VOCÊ RECONHECE SEUS ESPELHOS?
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VOCÊ RECONHECE SEUS ESPELHOS?

VOCÊ RECONHECE SEUS ESPELHOS?

anderson12/02/2021
19 min
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VOCÊ RECONHECE SEUS ESPELHOS?

Convido-o a examinar seus relacionamentos com aqueles que lhe são mais próximos. Em seguida,

reconheça os traços e características que lhe irritam sem motivo e que acontecem aparentemente apenas

para deixá-lo furioso. Depois de fazer isso, proponha a si mesmo a seguinte pergunta: Essas pessoas estão me

mostrando a mim mesmo neste momento?

É bem possível que estejam. Se estiverem, essa sensação vai lhe dar uma convicção "visceral"

instantaneamente. Entretanto, se a resposta for não, pode ser que a revelação seja de alguma coisa mais

profunda e intensa do que o reflexo de sua pessoa — é possível que esteja à mostra o reflexo de seus

hábitos de julgar as coisas. O mero reconhecimento e aceitação de que o espelho existe é o início do

processo que vai levar à melhoria, à cura de seus julgamentos.

O EFEITO CASCATA DAS CURAS.

No dia seguinte ao do meu reconhecimento do espelho de meus julgamentos, visitei um amigo que

mora e trabalha nas proximidades de Taos Pueblo. Uma das comunidades indígenas mais antigas da

América do Norte, esse lugar não é habitado há mais de 1.500 anos. Roberto (nome fictício) tinha uma loja

em Pueblo mesmo, e era um artista e artesão tremendamente habilidoso. Sua loja tinha esculturas, filtros

dos sonhos, músicas e bijuterias que tinham sido parte da tradição nativa séculos antes de haver uma

"América".

Quando entrei, ele trabalhava em uma escultura de cerca de dois metros de altura, no corredor atrás da

loja. Depois de nos cumprimentarmos, perguntei como ia indo sua família e negócios, e conversamos

amigavelmente por alguns instantes. Ele então também me fez perguntas e indagou o que tinha me acontecido ultimamente. Eu lhe narrei os eventos da última semana, as três pessoas e o dinheiro perdido.

Depois de ouvir o que eu dizia, ele meditou um pouco e então me contou uma história.

"Meu bisavô", disse ele, "caçava búfalos nas planícies ao norte do Novo México." Sabia que ele estava

falando de um passado distante porque, tanto quanto soubesse, já há muitos anos não havia mais búfalos

naquela parte do Estado. "Antes de morrer, ele me deu sua posse de maior valor: a cabeça do primeiro

búfalo que tinha caçado quando jovem." Roberto continuou me contando como essa cabeça de búfalo

também tinha se transformado em um tesouro para ele. Depois que seu bisavô falecera, a cabeça do búfalo

era a única relíquia tangível que o ligava à herança de seu passado.

Um dia Roberto recebeu a visita da dona de uma galeria de arte da cidade vizinha. Encantada com a

beleza da cabeça de búfalo, ela perguntou se poderia usá-la para completar o mostruário de sua galeria,

com o que ele concordou. Depois de algumas semanas, como Roberto ainda não tinha notícias da amiga,

resolveu visitá-la para ver como ela estava se saindo.

Para sua surpresa, quando ele chegou à galeria, não viu nada. As portas estavam fechadas, as janelas

cobertas, e a loja tinha se retirado dos negócios. A dona da galeria e a cabeça de búfalo tinham ido embora.

Roberto parou com sua escultura e me encarou tempo suficiente para que eu percebesse como ele tinha

ficado magoado.

"O que você fez?", perguntei. Esperava ouvir como ele tinha procurado seguir a trilha da dona da

galeria e recuperado sua preciosa lembrança.

Quando seus olhos encontraram os meus a sabedoria de sua resposta não foi ofuscada pela sua

simplicidade: "Não fiz nada, porque ela terá que viver com o que fez". Saí de Taos Pueblo naquele dia

pensando nessa história e no significado que ela poderia ter em minha vida.

