O impacto dos investidores nas startups
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O impacto dos investidores nas startups

Saiba os impactos que os investidores possuem na gestão de produtos de uma startup

Andrei Golfeto
16 min
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Olá migos! 

Esse texto surge de um podcast meu que finalmente não foi um áudio no whatsapp. Se eu pudesse escolher apenas um tema para estudar sobre startups, com certeza seria fundraising. 

Fundraising é a atividade em si de se captar investimentos, daí que se origina essas dezenas de notícias que vemos semanalmente de startups que receberam aportes. Gosto do tema porque ele nos faz ter uma visão global de uma startup, envolvendo diversos fatores críticos como: 

  • Growth 
  • Pessoas
  • Produto
  • Finanças
  • Tecnologia
  • Customer Success
  • etc

Nesse episódio em específico abordei sobre o que as pessoas que trabalham com produtos podem aprender com os investidores de capital de risco (forma brasileira de se falar "VCs" ou Venture Capitalists, os investidores mesmo).

Meu primeiro podcast que não foi um audio no wpp :)
Meu primeiro podcast que não foi um audio no wpp :)

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Principais takeaways

  • Um investidor de startups procura ter um retorno astronômico, para isso ser possível ela aposta em um time que vai construir uma startup que crescerá tanto no mercado, sendo viável um retorno alto; 
  • Dado que nessa classe de ativos o retorno pode ser alto, o risco sempre vai ser grande; 
  • Pelo risco ser grande, será necessário diversificar diversas apostas;
  • São tantas oportunidades que surgem que será preciso dimensionar e priorizar; 
  • Um Product Manager pode ter esse racional, será necessário ver quais são suas apostas, estar confortável que a maioria não vai dar certo, e aquelas poucas que retornarem vão compensar todo esforço ou valor da carteira investido caso seja o investidor; 
  • Um VC quando chega em uma startup agrega em diversos âmbitos: ajuda trazer talentos, acesso a mercado e novos investidores, mentorias, suporte, conexões com outras startups e muito mais; 
  • Mas nem tudo são flores, com todo esse ecossistema que vai agregar muito no dia a dia, vai vir uma pressão tremenda de alguém que vai ajudar tocar o bumbo e cobrar um crescimento acelerado da startup; 
  • Daí começa a assimetria de informação, o PM focado no custo afundado e passado (sempre olhando o retrovisor), os founders ou c-level olhando os 100 metros a frente, e o VC olhando o destino final; 
  • Surge a importância do manager-up, saber gerenciar os superiores nessa cadeia, ajudar tomar decisões estratégicas, dimensionar oportunidades, priorizar as apostas, analisar os acontecimentos e demais processos de gestão de produtos de uma forma mais proativa, estratégica e resolutiva.
Agora só ouvindo mais lá para entender melhor :)
Agora só ouvindo mais lá para entender melhor :)

Inclusive esse tema é meu projeto de pesquisa no mestrado profissional em empreendedorismo que estou fazendo na USP

Vou até deixar aqui algumas partes do meu projeto de pesquisa para contextualizar o tema também. Já adianto que é uma linguagem mais formal e acadêmica, mas como já mudei o projeto inteiro depois que comecei o programa, achei bacana compartilhar. 

Introdução

As startups possuem um importante papel na sociedade atual por meio da promoção da inovação, proporcionando ganhos em diversos aspectos que contribuem com os avanços tecnológicos, exploração da ciência, democratização do conhecimento, resolução de problemas em larga escala, geração de emprego e renda, dentre outros inúmeros aspectos (ISMAIL; VAN GEES; MALONE, 2018). Um dos fatores críticos para o sucesso das startups é a alocação de capital por meio de investimento, atividade chamada de capital de risco pela alta volatilidade inerente ao setor  (MATOS; RADAELLI, 2020).

Desde 2016 o mercado de startups na América Latina tem atraído investimento de forma intensiva, em que se observa que desde então, o valor de capital de risco aportado dobra a cada ano. O Brasil possui um papel de liderança e pioneirismo na região, sendo responsável por mais da metade dos investimentos realizados. (LAVCA, 2020). O amadurecimento do ecossistema empreendedor brasileiro fica evidente com base no surgimento dos primeiros unicórnios, empresas cujo valor de mercado ultrapassa a marca de 1 bilhão de dólares, e consolidação das startups de tecnologia que alcançam grandes patamares de atuação e financiamento (MATOS; RADAELLI, 2020).

