O Ribeiro de Besor

No capítulo de 1 Samuel 30 temos uma comovente história, roteiro digno de um excelente filme. Davi encontra-se com seu exército de 600 homens voltando de uma batalha para reencontrar suas famílias e posses. Ao chegar em Ziclague, percebem que foram pilhados por um exército de amalequitas - que não mataram ninguém, mas levaram consigo mulheres, crianças, idosos e posses (V. 2-3)

Cansados, humilhados e desesperados. "Choraram em alta voz até não terem mais forças" (V. 4). Em um primeiro momento a pressão sobre Davi, líder do bando, foi muito alta. Ele ficou "profundamente angustiado, pois os homens falavam em apedrejá-lo" (V. 6).

Nesse momento o texto nos diz, de forma quase imperceptível, o motivo da grande guinada: "Davi, porém, fortaleceu-se no Senhor, o seu Deus." (V. 6). Quando o mundo externo entrou em grande confusão, chegando ao colapso, ele se voltou para um encontro com seu Deus. Esse encontro no qual se fortaleceu, restabeleceu sua identidade e embasou suas próximas ações.

Como temos dificuldades em aprendermos o básico! É nesse encontro que somos sustentados, fortalecidos, alimentados. É nesse encontro que obtemos sabedoria para sairmos dessas situações para encararmos novas realidades.

Enquanto a tropa tinha um plano, que fora concebido na amargura (apedrejar seu líder), Davi se fortalece e age para que o resgate de seus "tesouros" fosse possível: "vamos atrás de nossos algozes!"

No entanto, a tarefa se torna ainda mais pesada quando seu exército, 25 km após iniciarem a cavalgada, se depara com um Ribeiro chamado Besor. Nesse lugar, 200 homens se sentem completamente exaustos para continuar.

"Todavia, Davi e quatrocentos homens continuaram a perseguição"(v.10). Encontrando e entrando em combate com os amalequitas. "Davi recuperou tudo que os amalequitas tinham levado, inclusive suas mulheres"(V. 18), filhos, idosos e bens.

Parece que esse é o climax da história. Mas não! Davi ainda teria um desafio na volta, o reencontro com os 200 homens de Besor. A ideia entre "homens maus e vadios" (V. 22) que estavam entre os 400 homens era repartir os despojos somente com os que foram, devolver as famílias aos "fracassados" e fazê-los partir.

A intervenção de Davi é profética nesse momento! Aponta para o evangelho do Cristo que viria séculos depois: "Tudo o que recebemos foi Deus que nos concedeu; temos que reparti-lo com todos os que foram salvos por Deus" (paráfrase do V. 23) 

O que aprendemos aqui e que é tão atual para os nossos dias?

Vemos vários discursos irreais de influenciadores e coach  que nos colocam como os 400 guerreiros: "seja um valente! Domine! Tudo se tornará seu! Não seja um fracassado! Não pare no Besor!" 

Mas esses discursos, quando vistos na realidade, nos leva a dois caminhos:

1. O caminho de moldar a mente de muitos como uma mente de "elementos maus e vadios" (V. 22). Isso nos leva a sensíveis inversões morais em nossa sociedade. 
2. O caminho irrefutável em que nossa sociedade se encontra de muitos males advindos do cansaço, sobrecarga. De acordo com o filósofo Byung Chul Han, vivemos na era da sociedade do desempenho onde o "chicote" do cobrador de desempenho muda do chefe para a própria pessoa. De acordo com ele, essa sociedade gera uma nova violência: a violência neural. Afetando milhares de pessoas com Burnout, stress, ansiedade, pânico, depressão e suicídio. 

Precisamos resgatar o evangelho! A grande verdade do evangelho é: Estamos todos no Ribeiro de Besor! Todos somos dependentes Daquele que vai à frente e nós traz novamente a nossa vida: Jesus Cristo.

É ele quem batalha por nós e divide todos os despojos conosco. Despojos tais como paixão, vocação, habilidades, inteligência, saúde, sopro de vida... Somos totalmente dependentes da graça! E precisamos aprender a descansarmos no Ribeiro de Besor. Precisamos aprender a nos fortalecermos no Senhor.

Que esse canal seja um pouco de Ribeiro de Besor na minha vida e na sua!

Grande abraço