Tenho me deparado com situações de indisposições entre pessoas que tem me colocado para refletir sobre como estamos hoje. Como estamos conduzindo nossas relações e nos tornado sujeitos. Como as diferenças nos colocam em choque. Será que falta...
Tenho me deparado com situações de indisposições entre pessoas que tem me colocado para refletir sobre como estamos hoje. Como estamos conduzindo nossas relações e nos tornado sujeitos. Como as diferenças nos colocam em choque. Será que falta mais generosidade ou mais espaço de intercessão entre eu e o outro? |
O fato é que o diferente, o antagônico, o contrário, o avesso, enfim, o outro, me expõe a mim mesmo. E essa exposição tem suscitado confrontos nos mais diferentes campos e níveis por causa da inconformidade com o outro. |
Não sou uma cinéfila, porém assisto um filme aqui e outro ali. E sempre me inquietei com a história dos X-Men. Não. Não falo de um filme específico, mas do conceito que envolve a narrativa da história. |
Nesta saga, os X-Men são humanos que possuem o átomo superior, o próximo elo na corrente da evolução. Cada um nasceu com uma mutação genética rara, que na puberdade se manifestou em poderes extraordinários. Em um mundo cheio de ódio e preconceito, eles são temidos por aqueles que não podem aceitar suas diferenças. Liderados por Xavier, os X-Men lutam para proteger um mundo que os teme. Eles estão presos em uma batalha contra um ex-colega e amigo, Magneto, que acredita que os humanos e os mutantes não devem viver juntos. |
Contundente, não? |
Seres humanos que por um acaso ou incidente, se tornam biologicamente diferentes. E sua diferença é marcado por superpoderes. Poderes que os fazem não só diferente dos demais, mas os fazem odiados pelos demais que não sofreram a anomalia. E além. A rivalidade acontece também entre os mutantes. Então temos o desenvolver dessa história, onde os mutantes bons duelam com os maus, a fim de proteger a humanidade, que os teme. |
Ok. Essa analogia pode ser exagerada? Pode. Ou talvez não. |
Uma vez que um outro rompe com o padrão que eu me enquadro, na norma que entendo como a única, ele se torna diferente. Mutantes talvez. E, muitas vezes, necessariamente o rival. Precisa disso? |
Por ser outro, já marca a diferença. E a afinidade não está por ser igual. A afinidade está em respeitar ainda que diferente. A diferença deveria ser o que nos protege e matura. Contudo, a diferença tem sido o que nos separa. |
Nos construímos nas relações. O olhar do Outro, como sugere Lacan, permite nossas construções. A identificação com o outro, delimita a identidade. Tanto o semelhante quanto o oposto nos permitem construir nossas cercas, nossos limites. Nossos critérios que definem a singularidade e individuação. |
O que tem me intrigado é como em dias de tanta intolerância, em que os relacionamentos se tornaram descartáveis, estamos nos construindo enquanto sujeitos? Abrir mão de relações que nos confrontam, é abrir mão da grande oportunidade e possibilidade de sermos mais autêntico, mais eu. |
A luta por um mundo melhor não vem pela eliminação do diferente. Vem pelo entendimento que o outro é tão humano quanto eu e, isso não o torna melhor ou pior. Apenas diferente. |
O fato do outro ter costumes, habilidades, virtudes, medos, desejos, propósitos e uma vida diferente da conformidade que me foi apresentada o faz o outro. E não meu rival. |
Suspeito que aqui esteja a descoberta fascinante da mutualidade, ou “uns aos outros” que os apóstolos nos apontam na bíblia. Colocar o outro superior a mim, ainda que diferente de mim, é tomar minha cruz para seguir a Jesus. Até mesmo porque, em tempos em que uma hashtag polariza uma população, precisamos entender que a hostilização da diferença do outro impossibilita minha própria construção. |
Em tempos em que o valor do humano está diluído e a competição está instaurada; e em que os adoecimentos emocionais e relacionais são nomeados pelas síndromes, nos unamos contra a síndrome do X-Men. O meu egoísmo e oposição não fará do outro igual a mim. Princípios não são cambiáveis. Porém, respeito e generosidade ao outro, não podem ser violados e transgredidos. |