O avesso da pele — Jeferson Tenório

"Na primeira vez que ouviu falar em consciência negra, você não compreendia que a sociedade se importava mais com a sua cor do que com o seu caráter."

Um filho contando a história do seu pai, é sobre isso que esse livro se trata. Porém, o motivo da contação dessa história é bem triste. O pai, Henrique, acabou de falecer. E agora o filho precisa se deparar com todos seus objetos e sua história deixada para trás, uma história ainda não contada e pouco conhecida até pelo próprio filho.

É a partir dessa iniciativa que vamos mergulhar na história do professor Henrique e na sua luta contra o racismo, o preconceito social, o abandono parental e a opressão policial desde muito cedo. Vamos acompanhar a sua infância, a sua inocência, até a sua descoberta do que é ser um homem negro morando no Sul do Brasil, mais especificamente em Porto Alegre.

Vamos conhecer seus vazios, suas dores, seus questionamentos e a falta de repostas para os mesmos. Vamos entender um pouco mais sobre a sua trajetória e entender o que levou aquele professor, apaixonado pelo livro russo Crime e Castigo, encontrar com uma morte tão trágica e cruel.

Mas não tem como entender e não se revoltar. E não fechar o livro e precisar respirar uma e duas vezes porque é doloroso, é injusto e nós sabemos que essa é a realidade. Que pessoas negras continuam sendo abordadas, presas e mortas todos os dias unicamente pela cor da sua pele. E é por isso que Henrique pede ao seu filho: “preserve o seu avesso, porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo.”

É um livro forte, impactante, contado de maneira incrível, sensível e envolvente. É um livro que precisa de pausas para absorver e aprender com tudo que foi dito, mas que, ao mesmo tempo, é um livro que você não quer largar e quanto chega no final você só quer ler mais sobre o que Jeferson Tenório tem para ensinar. Foi um prazer fazer essa leitura e, ao mesmo tempo, ver essa literatura tão potente ganhando o prêmio Jabuti. Acho que nem preciso deixar mais motivos aqui, é uma leitura obrigatória para todo brasileiro.