Infelizmente, parece que o conturbado país não sairá da mídia internacional por um bom tempo. E pelos piores motivos. A forma atabalhoada com que os EUA retiraram suas tropas, a retomada do poder pelo Talibã, o desespero para fugir do país e ...
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Infelizmente, parece que o conturbado país não sairá da mídia internacional por um bom tempo. E pelos piores motivos. A forma atabalhoada com que os EUA retiraram suas tropas, a retomada do poder pelo Talibã, o desespero para fugir do país e o recente atentado no aeroporto de Cabul provam que não há soluções fáceis para a realidade afegã. | ||
A admissão de incompetência no discurso do presidente Joe Biden, falando em seu nome e de pelo menos uma meia dúzia de seus antecessores, não chega a ser um pedido de desculpas. Ao mesmo tempo, a promessa de vingança após o atentado deixa c aro que lição nenhuma foi aprendida. E que o ciclo vicioso que condenou uma pá de países do Oriente Médio apenas nos anos mais recentes seguirá girando inclemente. Ora, Biden mal consegue se referir ao povo que condenou à morte com suas ações atabalhoadas sem confundir "afghan" (afegão) com "afghani" (moeda local). Não é de se admirar que pronuncie afirmações de profundo desconhecimento histórico e até mesmo racistas, como quando diz que "o Afeganistão sempre foi um monte de tribos que nunca se deram bem". | ||
No meu último texto por aqui, contei uma experiência vivida no Afeganistão em 2010. De alguma forma, a história era quase um prenúncio do que estava por vir no país. A presença extra-oficial dos talibãs e a forma violenta com que interferiam na realidade local já naquele período, com a ocupação americana já definida e estabelecida, era um sinal de que um processo de "reconstrução" da paz era necessário. Naquela época, conheci o livreiro de Cabul, que viveu uma vida de medo e perseguição por promover a cultura em sua terra natal. Tive contato com um intérprete de tropas americanas que hoje provavelmente deve ter sua cabeça à prêmio pelo governo fundamentalista. E, anos depois, registrei a história de um refugiado afegão que preferiu se arriscar em um bote com destino à Europa do que tentar sobreviver no próprio país onde nascera. | ||
Passaram-se mais de uma década e um sem número de oportunidades perdidas e o resultado está aí. Se de um lado os EUA parecem não ter aprendido lição nenhuma, do outro há pouca esperança de que algo mude o destino do povo afegão sob o jugo dos extremistas do talibã. Outra intervenção internacional? Difícil, as forças que agora ocupam um lugar mais relevante na relação com o Talibã tem preocupações internas e externas muito mais voltadas para o comercia do que o humanitário. Caso de China e Rússia. Ou Índia e Paquistão. | ||
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Para quem pergunta: e o futuro do Afeganistão? Com esse tipo de perspectiva, não é de se admirar que os afegãos sigam tentando deixar o país. Mesmo que isso lhes custe a vida agarrados à asa de um avião ou vítimas de atentado a bomba no portão de entrada do aeroporto internacional. | ||