Giro da Europa: Fim da janela de transferência mais surpreendente da história - O que ela revelou sobre cada time envolvido...
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Giro da Europa: Fim da janela de transferência mais surpreendente da história - O que ela revelou sobre cada time envolvido...

Ninguém esperava nada nem perto disso. Messi fora do Barcelona? Jogando junto Sergio Ramos? Cristiano Ronaldo de volta ao United? A normalidade passou longe. Muito longe. A quilômetros de distância. Caso tudo isso acontecesse em um intervalo ...

André Moraes
11 min
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CR7, Messi, Grealish - Imagem de Ge.globo.com 
CR7, Messi, Grealish - Imagem de Ge.globo.com 

Ninguém esperava nada nem perto disso. Messi fora do Barcelona? Jogando junto Sergio Ramos? Cristiano Ronaldo de volta ao United? A normalidade passou longe. Muito longe. A quilômetros de distância. Caso tudo isso acontecesse em um intervalo de tempo de 10 anos, já seria muito estranho. No entanto, tivemos o privilégio e o espanto de assistir a tudo isso em, aproximadamente, um mês e meio.

Em síntese, as principais transações foram: Grealish no Manchester City; Sancho, CR7 e Varane no Manchester United; Konaté no Liverpool; Romero, Emerson e Bryan Gil no Tottenham; Ben White e Odegaard no Arsenal; Lukaku e Saul no Chelsea; Upamecano e Sabitzer no Bayern de Munique; Malen no B. Dortmund; Memphis, Aguero e Eric Garcia no Barcelona; Camavinga e Alaba no Real Madrid; Matheus Cunha, De Paul e Griezmann no Atlético de Madrid; Ramos, Messi, Hakimi e Donnaruma no PSG; Locatelli na Juventus; Abraham na Roma; Dzeko na Internazionale; e, por fim, Giroud no Milan.

Parece que o jogo virou, não é mesmo? Alguns afirmaram a própria filosofia, outros deram tiro para todo lado, outros se renderam à incompetência, outros trabalharam em silêncio. Teve de tudo. Fato é que a "Janela das Janelas" veio para rasgar o véu e escancarar em quais caminhos cada gigante europeu pretende seguir nos próximos anos. Os "sheiks" estão, cada vez mais, empenhados em tirar o bastão dos tradicionalíssimos que dominaram o mundo do futebol durante muito tempo e criar uma nova época, na qual os clubes artificialmente impulsionados possuem o protagonismo, como Man. City, PSG e Chelsea - os Reis do Camarote -. Nós, meros mortais torcedores, seremos presenteados com uma temporada, ao que tudo indica, equilibrada e jogada no mais alto nível. A Champions League 21/22 tem potencial para ser a melhor em, pelo menos, 5 anos. A ver se nossas altas expectativas serão confirmadas. 

Sergio Ramos, Aguero, Sancho - Buzzfeed (Uol).
Sergio Ramos, Aguero, Sancho - Buzzfeed (Uol).

Primeiramente, a Meca atual do futebol: Inglaterra. Cada um com seu cada qual e quase todos indo muito bem. Como você reparou, eu disse "quase", então nada mais justo do que iniciar com a exceção. O Arsenal teve a pior atuação entre todos. Gastou quantias exorbitantes para receber um retorno técnico mediano. Para contar com Odegaard e Ben White, a instituição desembolsou aproximadamente 95 milhões de libras, quantia que, caso fosse melhor utilizada, seria capaz de reforçar todo o elenco e colocá-lo na disputa pelo G4 no campeonato nacional. Contudo, o time ainda é tecnicamente mediano, não tem condições de disputar igualmente contra as potências e deixa a desejar na parte da tática. O Chelsea foi o mais assertivo. Lukaku e Saul chegaram para conferir versatilidade e elevar, ainda mais, a qualidade do elenco. Tomas Tuchel, agora, tem à disposição o melhor pivô do mundo e um centroavante cuja principal característica é a movimentação, os melhores volantes da Europa na última temporada e um médio organizador que foi destaque durante uma década na Espanha. O trabalho no futebol é milimetricamente calculado e coordenado em todas as áreas. Em campo, o treineiro, por meio da famigerada linha de cinco, encontrou um equilíbrio raro entre as fases ofensiva e defensiva. Defesa sólida e ataque rápido. Fora dele, um plantel farto, mesclado entre jogadores excelentes e muito bons, fruto de uma revolução silenciosa. É favorito aos principais campeonatos do ano. O Tottenham, por muito incrível que pareça, foi bem. Sim, o Tottenham foi bem. Você não leu errado. O destaque, entretanto, não está na conta de uma contratação bombástica no campo, e sim da manutenção de Harry Kane, um dos 5 jogadores mais valiosos da atualidade e super requisitado, e da troca de comando de José Mourinho por Nuno Espírito Santo. Sinais claros de evolução.

