A desvalorização do produto nacional. Torcedores brasileiros que detestam jogadores brasileiros.
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A desvalorização do produto nacional. Torcedores brasileiros que detestam jogadores brasileiros.

Há não muito tempo, no programa "Bem, amigos" do SPORTV, Walter Casagrande fez uma comparação entre Neymar e Mbappé dizendo que o brasileiro focava apenas na própria mídia e no próprio cabelo, ao passo que o francês se preocupava apenas em jo...

André Moraes
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Há não muito tempo, no programa "Bem, amigos" do SPORTV, Walter Casagrande fez uma comparação entre Neymar e Mbappé, dizendo que o brasileiro focava apenas na própria mídia e no próprio cabelo, ao passo que o francês se preocupava exclusivamente em jogar futebol e, por isso, era superior. No entanto, o Casão cometeu uma falha um tanto quanto grave, uma vez que o Mbappé, mais ou menos um mês antes, estava com o cabelo rosa. Ou seja, o "Tartaruga Ninja" muda o seu cabelo e joga muita bola, da mesma forma que o "Adulto Ney" muda o seu cabelo e joga muita bola. Ambos são craques da primeira prateleira do futebol mundial e possuem, inevitavelmente, uma parte midiática grande. Isso acontece desde que o futebol é futebol, só foi mais acentuado com o advento das redes sociais. A questão é que o estereótipo de que jogador brasileiro não é profissional e vive na luxúria ainda ronda o imaginário da maioria dos torcedores e jornalistas. Por conseguinte, a todo momento tentam encontrar motivos para desvalorizá-los. Quer dizer então que todos os jogadores brasileiros ficam revezando entre casa e treino? De jeito nenhum. Existem casos e casos de verdadeiros talentos que poderiam ter alcançado um patamar maior na carreira e foram atrapalhados pela falta de profissionalismo. Por outro lado, é muito pobre e desonesto, da nossa parte, resumi-los a isso e idolatrar europeus cegamente. Infelizmente, aí há estereótipos distorcidos, saudosismo, ódio gratuito e até mesmo preconceitos. 

Pra você que acompanha futebol diariamente, veio um nome certo à cabeça durante a introdução. Vinícius Júnior, do Real Madrid. Já adianto que aqui há um admirador assíduo desse rapaz. Não deve ser nem um pouco fácil ter tanta gente torcendo contra e mesmo assim levantar a cabeça, tentar, tentar, tentar até conseguir. A conjuntura para ele é uma das mais complicadas dentro do futebol profissional de alto nível. Sair do clube brasileiro de maior apelo, aos 17 anos, e ir para o maior time, pelo menos em títulos, do mundo. O Real Madrid, mesmo com toda sua grandiosidade, não é o melhor lugar para desenvolver jovens. Tradicionalmente, as maiores estrelas merengues - a exemplo de Cristiano Ronaldo, Puskás, Ronaldo e Figo - chegaram à capital espanhola já consolidados, sem a necessidade de passarem por aprimoramento técnico e tático. Ou seja, já chegaram prontos para brilhar. Soma-se a isso o fato de que o ídolo e atual treinador, Zinedine Zidane, é um gestor de grupo  e um estrategista tático limitado. Implicância com alguns nomes e falta de capacidade de adequar o time às circunstâncias foram por muito tempo e, por vezes, continuam sendo marcas do trabalho do careca. Traduzindo: um cenário péssimo, que se torna ainda pior com as inúmeras manifestações de ódio. Tudo bem não gostar do Flamengo, o clube de origem. Tudo bem achar que a mídia supervaloriza o jogador. Contudo, tais questões não devem recair sobre o atleta, afinal ele não tem nada com isso, e não devem distorcer a visão sobre a qualidade esportiva. Por coincidência, na data em que essa escrita foi iniciada, Klopp, técnico do Liverpool, disse que o Vini é um jogador especial e que sua zaga daria a ele uma atenção especial no segundo jogo de quartas da Champions. O super jogador Salah rodou por vários clubes, sem obter sucesso, antes de despontar, e o próprio Neymar passou várias temporadas de aprimoramento no Santos antes de chegar à Europa. Mas não, quem está certo é o hater de Twitter que já decretou a falência da carreira de um jovem de apenas 20 anos. 

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O segundo nome é ele que já apareceu várias vezes aqui nesse mesmo texto: Neymar Jr., o melhor jogador do mundo. Volto a reafirmar que, após Ronaldo Fenômeno, ele é o melhor jogador brasileiro. Após um início excelente de carreira no Santos como ponta esquerda, aprimorou seu jogo coletivo no Barcelona e sua capacidade de liderança na seleção brasileira. Hoje, atua como um meia armador capaz de fazer uma transição perfeita em meio ao jogo reativo do Paris Saint Germain e conduzir com maestria os ataques com Mbappé e Di Maria. É muito raro ver um jogador com essa capacidade de reinvenção e de fazer duas posições na mesma qualidade. Eu me arrisco a dizer que nem Ronaldinho Gaúcho conseguiu esse feito. Um jogadoraço! Porém, como sempre, a mídia, principalmente, insiste em vendê-lo como um irresponsável e mimado. O futebol não pode ser tratado como uma realidade paralela em que as pessoas fazem o que bem entender e, mesmo assim, nunca foi, não é e nunca será uma área de exemplo de bons costumes, vide Romário, os Ronaldos, Edmundo e cia ltda. Neymar erra em atitudes externas e com infantilidades em campo, mas, antes de tudo, é um jogador, que vai ser admirado pelas jogadas em campo. E muitas ocasiões, os jornais europeus o exaltam de forma mais contundente por enxergá-lo como um astro do esporte, não como um exemplo a ser seguido em questões éticas e morais. A avaliação influenciada por esses pontos comportamentais gera, mais uma vez, distorções sobre o foco, que é o jogo dentro das quatro linhas, e, consequentemente, a desvalorização de um dos maiores talentos que o Brasil já produziu. 

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"Na minha época, não tinha essas coisas de chuteira e cabelo coloridos", já dizia o saudosista. O argumento de que jogadores são estrelas e não profissionais do esporte, como utilizado pelo comentarista Casagrande, empregado com o objetivo de desmerecer os brazucas, é totalmente inválido. Partamos do ponto que vivemos na era digital, em que as redes sociais estão presente na maioria dos convívios. O marketing, a mídia, a exposição invadiram todos os esportes e mercantilizaram atletas, equipes e competições, à medida que a visibilidade cresceu. Atualmente, tudo é produto. Eu e você somos utilizados como "outdoors". Um cabelo diferente, uma chuteira colorida, um post mais bem humorado são apenas manifestações da irreverência própria do brasileiro, inseridas nesse contexto em que todas as coisas são capitalizadas. A marca do Michael Jordan de material esportivo, a transformação visual de Lionel Messi ao longo da carreira, a existência de canais que expõem visualmente as brincadeiras e a rotina dos elencos são alguns exemplos de novos tempos no futebol. Isso não é exclusividade do Brasil e nem tampouco uma coisa negativa. Como eu sempre digo, nada dura pra sempre no futebol. A força midiática não é inimiga da concentração profissional e é praticamente intrínseca à figura do jogador de futebol do século XXI. Portanto, é necessário que os torcedores e profissionais de imprensa revejam os motivos e a validade dos julgamentos. Nem tudo é razão para jogar pedra em uma pessoa que já é constantemente odiada. A produção nacional de atletas ainda é muito boa e deve ser valorizada enquanto ainda está ativa. Quem garante que daqui a 5 anos nós teremos um craque de primeiro nível no futebol mundial?

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