VOCÊ RECONHECE SEUS ESPELHOS?
VOCÊ RECONHECE SEUS ESPELHOS? |
Convido-o a examinar seus relacionamentos com aqueles que lhe são mais próximos. Em seguida, |
reconheça os traços e características que lhe irritam sem motivo e que acontecem aparentemente apenas |
para deixá-lo furioso. Depois de fazer isso, proponha a si mesmo a seguinte pergunta: Essas pessoas estão me |
mostrando a mim mesmo neste momento? |
É bem possível que estejam. Se estiverem, essa sensação vai lhe dar uma convicção "visceral" |
instantaneamente. Entretanto, se a resposta for não, pode ser que a revelação seja de alguma coisa mais |
profunda e intensa do que o reflexo de sua pessoa — é possível que esteja à mostra o reflexo de seus |
hábitos de julgar as coisas. O mero reconhecimento e aceitação de que o espelho existe é o início do |
processo que vai levar à melhoria, à cura de seus julgamentos. |
O EFEITO CASCATA DAS CURAS. |
No dia seguinte ao do meu reconhecimento do espelho de meus julgamentos, visitei um amigo que |
mora e trabalha nas proximidades de Taos Pueblo. Uma das comunidades indígenas mais antigas da |
América do Norte, esse lugar não é habitado há mais de 1.500 anos. Roberto (nome fictício) tinha uma loja |
em Pueblo mesmo, e era um artista e artesão tremendamente habilidoso. Sua loja tinha esculturas, filtros |
dos sonhos, músicas e bijuterias que tinham sido parte da tradição nativa séculos antes de haver uma |
"América". |
Quando entrei, ele trabalhava em uma escultura de cerca de dois metros de altura, no corredor atrás da |
loja. Depois de nos cumprimentarmos, perguntei como ia indo sua família e negócios, e conversamos |
amigavelmente por alguns instantes. Ele então também me fez perguntas e indagou o que tinha me acontecido ultimamente. Eu lhe narrei os eventos da última semana, as três pessoas e o dinheiro perdido. |
Depois de ouvir o que eu dizia, ele meditou um pouco e então me contou uma história. |
"Meu bisavô", disse ele, "caçava búfalos nas planícies ao norte do Novo México." Sabia que ele estava |
falando de um passado distante porque, tanto quanto soubesse, já há muitos anos não havia mais búfalos |
naquela parte do Estado. "Antes de morrer, ele me deu sua posse de maior valor: a cabeça do primeiro |
búfalo que tinha caçado quando jovem." Roberto continuou me contando como essa cabeça de búfalo |
também tinha se transformado em um tesouro para ele. Depois que seu bisavô falecera, a cabeça do búfalo |
era a única relíquia tangível que o ligava à herança de seu passado. |
Um dia Roberto recebeu a visita da dona de uma galeria de arte da cidade vizinha. Encantada com a |
beleza da cabeça de búfalo, ela perguntou se poderia usá-la para completar o mostruário de sua galeria, |
com o que ele concordou. Depois de algumas semanas, como Roberto ainda não tinha notícias da amiga, |
resolveu visitá-la para ver como ela estava se saindo. |
Para sua surpresa, quando ele chegou à galeria, não viu nada. As portas estavam fechadas, as janelas |
cobertas, e a loja tinha se retirado dos negócios. A dona da galeria e a cabeça de búfalo tinham ido embora. |
Roberto parou com sua escultura e me encarou tempo suficiente para que eu percebesse como ele tinha |
ficado magoado. |
"O que você fez?", perguntei. Esperava ouvir como ele tinha procurado seguir a trilha da dona da |
galeria e recuperado sua preciosa lembrança. |
Quando seus olhos encontraram os meus a sabedoria de sua resposta não foi ofuscada pela sua |
simplicidade: "Não fiz nada, porque ela terá que viver com o que fez". Saí de Taos Pueblo naquele dia |
pensando nessa história e no significado que ela poderia ter em minha vida. |
Mais tarde, naquela semana, comecei a explorar as opções legais de que dispunha para recuperar pelo |
menos uma parte do dinheiro desaparecido de minha conta. Rapidamente percebi que, ainda que tivesse |
