Os Cemitérios do Banco da Vitória.
Os Cemitérios do Banco da Vitória. |
Por Roberto Carlos Rodrigues |
O primeiro cemitério de Ilhéus, BA, foi instituído no ano de 1556, quando da criação da Freguesia da Invenção da Santa Cruz de São Jorge dos Ilhéus. Como hábitos da época, os cristãos eram sepultados nas igrejas ou nos cemitérios construídos nas suas redondezas. Quem não era cristão ou era escravizado era sepultado em propriedades rurais, ou as ermas, ao longo de estradas ou margens de rios. Os sepultamentos em igreja, a bem da verdade, permaneceram comuns no Brasil até o século XIX. |
Até o ano de 1875 não existia cemitério oficial em Banco da Vitória. Como o então povoado ilheense não possuía capela ou igreja católica, os mortos mais abastados eram sepultados nos cemitérios de Ilhéus. Os pobres moradores da localidade eram sepultados no cume do atual Alto Santa Clara ou na margem esquerda do rio Cachoeira, provavelmente, nas proximidades dos fundos da atual escola Dom Bosco. Ali existia um local de sepultamentos clandestinos, dedicado aos criminosos ou malfeitores. Este local se chamava Cachorro Assado. |
Até o final do século XIX era comum nas propriedades rurais sulbaianas as existências de pequenos cemitérios, onde eram sepultados seus proprietários, parentes e empregados. Os escravizados não eram sepultados nestes locais, mas sim nas matas das propriedades. No século seguinte, muitas fazendas de cacau mantiveram cemitérios próprios e essa prática perdurou até o meio desse século, quando foi abolida por lei federal. |
No ano de 1875, um velho escravizado da Fazenda Victória, que servia há vários anos diretamente a esposa de Ferdinand von Steiger, Amélia Steiger (de Sá Bittencourt Câmara) faleceu e atendendo ao seu pedido, ele foi sepultado em Banco da Vitória, em uma área doada pela esposa de Steiger, no sopé do Alto Santa Clara. Provavelmente este foi o primeiro túmulo erguido no que viria a ser, depois, o cemitério de Banco da Vitória. |
Atendendo uma recomendação sanitária inglesa dos anos oitocentistas e, provavelmente conhecida pelo fazendeiro Steiger, os cemitérios deviam ficar afastados das moradias, fontes de águas e de córregos. Por conta disso o cemitério do Banco da Vitória foi implantado no Alto da Santa Clara e foi ocupado ao longo dos anos de cima para baixo. |
Este cemitério tinha uma particularidade: as pessoas prósperas e brancas eram sepultadas no cume do morro, como sinal de prestígios ou ascensão religiosa. Negros e pobres eram sepultados na parte inferior do morro. |
No início do século XX a prefeitura municipal de Ilhéus oficializou o cemitério de Banco da Vitória. Como a propriedade da área ocupada para este fim estava em litígio entre os herdeiros de Steiger e Amélia Sá, este cemitério não foi registrado com o nome de um santo, como os cemitérios ilheense de Nossa Senhora da Vitória, no atual Alto Teresópolis, São Jorge, no Alto do Basílio e São João Batista, no Pontal. Os herdeiros de Steiger que eram protestantes aceitaram doar as terras do cemitério para o município de Ilhéus, desde que não fosse colocado nome de santos católicos. Isso foi atendido. |
Por sinal, Amélia Steiger, que doou as terras do cemitério de Banco da Vitória, era católica e quando faleceu em 10 Março 1880 aos 46 anos (idade), foi sepultada na Capela Nossa Senhora Santana, na localidade do Rio do Engenho, sendo este monumento o mais antigo subsistente em Ilhéus. Esta capela foi construída no século XVI nas terras do Engenho de Sant'Ana, que pertenceram ao então governador-geral da Bahia Mem de Sá. |
Quando da inauguração oficial da primeira estrada entre as cidades de Ilhéus e Itabuna, em 01 de março de 1928, o cemitério de Banco da Vitória passou a ser mais conhecido pela população regional, visto que essa via passava bem em frente a essa pequena necrópole. Essa velha estrada foi desativada no ano de 1952, quando da abertura da nova rodovia BA 415, que passou no meio da localidade em voga. |
Além deste cemitério oficial, a localidade de Banco da Vitória tem relatos de mais quatro outros locais onde eram feitos sepultamentos. O mais notório cemitério não oficial da localidade era situada na antiga Fazenda Victória. Este cemitério foi usado por séculos para sepultar escravizados desta propriedade e ficava localizado na parte superior da atual represa, onde era conhecido como o Terceiro Bambuzal. Acredita-se que neste local existem dezenas de restos mortais dos antigos escravizados de origem africana. |
Vale oportunamente frisar que o fazendeiro Steiger, que era notavelmente um excelente biólogo, deve ter indicado este local para o cemitério dos seus escravizados por conta do poder de destruição das raízes das plantações de bambus. Por este motivo, poucos ou raros restos mortais podem ser encontrados neste local. Fazendo isso, os escravizados da Fazenda Victória não podiam render homenagens póstumas aos seus ante queridos. Pratica, essa, abolida pelo Fazendeiro Steiger. |
Até a década de setenta do século passado era possível encontrar os restos de antigas catacumbas (quatro ou cinco) no cume da propriedade da antiga Cerâmica Vitória (próximo a atual Rua Givanildo Amorim (Ruinha). Alguns moradores antigos dizem que ali existiam mais de 10 sepulturas, na parte de baixo, sendo essas destruídas quando da ampliação da cerâmica na década de setenta. |
Além destes dois cemitérios, foram descobertos dois locais indígenas nessa região que indicavam sepultamentos. Um pequeno cemitério foi encontrado a poucos metros da atual ponte sobre o Rio Cachoeira, quando da abertura da estrada para o distrito de Maria Jape. Outro local de sepultamentos indígenas foi localizado no atual Alto Frei Domingos (Antiga Mata da Rinha), quando das pesquisas de prospecção de petróleo feitas pela Petrobrás no início da década de oitenta do século passado. Segundo alguns moradores de Banco da Vitória que auxiliaram os serviços dos técnicos da Petrobras, este local foi identificado apenas como uma cova coletiva de índios e não um cemitério propriamente estruturado. |
Nem na Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), que coordenou as obras da estrada de Maria Jape, nem na Petrobrás, encontramos registros destes cemitérios indígenas. As únicas evidências destes locais de sepultamentos são as antigas oitivas dos moradores de Banco da Vitória. |
Atualmente o cemitério de Banco da Vitória está superlotado e atende a maioria dos sepultamentos dos moradores da Zona Oeste de Ilhéus. Se não for ampliado, em pouco tempo, esta pequena necrópole terá de ser desativada. |
Aí, neste caso, resta uma pergunta oportuna: onde será construído o novo cemitério da Zona Oeste de Ilhéus? |