JFK e a vacina para crianças
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JFK e a vacina para crianças

A aprovação da vacina da Pfizer contra o coronavírus para crianças a partir dos 5 anos de idade trouxe alívio para muitos pais aqui nos Estados Unidos, mas não para todos. Pesquisas recentes mostraram que menos de 30 por cento dos responsávei...

Eduardo Barão
3 min
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A aprovação da vacina da Pfizer contra o coronavírus para crianças a partir dos 5 anos de idade trouxe alívio para muitos pais aqui nos Estados Unidos, mas não para todos. Pesquisas recentes mostraram que menos de 30 por cento dos responsáveis pretendem levar os filhos para tomar as doses, o que mostra como não é fácil a batalha das autoridades de saúde americanas em convencer a população.

Tomás, meu filho mais novo de 9 anos, fica ligado nas notícias que informo nas rádios e nas tevês da Band onde trabalho. Mesmo em silêncio, ele vinha acompanhando de perto o momento que a sua vez de tomar a vacina iria chegar. Seu irmão mais velho, Rafael de 12 anos, já recebeu as duas doses da Pfizer faz tempo e chegava muitas vezes brincar com o Tomás que não podia receber a dose.

É rapidinho, só um beliscão
É rapidinho, só um beliscão

Meu caçula ficou atento todo esse tempo não porque estava preocupado com o coronavírus. Tomás tem pavor da agulha sendo protagonista de chiliques constrangedores nos postos de saúde por onde passamos. O medo de Tomás me fez pensar, aliás, quem realmente gosta de agulhas? Conclui no chute que os amantes de tatuagem e os frequentadores assíduos de sessões de acupuntura podem ter no mínimo uma simpatia pela picada.

- Papai, chegou a minha vez.

Foi assim, resignado, num tom quase de lamento que Tomás consentiu que de fato a hora era agora. Mas ele sabe muito bem que essa vacina pode salvar a vida dele. Ele consegue compreender, mesmo com 9 anos, a tragédia humanitária que levou dois tios dele e tantos amigos do papai e da mamãe embora para sempre. Ou seja, apesar de detestar, Tomás não tem dúvidas de que aquela picada rapidinha tira da frente um problemão dele e da família inteira.

A tentativa de convencimento de uma população que não está acostumada com as campanhas de vacinação como a brasileira, parece ser o grande desafio do governo americano. E não será fácil.

Em Dallas, no estado do Texas, centenas de seguidores do Q’Anon, grupo de extrema direita que espalham teorias de conspiração, se reuniram perto do local onde o ex-presidente John F. Kennedy foi assassinado em 1963. Um boato divulgado entre esses seguidores dizia que o filho de JFK, John Kennedy Jr, reapareceria para anunciar a volta de Donald Trump à presidência do país. Com um pequeno detalhe, Kennedy Jr morreu num acidente de avião há 22 anos. Mas essa galera acreditou que ele estava vivo, ficou um tempão escondido e bem agora reapareceria para, sabe se lá como, dizer que Trump é quem teria de estar na Casa Branca.

JFK também estaria vivo nessas teorias malucas
JFK também estaria vivo nessas teorias malucas

Como você consegue convencer essas pessoas a se vacinar? Qual é o argumento que uma autoridade em saúde deveria usar para deixar claro que a dose pode salvar vidas, se eles acham que JFK Jr está vivo? E que além de vivo, depois de 22 anos, vai voltar só para botar o Trump no poder.

Pra surpresa de ninguém, John Kennedy Jr não apareceu. E se tivesse voltado pintado de ouro, talvez nem ele conseguiria mudar a opinião desses americanos sobre a importância da vacina.