A comparação entre Messi e Ronaldinho só existe na mente dos brasileiros.
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A comparação entre Messi e Ronaldinho só existe na mente dos brasileiros.

Eu estava de bobeira no Twitter, a rede social das tretas, e me deparei com um dito cujo falando que Ronaldinho Gaúcho era muito melhor que Messi, que Cristiano Ronaldo não passava de um jogador sem talento e que, caso eles tivessem jogado em...

André Moraes
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Eu estava de bobeira no Twitter, a rede social das tretas, e me deparei com um dito cujo falando que Ronaldinho Gaúcho era muito melhor que Messi, que Cristiano Ronaldo não passava de um jogador sem talento e que, caso eles tivessem jogado em outras épocas, fariam parte do segundo escalão. Estaria o dito cujo fazendo isso para ganhar engajamento justamente no veículo que é movido a ódio? Talvez. Porém, independentemente da intenção, não é raro encontrar brasileiros bradando, orgulhosos, que o Gaúcho foi melhor do que qualquer outro da geração atual, ou que o futebol de hoje é muito pior que o "da minha época". Bom, que o futebol não é o mesmo eu concordo. Ainda bem, né? Imagina acompanhar durante décadas as mesmas caras, mesmas estratégias, mesmos clubes no topo, mesmos clubes rebaixados. A beleza desse esporte está justamente na capacidade de evolução e aperfeiçoamento que ele tem por si próprio. É maravilhoso poder acompanhar a evolução das táticas e os detalhes sendo cada vez mais explorados. Obviamente, algumas coisas vão deixar saudades, mas não vale a pena desmoralizar as inovações por fidelidade a uma memória afetiva. E, antes de mais nada, Messi jogou bem mais que Ronaldinho e o nível técnico atual não é inferior ao de outras décadas. 

O principal argumento dos defensores da tese ronaldiniana dizem que o dentuço era mais mágico e que sua plasticidade era incomparável. Primeiramente, o fator da inventividade, do lúdico é subjetivo. O que é mais bonito pra mim pode não encantar outra pessoa. Não existe uma escala: você atingiu 9,5 de lances fantásticos nessa partida. O argentino, desde o primeiro jogo como profissional, faz dribles curtos e rápidos que são eficientes para bater times inteiros. Ele pode não dar três chapéus seguidos para trás no meio de campo, mas dá um que tira o marcador da jogada e o coloca a três palmos do gol. São objetivos e maneiras de execução diferentes, porém ambas as jogadas são igualmente encantadoras e componentes do futebol arte. É difícil e, para os mais rigorosos até mesmo inválido, estabelecer qual jogador é superior com base em um critério pouco exato e enganoso, uma vez que a lembrança de jogos espetaculares do Ronaldinho, como contra o Real Madrid no Bernabéu e contra o Chelsea fardado de cinza (tenho certeza que esses jogos vieram à sua mente), que agora migraram para o Youtube junto com uma música eletrônica de fundo, contribuem para criar uma imagem de um jogador perfeito, com uma passagem superior à que realmente aconteceu. 

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Ah, então quer dizer que você não gosta do Ronaldinho? De forma alguma. Não existe ser brasileiro e não gostar dele rs. O bruxo, devido ao carisma e ao extra campo pra lá de convencional que leva, é quase um personagem folclórico no Brasil. As declarações, o cabelo, os "rolês aleatórios" e a arcada dentária, associados à habilidade sobrenatural, fizeram surgir um jogador tão amado a ponto de ter, nos corações tupiniquins, uma cadeira cativa localizada em uma prateleira acima do que realmente foi sua passagem no futebol. Revelação bombástica no Grêmio e na seleção brasileira aos 17 anos, coadjuvante de luxo no penta, melhor do mundo duas vezes seguidas pelo Barcelona e dono do time, ao final da carreira, no Atlético MG. Sou um fã declarado. E, por isso, preciso colocar os pingos nos is e deixar claro que, bola por bola, o argentino foi melhor. A partir do ano em que se firmou como titular no time catalão, Messi marcou mais gols do que Ronaldinho em todas as temporadas, sempre ultrapassando a marca de 30, foi eleito melhor jogador do mundo 6 vezes, conquistou a Champions League 4 vezes, tornou-se o maior assistente da história e tantos outros feitos. Fora isso, demonstrou uma capacidade de adaptação absurda, ao iniciar como ponta direita, passar algumas temporadas como falso 9 e, na reta final da carreira, atuar na função de meia armador, ao passo que o R10, durante sua estadia na grama, jogou sempre com um médio caindo pela ponta esquerda. Na copa de 2006, quando exigido a ser um meia armador central, não manteve o nível de atuação. O ponto é: em linhas gerais, essa comparação não é cabível. Messi é mais goleador, mais objetivo, tão hábil quanto, tão bom cobrador de falta quanto, mais versátil e mais completo. Por opção pessoal do brasileiro, nós ficamos com a sensação de que não vimos o máximo que o Bruxo poderia nos apresentar. Esse "e se" ficará pra sempre encucado em nossas mentes. 

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Já caminhando ao final, é preciso comentar a questão dos contextos. Comumente, as más línguas falam que o futebol na época do auge do R10 era mais forte em nível técnico, tinha mais craques. De fato, os anos 2000 foram mais democráticos. Zidane, Figo, Eto'o, Henry, Beckham, Owen, Xavi, além de outros grandes e muitas promessas, batiam de frente nos principais torneios europeus e nas premiações individuais. O futebol tinha uma face multipolar. Em contraste, no final dessa década, surgiram, sorrateiramente, dois meninos, um na Argentina e outro em Portugal, que viriam transformar a ordem mundial e estabelecer uma verdadeira guerra fria. Messi e Cristiano Ronaldo ficaram 10 anos seguidos disputando títulos porque o nível abaixou e acabou a concorrência? Não. Isso aconteceu em função do patamar dessas estrelas. Eles são tão bons que foram capazes de, por várias vezes, carregar seus times nos maiores campeonatos do mundo. Caso jogassem com os craques citados acima, eles continuariam sobressaindo. Seria interessante ver tantos gênios juntos. Enfim, atualmente faltam Ronaldinhos no futebol. Os artistas estão acabando. Messi pinta outros quadros, que, para mim, são igualmente bonitos. Contudo, românticos da escola do R10 são cada vez mais raros. Para sempre, ficará a dicotomia da plasticidade, marcada pela interpretação individual e frequentemente distorcida, e a dúvida de até onde o dentuço poderia ter ido. De concreto, temos que o anão foi melhor. 

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