Nesse contexto, a gestão de produtos surge para tangibilizar a proposta de valor oferecida pelas startups para resolver os problemas de seus respectivos clientes (TORRES, 2015). O amadurecimento do mercado de startups naturalmente contribui com o surgimento de profissionais mais qualificados disponíveis no mercado e pela consolidação de diversas profissões novas e mais adaptadas ao contexto inovador que as startups estão inseridas. (PM3, 2020). Como uma dessas profissões do futuro, temos o Gestor ou Gerente de Produtos, termo em inglês cunhado como Product Manager (ÉPOCA NEGÓCIOS, 2020). 

Em rápida pesquisa não exaustiva feita pelas redes sociais profissionais LinkedIn e Glassdoor, é possível identificar que existem pouco mais de que 50 000 profissionais da área de gestão de produtos no Brasil. Esse profissional é o responsável pela intersecção entre a estratégia do negócio, a necessidade dos clientes e a viabilidade técnica da construção da solução (EIS, 2020). Além disso, desempenha funções importantes como gerenciamento dos stakeholders, validação de hipóteses, gestão de riscos, liderança e influência, sendo um elo entre várias áreas, dentre outras atividades mais específicas de acordo com a empresa em que está inserido. (PM3, 2020). 

Faz-se necessário destacar, que além da relevância dos profissionais de produto e da gestão de produtos para contribuir com o êxito das startups, outro fator crítico e, segundo a ABSTARTUPS (2020) ainda de pouco acesso a grande parte das startups brasileiras, é o investimento alocado de capital de risco. Dessa forma, estudar o impacto e a relação entre essas variáveis pode ajudar a compartilhar boas práticas para todo o ecossistema brasileiro e contribuir com o êxito no surgimento de novas startups. 

A indústria de capital de risco sofreu grandes impactos por conta da pandemia do novo coronavírus que afetou diversos setores de maneira mais negativa do que positiva no balanço geral. Dessa forma, o uso inteligente e consciente do capital alocado por investidores de risco nas startups pode ser um dos principais fatores de sobrevivência e adaptação nos tempos atuais (LIGA VENTURES, 2020). Nesse contexto, a gestão de produtos tem um papel importante para evitar os principais riscos eventuais que as startups podem se deparar, como risco de valor, uso, viabilidade técnica e de viabilidade de negócio (EIS, 2020).

Objetivos

O impacto da captação de investimento na gestão de produtos se torna um tema relevante para ajudar a disseminar as boas práticas e fortalecer ainda mais o ecossistema de startups no Brasil. Segundo Kepler (2018), dado as vantagens competitivas que as startups que recebem aporte de capital em relação às demais e, segundo PM3 (2020) a consolidação da profissão e práticas de gestão de produtos nas startups, relacionar essas duas variáveis pode contribuir com o surgimento de novas startups, aprendizados e lições práticas para as startups atuais, e nortear de forma mais estratégica o papel dos investidores em relação a sua governança e atuação frente às startups.

Pelo caráter recente do mercado de startups, atividades de capital de risco e da profissão de gestão de produtos, ainda existe uma ausência de estudos e literatura acadêmica a respeito desses dois universos relacionados e esse estudo pode estimular mais pesquisas em torno do tema proposto. 

Dessa forma, o estudo se propõe pelo ineditismo contribuir com o mercado de startups e dar mais visibilidade aos impactos positivos que o capital de risco e a gestão de produtos pode desempenhar no cotidiano das startups brasileiras. Além disso, o autor tem experiência direta atuando com startups em um dos agentes de suporte do ecossistema empreendedor brasileiro, em que já atuou como gerente de projetos de inovação aberta, recrutador e avaliador de startups para investimentos e gestão de produtos. Doravante, tal experiência pode ser um fator importante para o desenvolvimento do estudo.

Justificativa

É notório o crescimento e aumento da maturidade do ecossistema de startups brasileiro nos últimos anos. Fato que foi impulsionado por diversos estímulos de agentes de apoio, suporte e financiamento à atividade empreendedora no Brasil. Em especial nos últimos anos, nunca houve tanto capital disponível para ser investido em startups e programas de fomentos em todo território nacional. Como evidência dessa evolução, começou a se observar o surgimento e consolidação dos primeiros unicórnios brasileiros (MATOS; RADAELLI, 2020).

No entanto, ainda existe uma certa desconfiança sobre o setor de capital de risco por parte do mercado de capitais, resquícios ainda da bolha da internet no início dos anos 2000. Fato que pode ser justificado pelas altas quantias monetárias captadas por empreendedores que super-inflacionam seus negócios, em que muitas vezes não possuem ativos e demonstrativos financeiros tão robustos como de costume no mercado financeiro (ACE, 2020).