Mais tarde, naquela semana, comecei a explorar as opções legais de que dispunha para recuperar pelo

menos uma parte do dinheiro desaparecido de minha conta. Rapidamente percebi que, ainda que tivesse

uma boa causa em mãos, tinha pela frente um longo e custoso processo. Devido à natureza do que tinha

acontecido, eu seria obrigado a encaminhar o caso para a esfera criminal e não para a cível. Desse ponto em

diante, ficaria totalmente fora do meu alcance e, se a mulher fosse condenada, ela poderia ir para a prisão.

E tudo isso ocorria com relação a alguém com quem eu tinha mantido um relacionamento emocional

prolongado, mas com quem não me sentia mais ligado, de forma alguma.

Enquanto considerava as opções, pensei uma vez mais na conversa que tinha tido com meu amigo em

Pueblo e das lições que tinha absorvido. Não foi preciso muito tempo para que concluísse sobre o que

devia fazer, e senti imediatamente que era a atitude correta: decidi não fazer nada. Quase que

imediatamente aconteceu algo inesperado — cada uma das três pessoas que espelharam meus julgamentos

começaram a sair da minha vida. Eu não estava mais com raiva delas e já não guardava mais nenhum

ressentimento. Comecei a sentir uma estranha sensação de "inexistência" com relação a todas as três. Não

houve nenhum esforço consciente de minha parte para bani-las. Depois de ter redefinido o que tinha

acontecido entre nós, realmente considerando o que havia sido cada experiência, não o que os meus

julgamentos haviam me levado a crer que tinham sido, simplesmente não havia mais resquício algum

dessas pessoas em minha vida. Cada uma por sua vez começou a se desvanecer do dia-a-dia de minhas

atividades. Subitamente caiu a quantidade de telefonemas, cartas delas e também de pensamentos

dedicados a elas durante o dia. Meus julgamentos tinham sido o ímã que conservara aquelas relações em

seus respectivos lugares.

Embora esse novo curso dos acontecimentos fosse interessante, depois de alguns dias algo ainda mais

intrigante e mesmo um pouco curioso começou a acontecer. Compreendi que existiam outras pessoas que

tinham estado em minha vida durante muito tempo que também tinham começado a desaparecer. Mais

uma vez, não houve nenhum esforço consciente da minha parte para terminar essas relações; elas

simplesmente não tinham mais sentido. Em uma rara ocasião em que conversei com um desses indivíduos,

eu me senti tenso e artificial. Onde antes tinha havido um terreno comum agora só havia estranheza.

Quase imediatamente depois de ter notado a mudança nesses relacionamentos, fiquei consciente do

que, para mim, tratava-se de um novo fenômeno. As relações que saíram da minha vida fundamentavamse no mesmo padrão trazido pelas três pessoas, e esse padrão era o do julgamento. Além de ser o ímã que

me trouxera os relacionamentos, meu hábito de julgar tinha também sido a cola que conservara as relações.

Na ausência do julgamento, a cola se dissolvera. Notei o que parecia ser um efeito cascata: uma vez que o

padrão fora reconhecido em um lugar — em um relacionamento —, seu eco foi se tornando menos audível

em muitos outros níveis de minha vida.

Os espelhos do julgamento são sutis, difíceis de captar, possivelmente não têm sentido para todos os

que se tornam cientes deles. Quando meus amigos e minha família ouviram minha decisão de "não fazer

nada" pensaram que eu estava atravessando um período de negação do que tinha acontecido. "Ela tomou

seu dinheiro!", diziam. "Ela violou sua confiança! Deixou-o sem nada!" De uma certa maneira, as

observações deles eram bastante verdadeiras — tudo o que diziam tinha realmente acontecido. Eu entendia

que se fosse seguir o padrão típico de retribuição, se procurasse a desforra para deixar as coisas em pé de

igualdade, facilmente entraria em um círculo vicioso de pensamentos que alimentariam justamente esse

tipo de experiência. Entretanto, em outro nível, procurando simplesmente ser quem eram, cada um dos três

me mostrou alguma coisa sobre mim que se tornaria a peça fundamental das decisões de negócios que eu

deveria tomar no futuro. Essa coisa era uma importante lição no discernimento da verdade.

