QUANDO A MENSAGEM É UM AVISO.
QUANDO A MENSAGEM É UM AVISO. |
Na vida de minha mãe, depois da amizade que seus dois filhos lhe dedicavam, sua melhor amiga era |
uma cachorrinha superativa de seis quilos, uma terrier chamada Corey Sue (que atendia simplesmente por |
Corey). Embora viajasse constantemente, fazendo excursões e participando de seminários, eu me esforçava |
para telefonar para minha mãe pelo menos uma vez por semana, para ver como ela ia levando a vida e |
dizer-lhe o que estava acontecendo na minha. |
Um pouco antes de viajar para o lançamento de meu livro The Isaíah Effect3, telefonei para casa e minha |
mãe me contou que estava preocupada com Corey. A cachorrinha não estava procedendo como sempre e |
nem estava se alimentando direito, minha mãe então a levara a um veterinário para ver se descobria o que |
andava errado. Vários raios X foram tirados durante o exame, revelando o que ninguém esperava. Por |
alguma razão inexplicável as chapas de Corey mostravam pequenas manchas brancas espalhadas em todas |
as partes dos pulmões, manchas que não tinham por que estar presentes. "Nunca vi nada como isso em um |
cachorro antes", o veterinário tinha comentado, sem saber o que pensar. Foi decidido que novos exames |
seriam feitos para ver o significado dessas manchas em Corey. |
Ainda que obviamente minha mãe estivesse preocupada com a cadela, enquanto ouvia sua narração |
outra preocupação me ocorreu. Ela sabia sobre o princípio da ressonância, havíamos trocado idéias sobre |
como estamos sintonizados com o mundo, automóvel, casa e até mesmo com nossos bichinhos de |
estimação. Rememorei vários casos de animais que tinham assumido com- provadamente as condições |
médicas de seus donos, semanas ou meses antes que os mesmos problemas se manifestassem nas pessoas |
que tomavam conta deles. Minha sensação era que alguma coisa desse tipo estava acontecendo com Corey |
e minha mãe. |
Depois de convencê-la de que a vida está cheia dessas mensagens, ela concordou em fazer um exame |
de saúde completo na semana seguinte. Embora ela não estivesse sentindo desconforto algum e sua |
aparência externa não indicasse razão alguma para um exame, ela concordou em marcar um exame físico, |
incluindo uma radiografia do tórax. |
Nessa altura o leitor pode estar imaginando qual o desfecho da história e o porquê de compartilhá-la |
aqui. Para surpresa de minha mãe, o exame de raio X mostrou que existia uma mancha suspeita em um de |
seus pulmões, mancha essa que não aparecera no seu exame anual, um ano antes. Depois de pesquisar |
mais, foi descoberto que ela tinha uma cicatriz nos tecidos do pulmão direito, resultado de uma doença |
contraída ainda quando criança; o lugar tinha se curado, mas agora tinha se tornado canceroso. Três |
semanas depois ela passou pela cirurgia que removeu completamente o terço inferior do pulmão. |
Enquanto eu conversava com o médico na sala de recuperação, ele não cansava de reiterar a "sorte" que |
minha mãe tinha tido em detectar o problema tão cedo, especialmente pelo fato da inexistência de |
sintomas. Antes da cirurgia ela se sentia perfeitamente bem com sua Corey de estimação, seus filhos, seu |
jardim de que tanto cuidava, sem nenhuma pista de que algo errado pudesse estar acontecendo. |
Aí está um exemplo de como podemos usar espelhos na nossa vida. Como minha mãe e eu tínhamos |
aprendido a compreender as mensagens que a vida nos transmite momento a momento, e como |
entendíamos e confiávamos na linguagem da mensagem para aplicá-la de maneira prática, a história teve |
um final feliz. Minha mãe se recuperou da cirurgia. No momento em que escrevo essas linhas, ela está |
passando bem e já há seis anos ficou livre do câncer. |
É interessante ressaltar que as manchas nos pulmões de Corey, aquela que tinham nos despertado para |
investigar as condições de saúde de minha mãe, desapareceram completamente depois da cirurgia. Minha |
mãe e sua cadelinha viveram juntas mais seis anos, gozando de boa saúde e de toda a alegria que |
encontraram diariamente uma na outra. |
(Observação: Corey Sue deixou este mundo durante a edição deste livro devido a complicações da |
idade avançada. Quando morreu, a meio caminho do seu décimo quinto aniversário, sua idade eqüivalia a |
quase 100 anos da nossa, segundo o cálculo que se faz para estimar a "idade dos cães" de sua raça. Ela |