Lukaku estreou com gol na Champions League. 
Lukaku estreou com gol na Champions League. 

Agora, peguemos um trem de Londres para Liverpool. Em mares vermelhos, de novo, apenas Konaté e Elliot. Um pouco frustrante em face do desempenho da temporada passada e dos avanços dos rivais. A chave para Jürgen Klopp será recuperar o ânimo de um time ultra vencedor e elevar a criatividade na "zona 14". A linha de zaga - Arnold, Matip, Van Djik e Robertson - alia segurança e criatividade. A cabeça de área com Henderson e Fabinho flerta com a intransponibilidade. A carência mora nas entrelinhas, uma área fundamental para a produção de jogadas ofensivas de qualquer time do mundo. O movimento do atacante - ora Jota, ora Firmino - baixando para buscar a bola nessa zona está sendo batido com relativa tranquilidade nos últimos jogos. Elliot ou Thiago podem ser conduzidos a atuar nessa faixa. Hora de completar o tour inglês pegando um avião de Liverpool para Manchester. Antes de xingar até a quarta geração dos dirigentes que recusaram Messi e Cristiano Ronaldo na mesma janela, entendamos a lógica por trás, se é que ela existe. Os azuis, como já explicado algumas tantas vezes aqui no Portal, fazem parte do Grupo City, uma empresa futebolística que deseja padronizar e embelezar o estilo de jogo de todos os seus times pelo mundo. Isto é, praticamente criar uma marca dentro de campo, por meio da parte tática e técnica. Isso envolve muitos fatores. Goste você ou não, é um projeto, de médio a longo prazo, calculado para imprimir uma filosofia de jogo, superior a um título imediato. Por isso, é mais interessante gastar uma quantia maior em um jogador novo, que contribua para tais objetivos pouco usuais, a uma lenda do futebol, que, de imediato, provoque mais impacto. Estranhamente lógico, eu sei, mas o City continua sendo um dos favoritos a tudo. É o time com maior capacidade de criação do mundo, com o melhor treinador da história. E o United, hein? Surpreendeu a todos. Com essa atuação pra lá de excelente nas transferências, a equipe tem em mãos a capacidade de dar o maior salto na esfera dos títulos. Abandonar, de vez, a prateleira Europa League e chegar na turma do fundão da Champions. Dois laterais, Wan Bissaka e Shaw, excelentes, zaga reforçada com Cavani, volância com alta qualidade de passe, pontas agudos e a cereja do bolo: o maior artilheiro por seleções da história, o maior Ronaldo de todos. E, em bom português, ele deve jogar preferencialmente centralizado. Já passou sua época de extremo. Prevejo muitos jogos da Premier League sendo decididos por apenas um jogador. 

Varane promete elevar a segurança defensiva. 
Varane promete elevar a segurança defensiva. 

E na Alemanha? Sem dúvida, as coisas foram mais calmas. Enquanto ingleses e franceses, como sempre, estavam em guerra entre si, o Gigante da Baviera resolveu que era hora de esfacelar outro alemão além do Borussia Dortmund. Foi a vez do RB Leipzig. Nagelsmann, técnico muito promissor, Upamecano, defensor veloz, e Sabitzer, meia versátil, vieram do mesmo destino. O que já era bom ficou melhor. O comando técnico segue na mesma escola e mais tecnológico, visto que o novo treinador é fã numero 1 das tecnologias de big data para montar esquemas e corrigir situações de jogo. O zagueiro já chega para jogar e o meia deve ser utilizado com frequência durante a temporada. Mais uma vez, um caso de filosofia. Raramente, o Bayern vai gastar 100 milhões de euros em um jogador. O investimento é diluído na melhoria das categorias de base, na infraestrutura do clube e em contratações pontuais no mercado alemão. Esse é o ciclo que alimenta o clube bávaro. Silencioso e fiel aos seus princípios, a equipe sempre se mantém no topo. 

Sabitzer, novo meio-campo da equipe bávara. 
Sabitzer, novo meio-campo da equipe bávara. 

