou num

período da vida que os antigos conheciam e chamavam de Noite Escura da

Alma”.

Gerald enxugou os olhos e recostou-se na cadeira. “O que você quer dizer

com isso, a ‘Noite Escura da Alma’?”, perguntou. “Como eu nunca ouvi

falar nisso?”

“A Noite Escura da Alma é um período na sua vida em que você é arrastado

a uma situação que representa aquilo que, para você, são os seus piores

medos”, respondi. “Um período como esse geralmente chega quando você

menos espera, e normalmente sem avisar. O fato é”, continuei, “que você só

pode ser levado a essa dinâmica quando o seu comando da vida sinaliza que

você está pronto. Então, exatamente quando a vida parece perfeita, o

equilíbrio que você alcançou é o sinal de que você está pronto para a

mudança. O chamariz para criar a mudança será algo pelo qual você anseia

na vida, algo a que você simplesmente não consegue resistir. De outro modo,

você jamais daria o salto!”

“Você quer dizer um chamariz como um novo relacionamento?”, perguntou

Gerald.

“Exatamente como um novo relacionamento”, repliquei. “Um

relacionamento é o tipo de catalisador que promete que progrediremos na

vida.” Continuando, expliquei que mesmo sabendo que somos perfeitamente

capazes de sobreviver a quaisquer riscos que a vida coloque no nosso

caminho, não é da nossa natureza acordar certa manhã e dizer, “Hmm... acho

que hoje vou abandonar tudo o que prezo e amo para entrar na Noite Escura

da Alma”. Tudo indica que não funcionamos dessa maneira. Como

normalmente acontece, as grandes provações da nossa Noite Escura parecem

advir quando menos as esperamos.

Alguns anos atrás, encontrei um amigo que acabara de deixar a profissão, a

família, os amigos e um relacionamento no seu estado natal e mudar-se para

as regiões inóspitas do norte do Novo México. Perguntei-lhe por que havia

deixado tudo para trás para fixar-se no isolamento do deserto. Ele começou

dizendo que fora para as montanhas para encontrar o seu caminho espiritual.

Logo em seguida, disse que não conseguira pôr-se a caminho porque as

coisas não iam bem. Ele estava tendo problemas com os negócios, com a

família e com os amigos que deixara para trás. Sua frustração era evidente.

Eu aprendi que não existem acasos na vida e que cada obstáculo que

enfrentamos faz parte de um padrão maior. Enquanto ouvia a história do meu

amigo, o desejo do meu “cérebro de homem” de consertar as coisas da vida

compeliu-me a oferecer a minha perspectiva. “Talvez este seja o seu

caminho espiritual”, sugeri. “Talvez o modo de resolver cada problema seja

o caminho que você veio procurar aqui.”

Ele olhou para trás, pois estava se afastando, e disse simplesmente: “Hmm...

talvez seja...”

A possibilidade de que a vida nos traga exatamente o que precisamos,

exatamente quando precisamos, faz todo sentido. Assim como não podemos

encher uma xícara com água sem antes abrir a torneira, ter uma caixa de

ferramentas emocional é o gatilho que dá o sinal para a torneira da vida nos

trazer a mudança. Até liberarmos o fluxo, nada pode acontecer. O outro lado

dessa dinâmica é que, quando nos encontramos numa Noite Escura da Alma,

pode ser reconfortante saber que só podemos chegar a esse ponto na vida se

nós mesmos acionarmos a chave. Conscientes disso ou não, estamos sempre

preparados para qualquer coisa que a vida possa nos oferecer.

Os nossos maiores medos

O propósito da Noite Escura da Alma é levar-nos a sentir e curar os nossos

maiores medos. O realmente interessante sobre a Noite Escura da Alma é

que, pelo fato de os medos das pessoas serem diferentes, o que parece uma

experiência assustadora para uma pessoa pode não ser grande coisa para

outra. Por exemplo, Gerald admitiu que o seu maior medo era ficar sozinho.