Antes dessa época, eu acreditava que a confiança tinha uma característica binária, isto é, ou

confiávamos ou não em uma pessoa — e se confiássemos, confiaríamos integralmente. Ainda que eu não

aprecie ver o mundo de outra maneira, tinha conseguido aprender com esses três relacionamentos que

existem níveis de confiança que ficam ao nosso critério discernir no outro. Muitas vezes depositamos em

outras pessoas mais confiança e responsabilidade do que elas próprias jamais depositariam em si mesmas.

E essa foi precisamente a experiência que tive.

O reconhecimento do julgamento refletido no relacionamento é uma descoberta penetrante cujas

reverberações tocam todos os aspectos da vida. Para as pessoas que me ajudaram com essas lições, meus

agradecimentos. E para aquelas que me mostraram minha humanidade, meu mais profundo respeito e

gratidão por segurarem sem nenhuma falha o espelho diante de mim. O que foi uma bela validação do

mistério do segundo espelho dos relacionamentos!

(Observação: Na história anterior, mencionei a reconciliação da carga do julgamento sem descrever

inteiramente como tal reconciliação poderia ser feita. Focalizei inteiramente esse assunto em meu livro de

2006 intitulado Secrets of the Lost Mode of Prayer, editora Hay House, como sendo o "Terceiro segredo:

abençoar é libertar". Resumindo o poderoso princípio capaz de transformar nossos julgamentos, a atitude

de abençoar é um antigo segredo que nos liberta do sofrimento da vida durante tempo suficiente para

substituí-lo por outro sentimento. Quando abençoamos as pessoas ou coisas que nos feriram, temporariamente interrompemos o ciclo de dor. Não importa se essa suspensão dura

nanosegundos ou um dia inteiro. Independentemente da duração, no decurso da bênção abre-se a porta

para começarmos nossa cura e para avançarmos na vida. O segredo é que durante algum tempo ficamos

liberados do nosso sofrimento o bastante para deixarmos que nosso coração e mente sejam ocupados por

outra coisa: a intensidade da "beleza".)

TERCEIRO ESPELHO: REFLEXOS DO QUE PERDEMOS, JOGAMOS FORA OU FOI TIRADO DE NÓS.

"O Reino [do Pai] é como uma certa mulher que estava carregando um [cântaro] cheio de farinha. Enquanto estava

caminhando pela estrada, ainda distante de casa, a alça do cântaro partiu-se e a farinha foi caindo pelo caminho atrás

dela. Ela não se deu conta, pois não tinha percebido o acidente. Quando chegou em casa, colocou o cântaro no chão e

percebeu que ele estava vazio. "4 — Evangelho de Tomé

Seu amor, compaixão e dedicação são como o alimento no cântaro da parábola acima. Durante toda a vida,

são suas características que dão conforto, nutrem e dão apoio aos outros (bem como a você mesmo) durante

as épocas difíceis. Quando perdemos pessoas, lugares e coisas que nos são caras, são nosso amor e natureza

compassiva que nos permitem sobreviver e enfrentar essas provações.

Como compartilhamos amor, compaixão e dedicação de boa vontade, essas são nossas partes mais

vulneráveis ao risco de serem perdidas, inocentemente desperdiçadas ou tiradas de nós pelos que exercem

poder sobre nós. Cada vez que confiamos o suficiente para amar ou alimentar outra pessoa e temos nossa fé

violada, perdemos um pouco de nós mesmos na experiência. Nossa relutância em nos expor novamente a

tais vulnerabilidades é nossa proteção — a maneira de sobrevivermos quando nos traem e nos ferem da

maneira mais profunda possível. E a cada vez que vedamos o acesso a nossa verdadeira inclinação para ter

compaixão e nutrir nosso semelhante, somos como o alimento que aos poucos vai deixando o jarro que a

mulher ia levando.