Chegou a vez da Espanha. Pelos ares catalães, as notícias, definitivamente, não são boas. Dentre aqueles considerados gigantes no continente europeu, o Barcelona está no maior buraco financeiro-administrativo. A péssima gestão do ex-presidente Bartomeu, que torrou quantias absurdas em jogadores que passaram longe de corresponder às expectativas - vide Coutinho e Dembele -, aliada à inesperada pandemia de COVID 19, um completo banho de água fria no clube dependente da arrecadação do seu estádio e do seu museu, foram decisivos para encaixar a instituição blaugrana nessa situação desesperadora. Devido às dificuldades de manter a folha salarial e cumprir as regras do fair play financeiro, o clube perdeu o maior jogador da sua história e outras peças fundamentais, como Griezmann e Emerson. Ademais, o comando técnico é pouco confiável. Koeman, na temporada passada, demorou para definir um padrão de jogo e preteriu algumas peças importantes. É o primeiro treinador, em quase 20 anos, não adepto do jogo posicional. Há muito a ser corrigido, mas os horizontes mais bonitos estão na mescla da juventude, representada por Pedri, De Jong, Fati e cia ltda, com novas caras que chegaram recentemente, como Memphis Depay, o principal nome do time pós-Messi. E, na capital, poucas caras novas: apenas Alaba e Camavinga. Por pouco, o taturuga francês não entra nisso. A principal novidade está a beira do campo. Carlo Ancelotti foi uma boa aposta da diretoria madridista. A equipe vinha dando sinais que necessitava de um bom gestor de grupo, para conduzir uma renovação gradual na equipe base dos últimos anos. Com isso, nomes como Valverde, Vinícius Jr, Rodrygo e o próprio Camavinga, devem aparecer com mais frequência. Ou seja, uma montagem mais próxima do mérito. 

Memphis Depay, o novo líder do ataque do Barcelona. 
Memphis Depay, o novo líder do ataque do Barcelona. 

Na França, o entretenimento. Agradeçamos ao PSG pela dose cavalar de diversão que ele nos proporcionou. Para muitos, não para mim, a melhor janela de transferências da história. Há muitos pontos negativos entorno dessa equipe, mas, sem dúvida, será super interessante a reedição de "Neymessi", juntamente com Sergio Ramos. O sheik dono da p@*# toda está simplesmente brincando de "master league" ao contratar os nomes mais caros do mercado. Por mais que não falte cédulas por lá, o planejamento de elenco está longe de ser ideal. Às vezes, eu penso que está longe até de existir. O time vive de tiros curtos e contrata pensando só no amanhã, em detrimento de temporadas mais distantes. Em razão disso, é comum ouvir a frase "se o Paris não ganhar a Champions esse ano, não ganha nunca mais". A diretoria enxerga mal de longe. A montagem do elenco não engloba os garotos da base, o estilo de jogo do técnico e nomes que podem servir de referência na instituição durante algumas décadas. Nesse contexto de falhas, é possível incluir a carência de jogadores de nível muito bom. No plantel, há alguns nomes excelentes e muitos médios. Para chegar ao topo, é necessário ter muito jogadores que se encaixam na média desses dois níveis, como Gnabry, Werner, Pulisic, Sané, Mahrez. Esses são exemplos que compõem o time titular com maestria e, concomitantemente, são ótimas opções de banco em caso de desfalques. Acredite se quiser: eles farão falta ao Paris Saint Germain nesse ano. 

O super pacotão do PSG para a temporada. 
O super pacotão do PSG para a temporada. 

Por fim, e não menos importante, a Itália. A Inter de Milão sofreu dois golpes duríssimos: as saídas de Lukaku e Antônio Conte. Aos trancos e barrancos, a diretoria tentou fazer reposições, que, mesmo sendo boas escolhas, não mantiveram o nível das peças perdidas. Dzeko é um grande atacante de área, com boa presença, finalização apurada e pivô construtivo. No entanto, o antigo centroavante está no bolo dos cinco melhores do mundo na posição, no auge da forma física e passando pela melhor fase da carreira. De tal forma, Inzaghi ainda está na casa dos técnicos promissores, ao passo que Conte é um nome consolidado e colecionador de grandes trabalhos. O nível caiu. Fato. E a Juventus, por sua vez, está no "nem tanto o céu, nem tanto a terrra". Obviamente, não é boa notícia pra ninguém perder o Cristiano Ronaldo, vindo da primeira temporada, em muito tempo, que não conquistou a Ligue One. O ânimo não é dos melhores. Em outro sentido, houve boas notícias nesse início, como a contratação de Locatelli, um dos destaques da Itália campeã da Euro, a ascensão de Chiesa e a chegada de Allegri ao comando técnico. A perspectiva é de evolução tática, uma vez que o trabalho de Pirlo deixou, e muito, a desejar, de solidez defensiva com Chiellini e Bonucci, e de protagonismo repartido entre Chiesa e Dybala.

O novo professor da Velha Senhora. 
O novo professor da Velha Senhora. 

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