Na mesma noite, porém, eu havia conversado com uma mulher que me disse

que “ficar sozinha” era a sua maior alegria.

Não é raro que pessoas que temem ficar sós se tornem mestres em

relacionamentos em que sentem os seus medos. Gerald, por exemplo,

descreveu romances, amizades e empregos do seu passado que jamais teriam

durado! Quando cada um terminava, ele acreditava que os relacionamentos

haviam “fracassado”. Na realidade, os seus relacionamentos eram tão bemsucedidos que cada um deles lhe dava condições de ver que o seu maior

medo de ficar sozinho passava. No entanto, como ele não se curara, ou nem

mesmo reconhecera os padrões em sua vida antes, deparou-se com situações

em que o seu medo se tornava cada vez menos sutil. Por fim, a vida o

conduziu ao ponto em que o seu medo ficou tão evidente que ele precisou

abordá-lo antes de poder continuar.

Embora possamos passar por muitas Noites Escuras da Alma durante a nossa

vida, a primeira é normalmente a mais penosa. Ela também é provavelmente

o agente mais forte de mudança. Quando compreendemos por que sofremos

tanto, a experiência começa a assumir um novo significado. Ao reconhecer

os sinalizadores de uma Noite Escura, podemos dizer: “Aha! Eu conheço

esse padrão! Sim senhor, é definitivamente uma Noite Escura da Alma.

Agora, o que preciso dominar?”

Conheço pessoas que se tornam tão fortalecidas depois que conseguem

enfrentar as suas experiências da Noite Escura que quase desafiam o

universo a lhes trazer a seguinte. Elas fazem isso simplesmente porque

sabem que, se sobreviveram à primeira, podem sobreviver a qualquer coisa.

Somente quando temos experiências assim sem compreender o que são ou

por que passamos por elas é que ficamos presos durante anos, ou mesmo

vidas, a um padrão que pode literalmente roubar-nos as coisas que mais

prezamos, como a própria vida.

É possível que sofrimentos não resolvidos possam encurtar ou mesmo pôr

fim a uma vida? A resposta pode surpreendê-lo.

Por que morremos?

Você já se perguntou por que morremos? Além dos motivos óbvios como

guerras, assassinatos, acidentes, desastres naturais e escolhas equivocadas

de estilo de vida, qual é a causa real, natural, da morte dos seres humanos?

Se somos, como sugerem as tradições espirituais, espíritos de Deus em

corpos do pó da terra, e se, como acredita a ciência médica, as nossas células

são capazes de curar e substituir a si mesmas inúmeras vezes, o que vem a

ser realmente toda essa questão de “desgaste” do corpo? Por que as

probabilidades de manter uma vida saudável, vigorosa e cheia de significado

parecem voltar-se contra nós quando passamos daquela que é considerada a

“meia-idade” e nos aproximamos da marca dos 100 anos?

Tenho feito essa pergunta muitas vezes em seminários ao redor do mundo.

Quando as razões listadas acima são aceitas, quase imediatamente as pessoas

dizem que é a “velhice” que nos toma a vida. “Nós simplesmente

envelhecemos e as coisas deixam de funcionar” é uma resposta típica que

ouço. À primeira vista, pesquisas sobre as razões médicas da morte parecem

corroborar essa ideia.

Essa perspectiva pode ser resumida mais adequadamente pela primeira frase

de um artigo da General Health Encyclopedia intitulado “Aging Changes in

Organs, Tissues, and Cells”: “A maioria das pessoas percebe que os órgãos

vitais começam a perder a função com a idade” [13]. Confesso que posso não

estar entre essa maioria! Aliás, quanto mais pesquiso a constituição do nosso

corpo e o seu funcionamento, mais me convenço de que há alguma outra

coisa envolvida no envelhecimento — algo que não está sendo levado em

consideração no nosso modelo médico atual.

