O pensamento de que, durante o breve período de nossa existência, estamos participando da criação,
O pensamento de que, durante o breve período de nossa existência, estamos participando da criação, |
em vez de estarmos simplesmente passando pelo universo, exige nova percepção do que é o cosmos e de |
como ele funciona. A base de uma concepção do mundo tão radical fundamentou a série de livros e artigos |
de David Bohm, outro físico de Princeton e colega de Einstein. Bohm nos deixou duas teorias pioneiras |
antes de seu falecimento em 1992, oferecendo-nos duas visões muito diferentes do universo — visões |
praticamente holísticas, de certo modo — e do papel que nele desempenhamos. |
A primeira foi uma interpretação da física quântica que estabeleceu o cenário para a reunião de Bohm |
com Einstein, início da amizade entre ambos. Foi essa a teoria que abriu a porta para o que Bohm chamou |
de "operação criativa de fundamentação [...] dos níveis de realidade" |
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. Em outras palavras, ele acreditava |
que existem planos de criação mais profundos e elevados fundamentando o modelo dos acontecimentos no |
nosso mundo. Nosso mundo físico se origina desses níveis mais sutis da realidade. |
Sua segunda teoria explicava o universo como um sistema único e unificado da natureza, conectado de |
maneiras nem sempre muito óbvias. Durante seus primeiros trabalhos no Lawrence Radiation Laboratory |
(atualmente Lawrence Livermore National Laboratory) da University of Califórnia, Bohm teve a |
oportunidade de observar pequenas partículas de átomos em um estado gaso- so especial conhecido como |
estado de plasma. Ele descobriu que as partículas nesse estado de plasma não se comportam como as |
unidades que usualmente consideramos autônomas, comportam-se mais como se estivessem interligadas |
entre si, como se fossem parte de uma existência maior. Esses experimentos lançaram a fundação para o |
trabalho pioneiro pelo qual Bohm provavelmente é mais conhecido, seu livro de 1980, Wholeness and the |
Implicate Order1. |
Nessa obra modificadora de paradigmas, Bohm sugere que, se pudéssemos ver o universo inteiro de |
um ponto de vista mais elevado, todos os objetos do nosso mundo apareceriam como projeções de coisas |
que estariam acontecendo em outro ambiente fora de nosso campo de observação. Ele vislumbrou o que |
podemos e o que não podemos ver como expressões de um universo mais amplo, de uma ordem universal |
maior. Para distinguir entre as duas situações, ele chamou esses dois reinos de "implicado" e "explicado". |
Tudo o que podemos ver e tocar e que aparece individualizado no nosso mundo — tais como as |
rochas, os oceanos, as florestas, os animais e as pessoas — são exemplos da ordem explicada da criação. |
Entretanto, por mais que essas coisas aparentem ser diferentes umas das outras, Bohm sugere que elas se |
encontram ligadas a uma realidade mais profunda, de uma maneira que simplesmente estamos |
impossibilitados de ver do lugar que ocupamos na criação. Ele viu todas as coisas que estão aparentemente |
separadas de nós como pertencentes a uma totalidade maior, que ele designou de ordem implicada. |
Para descrever a diferença entre o implicado e o explicado, Bohm fez uma comparação com o que |
ocorre em um curso de água. Usando a metáfora do fluxo da água na mesma corrente líquida, ele |
descreveu a ilusão da individualidade das coisas da seguinte maneira: "No curso de água vemos uma |
multitude de vórtices, ondulações, agitações, ondas, salpicos, etc., evidentemente sem que possam existir |
como unidades autônomas" |
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. Ainda que as perturbações da superfície da água possam nos parecer |
individualizadas, Bohm as viu como intimamente ligadas e profundamente conectadas entre si. "Tais |
subsistências transitórias, embora dotadas de formas abstratas, implicam apenas em uma independência relativa |
[ênfase do autor], não têm existência totalmente independente" |
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. Em outras palavras, todas são parte da |
mesma água. |
Bohm fez uso de tais exemplos para descrever sua percepção de universo e de tudo o que ele contém — |
incluindo-nos também —, o que efetivamente pode ser parte de um grande padrão cósmico no qual todas |
as partes são igualmente compartilhadas entre si. Englobando tal visão unificada da natureza, ele declarou |
simplesmente que "O melhor nome para essa nova introvisão talvez seja: Totalidade Indivisa em Movimento |
Fluente" |
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. |
Na década de 1970, Bohm ofereceu uma metáfora ainda mais clara para descrever como o universo |
pode ser pensado como um todo disperso, ainda que indivisível. Refletindo sobre a natureza interrelacionada da criação, ele se convenceu mais ainda de que o universo funciona como um grande |
holograma cósmico. Em um holograma, cada parte de qualquer objeto representado contém a totalidade do |
objeto, com a única diferença de estar em menor escala. (Aos leitores não familiarizados com o conceito de |
holograma sugerimos consultar o Capítulo 4 para uma informação mais detalhada.) De acordo com a |
perspectiva de Bohm, o que hoje percebemos como nosso mundo é a projeção de algo ainda mais real e que |
se passa em um nível mais profundo do processo criativo. O original é o que se encontra no nível mais |
profundo — o do universo não-manifestado (implicado). Nessa visão do "como em cima, assim embaixo" e |
"como dentro, assim fora", os padrões encontram-se contido no interior dos padrões, completos dentro e |
fora de si mesmos, diferindo apenas quanto à escala. |
A simplicidade elegante do corpo humano nos oferece um belo exemplo de holograma, já do nosso |
conhecimento. O DNA de qualquer parte do corpo contém nosso código genético — a totalidade do |
padrão do DNA — para todo o restante do corpo, independentemente da proveniência do código. Seja |