Na vida existe um momento em que realmente desejamos nos abrir para compartilhar um pouco de

nós mesmos com outra pessoa. Procuramos o amor no nosso íntimo apenas para descobrir que ele se foi e

que deixou um reservatório vazio em seu lugar. Descobrimos que nos perdemos pouco a pouco para

aquelas mesmas experiências nas quais tínhamos depositado confiança suficiente para permitir que elas

entrassem em nossa vida.

A boa notícia nesse ponto é que aquelas partes de nós mesmos que parecem estar ausentes, nunca

foram embora realmente. Não é como se elas estivessem extintas para sempre ... elas são parte de nossa

essência mais verdadeira, fazem parte de nossa alma. E assim como a alma não pode jamais ser destruída, o

núcleo de nossa verdadeira natureza nunca pode ser perdido. Simplesmente é mascarado e oculto como

salvaguarda. Ao reconhecermos como nos escondemos por trás da máscara, começamos a trilhar um atalho

para a cura. A maior prova de termos reassumido o comando acontece quando conseguimos reunir as

diversas partes de nós mesmos que tinham sido dispersadas.

No início de minha carreira na indústria bélica, fiz parte de um grupo de desenvolvimento de software

para sistemas de armas. Meus colegas e eu dividíamos um pequeno espaço de trabalho na Força Aérea,

com escrivaninhas, cadeiras e divisórias, e passávamos muitas horas trabalhando próximos uns dos outros.

Como é fácil imaginar, havia pouca privacidade. As paredes em painéis de gesso não evitavam que um

ouvisse o outro ao telefone e chegamos a nos conhecer muito bem de tanto entreouvirmos as conversas

telefônicas por cima das divisórias. Ficamos sabendo tanto um do outro que trocávamos conselhos com

frequência, fosse sobre encontros amorosos, assuntos de família, escolhas profissionais ou assuntos diários

da vida de cada um.

Várias vezes por semana íamos almoçar juntos, às vezes descontando os cheques do pagamento e indo

ao mesmo lugar comprar alguma coisa. Numa dessas aventuras na hora do almoço tive a oportunidade de

testemunhar em primeira mão uma experiência que criou um "inferno" na vida pessoal de um dos meus

colegas, um homem de quem tinha também me tornado amigo.

Meu amigo tinha o hábito de "se apaixonar" pelas mulheres que conhecia no seu dia-a-dia de trabalho.

Poderia ser a garçonete que atendera nosso pedido ou a moça do caixa do supermercado. Falando

francamente, poderia ser qualquer pessoa que tivesse cruzado seu caminho durante o dia (qualquer

mulher, bem entendido). Acontecia em toda parte e o padrão era sempre o mesmo: ele simplesmente

olhava a mulher nos olhos e "tinha um sentimento" que ele não sabia explicar. Sem compreender bem o que

estava acontecendo, ele descrevia sua experiência explicando da única maneira que, ele imaginava, seria

capaz de esclarecer o que ocorria. Ele achava que estava amando! E todos os dias ficava apaixonado várias

vezes.

A razão pela qual isso era problemático é que ele era casado. Tinha uma bela esposa que o amava

muitíssimo e um filho pequeno, e amava ambos de todo coração. A última coisa que poderia querer era

causar-lhes um desgosto ou destruir o que tinham construído juntos. Ao mesmo tempo, seus sentimentos

por outras mulheres eram praticamente incontroláveis e algo que ele simplesmente não era capaz de

compreender.

Nessa ocasião, tínhamos acabado de voltar para o escritório, depois de um almoço rápido e de

passarmos no posto de gasolina e no banco. Foi no banco que ele se meteu em uma encrenca. A caixa onde

fomos depositar nossos cheques era uma moça muito bonita. (Isso foi há muito tempo, antes dos caixas de

depósito automático.) No caminho de volta ao escritório, ele não parava de pensar nela. Não se

concentrava, era incapaz de varrê-la da memória. "E se ela estiver pensando em mim neste exato

momento?", era sua pergunta. "E se ela for 'tudo o que imagino'?" Finalmente ele resolveu ligar para o

banco, encontrar a caixa e perguntar se ela gostaria de encontrá-lo para um café depois que saísse do

trabalho. Ela concordou. Mas quando eles estavam na lanchonete, ele olhou nos olhos da moça que servia

as mesas e se apaixonou por ela!