Mais adiante no mesmo artigo, outra afirmação abre a porta para essa

possibilidade. O autor reconhece que as razões pelas quais o nosso corpo

degenera à medida que envelhecemos não são inteiramente compreendidas.

“Nenhuma teoria explica suficientemente todas as mudanças do processo de

envelhecimento.” Em outras palavras, ainda não sabemos realmente com

precisão por que deterioramos à medida que o tempo passa. Conquanto, com

toda probabilidade, todos nós deixaremos este mundo em algum momento,

é possível que estejamos superando a necessidade de envelhecer, sofrer e

morrer pelas razões que as pessoas tradicionalmente aceitam?

Somos milagres feitos para durar!

Cientistas, profissionais da área médica e estudiosos concordam que o nosso

corpo tem uma capacidade miraculosa de sustentar a vida. Dentre os

estimados 50 trilhões ou mais de células que constituem a média dos seres

humanos, a maioria delas tem comprovadamente a capacidade de

autorregenerar-se e reproduzir-se muitas vezes num período de vida. Em

outras palavras, estamos constantemente nos substituindo e reconstruindo de

dentro para fora.

Parece haver duas exceções ao fenômeno da reprodução celular.

Curiosamente, essas são as células dos dois centros mais proximamente

identificados com as qualidades espirituais que fazem de nós o que somos:

as células do cérebro e as células do coração. Embora estudos tenham

mostrado que as células desses órgãos podem ter a capacidade de se

reproduzir, também parece que elas são tão resilientes que podem durar uma

vida inteira sem precisar necessariamente se reproduzir.

Por mais complexos que pareçamos externamente, os nossos órgãos, ossos

e outros tecidos são em grande parte constituídos de apenas quatro

elementos: hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono. Ironicamente, esses

quatro elementos estão entre os materiais mais abundantes em todo o

universo. Somos feitos literalmente da mesma matéria que compõe as

estrelas e as galáxias. Obviamente, no que diz respeito aos componentes

essenciais do nosso corpo, tudo indica que não há escassez de matéria prima.

Então, do que morremos?

Com exceção do mau uso de medicamentos e de diagnósticos equivocados,

a maior ameaça à vida de pessoas com idade superior a 65 anos são as

doenças cardíacas. Considero essa estatística fascinante devido à atividade

incessante do nosso coração. A média de batimentos cardíacos diários é de

aproximadamente 100.000, equivalente a 2.5 bilhões de vezes por ano,

bombeando 6 litros de sangue ao longo de aproximadamente 20.000

quilômetros de artérias, vasos e capilares a cada 24 horas. O coração parece

ser tão essencial para quem e o que nos tornamos na vida que é o primeiro

órgão a formar-se no útero materno, antes mesmo do cérebro!

Em termos de engenharia, quando o sucesso de todo um projeto depende de

um único componente, essa peça do equipamento recebe o status de “crítica

à missão”. No programa espacial, por exemplo, quando um veículo espacial

descer em Marte e não houver ninguém por perto para consertar algo que se

danificou, os engenheiros têm duas alternativas para assegurar o sucesso da

missão: ou fabricam a peça do veículo da qual depende toda a missão — a

peça crítica à missão — com tanta precisão que ela não possa falhar, ou

constroem sistemas de segurança que possam assumir o controle caso

ocorram defeitos. Às vezes eles chegam a adotar os dois procedimentos.

Evidentemente, o órgão milagroso que leva o sangue da vida a cada célula

do nosso corpo desenvolveu-se — por um projeto consciente ou por

processos naturais — para ser a nossa peça de equipamento “crítica à

missão” de maior durabilidade e mais capaz de se curar. Sempre que a perda

de alguém que amamos é atribuída à “falha” desse órgão tão extraordinário,

precisamos perguntar-nos o que aconteceu realmente a essa pessoa. Por que

o primeiro órgão a se desenvolver no corpo de alguém, e um órgão que

trabalha de modo tão impressionante durante tanto tempo, com células tão

resistentes que não precisam sequer reproduzir-se, simplesmente para de

funcionar depois de apenas algumas décadas? Isso não faz sentido, a menos

que exista outro fator que não tenhamos levado em conta.