sobreviveu depois das manchas e da cirurgia de minha mãe, gozando de ótima saúde e com uma centelha |
de ânimo que alegrava a todos os que passavam pela sua vida. Como minha mãe tantas vezes dizia, |
"Ninguém era um estranho para Corey Sue." Ela gostava de todos ao primeiro contato e transparecia isso |
com um beijo molhado que deixou saudade em todos os que a conheceram.) |
Embora não seja possível provar cientificamente que a condição de Corey tivesse alguma coisa a ver |
com o que aconteceu com minha mãe, podemos dizer que a sincronicidade entre as duas experiências é |
significativa. Como esse não foi um incidente isolado, podemos afirmar que existe uma correlação quando |
nos deparamos com tais sincronicidades. Ainda que não possamos entender completamente essa |
correlação hoje, a verdade é que poderíamos estudá-la durante os próximos cinqüenta anos sem ainda |
compreendê-la inteiramente. O que podemos fazer é aplicar o que descobrimos em nossa vida. Ao |
fazermos isso, os eventos de cada dia se tornam a linguagem rica que nos oferece uma introvisão dos |
nossos segredos mais íntimos. |
É bom frisar mais uma vez que, em um mundo onde a própria vida espelha nossas crenças mais |
íntimas, muito pouco fica verdadeiramente secreto. Por fim, provavelmente pouco importa como |
acontecem as inesperadas curvas da estrada de nossa vida, importa mais se nós somos ou não capazes de |
reconhecer a linguagem dos avisos de que estamos chegando perto dessas curvas. |
NOSSOS MAIORES MEDOS |
Como a Matriz Divina reflete constantemente as crenças, sentimentos e emoções mediante os eventos |
que nos ocorrem, nosso mundo de todos os dias nos propicia revelações sobre o mais profundo âmago do |
nosso ego. Nossos espelhos pessoais nos mostram nossas mais profundas convicções, amores e receios. O |
mundo é um espelho poderoso, muitas vezes um espelho no estrito senso, nem sempre muito fácil de ser |
encarado. Honestamente, a vida nos oferece uma janela para a realidade derradeira de nossas crenças e, |
algumas vezes, nossos pensamentos nos ocorrem de maneiras que nunca esperaríamos. |
Lembro-me de algo que ocorreu em 1989, em uma loja de uma cadeia de supermercados nos subúrbios |
de Denver. Como sempre fazia na volta do trabalho, eu tinha passado por lá para fazer algumas compras |
para o jantar. Enquanto percorria o corredor dos enlatados, tirei os olhos de minha lista de compras |
durante o tempo suficiente apenas para notar que estava sozinho naquela ala, salvo por uma jovem mãe, |
com uma garotinha sentada no carrinho de compras. Evidentemente estava apressada e parecia tão |
satisfeita quanto eu por estar fazendo compras de supermercado depois de um longo dia. |
Quando voltei minha atenção para a lista de compras e reiniciei a comparação de seus itens com o que |
havia nas prateleiras, fui de repente surpreendido pelo grito agudo de uma criança. Não era apenas um |
grito estridente: o volume e a intensidade rivalizavam com Ella Fitzgerald ao fazer o anúncio dos |
gravadores Memorex na década de 1970 (a cantora emitia uma nota que despedaçava um vidro). A |
garotinha simplesmente estava sozinha e aterrorizada no carrinho ... absolutamente terrificada. Em |
instantes a mãe apareceu para acalmar a garotinha. Ela sossegou imediatamente, parou de gritar e a vida |
voltou ao normal para todos em volta. |
Todos nós já vimos essa cena antes, mas alguma coisa parecia diferente naquela noite. Por alguma |
razão, em vez de simplesmente ignorar o fato como um incidente banal, examinei mais cuidadosamente o |
que tinha acontecido. Instintivamente, olhei para o corredor do supermercado. Tudo o que reparei era que |
a mãe tinha se afastado do carrinho e deixado a filha de 2 ou 3 anos sozinha durante um momento. Isso foi |
tudo — a garota simplesmente ficara sozinha. |
Por que ela tinha ficado tão aterrorizada? Tinha perdido a mãe de vista apenas um instante, quando ela |
foi ao corredor de compras vizinho. Por que uma criancinha, cercada por um mundo de latas e rótulos |
chamativos, sem ninguém por perto que a proibisse de explorá-los, tinha ficado tão assustada com a |
situação? Por que razão ela simplesmente não tinha dito a si mesma alguma coisa parecida com: Puxa... aqui |
estou eu sozinha com essas bonitas latas vermelhas e brancas de sopa! Acho que vou dar uma olhada em cada |