Ao contar essa história chamo a atenção do leitor para o fato de que meu amigo, por razões que ele não

compreendia, sentia-se compelido a entrar em contato com a mulher movido por uma convicção sincera no

sentimento que nutria por ela. Ao fazer isso ele arriscava tudo o que considerava importante na vida, ou

seja, sua esposa, seu filho e sua carreira. O que estava acontecendo com ele?

O leitor já teve uma experiência semelhante (e se já, espero que em menor grau)? Já houve épocas em

que estava perfeitamente feliz comprometido com um relacionamento quando, não mais do que de repente,

veio a paixão? Ou quem sabe sem relacionamento algum, nem procurando um — sem aviso —, andando

em uma movimentada rua comercial, em um shopping, no supermercado, no aeroporto, aconteceu "aquela

experiência inesquecível". Alguém, uma pessoa desconhecida, passa, seus olhos se encontram e ...plim!...

surge aquele sentimento. Pode ser uma simples sensação de familiaridade ou o vislumbre de uma

possibilidade, talvez um impulso irresistível de se aproximar da pessoa, chegar a conhecê-la melhor, ou

mesmo de iniciar uma conversa. Já propus essa situação muitas vezes durante workshops. Acho interessante

observar que, se formos verdadeiramente honestos com nós mesmos, esse tipo de ligação não é assim tão

raro.

Quando acontece, o encontro usualmente se desenrola assim: ainda que os olhos das duas pessoas se

encontrem e que elas obviamente "sintam algo", uma das duas descartará o momento. Entretanto, durante

uma fração de segundo alguma coisa inegavelmente ocorre ... acontece um estado de alteração e uma

sensação de irrealidade. Nesse instante efêmero além da olhadela casual, seus olhos transmitem uma

mensagem. Cada pessoa estará dizendo alguma coisa a outra naquele instante sem que nenhuma das duas

tenha consciência do que seja.

Então, quase como se fosse uma sugestão, suas mentes racionais criarão uma distração — alguma coisa

que sirva para quebrar o constrangimento do contato. Pode ser o som de um carro ou a passagem de outra

pessoa por perto. Pode ser algo tão simples como uma rajada de vento espalhando folhas do outro lado da

rua, ou um simples espirro. Pode até ser a pisada em um chiclete na calçada! O que importa é que, usando

uma desculpa qualquer, uma das duas pessoas terá sua atenção atraída para o ocorrido e o momento se

esvai, simplesmente isso!

Quando temos essa experiência, o que ocorre nesse momento?

O ENCONTRO DO QUE PERDEMOS EM OUTRAS PESSOAS.

Quando nos encontramos nessas situações, estamos frente a frente com uma poderosa oportunidade de

nos conhecermos de um modo muito especial, isto é, se percebermos de que se trata o momento que

vivemos. Se não formos capazes de reconhecer o momento, descobriremos, como meu amigo engenheiro

fez, que esse tipo de ligação pode ser confuso e até mesmo assustador! O segredo de tais encontros é a

essência do mistério do terceiro espelho.

Todos nós comprometemos grande parte de quem somos para sobreviver. Cada vez que fazemos isso,

perdemos alguma coisa interior de um modo que, embora seja socialmente aceitável, nem por isso deixa de

ser doloroso. Assumir o papel de adulto e sentir falta da infância depois de um rompimento familiar;

perder a identidade racial quando culturas diferentes são forçadas a conviver no mesmo ambiente e

sobreviver a um trauma precoce reprimindo as emoções de dor, raiva e fúria são, todos eles, exemplos de

como podemos perder uma parte de nós mesmos.

