Proteja seus filhos dos terríveis desenhos infantis

Por adorar futebol, lia sempre quando criança os quadrinhos do Pelezinho. Era uma homenagem feita pelos estúdios do Mauricio de Sousa, pai da Monica e da Magali, ao Rei do futebol. Mas apesar de não perder um gibi, ver as jogadas do craque na reistinha nunca fizeram minha habilidade dentro de campo melhorar, nunca passei de um zagueiro canhoto esforçado.

Uma vez, admito, pedi para minha mãe deixar experimentar o espinafre que dava força ao personagem do marinheiro Popeye. Comi uma vez, achei amargo, ruim. Diferente do que o desenho mostrava, não cresceram músculos nos meus braços e pernas para salvar a Olivia Palito das garras de um Brutus da vida.

Os criadores de desenhos e personagens infantis ao longo de décadas sempre tiveram objetivos claros. Entreter um público específico com uma linguagem divertida e eventualmente passar uma mensagem positiva. Mas atualmente até essas figuras que nunca fizeram mal para ninguém estão envolvidas em polêmicas acaloradas.

É o caso do simpático Garibaldo, chamado por aqui de Big Bird. Ele é um dos nomes mais famosos da TV americana no seriado Vila Sésamo que está no ar há mais de cinco décadas. O pássaro amarelo começou a ser atacado por todos os lados depois de meter o bico num assunto que é um vespeiro nos Estados Unidos, a vacinação de crianças. Como Garibaldo, tem seis anos de idade, ele avisou que tomou a vacina contra a Covid, após a dose ser liberada para maiores de 5 anos no país.

- Garibaldo, Comunista! Foi o grito da senadora do Arizona, Wendy Rodgers, evidentemente contrária a vacinação e ao bom senso.  Já o senador do Texas, Ted Cruz, um dos maiores apoiadores do ex-presidente Donald Trump, foi além e disse que se tratava de uma propaganda do governo para as crianças. Nenhum dos dois republicanos se lembrou de que foi Trump que teve méritos no ano passado em começar a operação que resultou em aportes bilionários do governo para encontrar uma vacina eficaz contra o coronavírus. A ideia era só malhar o pássaro amarelo.

O pobre Garibaldo que já tinha feito seu papel nos anos 70 quando durante o governo do Republicano, Richad Nixon, tomou a vacina contra o sarampo. Mas não foi motivo de críticas e sim de elogio.

Tenho enorme dificuldade em entender como tudo hoje é motivo de indignação. Como se o Garibaldo tivesse o poder de entrar na minha casa e levar meu filho para um posto de saúde para tomar a vacina se EU, pai, não concordar com aquilo.

Se a minha mãe lá atrás simplesmente falasse que eu não poderia comer espinafre, sei lá por qual razão, eu não teria provado (e reprovado) e ponto final. Se fosse assim, nenhuma criança da minha geração teria tomado banho na vida, lendo os quadrinhos do Cascão.

Claro que é fundamental que todo pai saiba exatamente o que a criança está vendo, lendo ou navegando nos Youtubes da vida. Mas criar polêmica por discordância política com um personagem de desenho precisa ser muito paranoico.

Só faltava daqui a pouco ter gente arrumando confusão se um personagem de desenho animado revelar que é bissexual.