uma boa causa em mãos, tinha pela frente um longo e custoso processo. Devido à natureza do que tinha |
acontecido, eu seria obrigado a encaminhar o caso para a esfera criminal e não para a cível. Desse ponto em |
diante, ficaria totalmente fora do meu alcance e, se a mulher fosse condenada, ela poderia ir para a prisão. |
E tudo isso ocorria com relação a alguém com quem eu tinha mantido um relacionamento emocional |
prolongado, mas com quem não me sentia mais ligado, de forma alguma. |
Enquanto considerava as opções, pensei uma vez mais na conversa que tinha tido com meu amigo em |
Pueblo e das lições que tinha absorvido. Não foi preciso muito tempo para que concluísse sobre o que |
devia fazer, e senti imediatamente que era a atitude correta: decidi não fazer nada. Quase que |
imediatamente aconteceu algo inesperado — cada uma das três pessoas que espelharam meus julgamentos |
começaram a sair da minha vida. Eu não estava mais com raiva delas e já não guardava mais nenhum |
ressentimento. Comecei a sentir uma estranha sensação de "inexistência" com relação a todas as três. Não |
houve nenhum esforço consciente de minha parte para bani-las. Depois de ter redefinido o que tinha |
acontecido entre nós, realmente considerando o que havia sido cada experiência, não o que os meus |
julgamentos haviam me levado a crer que tinham sido, simplesmente não havia mais resquício algum |
dessas pessoas em minha vida. Cada uma por sua vez começou a se desvanecer do dia-a-dia de minhas |
atividades. Subitamente caiu a quantidade de telefonemas, cartas delas e também de pensamentos |
dedicados a elas durante o dia. Meus julgamentos tinham sido o ímã que conservara aquelas relações em |
seus respectivos lugares. |
Embora esse novo curso dos acontecimentos fosse interessante, depois de alguns dias algo ainda mais |
intrigante e mesmo um pouco curioso começou a acontecer. Compreendi que existiam outras pessoas que |
tinham estado em minha vida durante muito tempo que também tinham começado a desaparecer. Mais |
uma vez, não houve nenhum esforço consciente da minha parte para terminar essas relações; elas |
simplesmente não tinham mais sentido. Em uma rara ocasião em que conversei com um desses indivíduos, |
eu me senti tenso e artificial. Onde antes tinha havido um terreno comum agora só havia estranheza. |
Quase imediatamente depois de ter notado a mudança nesses relacionamentos, fiquei consciente do |
que, para mim, tratava-se de um novo fenômeno. As relações que saíram da minha vida fundamentavamse no mesmo padrão trazido pelas três pessoas, e esse padrão era o do julgamento. Além de ser o ímã que |
me trouxera os relacionamentos, meu hábito de julgar tinha também sido a cola que conservara as relações. |
Na ausência do julgamento, a cola se dissolvera. Notei o que parecia ser um efeito cascata: uma vez que o |
padrão fora reconhecido em um lugar — em um relacionamento —, seu eco foi se tornando menos audível |
em muitos outros níveis de minha vida. |
Os espelhos do julgamento são sutis, difíceis de captar, possivelmente não têm sentido para todos os |
que se tornam cientes deles. Quando meus amigos e minha família ouviram minha decisão de "não fazer |
nada" pensaram que eu estava atravessando um período de negação do que tinha acontecido. "Ela tomou |
seu dinheiro!", diziam. "Ela violou sua confiança! Deixou-o sem nada!" De uma certa maneira, as |
observações deles eram bastante verdadeiras — tudo o que diziam tinha realmente acontecido. Eu entendia |
que se fosse seguir o padrão típico de retribuição, se procurasse a desforra para deixar as coisas em pé de |
igualdade, facilmente entraria em um círculo vicioso de pensamentos que alimentariam justamente esse |
tipo de experiência. Entretanto, em outro nível, procurando simplesmente ser quem eram, cada um dos três |
me mostrou alguma coisa sobre mim que se tornaria a peça fundamental das decisões de negócios que eu |
