Transformando as relações viciadas em relações iluminadas.
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Transformando as relações viciadas em relações iluminadas.

Transformando as relações viciadas em relações iluminadas.

anderson12/21/2021
16 min
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Transformando as relações viciadas em relações iluminadas.

Podemos transformar um relacionamento viciado em um relacionamento verdadeiro?

Sim, se estivermos presentes e aumentarmos a nossa presença, concentrando a

atenção cada vez mais fundo no Agora. A chave do segredo será sempre essa, não importa

se você está vivendo só ou com alguém. Para o amor florescer, a luz da nossa presença tem

de ser forte o bastante, de modo a impedir que o pensador ou o sofrimento do corpo nos

domine. Saber que cada um de nós é o Ser por baixo do pensador, a serenidade por baixo

do barulho mental, o amor e a alegria por baixo da dor, significa liberdade, salvação e

iluminação. Pôr fim à identificação com o sofrimento do corpo é trazer a presença para o

sofrimento e, assim, transformá-lo. Pôr fim à identificação com o pensamento é ser o

observador silencioso dos próprios pensamentos e atitudes, em especial dos padrões

repetitivos gerados pela mente e dos papéis desempenhados pelo ego.

Se paramos de injetar “auto-suficiência” na mente, ela perde sua qualidade

compulsiva, que é o impulso para julgar e, desse modo, criar uma resistência ao que é,

dando origem a conflitos, tragédias e novos sofrimentos. Na verdade, no momento em que

paramos de julgar, no instante em que aceitamos aquilo que é, ficamos livres da mente e

abrimos espaço para o amor, para a alegria e para a paz. Em primeiro lugar, paramos de

nos julgar, depois paramos de julgar o outro. O grande elemento catalisador para

mudarmos um relacionamento é a completa aceitação do outro do jeito que ele é, sem

querermos julgar ou modificar nada. Isso nos leva imediatamente para além do ego. Nesse

momento, todos os jogos mentais e toda a dependência viciada deixam de existir. Não

existe mais vítima nem agressor, acusador nem acusado. Esse é também o fim da

dependência, de uma atração pelo padrão inconsciente do outro. Você, então, ou vai se

afastar – com amor – ou penetrar cada vez mais fundo no Agora junto com o outro. É

simples assim.

O amor é um estado do Ser. Não está do lado de fora, está bem lá dentro de nós. Não

temos como perdê-lo e ele não consegue nos deixar. Não depende de um outro corpo, de

nenhuma forma externa. Na serenidade do estado de presença, podemos sentir a nossa

própria realidade sem forma e sem tempo, que é a vida não manifesta que dá vitalidade à

nossa forma física. Conseguimos, então, sentir essa mesma vida lá no fundo de outro ser

humano, de cada criatura. Conseguimos enxergar além do véu opaco da forma e da

desunião. Essa é a realização da unidade. Isso é amor.

O que é Deus? A eterna Vida Única debaixo de todas as formas de vida. a que é o

amor? Sentir profundamente a presença dessa Vida Única em nós e dentro de todas as

criaturas. Portanto, todo amor é o amor de Deus.

O amor não é seletivo, assim como a luz do sol não é seletiva. Não torna ninguém

especial. Não é exclusivo. A exclusividade não tem a ver com o amor de Deus, mas com o

“amor” do ego. Entretanto, a intensidade do amor pode variar. Pode haver uma pessoa que

atue como um espelho do amor que você dirige a ela e que o devolva de modo mais claro e

mais intenso do que outras e, se essa pessoa sente o mesmo em relação a você, pode-se

dizer que as duas têm um relacionamento amoroso. O vínculo que liga as duas pessoas é o

mesmo vínculo que nos liga à pessoa sentada ao nosso lado no ônibus, ou a um pássaro, a

uma árvore, a uma flor. Só o que diferencia é o grau de intensidade com que o sentimos.

Mesmo em um relacionamento tido como viciado, podem existir momentos em que

alguma coisa mais real se destaca, algo além das necessidades doentias do casal. São

momentos em que a sua mente e a do outro cedem por um curto período e o sofrimento

do corpo fica, temporariamente, adormecido. Isso pode acontecer durante uma relação

física mais intensa, ou quando o casal está presenciando o milagre do nascimento de uma

criança, ou na presença da morte, ou quando um dos dois está seriamente doente, ou

qualquer coisa que faça a mente perder a força. Nessas ocasiões, o Ser, normalmente

escondido debaixo da mente, se revela e torna possível o verdadeiro entendimento.

O verdadeiro entendimento é uma comunhão, a realização da unidade, que é o amor.

