O PRIMEIRO TRAJE CAMUFLADO DA HISTÓRIA

Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher, da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. Gn 3:7-10.

Para que serve a camuflagem? Para enganar os olhos do inimigo, de modo a tornar quem a usa indistinto do ambiente em que está. Os trajes camuflados adotados no militarismo têm essa função. Inclusive, no reino animal a camuflagem é muito utilizada para enganar os predadores.

Porém, antes da queda não havia morte, portanto não havia predadores. De modo que, embora alguns animais naturalmente se confundissem com a vegetação, devido a terem cores semelhantes às dela, essa semelhança não desempenhava a função de ocultação. Os primeiros a desenvolverem essa técnica foram Adão e Eva.

A Palavra diz que conheceram que estavam nus e coseram aventais de folhas de figueira. Depois, quando ouviram a voz de Deus, ocultaram-se por entre as árvores. Se o avental de folhas fosse apenas para cobrir a nudez, não precisariam ocultar-se, pois a nudez já estava coberta. Eles se ocultaram porque devido ao pecado o ser humano não redimido é inimigo de Deus. Então, quando eles pecaram a inimizade se estabeleceu.

Ou seja, eles cozeram os aventais para se camuflarem e fizeram isso por medo de seu inimigo. O escritor aos Hebreus explica que uma vida em pecado engendra “uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus”. (Hb 10:27). Essa inimizade é atestada por Paulo em Efésios 2: 11-15 e em Romanos 5: 1, 6-10.

Logo, quando Adão ouve a voz do Senhor no jardim e percebe que sua estratagema não subsistiria diante do poder de Deus, responde que havia se escondido por estar nu, para ver se a desculpa colava. Foi uma resposta dissimulada. Mais uma vez tentando enganar a Deus. Essa é a postura de todo pecador. Porém, como não é possível enganar a Deus, quanto mais o homem tenta enganá-lo, mais se auto engana, e quanto mais tenta confundir os olhos daquele que é onisciente, mais se afunda em cegueira.

Se pedirmos a ajuda do Espírito Santo para examinarmos nossa trajetória de vida, veremos que, na maioria das vezes, os motivos alegados por nós para as nossas atitudes não eram os reais motivos por trás delas. Mas, devido à nossa visão estar comprometida, acreditamos na própria mentira que criamos para esconder o nosso pecado. Pois, geralmente, não queremos enxergar quem realmente somos e quais nossas reais motivações.

Uma pessoa fofoqueira jamais vai admitir que é fofoqueira, ela sempre vai justificar que está falando porque a outra deu motivo. Uma pessoa que não cumpre o que trata com os outros, jamais vai admitir que é uma pessoa que não tem palavra, sempre irá justificar que o outro é que deu motivo para que ela não cumprisse o que falou. Uma pessoa invejosa jamais irá admitir a inveja, ela sempre irá justificar que está ressentida com o que o outro tem porque o outro está sendo favorecido e ela desfavorecida. E por aí vai...

Muitos recorrem à Psicanálise, para descobrirem os motivos por trás de suas tendências ruins e só aprendem a desenvolver uma camuflagem mais sofisticada. Pois são levados a identificar a origem do problema em algum trauma de infância. Assim, a culpa sempre estará no outro ou na circunstância.  De modo que, toda estratégia humana para se livrar do juízo sobre a culpa é a de camuflagem.  Apenas com a ajuda do Espírito Santo esse autoengano pode ser quebrado.

Por isso, ao orarmos, é muito importante pedir ao Espírito Santo que sonde os nossos corações e nos revele os nossos caminhos maus, conforme faz o salmista no salmo 139, para não permanecermos no autoengano. Pois não temos mais necessidade de nos esconder, não somos mais inimigos de Deus. Fomos reconciliados com Ele por Cristo. Conforme atesta Paulo em Romanos 5:8-10:

Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Rm 5:8-10.

Portanto, ao nos depararmos com nossos pecados ou ao sermos confrontados por causa deles, não devemos nos esconder tentando nos justificar. Nosso papel não é tentarmos convencer os outros, nós mesmos e até Deus de que somos pessoas boas. Nosso papel é reconhecermos nossos pecados e nos arrependermos. Confiando sempre no revestimento da justiça de Cristo. Pois em nós não habita bem nenhum. E se a morte de nosso Senhor operou em nós a graça de sermos aceitos por Deus, muito mais a sua vida em nós opera a graça de nos tornarmos semelhante a ele no processo de santificação.  Prossigamos, então, nesse processo, não mais camuflando o nosso pecado, mas despojando-nos dele.

Oração:

Pai amado, sei que em mim mesma não há bem nenhum, mas quantas vezes quis convencer até a ti mesmo de que eu era boa! O quanto me auto enganei! Tenho consciência de que se não for pelo teu Espírito abrindo minha visão ainda me auto enganarei muito. Te peço perdão pelos meus pecados. Te peço perdão pelas vezes que me justifiquei para não admitir meus pecados. Te peço perdão por muitas vezes ver o pecado do irmão e apontar o cisco que está no olho dele sem reconhecer a trave que está no meu olho. Te peço perdão por ser muito exímia em reconhecer o pecado dos outros, mas muito tardia para reconhecer os meus próprios. Te peço que jamais me deixe me ensoberbecer achando que algum bem que eu fizer provém de mim. Espírito Santo, leva-me continuamente a olhar para a justiça de Cristo e a confiar nela. Independente se eu estiver muito feliz com os frutos colhidos na minha caminhada cristã ou arrasada devido a algum pecado cometido. A justiça de Cristo é perfeita e é o que me torna aceitável diante de Ti, tanto em uma situação como em outra. Que eu jamais perca isso de vista. É o que te peço, em nome de Jesus. Amém.