deveria tomar no futuro. Essa coisa era uma importante lição no discernimento da verdade. |
Antes dessa época, eu acreditava que a confiança tinha uma característica binária, isto é, ou |
confiávamos ou não em uma pessoa — e se confiássemos, confiaríamos integralmente. Ainda que eu não |
aprecie ver o mundo de outra maneira, tinha conseguido aprender com esses três relacionamentos que |
existem níveis de confiança que ficam ao nosso critério discernir no outro. Muitas vezes depositamos em |
outras pessoas mais confiança e responsabilidade do que elas próprias jamais depositariam em si mesmas. |
E essa foi precisamente a experiência que tive. |
O reconhecimento do julgamento refletido no relacionamento é uma descoberta penetrante cujas |
reverberações tocam todos os aspectos da vida. Para as pessoas que me ajudaram com essas lições, meus |
agradecimentos. E para aquelas que me mostraram minha humanidade, meu mais profundo respeito e |
gratidão por segurarem sem nenhuma falha o espelho diante de mim. O que foi uma bela validação do |
mistério do segundo espelho dos relacionamentos! |
(Observação: Na história anterior, mencionei a reconciliação da carga do julgamento sem descrever |
inteiramente como tal reconciliação poderia ser feita. Focalizei inteiramente esse assunto em meu livro de |
2006 intitulado Secrets of the Lost Mode of Prayer, editora Hay House, como sendo o "Terceiro segredo: |
abençoar é libertar". Resumindo o poderoso princípio capaz de transformar nossos julgamentos, a atitude |
de abençoar é um antigo segredo que nos liberta do sofrimento da vida durante tempo suficiente para |
substituí-lo por outro sentimento. Quando abençoamos as pessoas ou coisas que nos feriram, temporariamente interrompemos o ciclo de dor. Não importa se essa suspensão dura |
nanosegundos ou um dia inteiro. Independentemente da duração, no decurso da bênção abre-se a porta |
para começarmos nossa cura e para avançarmos na vida. O segredo é que durante algum tempo ficamos |
liberados do nosso sofrimento o bastante para deixarmos que nosso coração e mente sejam ocupados por |
outra coisa: a intensidade da "beleza".) |
TERCEIRO ESPELHO: REFLEXOS DO QUE PERDEMOS, JOGAMOS FORA OU FOI TIRADO DE NÓS. |
"O Reino [do Pai] é como uma certa mulher que estava carregando um [cântaro] cheio de farinha. Enquanto estava |
caminhando pela estrada, ainda distante de casa, a alça do cântaro partiu-se e a farinha foi caindo pelo caminho atrás |
dela. Ela não se deu conta, pois não tinha percebido o acidente. Quando chegou em casa, colocou o cântaro no chão e |
percebeu que ele estava vazio. "4 — Evangelho de Tomé |
Seu amor, compaixão e dedicação são como o alimento no cântaro da parábola acima. Durante toda a vida, |
são suas características que dão conforto, nutrem e dão apoio aos outros (bem como a você mesmo) durante |
as épocas difíceis. Quando perdemos pessoas, lugares e coisas que nos são caras, são nosso amor e natureza |
compassiva que nos permitem sobreviver e enfrentar essas provações. |
Como compartilhamos amor, compaixão e dedicação de boa vontade, essas são nossas partes mais |
vulneráveis ao risco de serem perdidas, inocentemente desperdiçadas ou tiradas de nós pelos que exercem |
poder sobre nós. Cada vez que confiamos o suficiente para amar ou alimentar outra pessoa e temos nossa fé |
violada, perdemos um pouco de nós mesmos na experiência. Nossa relutância em nos expor novamente a |
tais vulnerabilidades é nossa proteção — a maneira de sobrevivermos quando nos traem e nos ferem da |
maneira mais profunda possível. E a cada vez que vedamos o acesso a nossa verdadeira inclinação para ter |
compaixão e nutrir nosso semelhante, somos como o alimento que aos poucos vai deixando o jarro que a |
mulher ia levando. |
Na vida existe um momento em que realmente desejamos nos abrir para compartilhar um pouco de |