Normalmente, esse entendimento desaparece rapidamente. Tão logo a mente e a

identificação da mente reaparecem, deixamos de ser quem somos e voltamos a brincar e a

representar para satisfazer as necessidades do ego. Voltamos, de novo, a ser uma mente

humana, fingindo ser um ser humano, interagindo com outra mente, representando um

drama chamado “amor”.

Embora possa haver curtos lampejos, o amor não consegue florescer, a menos que

estejamos permanentemente livres da identificação com a mente e que a presença seja

bastante intensa para dissolver o sofrimento do corpo. Assim, o sofrimento não consegue

nos dominar e destruir o amor.

Relacionamentos como prática espiritual

Quando a mente e todas as estruturas sociais, políticas e econômicas que ela criou

entram no estágio final de colapso, os relacionamentos entre homens e mulheres refletem o

profundo estado de crise no qual a humanidade se encontra atualmente. Como os seres

humanos têm se identificado cada vez mais com a mente, a maioria dos relacionamentos

não tem as raízes fincadas no Ser. Por isso, se transformam em fonte de sofrimento e

passam a ser dominados por problemas e conflitos.

Nos dias de hoje, milhões de pessoas vivem sós ou criam os filhos sozinhas, por se

sentirem incapazes de estabelecer um relacionamento íntimo ou por não desejarem repetir

os dramas doentios de relações anteriores. Outras passam de um relacionamento para

outro, de um ciclo de prazer-e-dor para outro, em busca de uma satisfação ilusória, através

da união com a polaridade de energia oposta. Outras continuam a viver juntas em um

relacionamento em que prevalece a negatividade, em nome dos filhos ou da segurança, pela

força do hábito, por medo de ficarem sós, por algum outro acordo “vantajoso” para o

casal, ou até mesmo pelo vício inconsciente da excitação provocada pelo sofrimento ou

drama emocional.

Porém, toda crise representa não só perigo, mas também oportunidade. Se os

relacionamentos energizam e elevam os padrões da mente egóica e ativam o sofrimento do

corpo, como está acontecendo agora, por que não aceitar esse fato em vez de tentar

escapar dele? Por que não cooperar com ele em vez de evitar relacionamentos ou continuar

a perseguir a ilusão de uma companhia ideal, como uma resposta para os problemas ou um

meio de encontrar satisfação? A oportunidade escondida dentro de cada crise não se

manifesta, até que sejam conhecidos e aceitos todos os fatos, de qualquer tipo, relacionados

a uma situação. Enquanto você negá-los, tentar fugir deles ou desejar que as coisas sejam

diferentes, a janela da oportunidade não se abre, e você permanece preso àquela situação,

que vai continuar a mesma ou vai se deteriorar mais adiante.

O conhecimento e a aceitação dos fatos trazem também um certo grau de

distanciamento deles. Por exemplo, quando você sabe que existe desarmonia e retém esse

“saber”, significa que surgiu um novo fator através do seu saber e que a desarmonia não

poderá se manter inalterada. Quando você sabe que não está em paz, o seu saber cria um

espaço de serenidade que envolve a falta de paz em um abraço terno e amoroso, e então

transforma a falta de paz em paz. No que se refere à transformação interior, não há nada

que você possa fazer a respeito. Você não pode transformar a si mesmo, e é claro que não

pode transformar seu companheiro ou qualquer pessoa. Tudo que você pode fazer é criar

um espaço para a transformação acontecer, para a graça e o amor penetrarem.

Portanto, sempre que o seu relacionamento não estiver bom, sempre que fizer aflorar

a “loucura” em você e em seu parceiro, fique feliz. O que estava inconsciente está vindo à

luz. É uma chance de salvação. Sustente, a cada instante, o saber de cada momento, em

especial o do seu estado interior. Se houver raiva, saiba que é raiva. Se houver ciúme,

defesa, um impulso para discutir, uma necessidade de ter sempre razão, uma criança

interior reclamando amor e atenção, ou um sofrimento emocional de qualquer tipo, seja o

que for, saiba a realidade do momento e sustente esse conhecimento. O relacionamento

passa a ser o seu sadhana, a sua prática espiritual. Se você notar um comportamento

inconsciente no parceiro, prenda-o no abraço amoroso do seu saber, de modo que você

não tenha uma reação. A inconsciência e o conhecimento não conseguem conviver por

muito tempo, mesmo que o conhecimento esteja só com uma pessoa e a outra não tenha

consciência do que está fazendo. A forma de energia que existe por trás da agressão e da

hostilidade acha a presença do amor absolutamente insuportável. Se você reage à

inconsciência do seu parceiro, você também fica inconsciente. Mas se você ficar alerta à sua

reação, nada está perdido.

