Está na hora de acabar com as discussões de telões e pontos biométricos.
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Está na hora de acabar com as discussões de telões e pontos biométricos.

Paulo Sousa chegou ao Flamengo. Apesar da possibilidade anunciada da contratação de um estrangeiro pouco conhecido, a notícia surgiu em um momento inesperado. Quando a expectativa pelo retorno de Jorge Jesus à Gávea atingiu o seu ápice, vário...

André Moraes
4 min
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Paulo Sousa, em sua coletiva de apresentação.
Paulo Sousa, em sua coletiva de apresentação.

Paulo Sousa chegou ao Flamengo. Apesar da possibilidade anunciada da contratação de um estrangeiro pouco conhecido, a notícia surgiu em um momento inesperado. Quando a expectativa pelo retorno de Jorge Jesus à Gávea atingiu o seu ápice, vários portais anunciaram o “plot twist”: velas portuguesas seriam novamente lançadas ao mar com destino ao Brasil. No entanto, dessa vez, elas partiriam da Polônia. Corajosamente, o capitão Paulo contrariou a Federação Polonesa, deixou público o seu desejo de treinar o Rubro Negro e, com isso, já ganhou o coração da maioria da torcida.

A onda de estrangeiros no Brasil é recente e, por isso, sempre quando algum deles “dá as caras”, ocorre o famoso choque cultural. O novo “mister” traz inovações tecnológicas, altera regras de convivência e faz alguma crítica a um hábito recorrente do clube no qual ele acabou de chegar. Automaticamente, as mesas redondas - que, nessa época do ano, sofrem de carência de pauta - fazem discussões demoradas sobre os efeitos das novas medidas, as páginas de memes dizem que um jogador X não vai aguentar a rigidez e os torcedores ficam aflitos quanto à durabilidade do novo comandante. Esse roteiro já está mais que batido e, obviamente, com Paulo não seria diferente.

O treinador do rubro-negro exigiu um telão no gramado do Ninho do Urubu, instituiu um ponto biométrico para controlar o tempo de permanência no CT e proibiu o uso de celular durante as refeições. Pronto! Três medidas simples foram o suficiente para causar um furdúncio no meio futebolístico. Ao que tudo indica, nomes de Portugal, Argentina e Uruguai serão cada vez mais comuns nas comissões técnicas nacionais. Está na hora de dar um basta nesses episódios. 

Os jogadores fizeram na terça (11) o primeiro treino com o telão.
Os jogadores fizeram na terça (11) o primeiro treino com o telão.

Primeiramente, as novas regras que são impostas, na maioria dos casos, cumprem um propósito.  Por exemplo, o telão no campo de treino serve para corrigir situações táticas, o controle do tempo foi instituído para aumentar o foco e o confisco do celular tem o objetivo de estimular as conversas sobre o jogo. Por trás, há uma razão. Raramente, ocorrerá uma situação semelhante à de Luxemburgo com os “Galácticos” do Real Madrid, em que o técnico brasileiro suspendeu as atividades de lazer e as bebidas do elenco, sem um motivo aparente e perdeu as rédeas da equipe.

Além disso, o nível de competitividade do Brasil é baixo. É inegável que nós somos o “segundo mundo” do futebol. Em função disso, o contato com profissionais estrangeiros deve ser aproveitado para elevar os parâmetros de preparação, tática, técnica, psicologia, fisiologia e análise nacionais. Todos os departamentos podem evoluir com as intervenções de quem já trabalhou em um ambiente melhor preparado. E, vale ressaltar, ainda, que a excelência é um hábito (peço perdão desde já pelo clichê). A estrada para os títulos é pavimentada por atitudes diárias. Dessa forma, qualquer medida extra de disciplina coloca o time em outro patamar com relação aos demais no Brasil. 

Paulo, Marcos Braz e Gabi. Primeiro dia do novo comandante no CT.
Paulo, Marcos Braz e Gabi. Primeiro dia do novo comandante no CT.

Por fim, é preciso discutir a omissão dos departamentos de futebol. Antes disso, permita-me fazer uma comparação entre Estado e Governo. Governos são efêmeros, trocados de quatro em quatro anos. Cada presidente segue algumas diretrizes próprias. Já o Estado é permanente. Apesar das políticas individuais de cada governante, as regras que o compõem não podem ser alteradas. De forma análoga, o departamento de futebol de um time é o Estado, e cada técnico que passa por lá é um governo. Em um cenário ideal, os departamentos deveriam instituir a parte de “scouting”, as regras disciplinares, o mapeamento do mercado, entre outras questões. Assim, tais aspectos não seriam mudados de acordo com o treinador vigente no momento. No entanto, como esse trabalho não é desenvolvido na maioria dos clubes, o treinador é obrigado a acumular mais funções que o previsto e o ciclo de discussões inúteis é perpetuado no ambiente esportivo.

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