P A R T E I I
P A R T E I I |
A PONTE ENTRE A IMAGINAÇÃO E A REALIDADE: COMO A |
MATRIZ DIVINA FUNCIONA. |
Em 1854, o chefe Seattle de uma tribo indígena avisou aos legisladores em Washington que a |
destruição da vida selvagem na América do Norte provocaria efeitos que iriam além da época |
que viviam e ameaçaria a sobrevivência das gerações futuras. Com essa sabedoria profunda, |
tão verdadeira hoje como foi em meados do século XIX, o chefe teria declarado: "O homem não teceu a rede |
da vida — ele simplesmente é um de seus fios. Seja lá o que ele fizer à rede, estará fazendo a si próprio" |
. |
O paralelo entre a descrição do chefe Seattle de nosso lugar na "rede da vida" e a nossa conexão à |
Matriz Divina (e dentro dela) é inequívoca. Como parte de tudo que vemos, somos participantes de uma |
conversação em andamento — um diálogo quântico — com nós mesmos, com nosso mundo e além dele. |
Dentro dessa troca cósmica, nossos sentimentos, emoções, orações e crenças de todo instante representam |
nossa fala ao universo. E tudo, da vitalidade de nosso corpo, à paz em nosso mundo, é o universo nos |
respondendo. |
QUAL O SIGNIFICADO DE "PARTICIPAR" DO UNIVERSO? |
Como mencionado no capítulo anterior, o físico John Wheeler sugere que, não apenas temos um papel na |
peça que ele chama de "universo participativo", |
como também desempenhamos o papel principal nela. O mais importante da proposição de Wheeler é a |
palavra participativo. Nesse tipo de universo, o leitor e eu somos parte da equação. Ambos somos capazes |
de catalisar os eventos de nossa vida e de participar das "experiências" que criamos — são coisas que |
acontecem ao mesmo tempo! Somos "parte de um universo cujo trabalho encontra-se em andamento". |
Nessa criação inacabada, "somos pequenos remendos do universo que olha para si próprio — e que |
constrói a si mesmo" |
. |
A sugestão de Wheeler abre a porta para possibilidades radicais: admitin- do-se que seja verdade o fato |
de a consciência ser capaz de criar, segue-se que o universo pode ser o resultado dessa consciência. Apesar |
de os pontos de vista de Wheeler terem sido propostos no final do século XX, não podemos deixar de |
lembrar aquela declaração de Max Planck em 1944, quando ele disse que todas as coisas existem por causa |
de uma "Mente inteligente", que ele denominou de "a matriz de toda a matéria". A pergunta que implora |
por uma resposta nesse ponto é simplesmente: Que Mente é essa? |
Em um universo participativo, o ato de focalizarmos nossa consciência — de olharmos para algum lugar e |
examinarmos o mundo — é, por si mesmo, um ato de criação. Nós somos aqueles que observam e estudam o |
mundo. Somos a mente (ou pelo menos parte de uma grande mente), como Planck descreveu. Ao olharmos |
para todos os lugares, nossa consciência faz algo para vermos. |
Princípio 5: O ato de focalizar nossa consciência é um ato de criação. |
A consciência cria! |
Em nossa busca para encontrarmos a menor partícula de matéria e na pesquisa para definirmos os |
limites do universo, essa relação sugere ser bem possível que não encontremos nem uma coisa nem outra. |
Não importa até que ponto perscrutemos o mundo dos quanta do átomo ou a que distância penetremos na |
vastidão do espaço exterior, o ato de olharmos tendo a expectativa de que algo existe pode ser |
precisamente a força que cria algo para vermos. |
Um universo participativo ... exatamente o que isso subentende? Admitindo que a consciência |
verdadeiramente crie, quanto de poder nós realmente temos para mudar o mundo? Essa pergunta tem |
uma resposta surpreendente. |
O visionário do século XX, de Barbados, conhecido simplesmente pelo nome de Neville, talvez tenha |
sido quem melhor descreveu nossa capacidade de tornar sonhos em realidade e de fazer a imaginação |
influir na vida. Por meio de seus muitos livros e palestras, em termos simples e francos, ele compartilhou |
seu grande segredo de como navegar pelas muitas possibilidades da Matriz Divina. Olhando da |
perspectiva de Neville, tudo o que experimentamos — literalmente tudo o que nos acontece ou que é feito |
por nós — é produto de nossa consciência, e nada além disso. Ele acreditava que nossa capacidade de |
aplicar essa compreensão por meio do poder da imaginação era tudo o que se antepunha entre nós e os |
milagres da nossa vida. Assim como a Matriz Divina fornece o invólucro para o universo, Neville sugere |