Dado a importância e impacto da atividade de capital de risco nas startups, esse ainda é um cenário restrito a uma pequena parcela do ecossistema empreendedor brasileiro. Segundo dados da ABSTARTUPS (2020) menos de 50% das startups brasileiras geram receita, menos de 10% captam investimentos, 80% delas estão concentradas nas regiões sudeste e sul, e 75% encerram suas operações nos 3 primeiros anos. O uso indevido do capital alocado por investidores de risco nas startups, seja pelo sua alocação de forma irresponsável ou por falta de conhecimento uma vez que ainda temos muitos empreendedores de primeira viagem no país, pode prejudicar a imagem desse importante mercado para a sociedade contemporânea (MATOS; RADAELLI, 2020).

Por outro lado, quando usado de forma consciente e correta, não só o capital alocado nas startups, como todo conhecimento e rede de contatos dos investidores de risco podem ser um fator crítico de sucesso para as startups (KEPLER, 2018). E como principal forma de tangibilizar o trabalho das startups na busca de inovação em mercados tradicionais, a gestão de produtos tem um papel importante como a responsável entre o encaixe do problema dos clientes com a solução, sendo o elo e a concretização da proposta de valor das startups (TORRES, 2015). 

Dessa forma, segundo Kepler (2018) a atividade de captação de investimento tem influência no dia a dia das startups, e entender quais são os impactos entre essas duas variáveis, a captação de investimento e a gestão de produtos, pode ajudar na promoção de boas práticas e consequentemente no aumento da taxa de sucesso das startups no cenário nacional. Não só pelo crescimento acelerado desde 2016 no valor investido de startups (LAVCA, 2020), mas também pela popularização da função de gestão de produtos, é observado uma maturidade na solução das startups por meio de melhores produtos, profissionais mais qualificados e clientes mais satisfeitos (PM3, 2020).

No entanto, pela característica temporária e de escassez de recursos, as startups não conseguem implementar sempre as melhores práticas de gestão de produtos, que muitas vezes passa a ser mais comum apenas em estágios de maturidade mais avançados, justamente quanto a startup faz uma captação de investimentos maior e por consequência possui condições de trazer profissionais qualificados para trazer com eles as práticas de gestão de produtos (GUILLEBEAU; CHRIS, 2017).

Vale ressaltar que a comunidade brasileira de gestores de produtos tem ganhado relevância e expressão com escolas como Tera e PM3, as quais o autor teve a oportunidade de ser aluno de ambas, por meio de cursos, eventos e promoção de networking ou benchmarkings com mais de 10 000 profissionais de gestão de produtos de todo o Brasil. Fica evidente o interesse de grandes empresas e corporações brasileiras em adotarem as boas práticas de gestão de produtos das startups nos setores e áreas de tecnologia, uma vez que começam a ser referência por meio da sua cultura enxuta e alcance do êxito mesmo com a limitação de recursos (RIES, 2017). 

Com esse cenário exposto em que ficam evidentes variáveis como: o crescimento do mercado de startups brasileiro, a desconfiança em torno do uso de capital empregado pelas startups, uma geração majoritariamente composta por empreendedores de primeira viagem, a consolidação do mercado de gestão de produtos no país e o quanto as empresas tradicionais usam as startups como fonte de inspiração e conhecimento, foi que o autor se interessou em desenvolver o presente projeto de pesquisa para estudar os impactos que a captação de investimento possui na gestão de produtos nas startups brasileiras para conseguir disseminar as boas práticas e ajudar o ecossistema evoluir ainda mais.

Experiência do autor

O autor do projeto trabalhou em uma das principais aceleradoras de startups do Brasil, a ACE. Ao longo dos últimos três anos foi responsável por diversos programas de aceleração, seleção de startups para investimentos e terminou seu ciclo como gerente de produto da maior plataforma brasileira de aceleração online, a Growthaholics for Startups.

Posteriormente, desempenhou um trabalho temporário no lançamento do G4 Startups, curso de empreendedorismo e startups que conta com mais de 2 000 alunos, promovido pela startup de educação Gestão 4.0 fundada por empreendedores brasileiros líderes de negócios e startups como Easy Taxis, Singu, VTEX, Rappi, Kanui, etc. Em paralelo ao longo do segundo semestre de 2020, atuou como Líder de Projetos de Inovação Sênior na BASF para região da América Latina na vertical de Agronegócios, sendo responsável por programas de inovação aberta (open-innovation), investimentos em startups (corporate venture capital) e aceleração de projetos de intra-empreendedorismo.

Atualmente o autor ocupa a função de New Ventures Specialist no Ifood, trabalhando diretamente com desenvolvimento e validação de novos produtos em uma das startups brasileiras de maior crescimento da atualidade. O Ifood é uma das poucas startups brasileiras a alcançar o patamar de unicórnio, sendo uma das startups que mais captou investimento de risco (DISTRITO, 2020) e referência em gestão de produtos (PM3, 2020). 