prateleira, olhar as latinhas uma a uma, e me divertir à beça fazendo isso! Por que razão a perspectiva de ficar |
sozinha, ainda que por um breve momento, tinha afetado de tal forma seu íntimo de idade tão tenra a |
ponto de ela, instintivamente, gritar com toda a força dos pulmões? |
Em outra ocasião eu atendia a uma mulher de seus 30 e poucos anos, já minha cliente de muitas outras |
sessões. Nosso encontro começou da maneira habitual: quando a moça se acomodou confortavelmente na |
cadeira de vime dos clientes, eu lhe pedi para contar o que lhe tinha acontecido desde nossa última |
consulta, o que tinha havido desde que faláramos da última vez. Ela começou então a me descrever o |
relacionamento que tinha com o marido, com quem se casara já há 18 anos. Durante a maior parte do |
casamento eles haviam brigado, algumas vezes violentamente. Conforme sua narração, ela era criticada |
diariamente por absolutamente tudo o que fizesse ou deixasse de fazer, do gerenciamento da casa ao |
preparo das refeições. Na cama ela também tinha a sensação de que nunca estava à altura do que esperava |
o marido. |
Ainda que não houvesse nada de novo no tipo de relacionamento que vinha tendo, na semana anterior |
a situação tinha se degradado aceleradamente. O marido tinha ficado furioso quando ela lhe perguntara |
sobre suas "horas extras" e suas noites no escritório até tarde da noite. Ela se sentia extremamente infeliz ao |
lado de quem tinha amado e confiado durante tanto tempo. E agora sua infelicidade tinha sido |
complementada por uma ameaça física bastante real, como resultado da perda de controle das emoções do |
marido. |
Depois de tê-la jogado no chão no calor da última briga, ele tinha saído de casa e ido morar com um |
amigo. Não tinha deixado nem número de telefone, nem endereço, nem uma indicação de quando poderia |
voltar ou se iria voltar algum dia; simplesmente tinha ido embora. Finalmente, esse homem, que havia |
desgraçado a vida da esposa e ameaçado sua segurança com intensas explosões emocionais e agressões, |
tinha saído de cena. |
Enquanto ela narrava a partida do marido, fiquei esperando alguma demonstração de como estava |
aliviada. Em vez disso, entretanto, algo surpreendente aconteceu. Ela começou a chorar incontrolavelmente |
ao compreender que o marido estava agora afastado de seu convívio. Quando eu lhe pedi para me contar |
como estava se sentindo, não ouvi expressões de alívio ou indicações de que ela considerava o assunto |
resolvido, como eu esperava. Em vez disso, ela demonstrou estar se sentindo só e com saudades. Começou |
a descrever seu estado usando palavr, s como "arrasada" e "totalmente devastada" pela ausência do marido. |
Com a oportunidade de agora viver livre de críticas, insultos e agressões, ela estava angustiada. Por quê? |
A resposta a essa pergunta nas duas situações que acabo de descrever é a mesma. Por mais diferentes |
que os dois casos pareçam ser, um mesmo laço une ambos os episódios. Existe uma grande probabilidade |
de que o terror sentido pela garotinha abandonada durante momentos no corredor do supermercado e o |
sentimento devastador experimentado pela mulher agredida pelo marido tenham pouca relação com as |
pessoas que abandonaram ambas as personagens. A mãe da criança e o marido da mulher maltratada |
serviram como catalisadores para um padrão sutil, embora poderoso, que se processa no nosso íntimo de |
maneira tão profunda que fica praticamente irreconhecível ... muitas vezes é mesmo totalmente esquecido. |
Esse padrão é o medo. |
E o medo é mascarado de muitas maneiras em nossa cultura. Ainda que o medo desempenhe um |
papel-chave no modo como edificamos tudo, desde nossa saúde às amizades, carreira e romances, ele |
aflora, quase todos os dias de nossa vida, como um padrão que acabamos não reconhecendo. Entretanto, é |
interessante observar que esse padrão pode até nem ser nosso. |
Quando somos tocados por alguma experiência que traz à tona emoções negativas, podemos ter |
certeza de que, independentemente do que achamos que causou o medo, existe uma boa probabilidade de |
que alguma coisa diferente esteja em jogo — alguma coisa tão profunda e primitiva que pode passar |
despercebida com facilidade ... isto é, a não ser que venha a cruzar nosso caminho de maneira |
inconfundível. |