Visite Nova Iorque e pegue Covid

Rodando pelas bandas do ABC paulista nos anos 90, lembro que um dia me deparei com uma faixa que me chamou a atenção, ao cruzar a linha imaginária que separa duas cidades da região. A placa colocada por algum munícipe indignado num poste dizia: VISITE SANTO ANDRÉ E GANHE UMA MULTA. O prefeito da ocasião decidiu espalhar radares de velocidade por todos os cantos, típica pegadinha caça níquel Mesmo com o alerta, era muito difícil escapar da infração. Até tartarugas foram flagradas por estar correndo acima do limite.

Pois hoje aqui em Nova Iorque, a faixa que deveria ser colocada agora na entrada da cidade e nos aeroportos para os turistas é: Visite Nova Iorque e pegue Covid. O alerta parece exagerado, mas assim como o morador de Santo André, do dia para noite a Big Apple se transformou. 

Como disse, me mudei para cá no meio da primeira onda da pandemia. Naquela época, meio de 2020, Nova Iorque era o epicentro da pandemia no mundo. Quando cheguei, parecia cena de filme de ficção. Ninguém, absolutamente ninguém na ruas. Mas aos poucos, com testes e vacinas, a maior cidade americana voltou a ser o que sempre foi, uma loucura. Teatros da Broadway funcionando, restaurantes e bares lotados, a Times Square repleta de turistas achando o melhor ângulo para tirar aquela foto para por no Instagram. O pior parecia de fato ter passado. Parecia...

Com o surgimento da variante ômicron e a queda na temperatura por causa da chegada do inverno, uma fila que não se via faz tempo voltou ao cenário. Pessoas com sintomas da Covid aguardando até 5 horas para fazer o teste numa das clínicas espalhadas por aqui. Tudo foi muito rápido. Números oficiais apontam que houve um crescimento de 640% de casos confirmados em apenas duas semanas. O recorde diário de contaminações foi batido com mais de 21 mil casos positivos em apenas um dia. As máscaras que eram utilizadas apenas em recintos fechados voltaram a ser praticamente obrigatórias em todos os cantos.

Para piorar, espetáculos da Broadway como o badalado Hamilton foram cancelados por falta de elenco. Jogos de basquete do Brooklyn Nets na NBA foram adiados por que o time não tem atletas suficientes para por em quadra, grande parte contaminada. Festas que estavam marcadas não serão mais realizadas, um pesadelo. A única fila que se vê hoje por aqui não para restaurante ou museu, é para fazer teste da Covid.

Os cientistas já tinham dito que o poder dessa nova variante se espalhar era muito maior do que as outras, e Nova Iorque é o exemplo disso. Se tem uma boa notícia, aparentemente a Ômicron não está se mostrando tão letal quanto a Delta, por exemplo. Por outro lado, os hospitais voltaram a ter aumento nas internações.

Sei que muitos brasileiros estão vindo pra cá curtir as festas de fim de ano. Por lei, todos devem estar vacinados, o que diminuiu os efeitos do vírus. Como em Santo André no anos 90, espero que ninguém seja contaminado.