nós mesmos com outra pessoa. Procuramos o amor no nosso íntimo apenas para descobrir que ele se foi e |
que deixou um reservatório vazio em seu lugar. Descobrimos que nos perdemos pouco a pouco para |
aquelas mesmas experiências nas quais tínhamos depositado confiança suficiente para permitir que elas |
entrassem em nossa vida. |
A boa notícia nesse ponto é que aquelas partes de nós mesmos que parecem estar ausentes, nunca |
foram embora realmente. Não é como se elas estivessem extintas para sempre ... elas são parte de nossa |
essência mais verdadeira, fazem parte de nossa alma. E assim como a alma não pode jamais ser destruída, o |
núcleo de nossa verdadeira natureza nunca pode ser perdido. Simplesmente é mascarado e oculto como |
salvaguarda. Ao reconhecermos como nos escondemos por trás da máscara, começamos a trilhar um atalho |
para a cura. A maior prova de termos reassumido o comando acontece quando conseguimos reunir as |
diversas partes de nós mesmos que tinham sido dispersadas. |
No início de minha carreira na indústria bélica, fiz parte de um grupo de desenvolvimento de software |
para sistemas de armas. Meus colegas e eu dividíamos um pequeno espaço de trabalho na Força Aérea, |
com escrivaninhas, cadeiras e divisórias, e passávamos muitas horas trabalhando próximos uns dos outros. |
Como é fácil imaginar, havia pouca privacidade. As paredes em painéis de gesso não evitavam que um |
ouvisse o outro ao telefone e chegamos a nos conhecer muito bem de tanto entreouvirmos as conversas |
telefônicas por cima das divisórias. Ficamos sabendo tanto um do outro que trocávamos conselhos com |
frequência, fosse sobre encontros amorosos, assuntos de família, escolhas profissionais ou assuntos diários |
da vida de cada um. |
Várias vezes por semana íamos almoçar juntos, às vezes descontando os cheques do pagamento e indo |
ao mesmo lugar comprar alguma coisa. Numa dessas aventuras na hora do almoço tive a oportunidade de |
testemunhar em primeira mão uma experiência que criou um "inferno" na vida pessoal de um dos meus |
colegas, um homem de quem tinha também me tornado amigo. |
Meu amigo tinha o hábito de "se apaixonar" pelas mulheres que conhecia no seu dia-a-dia de trabalho. |
Poderia ser a garçonete que atendera nosso pedido ou a moça do caixa do supermercado. Falando |
francamente, poderia ser qualquer pessoa que tivesse cruzado seu caminho durante o dia (qualquer |
mulher, bem entendido). Acontecia em toda parte e o padrão era sempre o mesmo: ele simplesmente |
olhava a mulher nos olhos e "tinha um sentimento" que ele não sabia explicar. Sem compreender bem o que |
estava acontecendo, ele descrevia sua experiência explicando da única maneira que, ele imaginava, seria |
capaz de esclarecer o que ocorria. Ele achava que estava amando! E todos os dias ficava apaixonado várias |
vezes. |
A razão pela qual isso era problemático é que ele era casado. Tinha uma bela esposa que o amava |
muitíssimo e um filho pequeno, e amava ambos de todo coração. A última coisa que poderia querer era |
causar-lhes um desgosto ou destruir o que tinham construído juntos. Ao mesmo tempo, seus sentimentos |
por outras mulheres eram praticamente incontroláveis e algo que ele simplesmente não era capaz de |
compreender. |
Nessa ocasião, tínhamos acabado de voltar para o escritório, depois de um almoço rápido e de |
passarmos no posto de gasolina e no banco. Foi no banco que ele se meteu em uma encrenca. A caixa onde |
fomos depositar nossos cheques era uma moça muito bonita. (Isso foi há muito tempo, antes dos caixas de |
depósito automático.) No caminho de volta ao escritório, ele não parava de pensar nela. Não se |
concentrava, era incapaz de varrê-la da memória. "E se ela estiver pensando em mim neste exato |
momento?", era sua pergunta. "E se ela for 'tudo o que imagino'?" Finalmente ele resolveu ligar para o |
banco, encontrar a caixa e perguntar se ela gostaria de encontrá-lo para um café depois que saísse do |
