SÍNDROME DO X-MEN
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SÍNDROME DO X-MEN

Tenho me deparado com situações de indisposições entre pessoas que tem me colocado para refletir sobre como estamos hoje. Como estamos conduzindo nossas relações e nos tornado sujeitos. Como as diferenças nos colocam em choque. Será que falta...

Bárbara Brant
4 min
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Tenho me deparado com situações de indisposições entre pessoas que tem me colocado para refletir sobre como estamos hoje. Como estamos conduzindo nossas relações e nos tornado sujeitos. Como as diferenças nos colocam em choque. Será que falta mais generosidade ou mais espaço de intercessão entre eu e o outro?

O fato é que o diferente, o antagônico, o contrário, o avesso, enfim, o outro, me expõe a mim mesmo. E essa exposição tem suscitado confrontos nos mais diferentes campos e níveis por causa da inconformidade com o outro.

Não sou uma cinéfila, porém assisto um filme aqui e outro ali. E sempre me inquietei com a história dos X-Men. Não. Não falo de um filme específico, mas do conceito que envolve a narrativa da história.

Nesta saga, os X-Men são humanos que possuem o átomo superior, o próximo elo na corrente da evolução. Cada um nasceu com uma mutação genética rara, que na puberdade se manifestou em poderes extraordinários. Em um mundo cheio de ódio e preconceito, eles são temidos por aqueles que não podem aceitar suas diferenças. Liderados por Xavier, os X-Men lutam para proteger um mundo que os teme. Eles estão presos em uma batalha contra um ex-colega e amigo, Magneto, que acredita que os humanos e os mutantes não devem viver juntos.

Contundente, não?

Seres humanos que por um acaso ou incidente, se tornam biologicamente diferentes. E sua diferença é marcado por superpoderes. Poderes que os fazem não só diferente dos demais, mas os fazem odiados pelos demais que não sofreram a anomalia. E além. A rivalidade acontece também entre os mutantes. Então temos o desenvolver dessa história, onde os mutantes bons duelam com os maus, a fim de proteger a humanidade, que os teme.

Ok. Essa analogia pode ser exagerada? Pode. Ou talvez não.

Uma vez que um outro rompe com o padrão que eu me enquadro, na norma que entendo como a única, ele se torna diferente. Mutantes talvez. E, muitas vezes, necessariamente o rival. Precisa disso?

Por ser outro, já marca a diferença. E a afinidade não está por ser igual. A afinidade está em respeitar ainda que diferente. A diferença deveria ser o que nos protege e matura. Contudo, a diferença tem sido o que nos separa.

Nos construímos nas relações. O olhar do Outro, como sugere Lacan, permite nossas construções. A identificação com o outro, delimita a identidade. Tanto o semelhante quanto o oposto nos permitem construir nossas cercas, nossos limites. Nossos critérios que definem a singularidade e individuação.

O que tem me intrigado é como em dias de tanta intolerância, em que os relacionamentos se tornaram descartáveis, estamos nos construindo enquanto sujeitos? Abrir mão de relações que nos confrontam, é abrir mão da grande oportunidade e possibilidade de sermos mais autêntico, mais eu.

A luta por um mundo melhor não vem pela eliminação do diferente. Vem pelo entendimento que o outro é tão humano quanto eu e, isso não o torna melhor ou pior. Apenas diferente.

O fato do outro ter costumes, habilidades, virtudes, medos, desejos, propósitos e uma vida diferente da conformidade que me foi apresentada o faz o outro. E não meu rival.

Suspeito que aqui esteja a descoberta fascinante da mutualidade, ou “uns aos outros” que os apóstolos nos apontam na bíblia. Colocar o outro superior a mim, ainda que diferente de mim, é tomar minha cruz para seguir a Jesus. Até mesmo porque, em tempos em que uma hashtag polariza uma população, precisamos entender que a hostilização da diferença do outro impossibilita minha própria construção.

Em tempos em que o valor do humano está diluído e a competição está instaurada; e em que os adoecimentos emocionais e relacionais são nomeados pelas síndromes, nos unamos contra a síndrome do X-Men. O meu egoísmo e oposição não fará do outro igual a mim. Princípios não são cambiáveis. Porém, respeito e generosidade ao outro, não podem ser violados e transgredidos.