Após ter o contato direto com mais de 500 startups brasileiras, tendo avaliado mais de 5 000 startups, e trabalhando em mais de 30 projetos de inovação entre corporações e startups, o autor começou a perceber os avanços significativos que as startups ganham em maturidade após a captação de investimentos. Em cada fase, os investidores vão agregando mais valor com o seu conhecimento (smart-money) e rede de contatos (networking). Com isso, esse valor agregado é desdobrado de forma prática nas startups por meio da gestão de produtos (KEPLER, 2018).

O interesse do autor na elaboração da pesquisa é tangibilizar a influência e mensurar os impactos da captação de investimentos na gestão de produtos das startups brasileiras. De modo a conseguir identificar as boas práticas e compartilhar os fatores de sucesso, para ajudar novas startups terem mais êxito na adoção dos produtos, estratégias de crescimento, futuras rodadas de financiamento, dentre outros aspectos. 

Uma vez que a gestão de produtos é uma atividade-chave para qualquer startup se manter competitiva no mercado e conseguir tangibilizar sua proposta de valor por meio da solução que é entregue aos respectivos clientes. Uma boa gestão de produtos faz as startups conseguirem satisfazer mais os seus clientes e se adaptar às necessidades e demandas do mercado, mantendo sempre a startup em constante evolução (EIS, 2020).

Por outro lado, a captação de investimento sem o correto direcionamento estratégico e desdobramento tático no dia a dia de forma consciente em uma startup pode acarretar inúmeros desperdícios. No pior cenário, podem surgir escândalos que prejudicam toda reputação do setor, como cases famosos recentes nos últimos anos do WeWork e Theranos, em que seus fundadores captaram centenas de milhões de dólares, geraram altas expectativas no mercado, e por fim, se revelaram em grandes escândalos por não entregarem aquilo que prometeram, ausência de liquidez financeira e uso dos recursos com má-fé (BUSINESS INSIDER, 2020).

Por fim, vale ressaltar que recentemente, outubro de 2020, o autor defendeu sua monografia para obtenção do título de Especialista pela Escola Politécnica da USP no MBA em Transformação Digital do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais com o tema “A atuação das startups no cenário socioeconômico do Brasil: Um mapeamento das startups em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030” em que foi contemplado com avaliação máxima, nota 10, e ficou evidente com o estudo o impacto que as startups causam no cenário econômico brasileiro por meio da geração de emprego e renda, aumento de competitividade das empresas, democratização de serviços e promoção da inovação. 

Dessa forma, o autor acredita que o presente estudo proposto poderá contribuir com o ecossistema de startups que, consecutivamente pode gerar ainda mais impacto nos desafios atuais do Brasil, por meio do uso mais consciente e estratégico dos recursos de capitais alocados proveniente dos investimentos no dia a dia da gestão de produtos das startups.

Considerações finais

No estudo será levantado e definido os principais estágios de investimento das startups no Brasil e as principais práticas de gestão de produto das startups, permitindo a disseminação do conhecimento de tais atividades que possuem relevância para as novas startups. Com os desafios de se empreender no Brasil, já citados no presente projeto de pesquisa, a disseminação desses conhecimentos pode facilitar a jornada de futuras startups. 

Com este estudo espera-se identificar os principais impactos da atividade de captação de investimentos na gestão de produtos das startups brasileiras. Dessa forma, será possível entender a influência do investimento nas práticas de gestão de produtos das startups: analisando em que momento determinadas práticas começam a ser utilizadas, o cenário anterior e posterior ao investimento, e compartilhar as principais lições aprendidas para ajudar os empreendedores a tomarem melhores decisões no produto de suas startups. 

O estudo um entenderá os fatores críticos de sucesso das startups que captam investimento de forma prática e desdobrada no dia a dia por meio da gestão de produtos, atividade que evidencia a solução e a forma como a startup entrega sua proposta de valor aos seus clientes. Além disso, espera-se não só contribuir com as startups por meio do compartilhamento das boas práticas obtidas pelo estudo, mas também disseminar o conhecimento para os fundos de capital de risco visualizarem melhor os impactos em seus investimentos. 

A expectativa com o estudo é estimular o uso do capital alocado de investimentos de foma mais consciente, estratégica e eficiente pelos empreendedores. Dessa forma, as startups podem conseguir aumentar seu desempenho e chances de êxito através de uma melhor gestão de produtos. Por fim, do outro lado, os investidores podem conseguir enxergar de maneira mais clara como as startups podem fazer o uso do capital alocado de uma forma mais eficiente. Dessa forma, o estudo tem um importante papel no alinhamento entre as expectativas e necessidades no relacionamento e elo entre startups com investidores de capital de risco.

Se você chegou até aqui, meu muito obrigado :)

Até a próxima!
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