A falta de critério dos clubes brasileiros quanto à definição de um padrão de jogo.
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A falta de critério dos clubes brasileiros quanto à definição de um padrão de jogo.

É de conhecimento geral que o futebol brasileiro, em contraste com as principais ligas europeias, é permeado por trocas constantes no comando técnico. Quando muito, um treinador fica no mesmo clube por um ou dois anos. A maioria deles ocupa o...

André Moraes
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É de conhecimento geral que o futebol brasileiro, em contraste com as principais ligas europeias, é permeado por trocas constantes no comando técnico. Quando muito, um treinador fica no mesmo clube por um ou dois anos. A maioria deles ocupa o cargo por três meses e é pressionado, pela torcida e pela imprensa, a cada duas derrotas. Nesse contexto, os jogadores entram em contato com variadas ideias de jogo ao longo de uma mesma temporada, e o time raramente adquire um padrão tático que encaixe com as opções disponíveis no elenco.

No início de 2019, a gestão de Rodolfo Landim chegou ao Flamengo com altos investimentos, qualificando o time com nomes como Gabigol, De Arrascaeta e Bruno Henrique. Abel Braga foi o nome escolhido para comandá-los e, posteriormente, mostrou-se uma opção equivocada. O técnico renomado sempre montou suas equipes de forma reativa, com um centroavante fixo no meio da área e dois pontas velozes explorando os buracos da equipe adversária durante os contra-ataque. Em contrapartida, o time rubro-negro considerado titular dispunha de dois médios que alternavam entre a beira do campo e a armação centralizada, enquanto os atacantes percorriam todo o terço final do campo e trocavam de posição regularmente. Tragédia anunciada. Não deu certo. 

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Com Jorge Jesus, que até então era uma aposta do comando de futebol do Flamengo, a história foi outra. Linhas altas, marcação ajustada com o conceito de bola coberta e bola descoberta, pressão na saída do adversário, muitas "roubadas" no campo de ataque, movimentação constante dos quatro homens de frente, saída de bola com uma linha de três e todas as estratégias mais que encaixavam perfeitamente com a equipe formada por Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís, Arão, Gerson, De Arrascaeta, E. Ribeiro, BH e Gabigol. 

Após a saída polêmica e mal explicada do comandante português, Marcos Braz e Bruno Spindel foram à Europa aparentemente sem noção do estilo de jogo que queriam imprimir na equipe daí pra frente. Domenec Torrent, um guardiolista raiz, adepto do jogo posicional, era simplesmente o oposto de Jesus. Apesar de ambos buscarem manter a posse de bola e propor o jogo, o catalão armava o time com o objetivo de ocupar os espaços do campo para gerar superioridade numérica em todas as áreas, um estilo que, se não for adequadamente treinado e compreendido pelos jogadores, pode reduzir a mobilidade e a dinamicidade do jogo. Enfim, esse breve histórico rubro-negro é útil para uma conclusão: a diretoria, em momento algum, se preocupou em manter a sintonia entre comissão técnica e elenco e não buscou definir uma forma tática permanente na equipe. Um técnico incompatível com seus próprios jogadores e uma mudança de estilo brusca no meio de uma temporada completamente atípica evidenciaram a incompetência de muitos nomes fortes do Flamengo.

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Em meio ao cenário tenebroso conduzido por Flamengo, Palmeiras - com a sequência Mano Menezes, Vanderlei Luxemburgo e Abel Ferreira -, Atlético MG - Dudamel e Sampaoli -, além de tantos outros que possuem um orçamento mais modesto, destaco alguns clubes que podem ser exceção a esse "normal" do nosso futebol: Grêmio, São Paulo e Santos. Desde de setembro de 2016, Renato Portaluppi, ou também Renight, está no comando do tricolor gaúcho e conseguiu impor suas ideias. Com um estilo de jogo rápido que perdura por quase quatro temporadas, ele já conquistou uma Copa do Brasil, uma Libertadores e uma Recopa Sul-Americana.

Após mais de um ano com Fernando Diniz, jogando com passes curtos, posse de bola administrada e construção de jogo desde a defesa, o São Paulo resolveu seguir com Hernán Crespo, que promete dar continuidade no projeto. A saída de bola que causou emoção e até alguns ataques cardíacos nos são paulinos continuará (rs). Por fim, o nome de Ariel Holán é a bola da vez no Santos. Na opinião deste que vos escreve, bola dentro da diretoria santista. Em seus trabalhos no Independiente e na Universidad Católica, ele armou equipes ofensivas, com pontas agudos e muitos jogadores da base. Promete dar "match" com o elenco de Marinho, Soteldo, Kaio Jorge e tantos outros.

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A partir de algumas exceções, como as citadas anteriormente, espera-se que os clubes brasileiros busquem alavancar o nível dos departamentos de futebol. A alternativa de instituir uma comissão técnica permanente completa, com analistas, preparadores e técnico interino, é capaz de ajudar na missão de manter uma continuidade de projeto tático, tão rara nas terras tupiniquins. 

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