“Acho que você já sabe o que eu vou te falar, eu não quero mais trabalhar aqui”. Quando eu ouvi essa afirmação de um cara que era um destaque do meu time, e que estava, com toda certeza do mundo, em uma das melhores empresas para se trabalhar...
“Acho que você já sabe o que eu vou te falar, eu não quero mais trabalhar aqui”. Quando eu ouvi essa afirmação de um cara que era um destaque do meu time, e que estava, com toda certeza do mundo, em uma das melhores empresas para se trabalhar do mundo, eu tomei um susto. Ele achava que eu sabia, mas eu não tinha absolutamente nenhuma ideia de que ele ia pedir demissão. | ||
Afinal, isso não faz sentido. Ele era bom, sabia trabalhar, tinha uma boa remuneração, estava sendo reconhecido pelo bom desempenho. Eu não podia entender. Ele viu a confusão na minha cara e ficou surpreso. | ||
Ele achou que eu sabia que ele estava sofrendo. Ele achou que eu entendia mesmo sem a gente conversar sobre, e eu não entendia. Foi a maior lição de liderança que eu tive na vida. | ||
Na minha cabeça as coisas eram preto no branco. Se ele estivesse insatisfeito, ele ia me chamar, e nós íamos falar sobre isso. Mas eu não podia estar mais errado. | ||
Não é assim que as pessoas funcionam. E eu já te adianto, desista de tentar entender como todas elas são. Diversas pessoas teriam me chamado e me dito que estavam insatisfeitas. Outras tantas não. Então o que te resta para saber até que ponto alguém suporta determinadas situações? Só existe um jeito de fazer isso. Tendo fóruns para que essas conversas aconteçam. | ||
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Eu sei o que você está pensando. Em encher a sua agenda de reuniões 1 a 1, reuniões diárias e semanais. Mas isso também não é a solução completa. Isso ajuda. Mas não é toda a história. Ter uma agenda fixa de reuniões frequentes, formais, para resolver questões assim, ajuda. Mas vale a dica, quanto mais experiente é um time, menos 1 a 1 e reuniões diárias resolvem. Para esse tipo de time, marcos excessivos só servem para cansar, frustrar e irritar. A grande maioria dos seniores usam o dia a dia como impulso e espaço de feedback. | ||
Para quem tem mais maturidade, o que vai ter mudado drasticamente de uma semana para a outra? A menos que você use esse espaço para discutir alguma rotina de projeto, ou de ações complexas que estão sendo desenvolvidas. Mas aí não é sobre a vida da pessoa, mas é sobre o trabalho que ela está executando. | ||
A minha sugestão para gente assim é, tenha espaços que não são pensados para isso. É desarmadas que as pessoas como as que eu citei no começo dessa história vão abrir o coração, e contar sobre o sofrimento em que elas estão. E aí você me pergunta. Isso faz muito sentido. Mas em Home office, com time à distância, o que eu faço? Volte no meio desse texto, e faça o que eu disse que não serve. | ||
Reuniões frequentes podem ser frustrantes, mas pelo menos são oportunidades das pessoas verem a sua cara. O meu caminho foi fazer reuniões frequentes e sem pauta. Assim as pessoas acharam espaço para não precisarem trazer nada produtivo e, dessa forma, abrirem os corações no que estava pegando em suas vidas. | ||
Mas lembre-se. Em algum momento a pandemia vai passar, e o 1 a 1 vai continuar sendo menos eficiente do que tomar um café com uma pessoa e perguntar: E aí. Como estão as coisas? | ||
E é exatamente sobre isso o episódio do nosso podcast dessa semana. Pressão. Pessoas exaustas, cansadas e frustradas. Como lidar com esses sentimentos? | ||