Existem palavras que remetem a posturas. Me impressiona como palavras e posturas entram e saem de modo no trato social e cultural. Dentre tantas que foram esvaziadas e desvalorizadas em nossa contemporaneidade, uma tem me chamado muita atençã...
Disse novamente o abbá Pímen: "O lamento opera de duas formas: produz e persevera" | ||
Existem palavras que remetem a posturas. Me impressiona como palavras e posturas entram e saem de moda no trato social e cultural. Dentre tantas que foram esvaziadas e desvalorizadas em nossa contemporaneidade, uma tem me chamado muita atenção nas últimas semanas: Lamento. | ||
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Atualmente estou lendo o clássico da literatura dos pais do deserto: "Sentenças dos padres do Deserto". Me impressiona o valor que esses "abbás" prezavam bastante a palavra e a postura do lamento. | ||
Em uma sociedade altamente narcisista, o choro por sua própria condição não é mais admitido. Somos super heróis de nossas histórias rasas e superficiais. Os padres choravam por sua condição enquanto caminhavam em sua existência. Enquanto caminhamos, buscamos a "felicidade", o prazer, aqueles que vão massagear meu ego incorrigível. | ||
Em uma sociedade altamente individualistas, deixamos de chorar pela condição do próximo. Ensimesmados por nossa "existência heroica", caminhamos, sempre em frente. Não ouse olhar para o lado, qualquer interrupção em prol do outro fará grande estrago em seus planos. | ||
Que perda temos em nossas formações pessoais a falta do lamento! Quando choro pela minha condição algo está surgindo de novo em mim - perseverança e confiança são enriquecidas e sua alma passa a ansiar pela oração (súplica). Perder o lamento é se perder. É deixar que falsas identidades te dominem. Qual foi a última vez que chorou por sua condição? | ||
Que perda temos em nossa "teia social" quando paramos de chorar pela condição do próximo! | ||
“Jerusalém, Jerusalém, cidade que mata profetas e apedreja os mensageiros de Deus! Quantas vezes eu quis juntar seus filhos como a galinha protege os pintinhos sob as asas, mas você não deixou" | ||
Jesus é um exemplo de lamento pelo próximo! | ||
Assim como Daniel, ao orar pelo povo no capítulo 9 de seu livro: | ||
Ó Senhor, a nós pertence o corar de vergonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes e aos nossos pais, porque temos pecado contra ti. | ||
Interessante é a forma como Daniel "cora de vergonha" por situações não necessariamente sua, mas abraçada em grande compaixão. | ||
Neemias faz o mesmo quando recebe notícias de uma Jerusalém devastada: | ||
Quando ouvi essas coisas, sentei-me e chorei. Passei dias lamentando, jejuando e orando ao Deus dos céus. Então eu disse: Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, fiel à aliança e misericordioso com os que o amam e obedecem aos seus mandamentos, que os teus ouvidos estejam atentos e os teus olhos estejam abertos para ouvir a oração que o teu servo está fazendo dia e noite diante de ti em favor de teus servos, o povo de Israel. Confesso os pecados que nós, os israelitas, temos cometido contra ti. Sim, eu e o meu povo temos pecado contra ti. | ||
Ambos aprenderam a lamentar, chegando a suplicas "inclusivas": "temos pecado" e não "eles pecaram". Em uma sociedade de exclusão, essa postura é abraço! Chorar e lamentar pela condição humana é uma forma de oferecer um caminho diferente do tão falado "cancelamento", o caminho da compaixão. Afinal de contas, Jesus abraçou a cruz, depois de muito lamentar e chorar, para que cada um de nós não fossemos cancelados. Qual foi a última vez que você chorou pelo próximo? | ||
Como nossa sociedade seria mais forte com a virtude do lamento! Tanto em termos de formação pessoal como em termos de compaixão social. | ||
Que Deus tenha misericórdia de nós! |