ser impossível que qualquer coisa aconteça fora dos limites da consciência. |
No entanto, é fácil pensarmos de outra maneira! Logo depois dos atos terroristas de 11 de setembro em |
Nova York e Washington, o que todos começaram a se perguntar foi: "Por que eles fizeram isso conosco?" e: |
"O que nós fizemos a eles?". Vivemos durante uma época da história em que é muito fácil ver o mundo em |
termos de "eles" e "nós" e de nos surpreendermos com o fato das coisas ruins acontecerem às pessoas boas. |
Caso realmente exista um único campo de energia interligando tudo no mundo, e se a Divina Matriz |
funcionar como as evidências indicam que ela funciona, não se poderia falar em com eles e conosco, somente |
o nós caberia ser dito. |
Desde os temíveis e odiados chefes de Estado até as pessoas de outros países que tocaram nosso |
coração e inspiraram nosso amor, estamos todos interligados do modo mais íntimo que se possa imaginar: |
pelo campo da consciência, a incubadora de nossa realidade, com a qual, juntos, podemos criar a cura ou a |
dor, a paz ou a guerra. Isso poderia muito bem ser a consequência mais difícil que nos mostra a nova |
ciência. Poderia também ser origem da nossa sobrevivência, da nossa cura mais completa. |
O trabalho de Neville nos lembra que talvez o maior de todos os erros na maneira como vemos o |
mundo seja ficar considerando as razões externas dos altos e baixos da vida. Ainda que certamente existam |
causas e efeitos que podem levar aos acontecimentos de cada dia, eles parecem se originar de uma época e |
de um lugar que aparentam estar completamente desconectados do momento presente. Neville |
compartilha o ponto crucial do maior mistério referente ao nosso relacionamento com o mundo no qual |
vivemos: "A principal ilusão do homem é sua convicção de que existem outras causas além do seu próprio |
estado de consciência" |
. O que isso afinal significa? É a questão prática que surge naturalmente quando |
falamos em viver em um universo participativo. Quando inquirimos quanto poder realmente temos para |
operar mudanças na nossa vida e no mundo, a resposta é simples e encontra-se a seguir. |
Princípio 6: Temos o poder necessário para fazer todas as mudanças que quisermos! |
Essa capacidade fica disponível para nós dependendo de onde colocamos nosso foco e de que forma |
usamos o poder da nossa consciência. Em seu livro The Power of Awareness, Neville nos oferece um exemplo |
depois do outro de histórias de caso que demonstram, sem sombra de dúvida, como precisamente isso |
funciona. |
Retive na memória uma das mais pungentes dessas histórias durante anos. Era sobre um homem na |
casa dos 20 anos que havia recebido um diagnóstico de rara doença cardíaca que seus médicos acreditavam |
ser fatal. Casado e com dois filhos pequenos, era admirado por todos os que o conheciam e tinha todas as |
razões do mundo para tirar partido de uma vida longa e saudável. Quando pediram a Neville para vê-lo, o |
homem já havia perdido peso assustadoramente e "estava reduzido praticamente a pele e ossos". |
Estava tão fraco que até mesmo conversar lhe impunha um sacrifício, mas apesar disso, concordou em |
simplesmente escutar e assentir com a cabeça enquanto ouvisse as crenças que Neville compartilharia com |
ele. |
Da perspectiva de nossa participação em um universo dinâmico e evolvente, somente poderia haver |
uma solução para o problema: uma mudança na atitude e na consciência. Pensando nisso, Neville pediu ao |
homem para experimentar se sentir como se já estivesse curado. Como o poeta William Blake sugeriu, existe |
uma linha muito fina entre imaginação e realidade: "O homem é todo imaginação". Assim como o físico |
David Bohm disse que este mundo seria uma projeção de eventos em um reino mais profundo da |
realidade, Blake continua: "Tudo o que vemos, embora pareça ser do exterior, é do interior, /está na nossa |
imaginação, da qual este mundo mortal nada mais é que uma sombra" |
. Pelo poder de nos concentrarmos |
conscientemente nas coisas que criamos no imaginário, damos-lhes "um pequeno empurrão" que as faz |
cruzarem a barreira do irreal para o real. |
Em uma única sentença, Neville explica como forneceu as palavras que ajudariam seu novo amigo a |
cumprir essa nova maneira de pensar: "Sugeri que imaginasse o rosto do doutor exprimindo estupefação |
incrédula ao vê-lo recuperado, contra tudo o que seria razoável, dos últimos estágios de uma doença |