trabalho. Ela concordou. Mas quando eles estavam na lanchonete, ele olhou nos olhos da moça que servia |
as mesas e se apaixonou por ela! |
Ao contar essa história chamo a atenção do leitor para o fato de que meu amigo, por razões que ele não |
compreendia, sentia-se compelido a entrar em contato com a mulher movido por uma convicção sincera no |
sentimento que nutria por ela. Ao fazer isso ele arriscava tudo o que considerava importante na vida, ou |
seja, sua esposa, seu filho e sua carreira. O que estava acontecendo com ele? |
O leitor já teve uma experiência semelhante (e se já, espero que em menor grau)? Já houve épocas em |
que estava perfeitamente feliz comprometido com um relacionamento quando, não mais do que de repente, |
veio a paixão? Ou quem sabe sem relacionamento algum, nem procurando um — sem aviso —, andando |
em uma movimentada rua comercial, em um shopping, no supermercado, no aeroporto, aconteceu "aquela |
experiência inesquecível". Alguém, uma pessoa desconhecida, passa, seus olhos se encontram e ...plim!... |
surge aquele sentimento. Pode ser uma simples sensação de familiaridade ou o vislumbre de uma |
possibilidade, talvez um impulso irresistível de se aproximar da pessoa, chegar a conhecê-la melhor, ou |
mesmo de iniciar uma conversa. Já propus essa situação muitas vezes durante workshops. Acho interessante |
observar que, se formos verdadeiramente honestos com nós mesmos, esse tipo de ligação não é assim tão |
raro. |
Quando acontece, o encontro usualmente se desenrola assim: ainda que os olhos das duas pessoas se |
encontrem e que elas obviamente "sintam algo", uma das duas descartará o momento. Entretanto, durante |
uma fração de segundo alguma coisa inegavelmente ocorre ... acontece um estado de alteração e uma |
sensação de irrealidade. Nesse instante efêmero além da olhadela casual, seus olhos transmitem uma |
mensagem. Cada pessoa estará dizendo alguma coisa a outra naquele instante sem que nenhuma das duas |
tenha consciência do que seja. |
Então, quase como se fosse uma sugestão, suas mentes racionais criarão uma distração — alguma coisa |
que sirva para quebrar o constrangimento do contato. Pode ser o som de um carro ou a passagem de outra |
pessoa por perto. Pode ser algo tão simples como uma rajada de vento espalhando folhas do outro lado da |
rua, ou um simples espirro. Pode até ser a pisada em um chiclete na calçada! O que importa é que, usando |
uma desculpa qualquer, uma das duas pessoas terá sua atenção atraída para o ocorrido e o momento se |
esvai, simplesmente isso! |
Quando temos essa experiência, o que ocorre nesse momento? |
O ENCONTRO DO QUE PERDEMOS EM OUTRAS PESSOAS. |
Quando nos encontramos nessas situações, estamos frente a frente com uma poderosa oportunidade de |
nos conhecermos de um modo muito especial, isto é, se percebermos de que se trata o momento que |
vivemos. Se não formos capazes de reconhecer o momento, descobriremos, como meu amigo engenheiro |
fez, que esse tipo de ligação pode ser confuso e até mesmo assustador! O segredo de tais encontros é a |
essência do mistério do terceiro espelho. |
Todos nós comprometemos grande parte de quem somos para sobreviver. Cada vez que fazemos isso, |
perdemos alguma coisa interior de um modo que, embora seja socialmente aceitável, nem por isso deixa de |
ser doloroso. Assumir o papel de adulto e sentir falta da infância depois de um rompimento familiar; |
perder a identidade racial quando culturas diferentes são forçadas a conviver no mesmo ambiente e |
sobreviver a um trauma precoce reprimindo as emoções de dor, raiva e fúria são, todos eles, exemplos de |
como podemos perder uma parte de nós mesmos. |
Por que fazemos isso? Por que trairíamos nossas crenças, nosso amor, nossa confiança e nossa |
compaixão tendo consciência de que esses sentimentos são a própria essência do que somos? A resposta é |