Por que fazemos isso? Por que trairíamos nossas crenças, nosso amor, nossa confiança e nossa

compaixão tendo consciência de que esses sentimentos são a própria essência do que somos? A resposta é

muito simples: é uma questão de sobrevivência. Assim como a criança, talvez tenhamos descoberto que é

mais fácil ficar em silêncio do que expressar uma opinião enfrentando o risco de ser ridicularizado e

invalidado pelos pais, irmãos, irmãs e iguais. Se somos alvo de abuso familiar, é mais seguro "desistir" e

ignorar do que resistir aos que têm poder sobre nós. A sociedade aceita a morte de outros durante a guerra,

por exemplo, justificando o fato como sendo devido a uma circunstância especial. Todos nós fomos

condicionados a nos abandonar em face de conflitos, doenças e emoções avassaladoras de maneiras que

apenas agora começamos a compreender. Em cada circunstância temos mais a oportunidade de distinguir

possibilidades poderosas do que de julgar o que está certo e o que está errado.

Para cada parcela nossa da qual desistimos para ficar onde nos encontramos hoje, existe um vazio que

fica para trás, esperando para ser preenchido. Estamos em constante busca do que quer que seja para

preencher esse vazio. Quando encontramos uma pessoa que tenha as mesmas coisas das quais desistimos,

sentimo-nos bem em estar perto dela. A essência complementar dessa pessoa preenche nosso íntimo e

deixa-nos plenos mais uma vez. Essa é a chave para a compreensão do que aconteceu no caso do meu

amigo engenheiro e nos outros exemplos, comentados anteriormente.

Quando descobrimos nossas partes "faltantes" nos outros, sentimo-nos poderosa e irresistivelmente

atraídos. Podemos até mesmo acreditar que "precisamos" deles em nossa vida, até o momento em que nos

lembramos de que o que nos atrai é algo que ainda temos dentro de nós ... e que, simplesmente, está

adormecido. Tendo consciência de que essas características e traços ainda estão conosco, podemos retirar a

camuflagem que os encobre para incorporá-los outra vez em nossa vida. E, ao fazermos isso, subitamente

descobrimos que não estamos mais nos sentindo poderosa, magnética e inexplicavelmente arrastados para

a pessoa que originalmente espelhou esses nossos traços.

Reconhecer nossos sentimentos com relação aos outros pelo que eles são, e não pelo que o nosso

condicionamento os transformou, é a chave para o terceiro espelho dos relacionamentos. Esse inexplicável

sentimento que temos quando estamos com outra pessoa — o magnetismo e a chama que nos fazem sentir

tão cheios de vida — na realidade somos nós mesmos! Trata-se da essência dessas partes que nós perdemos e

do reconhecimento de que as queremos de volta em nossa vida. Assim, tendo isso em mente, voltemos à

história do meu amigo engenheiro.

Certamente, existe uma boa possibilidade de que, sem conhecimento consciente disso, meu amigo

tenha visto naquelas mulheres algumas partes perdidas de si mesmo, partes que ele havia descartado ou

que dele tinham sido tiradas ao longo da vida. Existe uma boa chance de que tenha encontrado o mesmo

em homens, mas que tenha se impedido de sentir os mesmos sentimentos por causa de seu

condicionamento social. Sob o ponto de vista de sua experiência, as coisas que havia perdido eram tão

significativas para ele que ele identificava traços dessas coisas em quase todos os que encontrava.

Entretanto, sem a compreensão do que seus sentimentos queriam dizer, ele se via compelido a

acompanhá-los da única maneira que conhecia. Ele acreditava honestamente que cada encontro era uma

oportunidade de felicidade porque se sentia muito bem quando em companhia de uma mulher. Ele ainda

amava muitíssimo a esposa e o filho — quando uma vez perguntei se ele os deixaria, ele pareceu ficar

verdadeiramente chocado. Ele não tinha desejo algum de terminar o casamento, ainda que obedecesse à

força que o impulsionava para situações comprometedoras até o ponto em que a perda da família

transformou-se em um perigo bastante real.

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