incurável; que ele o visse reexaminando seu exame e ouvindo-o dizer repetidas vezes: 'E um milagre — é |
um milagre'" |
. Bem, acho que o leitor pode adivinhar por que conto essa história: o camarada ficou melhor. |
Meses mais tarde, o visionário recebeu uma carta contando que o jovem tinha, verdadeiramente, se |
recuperado de forma milagrosa. Neville mais tarde o encontrou e descobriu que ele estava vivendo bem e |
desfrutando de perfeita saúde com a família. |
O segredo, o homem revelou, era bem mais simples do que apenas cultivar o desejo de ter boa saúde: |
desde o dia que se encontraram ele tinha vivido "com base na hipótese de já estar bem e perfeitamente |
curado". E encontramos aqui então o segredo de impulsionar nossos desejos íntimos do estado de |
imaginação à realidade da nossa vida do dia-a-dia: é nossa capacidade de sentir como se os sonhos |
tivessem sido realizados, os desejos atendidos e as orações respondidas. Dessa maneira, ativamente |
compartilhamos daquilo que Wheeler chamou de "universo participativo". |
VIVER DA RESPOSTA |
Entre a situação de trabalhar para obter um resultado e a de pensar e sentir os efeitos do resultado existe |
uma diferença sutil, embora poderosa. Quando trabalhamos para a obtenção de alguma coisa, encetamos |
uma jornada sem fim e sem retorno. Conquanto possamos identificar os marcos do progresso de nossa |
atividade e estabelecer metas que mostrem nossa aproximação do objetivo, em nossa mente estaremos |
sempre "a caminho" da meta, em lugar de nos encontrarmos "na" experiência de alcançá-la. Precisamente |
por isso é que a admoestação de Neville é tão poderosa para nossa vida quando nos fala que devemos |
"entrar na imagem" do desejo do nosso coração e "pensar a partir dela". |
No estudo antigo das artes marciais, temos uma bela metáfora no mundo físico exatamente sobre como |
esse princípio age na nossa consciência. Sem dúvida o leitor já deve ter presenciado apresentações de |
pessoas treinadas nessas disciplinas, quando ao convergirem seus poderes de concentração e força em um |
único momento de intenso foco, tornam-se capazes de executar feitos de execução inimaginável em |
qualquer outra circunstância — tal como quebrar um bloco de concreto ou uma pilha de pranchas de |
madeira. O princípio que possibilita essas demonstrações é o mesmo descrito por Neville na história da |
cura do jovem. |
Apesar dos "truques" às vezes usados para realizar esses feitos extraordinários sem a conotação |
espiritual, o segredo do sucesso quando eles são autenticamente executados depende do local onde o |
executor da arte marcial coloca sua atenção. Quando escolhem partir um bloco de concreto, por exemplo, a |
última coisa que lhes passa pela cabeça é o ponto de contato em que a mão tocará a superfície do bloco. |
Exatamente como Neville sugeriu em suas instruções ao homem moribundo, a chave é concentrar o foco no |
local do ato completo: a cura já alcançada ou o tijolo já partido. |
Os praticantes de artes marciais fazem isso concentrando a atenção consciente em um ponto que está |
além da base do bloco. A única maneira da mão do praticante estar em tal local é caso ela já tenha passado |
através do espaço entre seu dono e aquele ponto. O fato de o espaço, aparentemente, encontrar- se ocupado |
por algo sólido tal como um bloco de concreto, torna-se praticamente secundário. Dessa maneira, eles |
pensam a partir de um determinado ponto de término, em vez de se preocuparem com a dificuldade de |
atingir tal ponto. Eles experimentam aparentemente a alegria da execução do ato, não em tudo o que deve |
acontecer para que o ato seja bem-sucedido. Esse exemplo simples nos oferece uma poderosa analogia da |
maneira pelo qual a consciência parece funcionar. |
Experimentei pessoalmente esse princípio, quando tinha meus 20 e poucos anos. Foi na época em que o |
centro da minha vida tinha se deslocado do trabalho em uma laminadora de cobre e da participação em |
uma banda de rock, para o foco espiritual de um poder interior. Foi quando fiz 21 anos que súbita e |
inesperadamente fui atraído para uma combinação de corrida de longa distância, yoga, meditação e artes |
marciais. De forma apaixonada comecei a me dedicar às quatro atividades simultaneamente, e elas |
passaram a ser uma "rocha" que me servia de apoio sempre que meu mundo parecia prestes a me esmagar. |
Um dia, enquanto ainda estava no dojo (o estúdio de artes marciais) e um pouco antes da aula de karatê, |
