uma amostra do cabelo, da unha ou do sangue, o padrão genético que nos faz ser quem somos estará
uma amostra do cabelo, da unha ou do sangue, o padrão genético que nos faz ser quem somos estará |
sempre contido no código [...] e sempre será o mesmo. |
Assim como o universo muda constantemente do implicado para o explicado, o fluxo do não visto |
para o visto é o que constrói a dinâmica da criação. É essa natureza constantemente mutável da criação que |
John Wheeler tinha em mente quando descreveu o universo como "participativo" — isto é, inacabado e |
continuamente respondendo à consciência. |
É interessante observar que é esse, precisamente, o modo pelo qual o mundo funciona, de acordo com |
a sabedoria das tradições antigas. Desde os antigos escritos védicos indianos, que alguns estudiosos |
acreditam datar de 5.000 anos a.C., aos Manuscritos do Mar Morto, de 2.000 anos de idade, as ideias |
convergem para a sugestão de que o mundo não passa de um espelho de coisas que acontecem em outro |
domínio mais elevado, ou em uma realidade mais profunda. Por exemplo, ao tecer considerações sobre |
novas traduções de fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto, conhecidos como Canções do Sacrifício de |
Sábado, seus tradutores assim resumem o conteúdo: "O que acontece na Terra não é mais do que um pálido |
reflexo de uma realidade mais ampla e definitiva" |
8 |
. |
Tanto a teoria quântica como os textos antigos nos levam a concluir que nos mundos invisíveis criamos |
o projeto dos relacionamentos, carreiras, êxitos e fracassos do mundo visível. A partir dessa perspectiva, a |
Matriz Divina funciona como o grande cenário cósmico que nos permite perceber a energia não- física de |
nossas emoções e crenças (nossa raiva, ódio e fúria, bem como nosso amor, misericórdia e compreensão) |
projetadas no meio físico da vida. |
Assim como uma tela de cinema mostra sem avaliar qualquer imagem que tenha sido filmada, a Matriz |
aparentemente nos fornece uma superfície não-tendenciosa para nossas experiências e crenças interiores, a |
serem vistas no mundo. Algumas vezes conscientemente, mas muitas vezes sem perceber, "mostramos" |
nossas crenças mais verdadeiras acerca de qualquer assunto por meio dos nossos relacionamentos, desde a |
compaixão até a traição. |
Em outras palavras, somos como artistas que expressam suas paixões, medos, sonhos e desejos mais |
profundos por meio da essência viva de uma misteriosa tela quântica. Entretanto, contrariamente a uma |
tela convencional de pintura que existe apenas em um lugar em um dado momento, nossa tela é feita da |
mesma coisa que constitui todas as coisas — está em toda parte e sempre se encontra presente. |
Levemos a analogia da tela do pintor um passo adiante. Tradicionalmente os artistas estão separados |
de suas obras e usam seus instrumentos para consubstanciar uma criação íntima por meio de uma |
expressão exterior. Entretanto, no interior da Matriz Divina a separação entre o artista e sua arte |
desaparece: somos a tela, mas também as imagens nela colocadas, somos os instrumentos, mas também o |
artista que deles faz uso. |
A simples ideia de criarmos de dentro de nossa própria criação nos faz lembrar um dos desenhos |
animados de Walt Disney, comuns nas televisões preto-e-branco nos idos das décadas de f950 e 1960. |
Primeiramente víamos a mão de um artista não identificável rabiscando em um bloco de desenho um |
personagem bem conhecido, como por exemplo, o Mickey Mouse. A imagem, uma vez concluída, |
subitamente era animada e ganhava vida. Mickey começava então a criar seus próprios desenhos, e |
rabiscava outros personagens de dentro do próprio esboço. Repentinamente, o artista original não era mais |
necessário e saía da pintura [...] literalmente. |
Mickey e companheiros assumiam sua própria vida e personalidade e a mão não era mais visível em |
parte alguma. Enquanto todos na casa de faz-de-conta estivessem dormindo, toda a cozinha era uma |
alegria só! O açucareiro dançava com o saleiro e a xícara confraternizava agitadamente com a |
manteigueira, os personagens já não tinham nenhuma ligação com o artista. Ainda que essa descrição |
possa ser considerada uma simplificação excessiva do funcionamento da Matriz Divina, ela é útil para |
ancorar nossa concepção, sutil e abstrata, de sermos criadores, criando de dentro de nossas criações. |
Assim como o artista aperfeiçoa a imagem até que ela represente exatamente o que tem em mente, |
assim fazemos, aparentemente, em muitos aspectos com nossas experiências de vida, por meio da Matriz |
Divina. Mediante nossa paleta de crenças, avaliações, emoções e preces, nós nos colocamos em relacionamentos, empregos e situações de apoio e deslealdades ocorridos com vários indivíduos em diversos |
lugares. Ao mesmo tempo, essas pessoas e situações muitas vezes nos parecem insistentemente familiares. |
Tanto como indivíduos como em conjunto, compartilhamos nossas criações de vida interior por meio |
do ciclo incessante dos momentos que se sucedem, dia após dia, continuamente. Como esse conceito é belo, |
bizarro e poderoso! Como o pintor que usa sem parar a mesma tela uma vez seguida de outra, na busca |
pela perfeita expressão de uma ideia, podemos nos ver como perpétuos artistas, construindo uma criação |
que sempre muda sem nunca terminar. |
As implicações de estarmos cercados por um mundo maleável e de nossa própria lavra são vastas, |
poderosas e para alguns, talvez, um pouco assustadoras. Nossa capacidade de usar a Matriz Divina, de |
maneira intencional e criativa, subitamente nos dá forças para que mudemos o modo de perceber nosso |
papel no universo. No mínimo nos sugere que existe muito mais na vida do que acontecimentos ao acaso e |
sincronicidades ocasionais com as quais lidamos da melhor maneira possível. |