A teoria da guerra híbrida. O conflito do futuro que já está no presente.
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A teoria da guerra híbrida. O conflito do futuro que já está no presente.

Quando uma nação é militarmente mais fraca do que seus inimigos ela deve escolher meios alternativos para manter os elementos de dissuasao seja por meio de alianças militares e econômicas ou através das doutrinas de guerra híbrida. A guerra h...

Caio
6 min
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Quando uma nação é militarmente mais fraca do que seus inimigos ela deve escolher meios alternativos para manter os elementos de dissuasao seja por meio de alianças militares e econômicas ou através das doutrinas de guerra híbrida. A guerra híbrida pode ser definida como um tipo de conflito que não precisa ser lutado com armas de fogo, aviões de combate ou navios por exemplo, mas vai muito além disso. Notícias falsas (as famosas fake news), ataques cibernéticos contra instalações governamentais e empresas privadas do país adversário, pressão econômica e diplomática podem ser encarados como estratégias perfeitas para a correta execução da guerra híbrida contra o inimigo. 

Em minha visão um exemplo de confronto híbrido pode ser visto na Alemanha nazista a partir do ano de 1933 quando Adolf Hitler assumiu o cargo de chanceler naquele país e iniciou diversas reformas para excluir da sociedade germânica os famosos grupos dos "indesejados" como judeus, ciganos, comunistas, homossexuais entre outros. Um de seus principais articuladores para a "limpeza etnica" do Reich Alemão era o talentoso Joseph Goebbels nomeado por Hitler ministro da propaganda da Alemanha. Goebbels captou de forma espetacular as intenções de Hitler e montou uma verdadeira máquina de guerra propagandistica onde afirmava a suposta "superioridade genética" do povo alemão quando comparada a outros grupos étnicos no mundo. Os cidadãos alemães que já estavam fragilizados devido às humilhações impostas pelo tratado de Versalhes pós 1918 viram em toda aquela propaganda uma forma de se redimirem de seus fracassos na primeira grande guerra e recuperarem sua glória e dignidade. Toda essa combinação de fortes propagandas de Goebbels, discursos cada vez mais extremistas de Hitler onde dizia que o povo alemão era superior e que deveria conquistar a Europa como forma de compensação pela derrota de anos atrás e toda a raiva e ódio que os cidadãos do Reich sentiam por seus antigos inimigos representou a guerra híbrida perfeita que Hitler iniciou contra a Europa. A guerra híbrida alemã não parou por aí com o Reich iniciando sérias pressões diplomáticas exigindo a devolução de partes da Polônia que segundo os alemães pertenciam a eles e a mais ninguém uma vez que grandes porções de terra que pertenciam aos poloneses em 1939 haviam sido da Alemanha antes de 1918 bem como partes do território da Tchecoslováquia onde Hitler alegava que haviam minorias etnicas alemãs que precisavam ser repatriadas ao seu país de origem. A Alemanha manteve conversações diplomáticas com os eslovacos liderados por Josef Tizo um político que mais tarde se uniria aos germânicos. Hitler aproveitou as divisões políticas e etnicas que existiam entre Tchecos e Eslovacos e viu aí o ponto de ruptura perfeito para explorar em favor da Alemanha. Há muito tempo os eslovacos queriam sua independência do antigo Império Habsburgo e em 1919 ficaram extremamente frustrados de fazerem parte do novo Estado da Tchecoslováquia. As pressões sobre o velho continente permaneceram e Hitler também exigiu a anexação da Áustria um outro país muito próximo da Alemanha em termos étnicos e que inclusive era a terra natal do Fuhrer. Os nazistas apoiaram um golpe de estado na Áustria para facilitar o que chamavam de Anschluss o processo de anexação ao Reich.