testemunhei até que ponto um foco concentrado pode ser poderoso; foi algo diferente de tudo que já havia |
visto surgir naquela região, bem no coração do norte do Missouri. |
Naquele dia, nosso instrutor foi entrando e nos propondo uma questão bem diferente da prática do |
dia-a-dia, à qual já tínhamos nos habituado. Ele explicou que ele se sentaria no centro do espesso colchão |
que usávamos para aprimorar nossas habilidades, fecharia os olhos e começaria a meditar. Durante esse |
exercício ele esticaria os braços de cada lado do corpo com as palmas das mãos abertas e voltadas para |
baixo. Ele nos pediu alguns minutos para que pudesse "se ancorar" naquela posição imitando um "T", e |
convidou-nos então a fazer um movimento qualquer capaz de alterar sua posição. |
Havia dois homens para cada mulher em nossa classe, e sempre tinha havido, até então, uma |
competição amigável entre os sexos. Naquele dia, entretanto, essa divisão não ocorreu. Sentamo-nos juntos, |
imóveis e silenciosos perto do instrutor. Ficamos olhando enquanto ele simplesmente caminhou para o |
centro do colchão, sentou-se com as pernas cruzadas, fechou os olhos, estendeu os braços e mudou o |
padrão da respiração. Lembro-me de que estava fascinado, observando atentamente seu tórax subir e |
descer cada vez mais lentamente com a respiração, até que ficou difícil afirmar se ele estava respirando ou |
não. |
Nós então nos entreolhamos em assentimento mútuo e nos aproximamos com a intenção de tirá-lo do |
lugar. Pensando inicialmente que seria fácil, somente alguns tentaram. Empurramos seus braços e pernas |
em diferentes direções, sem conseguir sucesso absolutamente nenhum. Surpreendidos com a inutilidade |
dos esforços, mudamos de estratégia e resolvemos agarrá-lo apenas por um dos lados para usar nosso peso |
combinado e forçá-lo na direção oposta. Nem mesmo assim tivemos sucesso, nem ao menos conseguimos |
mexer seus braços ou os dedos da mão! |
Depois de algum tempo ele respirou fundo, abriu os olhos e com aquele bom humor que havíamos |
aprendido a respeitar, perguntou: "O que aconteceu? Como é possível que eu ainda esteja sentado aqui?" E |
depois de uma boa risada que relaxou as tensões, ele passou a nos explicar, encarando-nos com seu olhar |
penetrai! e habitual, o que tínhamos acabado de presenciar. |
"Quando fechei os olhos", ele disse, "tive uma visão que era como um sonho, e esse sonho tornou-se a |
minha realidade. Imaginei duas montanhas, uma de um lado de meu corpo e a outra do outro lado, |
enquanto eu mesmo ficava no chão, entre os picos." Enquanto ele falava, imediatamente mentalizei a |
imagem na minha mente e senti que ele, de algum modo, nos imbuía com uma experiência direta de sua |
visão. |
"Preso a cada um dos meus braços", ele continuou, "vi uma corrente que me prendia ao topo de cada |
montanha. Enquanto as correntes estivessem lá, eu estava ligado às montanhas de uma maneira que não |
poderia ser alterada por nada." Nosso instrutor olhou em volta, viu o fascínio que suas palavras provocavam em nosso rosto. Com um largo sorriso ele concluiu: "Nem mesmo uma classe cheia de meus |
melhores alunos pode mudar meus sonhos". |
Com uma breve demonstração durante uma aula de artes marciais, esse belo homem tinha nos |
proporcionado uma experiência direta do poder de redefinir nosso relacionamento com o mundo. A lição |
tinha sido menos sobre a reação que o mundo nos mostrava e mais sobre criar nossas próprias regras para |
o que decidíssemos experimentar. |
O segredo aqui é que nosso instrutor estava se sentindo como se já estivesse fixo em determinado lugar |
do colchão. Durante aqueles instantes ele viveu dos resultados de sua meditação. Até que resolvesse |
romper as correntes que criara na imaginação, nada poderia movê-lo. E foi precisamente isso que |
descobrimos. |
Nas palavras de Neville, a maneira de realizar esse feito era fazer "de seus futuros sonhos um fato |
presente" |
. Em uma linguagem não-científica, que soava quase que direta demais para ser verdadeira, ele |
nos disse precisamente como isso deveria ser feito. Por favor, não se deixem enganar pela simplicidade das |
palavras de Neville quando ele sugere que tudo o que precisamos para transformar nossa imaginação em |
realidade é "assumir o sentimento de que nosso desejo foi satisfeito" |
. Em um universo participativo |
fabricado por nós mesmos, por que deveríamos esperar que fosse tão difícil ter o poder da criação? |