A cachorra — Pilar Quintana
0
0

A cachorra — Pilar Quintana

O quanto a não realização dos nossos maiores sonhos pode acabar nos transformando naquilo que mais tememos? É com esse questionamento que começo a contar a história da colombiana Damaris. Uma mulher com quase 40 anos, que mora na região coste...

Sofia Breder
2 min
0
0
Email image

O quanto a não realização dos nossos maiores sonhos pode acabar nos transformando naquilo que mais tememos? É com esse questionamento que começo a contar a história da colombiana Damaris. Uma mulher com quase 40 anos, que mora na região costeira e uma das mais pobres da Colômbia. Ela e o seu marido sonham em ter filhos, mas o casal nunca conseguiu realizar esse sonho. Tentaram todos os chás, feitiços e curandeiros disponíveis, mas Damaris nunca engravidou.

Carregando essa dor sempre consigo, um dia Damaris encontra a oportunidade de adotar uma cachorrinha muito frágil e recém nascida que perdeu a sua mãe envenenada. Nossa personagem encontra nessa oportunidade a chance de dedicar a alguém todo amor que nunca pode depositar em seus filhos.

Porém, assim como pode acontecer com os filhos, a cachorrinha Chirli não atende todas as expectativas de Damaris e, muitas vezes, segue um rumo diferente do que a dona imaginou para ela, fugindo de casa e passando muitos dias longe. Com isso, a relação das duas começa a estremecer, principalmente no dia que a Chirli aparece grávida.

É um livro muito duro e muito profundo sobre os monstros que podemos nos tornar e sobre os traumas que carregamos ao longo da vida, como eles nos modificam. A dor da Damaris de não se tornar mãe a consome e acaba a transformando em uma pessoa que ela não imaginava ser, principalmente por sempre ter se esforçado para ser alguém tão boa.

A leitura desse livro me lembrou a obra de Buchi Emecheta, As alegrias da maternidade, que também retrata muito as dores das mulheres que querem engravidar, que precisam engravidar para serem socialmente aceitas e carregam essa dor imensa quando essa vontade não se torna realidade. E, quando se torna, com Damaris e a cachorrinha, normalmente não é aquilo que elas esperavam, porque a maternidade ainda é algo muito idealizado, sonhado e perfeito, mas sabemos que a verdade não é exatamente assim.

Deixo o alerta para pessoas que não gostam de ler livros com violência animal, esse livro apresenta bastante, então não recomendo para pessoas sensíveis ao assunto.