muito simples: é uma questão de sobrevivência. Assim como a criança, talvez tenhamos descoberto que é |
mais fácil ficar em silêncio do que expressar uma opinião enfrentando o risco de ser ridicularizado e |
invalidado pelos pais, irmãos, irmãs e iguais. Se somos alvo de abuso familiar, é mais seguro "desistir" e |
ignorar do que resistir aos que têm poder sobre nós. A sociedade aceita a morte de outros durante a guerra, |
por exemplo, justificando o fato como sendo devido a uma circunstância especial. Todos nós fomos |
condicionados a nos abandonar em face de conflitos, doenças e emoções avassaladoras de maneiras que |
apenas agora começamos a compreender. Em cada circunstância temos mais a oportunidade de distinguir |
possibilidades poderosas do que de julgar o que está certo e o que está errado. |
Para cada parcela nossa da qual desistimos para ficar onde nos encontramos hoje, existe um vazio que |
fica para trás, esperando para ser preenchido. Estamos em constante busca do que quer que seja para |
preencher esse vazio. Quando encontramos uma pessoa que tenha as mesmas coisas das quais desistimos, |
sentimo-nos bem em estar perto dela. A essência complementar dessa pessoa preenche nosso íntimo e |
deixa-nos plenos mais uma vez. Essa é a chave para a compreensão do que aconteceu no caso do meu |
amigo engenheiro e nos outros exemplos, comentados anteriormente. |
Quando descobrimos nossas partes "faltantes" nos outros, sentimo-nos poderosa e irresistivelmente |
atraídos. Podemos até mesmo acreditar que "precisamos" deles em nossa vida, até o momento em que nos |
lembramos de que o que nos atrai é algo que ainda temos dentro de nós ... e que, simplesmente, está |
adormecido. Tendo consciência de que essas características e traços ainda estão conosco, podemos retirar a |
camuflagem que os encobre para incorporá-los outra vez em nossa vida. E, ao fazermos isso, subitamente |
descobrimos que não estamos mais nos sentindo poderosa, magnética e inexplicavelmente arrastados para |
a pessoa que originalmente espelhou esses nossos traços. |
Reconhecer nossos sentimentos com relação aos outros pelo que eles são, e não pelo que o nosso |
condicionamento os transformou, é a chave para o terceiro espelho dos relacionamentos. Esse inexplicável |
sentimento que temos quando estamos com outra pessoa — o magnetismo e a chama que nos fazem sentir |
tão cheios de vida — na realidade somos nós mesmos! Trata-se da essência dessas partes que nós perdemos e |
do reconhecimento de que as queremos de volta em nossa vida. Assim, tendo isso em mente, voltemos à |
história do meu amigo engenheiro. |
Certamente, existe uma boa possibilidade de que, sem conhecimento consciente disso, meu amigo |
tenha visto naquelas mulheres algumas partes perdidas de si mesmo, partes que ele havia descartado ou |
que dele tinham sido tiradas ao longo da vida. Existe uma boa chance de que tenha encontrado o mesmo |
em homens, mas que tenha se impedido de sentir os mesmos sentimentos por causa de seu |
condicionamento social. Sob o ponto de vista de sua experiência, as coisas que havia perdido eram tão |
significativas para ele que ele identificava traços dessas coisas em quase todos os que encontrava. |
Entretanto, sem a compreensão do que seus sentimentos queriam dizer, ele se via compelido a |
acompanhá-los da única maneira que conhecia. Ele acreditava honestamente que cada encontro era uma |
oportunidade de felicidade porque se sentia muito bem quando em companhia de uma mulher. Ele ainda |
amava muitíssimo a esposa e o filho — quando uma vez perguntei se ele os deixaria, ele pareceu ficar |
verdadeiramente chocado. Ele não tinha desejo algum de terminar o casamento, ainda que obedecesse à |
força que o impulsionava para situações comprometedoras até o ponto em que a perda da família |
transformou-se em um perigo bastante real. |