MATRIZ DIVINA
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MATRIZ DIVINA

uma amostra do cabelo, da unha ou do sangue, o padrão genético que nos faz ser quem somos estará

anderson
5 min
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uma amostra do cabelo, da unha ou do sangue, o padrão genético que nos faz ser quem somos estará

sempre contido no código [...] e sempre será o mesmo.

Assim como o universo muda constantemente do implicado para o explicado, o fluxo do não visto

para o visto é o que constrói a dinâmica da criação. É essa natureza constantemente mutável da criação que

John Wheeler tinha em mente quando descreveu o universo como "participativo" — isto é, inacabado e

continuamente respondendo à consciência.

É interessante observar que é esse, precisamente, o modo pelo qual o mundo funciona, de acordo com

a sabedoria das tradições antigas. Desde os antigos escritos védicos indianos, que alguns estudiosos

acreditam datar de 5.000 anos a.C., aos Manuscritos do Mar Morto, de 2.000 anos de idade, as ideias

convergem para a sugestão de que o mundo não passa de um espelho de coisas que acontecem em outro

domínio mais elevado, ou em uma realidade mais profunda. Por exemplo, ao tecer considerações sobre

novas traduções de fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto, conhecidos como Canções do Sacrifício de

Sábado, seus tradutores assim resumem o conteúdo: "O que acontece na Terra não é mais do que um pálido

reflexo de uma realidade mais ampla e definitiva"

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Tanto a teoria quântica como os textos antigos nos levam a concluir que nos mundos invisíveis criamos

o projeto dos relacionamentos, carreiras, êxitos e fracassos do mundo visível. A partir dessa perspectiva, a

Matriz Divina funciona como o grande cenário cósmico que nos permite perceber a energia não- física de

nossas emoções e crenças (nossa raiva, ódio e fúria, bem como nosso amor, misericórdia e compreensão)

projetadas no meio físico da vida.

Assim como uma tela de cinema mostra sem avaliar qualquer imagem que tenha sido filmada, a Matriz

aparentemente nos fornece uma superfície não-tendenciosa para nossas experiências e crenças interiores, a

serem vistas no mundo. Algumas vezes conscientemente, mas muitas vezes sem perceber, "mostramos"

nossas crenças mais verdadeiras acerca de qualquer assunto por meio dos nossos relacionamentos, desde a

compaixão até a traição.

Em outras palavras, somos como artistas que expressam suas paixões, medos, sonhos e desejos mais

profundos por meio da essência viva de uma misteriosa tela quântica. Entretanto, contrariamente a uma

tela convencional de pintura que existe apenas em um lugar em um dado momento, nossa tela é feita da

mesma coisa que constitui todas as coisas — está em toda parte e sempre se encontra presente.

Levemos a analogia da tela do pintor um passo adiante. Tradicionalmente os artistas estão separados

de suas obras e usam seus instrumentos para consubstanciar uma criação íntima por meio de uma

expressão exterior. Entretanto, no interior da Matriz Divina a separação entre o artista e sua arte

desaparece: somos a tela, mas também as imagens nela colocadas, somos os instrumentos, mas também o

artista que deles faz uso.

A simples ideia de criarmos de dentro de nossa própria criação nos faz lembrar um dos desenhos

animados de Walt Disney, comuns nas televisões preto-e-branco nos idos das décadas de f950 e 1960.

Primeiramente víamos a mão de um artista não identificável rabiscando em um bloco de desenho um

personagem bem conhecido, como por exemplo, o Mickey Mouse. A imagem, uma vez concluída,

subitamente era animada e ganhava vida. Mickey começava então a criar seus próprios desenhos, e

rabiscava outros personagens de dentro do próprio esboço. Repentinamente, o artista original não era mais

necessário e saía da pintura [...] literalmente.

Mickey e companheiros assumiam sua própria vida e personalidade e a mão não era mais visível em

parte alguma. Enquanto todos na casa de faz-de-conta estivessem dormindo, toda a cozinha era uma

alegria só! O açucareiro dançava com o saleiro e a xícara confraternizava agitadamente com a

manteigueira, os personagens já não tinham nenhuma ligação com o artista. Ainda que essa descrição

possa ser considerada uma simplificação excessiva do funcionamento da Matriz Divina, ela é útil para

ancorar nossa concepção, sutil e abstrata, de sermos criadores, criando de dentro de nossas criações.

Assim como o artista aperfeiçoa a imagem até que ela represente exatamente o que tem em mente,

assim fazemos, aparentemente, em muitos aspectos com nossas experiências de vida, por meio da Matriz

Divina. Mediante nossa paleta de crenças, avaliações, emoções e preces, nós nos colocamos em relacionamentos, empregos e situações de apoio e deslealdades ocorridos com vários indivíduos em diversos

lugares. Ao mesmo tempo, essas pessoas e situações muitas vezes nos parecem insistentemente familiares.

Tanto como indivíduos como em conjunto, compartilhamos nossas criações de vida interior por meio

do ciclo incessante dos momentos que se sucedem, dia após dia, continuamente. Como esse conceito é belo,

bizarro e poderoso! Como o pintor que usa sem parar a mesma tela uma vez seguida de outra, na busca

pela perfeita expressão de uma ideia, podemos nos ver como perpétuos artistas, construindo uma criação

que sempre muda sem nunca terminar.

As implicações de estarmos cercados por um mundo maleável e de nossa própria lavra são vastas,

poderosas e para alguns, talvez, um pouco assustadoras. Nossa capacidade de usar a Matriz Divina, de

maneira intencional e criativa, subitamente nos dá forças para que mudemos o modo de perceber nosso

papel no universo. No mínimo nos sugere que existe muito mais na vida do que acontecimentos ao acaso e

sincronicidades ocasionais com as quais lidamos da melhor maneira possível.