A humanidade está sob uma grande pressão para se desenvolver, porque é a sua única

chance de sobreviver como raça. Isso vai afetar cada aspecto da nossa vida e de nossos

relacionamentos. Nunca antes os relacionamentos foram tão problemáticos e oprimidos

por conflitos como hoje em dia. Você deve ter notado que eles não aparecem para nos

fazer felizes ou satisfeitos. Se você continuar buscando um relacionamento como forma de

salvação, vai se desiludir cada vez mais. Mas, se você aceitar que o relacionamento está aqui

para tornar você consciente em lugar de feliz, então o relacionamento vai lhe oferecer a

salvação e você estará se alinhando com a mais alta consciência que quer nascer neste

mundo. Para os que se mantiverem apegados aos padrões antigos, haverá cada vez mais

sofrimento, violência, confusão e loucura.

Suponho que sejam necessárias duas pessoas para transformar um relacionamento em uma prática

espiritual, conforme você sugeriu. O meu parceiro, por exemplo, continua com suas antigas atitudes de ciúme

e controle. Já chamei a atenção para isso inúmeras vezes, mas ele é incapaz de perceber.

Quantas pessoas são necessárias para transformar a sua vida em uma prática

espiritual? Não se incomode caso o parceiro não queira cooperar. É através de você que a

sanidade, ou seja, a consciência, consegue chegar a este mundo. Você não tem de esperar o

mundo se curar, ou alguém se tornar consciente, antes de poder alcançar a iluminação.

Pode ter de esperar para sempre. Não acuse o outro de não ter consciência. No momento

em que a discussão começar, é sinal de que você passou a se identificar com uma posição

mental e a defender não só aquela posição, mas também o seu sentido do eu interior. O

ego está no comando. Você acabou de ficar inconsciente. Às vezes, isso pode servir para

apontar certos aspectos do comportamento do parceiro. Se você estiver muito alerta, muito

presente, pode agir sem o envolvimento do ego: sem culpar, acusar, ou fazer o outro se

sentir errado.

Se o outro se comportar de modo inconsciente, abandone qualquer julgamento. O

julgamento tanto serve para as pessoas confundirem o comportamento inconsciente com

quem elas são de verdade quanto para projetar a própria inconsciência sobre a outra pessoa

e se enganar por causa disso sobre quem elas são. Abandonar qualquer julgamento não

significa não reconhecer a disfunção e a inconsciência quando se deparar com ela. Significa

“ser o saber”, e não “ser a reação” e o juiz. Você não vai nem querer reagir ou poderá

reagir e ainda assim ser o saber, o espaço no qual a reação é observada e onde ela se

permite existir. Em vez de brigar com o escuro, você traz a luz. Em vez de reagir a uma

desilusão, você vê a desilusão, mas, ao mesmo tempo, enxerga através dela. Ser o saber cria

um espaço nítido de presença amorosa que permite a todas as coisas e pessoas serem como

são. Não existe maior catalisador para que a transformação aconteça. Se você adotar essa

prática, o outro não conseguirá ficar com você e permanecer inconsciente.

Se os dois concordarem em fazer do relacionamento uma prática espiritual do casal,

tanto melhor. Podem contar ao outro os pensamentos e sentimentos tão logo apareçam, ou

assim que uma reação desponte, de forma que não haja tempo para surgir um espaço em

que uma emoção não dita, ou desconhecida, ou uma queixa, possam se agravar e se

desenvolver. Aprenda a expressar os seus sentimentos sem culpar ninguém. Aprenda a

ouvir o parceiro de um modo aberto, sem reservas. Dê ao parceiro espaço para se

expressar. Esteja presente. Acusar, defender, atacar – todos esses padrões destinados a

fortalecer ou proteger o ego ou a atender às necessidades dele irão se tornar supérfluos.

Dar espaço aos outros – e a si mesmo – é fundamental. O amor não consegue florescer

sem isso. Quando você tiver removido os dois fatores que destroem os relacionamentos e

o seu parceiro tiver feito o mesmo, vocês vão sentir a alegria do desabrochar do

relacionamento. Em vez de refletir o sofrimento e a inconsciência, em vez de satisfazer as

necessidades mútuas viciadas do ego, vocês vão refletir para o outro o amor que sentem lá

no fundo, que surge com a realização da unidade de cada ser com tudo o que existe. Esse é

o amor que não tem opositores.