Outro ponto muito importante para o Fuhrer era a Romênia do rei Carol, um país do Leste europeu que forneceria o petróleo necessário ao esforço de guerra alemão caso o Reino Unido bloqueasse as rotas de importação alemãs que viriam do Oeste. Devido a esse cenário Hitler buscava de todo jeito apaziguar Carol enquanto simultaneamente ajudava secretamente o partido fascista romeno.

Com essa estratégia podemos observar que os nazistas durante alguns anos (de 1933 a 1939) conquistaram vastas porções de terras no continente europeu sem disparar um único tiro apenas se valendo de suas influências diplomáticas, políticas e econômicas para alcançar o que queriam. Com isso já sabemos que em Setembro de 1939 quando enfim a segunda grande guerra estourou a Alemanha de Hitler já era muito experiente em táticas de guerra híbrida fazendo crescer em nós a certeza das afirmações do General Valery Gerasimov de que antes do primeiro tiro ser disparado as batalhas são iniciadas nos corações e mentes dos seres humanos. O caminho estava aberto para a guerra mais destrutiva da história da humanidade.

Outro exemplo de guerra híbrida que podemos expor reside nos conflitos do Oriente Médio que apenas pioraram desde a criação do Estado de Israel em Maio de 1948. Desde que os judeus retornaram a região da Palestina no pós segunda guerra as tensões com os árabes já chegaram muitas vezes a pontos críticos que já fizeram o mundo pensar que não haveria mais volta porém com as interferências e negociações de outros países e das nações unidas os confrontos tinham tréguas temporárias mas ainda assim judeus e muçulmanos nunca deixaram de se enfrentar diretamente no campo de batalha. Exemplos: guerra isralense de independência - 1948, guerra do canal de Suez - 1956, guerra dos seis dias - 1967, guerra de atrito - 1967 a 1973, guerra do Yom Kipur - 1973, ataque israelense ao Iraque - 1981, guerra do Líbano - 1982 e por fim os confrontos atuais do século XXI entre forças israelenses e grupos terroristas palestinos como o Hamas e grupos libaneses como o Hezbollah. Como podemos observar os israelenses e muçulmanos possuem ampla experiência de combate no Oriente Médio com Israel sempre conseguindo vencer grande parte dos conflitos que lutou e tendo êxito em enfraquecer cada vez mais as nações árabes. Não posso afirmar com toda certeza uma vez que não sou especialista no assunto mas podemos pensar na possibilidade de que os árabes vendo que teriam poucas chances de vencer uma guerra direta contra os israelenses decidiram apelar para a guerra da propaganda e da opinião mundial realizando diversas filmagens, documentários e exposições de depoimentos de pessoas afirmando sobre as supostas "atrocidades" cometidas por militares israelenses em suas guerras. Podemos observar que grande parte da comunidade internacional comprou essa propaganda dos países muçulmanos e se mostram muito hostis a Israel nas cúpulas internacionais. Inclusive alguns indivíduos já afirmaram que a única guerra perdida por Israel foi no campo da propaganda e do marketing. Faz sentido as nações inimigas de Israel adotarem essa prática de guerra uma vez que não possuem poderio bélico suficiente para encarar os judeus no mundo material. Mais uma vez os muçulmanos seguem com sucesso a sugestão do general Gerasimov de trabalhar com as guerras emotivas e psicológicas das pessoas. Como diria o velho ditado: cada um luta com as armas que possui. 

Leituras complementares: 

https://www.brasildefato.com.br/2018/10/19/agentes-externos-provocaram-uma-guerra-hibrida-no-brasil-diz-escritor

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/02/28/O-que-%C3%A9-%E2%80%98guerra-h%C3%ADbrida%E2%80%99.-E-por-que-o-conflito-atual-%C3%A9-uma

https://www.google.com/amp/s/www.bbc.com/portuguese/internacional-60304746.amp

https://m.youtube.com/watch?v=aMr7KT6RTLY&t=284s. Doutrina Gerasimov. 

Stalingrado: A resistência heróica que destruiu o sonho de Hitler dominar o mundo. Rupert Matthews. Editora M.Books do Brasil.