A medicina moderna costuma atribuir as doenças cardíacas a um conjunto

de fatores físicos e relacionados ao estilo de vida que variam desde o

colesterol e a alimentação até toxinas do ambiente e stress. Conquanto esses

fatores possam ser acurados num nível puramente químico, eles pouco

contribuem para a análise da razão “por que” até mesmo existem. O que

significa realmente “falha do coração”?

Talvez não seja coincidência que todos os fatores do estilo de vida

relacionados com a falência do coração também estejam ligados a uma força

invisível que tradições espirituais antigas descrevem como a linguagem

poderosa que fala ao próprio universo: a emoção humana. Existe alguma

coisa que sentimos no decorrer da nossa vida que, para alguns de nós, pode

levar à falência catastrófica do órgão mais importante do corpo?

O sofrimento que mata

A resposta à pergunta — o que põe fim à vida? — pode parecer

surpreendente. Um corpo crescente de evidências, produzido por

pesquisadores de vanguarda, sugere que a própria vida pode levar à falência

do corpo! Especificamente, emoções negativas não resolvidas — nossas

mágoas — têm o poder de criar as condições físicas que conhecemos como

doenças cardiovasculares: tensão, inflamação, pressão alta e obstrução das

artérias. Essa relação corpo-mente foi documentada recentemente num

estudo decisivo realizado na Duke University sob a coordenação de James

Blumenthal.

[14] Ele identificou experiências prolongadas de medo, frustração, ansiedade

e desilusão como exemplos de emoções negativas exacerbadas que são

destrutivas para o coração e põem em risco a nossa vida. Cada uma delas faz

parte de um guarda-chuva maior que identificamos comumente como

“sofrimento”.

Outros estudos dão suporte a essa relação. O terapeuta Tim Laurence,

fundador do Hoffman Institute, na Inglaterra, descreve o impacto potencial

do nosso fracasso para curar e perdoar o que ele chama de “velhas feridas e

decepções”.

“No mínimo”, diz Laurence, “ele o afasta da boa saúde”. [15] Ele comprova

essa afirmação citando inúmeros estudos que mostram, como o de

Blumenthal, que condições físicas de raiva e tensão podem levar a

problemas que incluem pressão alta, dores de cabeça, imunidade baixa,

problemas estomacais e, finalmente, ataques cardíacos.

O estudo de Blumenthal mostrou que ensinar as pessoas a “moderar” sua

resposta emocional às situações da vida pode impedir ataques cardíacos. É

esse exatamente o ponto de cura do nosso sofrimento! As forças não físicas

das coisas que nos fazem sofrer criam efeitos físicos que literalmente têm o

poder de nos prejudicar — ou mesmo de levar-nos à morte.

Obviamente, esse estudo, ao lado de outros, não está sugerindo que ter

emoções negativas breves seja ruim ou doentio. Quando temos esses

sentimentos, eles são indicadores — medidores pessoais — que nos dizem

que aconteceu algo que pede nossa atenção e cura. Somente quando

ignoramos essas emoções e elas persistem durante meses, anos ou toda uma

vida sem solução, é que podem se tornar um problema.

A resposta à pergunta “por que morremos?” poderia ser que, devido à dor

dos desencantos da vida, nós nos lesamos a ponto de morrer? Comentando

essa possibilidade, o estudo de Blumenthal sugere: “Quando as pessoas

falam em morrer de tristeza, talvez elas estejam realmente dizendo que

reações emocionais intensas à perda e à desilusão podem causar um ataque

cardíaco fatal”. Na linguagem do seu tempo, as antigas tradições sugerem

precisamente essa possibilidade.