Se o seu parceiro continua identificado com a mente e com o sofrimento, mas você já

se libertou deles, vai ser um grande desafio. Não para você, mas sim para ele. Não é fácil

conviver com uma pessoa iluminada, ou melhor, é tão fácil que o ego acha extremamente

ameaçador. Lembre-se de que o ego precisa de problemas, disputas e “inimigos” para

fortalecer o sentido de separação de onde tira a sua identidade. A mente do parceiro não

iluminado ficará profundamente frustrada porque não encontrará resistência às suas

posições rígidas, o que significa que ela vai se tornar insegura e enfraquecida, além do

“perigo” de essas posições desabarem todas juntas, resultando na perda do eu interior. O

sofrimento do corpo pedirá uma resposta, mas não irá obtê-la. Sua necessidade de

discussões, dramas e disputas não será atendida. Mas atenção: algumas pessoas que são

fechadas, retraídas, insensíveis, ou distanciadas dos sentimentos podem imaginar que são

iluminadas e tentar convencer os outros disso. Elas podem sustentar que não existe “nada

errado” com elas e que o erro está no parceiro. Os homens têm mais tendência a agir assim

do que as mulheres. Talvez vejam suas mulheres como irracionais ou emocionais. Mas, se

você consegue sentir suas emoções, não está muito distante do radiante eu interior que está

logo ali sob elas. Se você age mais com a cabeça, a distância é muito maior e você vai

precisar colocar emoção no corpo antes de poder alcançar o corpo interior.

Se não houver uma emanação de amor e de alegria, uma presença completa e uma

abertura na direção de todos os seres, então não é iluminação. Outro fator indicativo é o

modo da pessoa se comportar em situações difíceis ou desafiadoras, ou quando as “coisas

vão mal”. Se a sua “iluminação” é uma ilusão egóica do eu interior, a vida logo vai lhe

aprontar um desafio, que fará aflorar a inconsciência sob qualquer forma – medo, raiva,

defesa, julgamento, depressão, etc. Se você estiver em um relacionamento, muitos desses

desafios vão se manifestar através do seu parceiro. Por exemplo, uma mulher pode ser

desafiada por um homem indiferente, que vive quase exclusivamente em seu próprio

mundo. O desafio está na inabilidade dele em ouvi-Ia, em não dar a ela atenção e espaço

para ser alguém, decorrente da falta de presença dele. A ausência de amor no

relacionamento, que normalmente é mais percebida pela mulher do que pelo homem, vai

desencadear o sofrimento na mulher. Através dele, ela vai atacar o parceiro: culpando-o,

criticando-o, atribuindo-lhe o erro, etc. Agora, o desafio passou a ser dele. Para se defender

contra a agressão desencadeada pelo sofrimento dela, que considera totalmente sem razão,

ele vai se aferrar, cada vez mais, às suas posições mentais, enquanto se justifica, se defende

ou contra-ataca. Isso, no fim, pode até mesmo vir a ativar o sofrimento dele. Quando as

duas partes foram dominadas, é sinal que atingiram um nível de profunda inconsciência.

Isso não vai ceder até que as duas partes tenham se abastecido de muito sofrimento e

entrado então no estágio de calmaria. Até que tudo volte a acontecer.

Cada desafio como o que descrevi acima contém uma oportunidade disfarçada para

atingirmos a salvação. Por exemplo, a hostilidade da mulher pode se tornar um sinal para o

homem sair do seu estado identificado com a mente, despertar no Agora, estar presente –

em vez de ficar cada vez mais inconsciente. Em vez de “ser” o sofrimento, a mulher

poderia ser o saber que observa o sofrimento emocional em si mesma, acessar o poder do

Agora e iniciar a transformação do sofrimento. Isso iria evitar a projeção compulsiva e

automática do sofrimento para o mundo exterior. Poderia expressar seus sentimentos para

o seu parceiro. Naturalmente, não há uma garantia de que ele vá escutar, mas é uma boa

oportunidade para ele se tornar presente e quebrar o ciclo doentio de uma representação

involuntária de seus velhos padrões mentais. Se a mulher perder essa oportunidade, o

homem poderá observar a sua própria reação emocional e mental ao sofrimento dela, a

maneira como ele se coloca na defensiva, em vez de ser a reação. Poderá então identificar o

momento em que começa o seu próprio sofrimento e trazer consciência às suas emoções.

Assim, um espaço de consciência pura, claro e sereno, passaria existir – o saber, a

testemunha silenciosa, o observador. Essa consciência não nega o sofrimento e, mais que

isso, está além dele. Permite que o sofrimento aconteça, ao mesmo tempo que o

transforma. Ela tudo aceita e tudo transforma. A mulher poderia facilmente se juntar a ele

nesse espaço, através da porta que acabou de ser aberta.

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